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O analista de segurança pública e defesa, Alessandro Visacro, comenta a pesquisa que aponta que 73% da população brasileira deseja que as facções criminosas sejam tratadas como grupos terroristas.
Alessandro Visacro avalia que esse desejo reflete o sentimento de insegurança da sociedade, que está "sempre em busca de uma bala de prata" para resolver a complexidade do crime organizado.

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Transcrição
00:00Nosso entrevistado agora é o analista de segurança e defesa, Alessandro Visacro,
00:05que chega aqui para conversar com a gente.
00:07Tudo bem, doutor? Como vai? Muito obrigado por estar aqui na Jovem Pan.
00:09Bem-vindo, boa noite.
00:11Muito boa noite, Thiago.
00:12Muito obrigado.
00:13Bom, doutor, claro, no âmbito dessa pesquisa que foi divulgada hoje,
00:19as pessoas demonstram a insatisfação com absolutamente tudo o que está acontecendo.
00:24Nós aqui da região da Avenida Paulista, onde fica o prédio da Jovem Pan,
00:27a gente sabe que andar pela Paulista não pode ser com o celular na mão.
00:30A sensação de insegurança é muito grande e talvez, pessoalmente, como eu nunca vi antes,
00:36a sensação de insegurança é muito grande em qualquer lugar.
00:39Uma moto passa, você acha que o pior vai acontecer.
00:41Eu pergunto para o senhor o seguinte, de que forma a sociedade, com toda essa pressão,
00:46a reboque dessa operação recente no Rio de Janeiro, vai mudar a filosofia,
00:51com o Congresso preocupado em aprovar leis que podem mudar um pouco a figura de tudo isso que o Brasil está vivendo.
00:59E também é bom lembrar que, como a gente estava destacando aqui, ano que vem é um ano eleitoral, né, doutor?
01:05Thiago, antes de mais nada eu não sou doutor, tá bem?
01:08Mas vamos lá.
01:10O debate da segurança pública no Brasil,
01:13antes de mais nada ele tem sido ancorado em vieses ideológicos anacrônicos.
01:20Esse é um ponto fundamental que nós somos obrigados a reconhecer,
01:24fazendo com que nós estejamos presos a ideias e não a soluções pragmáticas.
01:32Esse é o primeiro ponto.
01:34E um outro ponto muito importante é que a sociedade nacional está sempre em busca de uma bala de prata.
01:41Ou seja, a redução da maioridade penal,
01:45a descriminalização do uso de drogas,
01:47o uso de câmeras corporais com o intuito de controle da atividade policial,
01:53controle externo da atividade policial,
01:55a aprovação da DPF 635, a reprovação da DPF 635,
02:01e agora o debate está centrado em rotular essas organizações criminosas como organizações terroristas.
02:09Então, como já foi dito anteriormente,
02:14o simples fato de regular essas organizações
02:17talvez não traga nenhuma mudança concreta.
02:22Mas a gente precisa entender que, na última semana,
02:27essa questão de considerá-las organizações terroristas
02:33tem dominado o topo da agenda do debate nacional,
02:36mas tem uma fundamentação técnica adequada.
02:40Nós precisamos entender que o que é terrorismo
02:43é algo completamente diferente daquilo que o Estado vai popular como terrorismo.
02:49Terrorismo é algo muito simples.
02:51Terrorismo nada mais é do que o uso da violência como forma de propaganda.
02:57Mas se é tão simples assim,
03:00então por que não existe consenso em torno dessa questão,
03:04como já foi mencionado anteriormente?
03:06Por uma questão muito simples.
03:08Aquilo que o Estado vai rotular como terrorismo
03:10visa atender suas necessidades políticas.
03:15Ou seja, aquilo que Israel rotula como terrorismo
03:21é diferente daquilo que a China precisa rotular como terrorismo,
03:25que é diferente daquilo que a Dinamarca vai rotular como terrorismo,
03:29que é diferente do que a Honduras vai rotular como terrorismo, por exemplo.
03:34Então, inicialmente nós somos obrigados a admitir
03:39que existe terrorismo no Brasil, sim.
03:42terrorismo é aquilo que na América Latina
03:45é comumente chamado de narcoterrorismo,
03:49mas o termo mais apropriado é terrorismo criminal.
03:54Uma classificação do terrorismo quanto à sua motivação.
03:59Então, nós temos observado, nesse debate nacional,
04:03algumas autoridades considerando que as organizações criminosas,
04:10por não serem orientadas por uma agenda política objetiva
04:15que tem por propósito a tomada do poder na captura do Estado,
04:19isso não poderia ser considerado terrorismo.
04:22Isso é um equívoco,
04:24porque essa ideia está centrada naquilo que é o terrorismo secular
04:28ou terrorismo político ideológico.
04:31Então, quanto à motivação,
04:32o terrorismo criminal se distingue do terrorismo secular,
04:37assim como se distingue do terrorismo político religioso,
04:40do terrorismo autotélico, do terrorismo de Estado.
04:43Então, nós somos obrigados a admitir que, de fato,
04:46existe terrorismo no Brasil.
04:48Isso não significa dizer que tudo que as organizações criminosas fazem
04:54é terrorismo.
04:56Nós podemos elencar alguns eventos específicos.
05:01Por exemplo, a onda de atentados perpetradas pelo PCC em maio de 2006,
05:06depois em 2012,
05:08os próprios ataques realizados no Rio de Janeiro em 2010, 2023,
05:142023 também no Rio Grande do Norte,
05:172019 no Ceará,
05:19em Santa Catarina, 2012, 2013, 2014, 2017.
05:24Então, esses eventos específicos,
05:28nós podemos, sim, classificá-los como ataques terroristas.
05:33Isso é indiscutível.
05:34Mas o Estado brasileiro, em 2016,
05:38optou por excluir, perempitoriamente,
05:42o terrorismo criminal da sua tipificação penal.
05:48Porque o Estado brasileiro, na ocasião,
05:50entendeu que não era do seu interesse considerar o terrorismo criminal.
05:58Porque isso tem, realmente, uma série de implicações.
06:02Ok?
06:03Bom, em função da degradação do quadro de segurança no país,
06:09nós vemos um forte clamor popular
06:11para que sejam tomadas providências
06:14no sentido de que essas organizações sejam efetivamente combatidas.
06:22Então, eu acho que é muito importante a liderança nacional,
06:27e aí eu não me refiro só às instituições de Estado,
06:31mas também à sociedade civil organizada,
06:35entender essa demanda urgente.
06:38E o maior benefício que a operação realizada no Rio de Janeiro
06:44no dia 28 de outubro passado
06:47foi justamente abrir essa janela de oportunidade
06:50que torna explícita,
06:54que escancara para toda a sociedade nacional
06:57o nível de degradação do quadro de segurança.
07:01Pois nós temos organizações paramilitares
07:04que exercem o controle territorial armado
07:07sobre espaços segregados,
07:09criando verdadeiros enclaves de rica soberania.
07:13Vou passar para os nossos comentaristas
07:15a pergunta agora de Túlio Nassa.
07:17Túlio?
07:18Alessandro, boa noite.
07:19Muito obrigado por atender a Jovem Pan.
07:22Alessandro, uma das questões que tem se colocado
07:24é essa briga política de protagonismo
07:27entre a Polícia Federal e a Polícia dos Estados.
07:30Qual, na sua opinião, seria a adequada divisão de competências
07:34entre elas, para que a gente possa efetivamente
07:37combater essas facções criminosas?
07:39O ideal é uma integração, mas de que forma?
07:41Quem deve liderar?
07:42Quem deve comunicar quem?
07:44Como o senhor analisa essa questão?
07:47Túlio, muito boa noite.
07:48Excelente pergunta.
07:51Eu disse anteriormente que essa operação realizada
07:53no dia 28 de outubro
07:55nos abriu uma grande janela de oportunidade.
07:58Na verdade, se nós observarmos
08:00a história de enfrentamento ao crime organizado no Rio de Janeiro,
08:03ela tem sido marcada por uma grande sucessão
08:06de oportunidades perdidas.
08:08É uma história de oportunidades perdidas.
08:10E, como eu disse, a oportunidade de trazer,
08:14explicitar, escancanar para a sociedade nacional
08:17a degradação do quadro de segurança pública
08:19no nosso país,
08:22nós estamos correndo o risco
08:23de perder a janela de oportunidade mais uma vez.
08:26E, justamente, em função da politização do tema
08:29e dessas disputas interinstitucionais.
08:34Então, a culpa da administração no nível estadual
08:39querendo assumir o protagonismo,
08:41a administração no nível federal
08:44politizando o tema.
08:47Então, o que nós precisamos entender
08:49é que esse fenômeno é um fenômeno complexo.
08:53E, como eu disse anteriormente,
08:54não existe bala de prata,
08:56não existe panaceia.
08:57Nós precisamos, por ser um fenômeno complexo,
09:01adotar uma abordagem integrada sistêmica.
09:05Então, nós precisamos de uma política de Estado
09:09que ofereça um arranjo político-estratégico
09:14que dê coerência a todas essas ações.
09:17Porque nós tivemos uma operação,
09:20como a Operação Carbono 14,
09:22perdão, Carbono 14, desculpa,
09:24Carbono 14, realizada na Faria Lima,
09:27um tipo de operação muito importante,
09:30assim como nós tivemos uma operação
09:31de enfrentamento direto
09:33às estruturas paramilitares
09:35desses grupos armados
09:36que exercem o controle territorial.
09:38Então, nós começamos a ver
09:41cair numa armadilha
09:44de considerar uma abordagem melhor do que a outra.
09:47Infelizmente, as duas abordagens são complementares
09:51e, por si só, são insuficientes.
09:54Então, existe todo um portfólio de ações
09:57que precisam ser empreendidas,
10:00que precisam ser orquestradas
10:02a fim de reunir todas as capacidades
10:04coercitivas e não coercitivas
10:06disponíveis não somente no Estado,
10:09mas também na sociedade,
10:11para obter tempo estratégico decisivo.
10:12Então, isso precisa de uma articulação de Estado.
10:18Isso vai muito além
10:19de criar mecanismos de cooperação e interagências.
10:24É lógico que isso é importante,
10:26mas nós precisamos entender
10:27que as condições de existência do Estado brasileiro
10:31estão sendo renegociadas
10:34por esses grupos armados não estatais.
10:37Então, o Estado brasileiro
10:39precisa compreender isso
10:41e empreender uma política de Estado
10:45e não um projeto de governo
10:48ou um plano de governo,
10:49sobretudo emergencial, paliativo,
10:53que obedeça aos ciclos eleitorais
10:55de quatro ou oito anos.
10:57Então, a gente precisa tratar isso
10:59como um problema de Estado
11:01extremamente complexo e sério,
11:04como merece ser tratado.
11:06Alessandro, de forma rápida,
11:08a última pergunta é de Nelson Kobayashi.
11:09Kobayashi.
11:10Alessandro, boa noite.
11:12Um prazer falar contigo.
11:13Quero te fazer uma pergunta
11:14sobre o que falávamos há pouco aqui
11:16a respeito do sistema penitenciário brasileiro.
11:19Quais condutas poderiam ser feitas
11:22para aprimorar o sistema
11:24e combater com essas mudanças
11:27do sistema penitenciário
11:29as facções criminosas?
11:30O aperfeiçoamento do sistema carcerário brasileiro
11:35se encontra no ânimo do problema.
11:39Porque, se nós observarmos o histórico
11:41dessas organizações criminosas,
11:44elas têm não somente a sua origem
11:46dentro do cárcere,
11:48mas também as suas estruturas de comando.
11:51Então, é muito importante
11:54que nós reestrutuemos
11:56o nosso sistema carcerário.
11:57Mas, mais importante do que isso,
12:00nós precisamos
12:01regenerar
12:03o sistema
12:05persecutório.
12:07O sistema persecutório,
12:09ele começa com a polícia,
12:11o policiamento ostensivo.
12:12Aliás,
12:13começa no legislativo,
12:14com a formulação das leis.
12:16Passa pelo policiamento ostensivo,
12:18pela polícia investigativa,
12:20pelo Ministério Público,
12:21pelo Judiciário,
12:22e vai culminar no sistema carcerário.
12:26Se nós observarmos
12:27esse sistema persecutório,
12:31como eu falei,
12:31ele está degradado.
12:34Infelizmente,
12:35no Brasil hoje,
12:36nós não conseguimos ter
12:37um sistema de justiça
12:40que mereça esse nome.
12:42Sobretudo em função
12:43da lei de execução penal.
12:46Então, por maior que seja
12:48o empenho em
12:49tornar mais rígidas,
12:52algumas leis,
12:53algumas penas,
12:54isso se torna praticamente
12:56inócuo
12:57diante da nossa
12:58lei de execução penal.
13:00Então, a gente,
13:01é lógico que nós precisamos
13:02reformular
13:03o nosso sistema carcerário.
13:05Mas isso como parte
13:07de regeneração
13:08de todo o sistema
13:09persecutório.
13:11Vou dar um exemplo
13:11muito simples
13:12para a gente terminar.
13:13Não adianta eu aumentar
13:14três vezes o policiamento
13:16ostensivo,
13:17porque isso,
13:17num primeiro momento,
13:18vai resultar em
13:19três vezes mais prisão.
13:21Não adianta eu
13:22prender três vezes mais
13:24se a polícia
13:25investigativa
13:26não tem capacidade
13:27de investigar
13:28três vezes mais,
13:29o judiciário
13:30não tem capacidade
13:31de julgar
13:32três vezes mais
13:33e o sistema carcerário
13:34absorver
13:35três vezes mais.
13:37Então, a gente
13:37precisa regenerar
13:39todo o nosso
13:40sistema persecutório.
13:43Estamos com
13:43a analista de segurança
13:44e defesa,
13:45Alessandro Visacro.
13:46Muito obrigado
13:47mais uma vez
13:47pela gentileza,
13:48pela atenção.
13:49Volto sempre.
13:49Um abraço.
13:50tchau, tchau.
13:51Tchau, tchau.
13:52Tchau, tchau.
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