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  • há 1 hora
Competição multiesportiva reúne atletas surdos de todo o mundo. Quem representará o Brasil no torneio é José Ribamar, que viaja para Tóquio, sede do evento, na próxima semana. Em entrevista ao Núcleo de Esportes de O Liberal ele fala sobre a preparação para as provas e a rotina de treinos exaustivos.

Reportagem: Aila Beatriz Inete e Fábio Will
Imagens: Wagner Santana
Edição: Karla Pinheiro (Supervisão Tarso Sarraf)

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Transcrição
00:00Música
00:00Minha mãe me matriculou numa escola bilingue, que é o Felipe Smaldoni, aqui em Belém,
00:17que é uma escola própria para pessoas surdas, e lá foi onde eu tive o primeiro contato com a natação.
00:22Desde pequeno, com 3 anos de idade ainda, eu comecei a nadar,
00:26e eu fui crescendo dentro desse esporte, com uns 13 anos de idade, até os 16,
00:32foi quando eu parei depois de um tempo, mas com 19, 20 anos eu voltei a nadar.
00:42Na verdade, com 19, 20 anos ele parou, e aí com 24 anos ele voltou de nova natação e está até hoje, né?
00:49E ele tem muita paixão pela água, pelo mar, por isso ele continua até hoje nadando.
00:56O cara é bastante resiliente.
00:59A gente sempre fala pra ele que, tipo, cara, não importa o que tu esteja sentindo agora,
01:04cara, tu precisa só focar no teu objetivo final.
01:08Tenta te imaginar no local mais alto do pódio, lembra de tudo que tu fizeste,
01:12lembra das coisas que você abdicou, lembra do quanto você se esforçou pra chegar onde você está também.
01:17Já no começo, quando eu comecei pela primeira vez a participar de competição,
01:24eu adorava esse espírito esportivo.
01:27Eu acho que desde criança, na verdade, sempre tive paixão por várias modalidades,
01:31karatê, capoeira, futebol, eu adorava competir.
01:35Até hoje também, na verdade, eu gosto muito de nadar, de participar dessas competições.
01:40A gente faz de uma maneira bem progressiva, pra que o atleta consiga se direcionar
01:43de uma maneira progressiva, individual, trabalhando todas as capacidades físicas possíveis,
01:49que seja força, flexibilidade, qualquer tipo de técnica e detalhe
01:54pra ele conseguir trabalhar a parte dentro da água.
01:57Ela precisa ser feita de uma maneira consciente, porque nem todos os dias nós estamos 100%.
02:02Então, a questão do psicológico é muito importante também da gente trabalhar.
02:06Essa questão da troca de atleta e treinador.
02:09Nossa, foi muito difícil, porque...
02:14Por exemplo, o lugar pra treinar.
02:16Eu sempre mostro, por exemplo, pras pessoas, né, quando eu...
02:22Quando eu preciso de lugar pra treinar, as competições que eu preciso me preparar
02:28pra representar, às vezes, o Estado, o Brasil...
02:31E aí é muito difícil conseguir esses lugares pra gente, né.
02:36Aí é necessário eu pedir entrevista, eu pedir apoio das pessoas,
02:39eu me sinto desvalorizado.
02:41Às vezes...
02:41É porque eu sou surdo?
02:43Falta incentivo, sabe?
02:44Falta a gente equiparar essas pessoas, ouvintes e surdas,
02:47pra que elas tenham também...
02:48Nós também tenhamos local de...
02:51Pra treinar e nós sejamos inclusos, de fato.
02:55Também pra ter essa...
02:56Pra ser que valer, de certa forma, os outros...
03:01Outros competidores.
03:06Na verdade, eu fui acostumado, desde criança, a oralizar, né.
03:11Então, eu faço muita leitura labial,
03:13me comunico com a leitura labial e também...
03:19Então, eu me comunico muito pela leitura labial e pela oralização,
03:26com o meu técnico, com o meu treinador,
03:29o Ítalo, no caso,
03:30que é o meu treinador.
03:32Então, ele também aprende um pouco de Libras, né,
03:35no momento de interação com a gente, na prática.
03:37Mas, assim, a maior parte do tempo,
03:40a comunicação se dá por oralização e leitura labial.
03:43Mas, assim, me ajudou muito o esporte, né,
03:46a fazer a comunicação com outras pessoas,
03:50mas, às vezes, é necessário ter
03:52um profissional tradutor e intérprete de Libras, né.
03:55É muito importante porque...
03:57Ele promove a inclusão, a nossa inclusão,
04:00dentro dos espaços e isso é muito importante também.
04:03Essa parte do início, ela foi um pouco impactante
04:06porque eu ainda não tinha trabalhado com esse público,
04:09porém, durante a minha graduação,
04:10nós tivemos a presença de algumas matérias
04:14que puderam facilitar esse tipo de linguagem com o atleta.
04:17Pela questão da convivência também,
04:19ele vem me ensinando e também vem me aprendendo com ele
04:21a questão da língua de sinais,
04:22que se torna muito mais fácil esse tipo de comunicação.
04:26Eu sou a única pessoa surda
04:27representando o estado do Pará na competição.
04:30Eu me sinto muito orgulhoso por conta disso
04:31e eu quero mostrar que nós somos capazes também
04:34de competir fora do país,
04:36que não são só as pessoas ouvintes que conseguem.
04:39Não é, às vezes, só o esporte paraolímpico.
04:41Nós também, pessoas surdas,
04:43estamos ali representando a nossa força.
04:45Nós também somos atletas olímpicos
04:48e nós podemos participar.
04:50Me sinto muito orgulhoso disso.
04:52Meu principal objetivo é competir e ser campeão
04:56e também quebrar, talvez, um recorde como o melhor do mundo.
04:59Esse é o meu sonho.
05:03Já, sim, eu vou investir ainda mais em treinamentos,
05:05eu vou treinar ainda mais na água, na academia,
05:11porque em 2027 tem uma outra competição a nível mundial também,
05:15talvez seja na Austrália
05:18e em 2029 novamente acontecerá a Surdo Olimpíada
05:24em Atenas
05:26ou então na Croácia, ainda estão definindo o local.
05:30E o meu objetivo principal é melhorar ainda mais
05:34e talvez quebrar um recorde mundial.
05:36Por isso, eu espero ainda continuar treinando muito mais
05:38para essas competições também.
05:39Vou te mostrar um exemplo.
05:43Mas para Olimpíadas...
05:44Tem a regra de que o surdo não pode participar, né?
05:50Por exemplo, uma pessoa cega,
05:52uma pessoa que tem deficiência física
05:54ou tem paralisia cerebral, é amputada.
05:57Se a gente for comparar com uma pessoa surda
05:59que a única perda é auditiva, por exemplo, na natação,
06:03não é justo.
06:04Nós levamos vantagem em comparação a eles.
06:06Por isso que se criou a Surdo Olimpíada
06:09para que a gente se equivalesse também
06:11enquanto pessoas surdas.
06:12E aí nós temos a Paralimpíada,
06:15um grupo de várias pessoas com deficiência
06:17que competem entre si de maneira justa
06:19e tem a Surdo Olimpíada também
06:21que equivale à competição.
06:22E aí ninguém sai sobressaindo a ninguém.
06:26É por isso que tem essas diferenças.
06:27Queria deixar um recado final aqui
06:31que é muito importante, né?
06:34Essa representação dentro do esporte.
06:36Isso vai ajudar muito a desenvolver
06:37os grupos que precisam ser representados
06:40e valorizados também.
06:41Não é só o esporte,
06:42é a comunidade surda esportiva também
06:44que tem representantes em todo o Brasil.
06:47E eu acho isso que é muito importante de fato.
06:49A CIDADE NO BRASIL
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