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  • há 2 dias
Em novo livro, Rossini Macedo, o Tonho dos Couros, revela infância marcada por violência doméstica e como a arte o ajudou a perdoar o pai: "O perdão liberta".
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Transcrição
00:00Eu sou aqui com Rocine Macedo, que você conhece certamente como Tonho dos Coros,
00:09com a grande habilidade em nos fazer rir.
00:13Mas ele está lançando um livro agora que é Não a Violência.
00:17Uma história fantástica, um livro com muita poesia, mas com trechos marcantes da vida dele.
00:25Rocine, é um prazer tê-lo aqui conosco no nosso podcast.
00:27Prazer todo meu, Luciano. Muito obrigado pelo convite.
00:29Foi de bate-pronto. A gente se encontrou aqui nos bastidores da tribuna e você me convidou.
00:35Fiquei muito feliz, muito honrado.
00:36É verdade. O Rocine estava aqui na redação do Jornal da Tribuna.
00:40Eu o encontrei e nós viemos para o estúdio ter essa conversa aqui,
00:45porque o lançamento do livro dele e esse livro é muito interessante.
00:49Rocine, eu queria saber de você. Você que é um homem do humor.
00:53E você costuma dizer que o humor salvou a sua vida.
00:56Sim. E talvez, lógico, você já contou essa história, você já esteve por aí falando sobre isso,
01:03mas muita gente ainda não conhece.
01:05Por que escrever esse livro e por que o humor salvou a sua vida?
01:08Porque eu preciso ajudar as pessoas a entenderem o quanto o humor, a poesia, a arte, enfim,
01:15tudo que está ligado à arte pode ajudar a salvar a vida das pessoas.
01:20Particularmente, na minha vida, foi o humor e a poesia.
01:24Então, essas duas coisas juntas me ajudaram a ser o homem que eu sou,
01:28a ser o cara disciplinado que eu sou, a ser o humorista que eu consegui ser.
01:33E tudo isso que eu conquistei na minha vida.
01:35O humor salvou a minha vida porque eu vivi uma vida de violência doméstica até os 14 anos de idade.
01:40Muita gente não sabia disso.
01:43Eu comecei a contar isso a partir de 2022, logo depois da pandemia,
01:47porque eu pedi autorização à minha mãe para contar.
01:50Desde quando eu me entendo de gente,
01:53as primeiras imagens são de ver a minha mãe machucada,
01:58a minha mãe apanhando do meu pai.
02:00Então, isso é muito ruim.
02:01Apesar de eu nunca ter feito uma terapia,
02:03de eu nunca ter procurado um psicólogo, um psiquiatra e tal,
02:07eu desenvolvi essas habilidades através do humor e da poesia, da minha arte mesmo.
02:13E aí eu fui conversando muito com minha mãe sobre essas coisas e tal.
02:17E eu acompanhei essa violência doméstica que a minha mãe sofria até os 14 anos.
02:21E isso só acabou por conta da minha fé.
02:26Porque eu era uma criança que via aquilo na minha casa,
02:30eu era a criança mais rebelde da minha escola e da minha cidade.
02:33Eu fui expulso da mesma escola cinco vezes.
02:35Cinco vezes expulso da mesma escola.
02:37Então, eu tinha que voltar porque só tinha uma escola na minha cidade.
02:39Então, não tinha jeito.
02:40Aí meu pai e eu, minha mãe, tinham que ir lá conversar com o diretor e eu voltava.
02:44Só que eu era a pior criança da escola.
02:46Eu tinha sido reprovado três anos na terceira série e três anos na quinta.
02:50Eu não tinha jeito.
02:51Eu era uma criança que todo mundo olhava assim,
02:52esse menino não vai dar em nada na vida.
02:54E, cara, existia algum problema que eu não podia falar para as pessoas.
02:59E você tinha quantos anos na série?
03:00Eu tinha...
03:00Quando eu começou a entender isso, eu tinha nove, dez anos.
03:05E de nove para dez anos, eu comecei a ir nas duas igrejas,
03:08da minha avó materna, que era católica,
03:11e da minha avó paterna, mãe do meu pai, que era evangélica.
03:15Eu ia todo domingo nas duas igrejas,
03:17mas eu não ficava lá nas igrejas muito tempo,
03:20porque eu ia para pedir dinheiro às minhas avós primeiro.
03:22A criança, né?
03:23E, segundo, eu ajoelhava na frente do altar das igrejas,
03:25porque eu ficava na dúvida onde Deus estava, né?
03:27Porque existiam aquelas coisas já naquela época, né?
03:30A minha avó dizia, não, bom é a minha igreja.
03:32Bom é...
03:32A outra dizia, bom é a minha e tal.
03:34Aí eu dizia, eu vou ajoelhar nas duas igrejas,
03:36porque eu não sei onde é que Jesus está, né?
03:38Aí eu ajoelhava na frente do altar e eu só pedia uma coisa assim,
03:41eu disse, Deus, eu só queria pedir o Senhor para eu crescer mais rápido,
03:44para eu não deixar meu pai bater na minha mãe.
03:46Caramba.
03:47Criança de nove anos, um pedido inocente.
03:50E eu conto isso no livro e nas palestras, Luciano,
03:54para as pessoas entenderem o quanto Deus é maravilhoso
03:56quando você tem muita fé.
03:57Ele fala com a gente através das coisas.
03:59Eu não sei de que forma ele se comunica com você,
04:02mas comigo eu aprendi com nove para dez anos.
04:05Eu era muito fã de futebol, assim como toda criança,
04:07e apaixonado por Zico, né?
04:10Me apaixonei por Zico e tal,
04:11de ver Zico na televisãozinha preta e branca,
04:13de vez em quando ouvi no rádio e tal os gols de Zico
04:16e me tornei flamenguixo por causa do Zico.
04:18E um dia eu cheguei na banca de revista,
04:20depois de três ou quatro semanas que eu fazia aquele pedido ali nas igrejas,
04:23eu cheguei na banca de revista e tinha uma revista placar.
04:25A capa da revista está aqui no livro,
04:27porque é para as pessoas entenderem a veracidade da história.
04:31E a revista placar dizia assim,
04:33a capa da revista dizia,
04:34eu li precariamente porque eu não sabia ler ainda até os nove, dez anos.
04:39Qual o segredo do Rei do Rio?
04:41Aí eu digo, cara, eu quero saber o segredo de Zico,
04:43só que eu não sabia ler direito,
04:44eu pedi o dono da banca para ler.
04:45Aí ele leu.
04:47E aí eu entendi na leitura dele que Zico,
04:50para poder ficar mais forte e aguentar a pancada dos adversários,
04:53ele teve que se preparar mais para crescer mais um pouco,
04:56ficar mais forte, fazer mais exercícios na academia,
04:59correr mais, se preparar mais e tal, enfim.
05:01Então eu digo, cara, é isso que Deus está querendo falar comigo.
05:03Eu tenho que ficar mais forte,
05:05mas para não deixar meu pai bater na minha mãe e crescer mais rápido,
05:09é só se eu fizer mais esporte.
05:11No outro dia eu passei a ser o melhor aluno da aula de educação física.
05:14Terminava pelada com meus amigos,
05:15eu ficava correndo em volta do campo,
05:16os caras achavam que eu estava doido,
05:17eu queria ser jogador de futebol profissional.
05:19E aí, com 14 anos, eu fiquei do tamanho do meu pai.
05:23Rápido assim, cresci muito rápido.
05:25Eu sou o maior dos meus amigos de infância na altura.
05:27Todos os meus amigos de infância têm 1,70m para baixo,
05:30eu tenho 1,80m, por conta do esporte.
05:33E aí, cara, eu fui defender a minha mãe pela última vez.
05:37O meu pai foi bater na minha mãe,
05:38no aniversário da minha mãe.
05:41Toda a minha família na minha casa,
05:43e ele bêbado, quando ele bebia.
05:44Meu pai era, primeiro assim,
05:45é bom dizer quando eu conto essa história, né?
05:47Meu pai era uma das melhores pessoas que eu conheci na vida,
05:50mas quando não bebia.
05:51Quando bebia, ele virava uma pessoa totalmente diferente,
05:54um personagem para o mal, né?
05:56E aí, ele bateu na minha mãe, na frente de todo mundo,
05:59e ninguém teve coragem de levantar para enfrentá-lo,
06:01porque ele era um cara violento e tal, quando ele bebia.
06:03Aí, eu me levantei e segurei nas mãos dele.
06:05Diz, a partir de hoje, o senhor não bate mais na minha mãe, não.
06:07Ele estava bêbado, ele viu que ele não tinha força para se soltar.
06:11Aí, ele disse, se você vai bater em mim?
06:12Eu disse, não, não posso bater no senhor.
06:13O senhor é meu pai, eu tenho respeito pelo senhor,
06:16o senhor não tem pela sua família.
06:18Ele disse, então me solte.
06:19Eu soltei ele, ele foi do quarto, voltou com a arma
06:21e apontou para mim na frente de toda a família.
06:24Aí, eu disse, caramba, vou morrer.
06:26Eu vi todo mundo chorando ao redor,
06:28todo mundo com medo, aquele pânico.
06:32Aí, eu disse, o senhor vai atirar,
06:34a bala vai passar por aqui e eu não vou morrer,
06:36porque o seu pai, que era meu avô,
06:37me ensinou a ser homem, esqueceu dele ensinar.
06:39O senhor é um covarde, o homem que bate em mulher é um covarde.
06:41Eu falei isso com 14 anos para o meu pai,
06:44sem meu analfabeto.
06:45Isso não veio de mim, essa frase,
06:47só pode ter sido da minha fé e tal.
06:50Cara, ele baixou a arma, começou a chorar,
06:51foi para o quarto, a minha mãe
06:53olhou para mim e eu disse, se a senhora não separar dele hoje,
06:56eu e minha irmã, vamos separar,
06:57vamos sair e vamos morar com meu pai, com a minha avó,
06:59ninguém aguenta mais isso.
07:01Ela disse, não, meu filho, eu vou separar do seu pai.
07:03Eu mesmo amando o seu pai, eu vou separar dele.
07:05Ela falou desse jeito, cara.
07:07Eu disse, tá bom, a gente foi para casa da minha avó,
07:09eu demorei a dormir para caramba.
07:10No outro dia eu acordei umas 11 horas e aí minha avó era professora,
07:15e ela não foi dar aula e tal.
07:16Eu olhei para a minha avó e disse,
07:17vó, tem café?
07:18Ela disse, claro que tem, meu filho, senta aí.
07:21Aí eu sentei naquela mesa e diante daquela mesa
07:23tinha uma pequena biblioteca.
07:25Minha avó guardava os livros dela ali da escola,
07:27ou livros do dia a dia mesmo.
07:30E eu passava todo dia ali, eu via aquela biblioteca,
07:32mas nunca me interessei de ver um livro daquele e tal.
07:34E eu tomando aquele café gostoso assim da minha avó,
07:38eu olhei e vi um livro de poesia de cordel
07:40de um poeta da minha cidade, que já tinha ido na minha escola,
07:43que era pai de duas amigas minhas que estudavam comigo,
07:46e era amigo do meu avô.
07:49E dois filhos dele mais velhos foram meus professores.
07:53Seu Antônio Henrique Neto.
07:54Esse cara virou meu segundo pai.
07:56Eu peguei o livro dele, abri,
07:58e disse, eu vou ficar em casa com vergonha da cidade inteira, né?
08:01Aí abri o livro na primeira página e vi a primeira poesia
08:04de cordel de quatro estrofes.
08:06Eu demorei umas duas horas para ler aquela poesia,
08:08porque eu lia precariamente.
08:09Entender.
08:10Quando eu percebi que eu gostei, entendi,
08:14o final da história, eu relia a poesia.
08:17Toda vida que eu relia, eu relia mais rápido.
08:19Eu percebi que eu estava aprendendo a ler ali com 14 anos.
08:22Eu disse, caramba, eu vou ler o livro todo.
08:23Que negócio massa.
08:24Aí comecei a ler.
08:27Todas as poesias que eu gostava,
08:28eu parava e lia várias vezes aquela poesia.
08:30E fui lendo, decorei cinco poesias do livro.
08:33Em vez de ser o melhor, o pior aluno da escola,
08:36eu passei a ser o aluno mais querido da escola.
08:38Sem saber que aquilo ia ser o futuro,
08:41o meu futuro ia ser aquilo.
08:42Seu futuro profissional.
08:43É, meu futuro profissional ia ser aquilo.
08:45E, cara, uma professora de educação artística,
08:48que junto com o poeta mudaram minha vida,
08:51ela diz assim,
08:51meu filho não quer participar do teatro da escola, não?
08:54Você declama tão bem poesia de cordel,
08:55eu vejo você, a rodinha de amigos,
08:57e está ouvindo você declamar as poesias de São Antônio.
08:59Eu digo, a senhora não deixa,
09:00a senhora só deixa quem tira oito, nove, dez,
09:02eu só tiro dois, três, quatro.
09:03Como é que eu vou participar, né?
09:05Ela disse, estudando.
09:08Se você estudar, tirar oito,
09:10eu deixo você participar.
09:12É você dar o doce para uma criança que...
09:14Que quer...
09:15Que quer aquilo, né, cara?
09:18Então dá o doce,
09:19que ela faz qualquer coisa para você.
09:20Eu peguei os livros da escola,
09:22disse, é só eu fazer com o livro da escola,
09:23o que eu fiz com o livro do poeta, né?
09:25Comecei a ler e querer engolir aquelas páginas.
09:27Aí eu digo que com três meses depois
09:30eu comecei a tirar as notas e tal,
09:32melhorar as notas,
09:32aí eu tirei oito em uma matéria.
09:35Educação física.
09:36Aí eu brinco, né?
09:37Educação física.
09:38E nove, dez em todas as outras.
09:40É incrível, cara.
09:41Eu olho o meu boletim,
09:42quando eu olho o boletim dessa época,
09:43que a escola já me homenageou lá
09:45e me deu o boletim que eu nem tinha
09:46com as notas,
09:48aí você percebe assim a melhora, sabe?
09:50No meio do ano, assim.
09:50E, cara, mudou a minha vida.
09:54Eu participei do teatro da escola,
09:55eu me descobri ali com 14 anos.
09:58E encontrou um caminho.
09:59Encontrei o meu caminho.
10:00Só que a minha mãe resolveu morar na capital.
10:02Então eu fiquei longe do poeta,
10:04longe da minha professora,
10:05e aí eu fui trabalhar para ajudar a minha mãe
10:07com 15 anos de idade.
10:09E com 20 anos eu já tinha a minha primeira empresa.
10:10Com 25 anos a minha empresa já tinha 60 funcionários,
10:17eu tinha uma fábrica e seis lojas.
10:19Eu fabricava cinto, bolsa e carteira de couro.
10:21Isso com 20 anos.
10:22Com 25 anos.
10:24Com 30 anos,
10:26meu pai morreu, eu tinha 27 anos.
10:28E eu cuidei do meu pai até o último dia de vida do meu pai.
10:31É isso que eu queria perguntar,
10:32para você dar essa continuidade,
10:34mas para contextualizar, Rocine,
10:35você fala no seu livro,
10:38você dedica...
10:39Sim.
10:40O livro A Seu Pai.
10:42E isso tem uma palavra importante,
10:47que é o perdão.
10:48E é fascinante nessa história que você nos conta.
10:51O perdão liberta, né?
10:52O perdão liberta.
10:53E você libertou a sua mãe.
10:55Sim.
10:56E ao mesmo tempo você se libertou perdoando o seu pai.
10:59E você chegou a dizer que você se tornou amigo do seu pai.
11:01Sim.
11:01A gente viramos os maiores amigos
11:03nos últimos anos de vida do meu pai,
11:04nos últimos cinco anos.
11:06Nasceu o meu primeiro filho.
11:08Eu tinha 25 anos.
11:09O meu pai ficou apaixonado pelo neto.
11:11E aí começou a gente ter essa estreitar relação.
11:15Ele parou de beber?
11:16Como é que foi?
11:17Não parou porque ele tinha todas as complicações, né?
11:20De coração.
11:22Tive que tirar o baço.
11:23Aquelas coisas todas de problema de saúde.
11:26E aí ele não parava.
11:27Era diabético.
11:28Tinha todo tipo de problema, mas não parava.
11:31Chegava lá na minha cidade e ele estava bebendo.
11:33Mas ele não fazia, não cometia mais violência.
11:35Ele acabou.
11:35Ele casou de novo.
11:36Eu tenho duas irmãs da outra família dele.
11:38Que são da idade dos meus filhos.
11:41Mas ele não parou de beber.
11:43E morreu por decorrência do álcool.
11:45Morreu com 57 anos de idade.
11:47Eu tinha 27 quando ele morreu.
11:49E com 30 anos eu quebrei.
11:50A minha empresa quebrou.
11:51Aí eu digo, cara, eu vou aprender a fazer evento.
11:55Vou virar humorista.
11:56Eu vou aprender a fazer evento.
11:57Porque se o cara não quiser me contratar, eu faço o evento e me contrato.
12:00E aí eu virei humorista.
12:02E o primeiro evento que eu fiz, eu mudei a história da minha cidade.
12:06Eu criei um...
12:07A minha cidade tem uma tradição muito grande de carne e sol.
12:09Vamos falar para o ouvinte aqui qual é a sua cidade, né?
12:11Minha cidade é Picuí, no interior da Paraíba.
12:14É a cidade mais famosa da carne e sol no Nordeste.
12:17E eu contribuí com essa fama porque...
12:19E não tem, assim, contestação, não?
12:22Não, não tem, não.
12:23Infelizmente, não tem porque as outras cidades tentam.
12:26Mas não teve justamente por conta de um marketing que eu fiz em 97.
12:30Quando eu mudei a minha chave, eu criei o Festival da Carne de Sol de Picuí.
12:34Não existia esse evento no Nordeste.
12:36E aí eu criei o concurso do maior cumilão de carne de sol do mundo.
12:40E o cara que ganhou o concurso comeu 1,8 kg em 15 minutos.
12:44Não é brinquedo.
12:45E a gente foi para o Jô Soares em 97.
12:47Você imagina uma cidade do interior do Nordeste em Jô Soares,
12:50numa entrevista de 40 minutos falando a carne,
12:54o cara fazendo a demonstração para o Jô Soares,
12:55eu contando histórias, o Jô Soares indo.
12:57Tem essa entrevista no meu canal do YouTube.
13:01E aquilo mudou a minha chave.
13:02Cara, se eu fiz o Jô Soares Rio, eu faço qualquer pessoa, né?
13:05E aí, quando eu voltei, eu digo, não, vou comprar um restaurante.
13:07Eu comprei um restaurante de um primo meu aqui em Vitória.
13:09Foi por isso que eu vim para a Vitória.
13:11E comecei a fazer shows no restaurante.
13:13E aí, a minha carreira e a história que todo mundo já conhece.
13:16E você veio para a Vitória?
13:17Em 99.
13:18Em 99.
13:18Você tinha naquela, quantos anos você tinha?
13:20Tinha 33 anos.
13:2133 anos, já tinha a empresa.
13:22Por que você veio para a Vitória?
13:24Para comprar um restaurante desse meu primo, né?
13:25Porque a minha família, como a minha cidade tem muita fama de carne e sol,
13:28hoje tem mais de 150 restaurantes espalhados no Brasil.
13:32Aqui em Vitória, tinha o do meu primo, que foi meu durante 13 anos.
13:36Eu frequentei o Picuí, o da Praia do Canto.
13:38Aí eu comprei o do meu primo, porque tinha dois salões, eu fazia o show em um salão
13:41e o restaurante funcionava normalmente no outro.
13:44E toda a minha família, a família da minha ex-mulher e todos os nossos conterrâneos,
13:48que é enveredário por esse caminho, tem restaurante espalhado no Brasil todo.
13:52Às vezes eu estou, por exemplo, três semanas atrás, fui fazer uma palestra em Aracaju.
13:57Tem um grande amigo meu de infância.
13:59Ele vai me pegar no aeroporto e não deixa eu ficar em hotel.
14:02Eu tenho que ficar na casa dele.
14:03Todo lugar que eu chego, eu tenho um grande amigo, uma pessoa da família que está lá.
14:07Por conta dessa coisa do restaurante.
14:09E essa questão do nordestino, eu sou casado com uma baiana e eu sei como é que o nordestino
14:12é acolhedor, como é que tem essa questão da família muito forte.
14:16Isso é fantástico.
14:17E se foi importante para você nesses momentos difíceis que você passou,
14:20a sua família te deu esse apoio para você enfrentar esses problemas que você enfrentou,
14:24os parentes, etc?
14:25Cara, todo mundo, porque foi uma situação difícil, a separação da minha mãe.
14:30A minha mãe disse que a gente comeu o pão que o diabo amassou,
14:33é um ditado muito antigo.
14:35A gente viveu coisas muito difíceis.
14:38A minha mãe voltou a estudar e trabalhar depois que você separou do meu pai.
14:43Minha mãe só tinha feito até a quarta série.
14:46Então ela voltou a estudar comigo na quinta série.
14:48E a minha mãe fez curso superior, se formou, passou no concurso federal.
14:52Então a minha mãe era minha heroína.
14:53Enquanto ela trabalhava e tal, eu também trabalhava.
14:56Então eu cresci muito rápido no meu trabalho por conta da minha disciplina e tal.
15:01Tudo por conta do Zico, porque aí o Zico entrou na minha vida me mostrando a disciplina e tal.
15:06É por isso que ele fez o prefácio do livro.
15:08Eu consegui que a história chegasse até a ele através do Pierre,
15:11que é jogador de beat soccer, goleiro de beat soccer, capixaba,
15:15que é meu grande amigo, um dos grandes amigos que eu tenho aqui no Espírito Santo.
15:19E o Pierre mandou a história para o Zico.
15:20O Zico se apaixonou pela história e mandou o prefácio do livro, cara.
15:22Então assim, é muita honra para mim.
15:24E no dia que eu entreguei o livro para o Zico,
15:26a gente teve uma conversa de três horas no almoço.
15:29Como é que foi essa conversa?
15:30A conversa parecia que a gente era amigo, sabe?
15:33Eu olhava e dizia, não, é mentira, né?
15:34Como é que eu estou aqui batendo papo com o meu ídolo, né?
15:37Com a pessoa que eu...
15:38Mas eu não demonstrava isso, assim.
15:39Eu ficava conversando como se fosse normal.
15:41Aí começou a aparecer pessoas amigas em comum,
15:43como por exemplo, Paulinho Gogó, que é meu amigo e amigo dele.
15:46Bato pelado com ele lá no Rio.
15:48E aí o Tom Cavalcante, também amigo dele.
15:50Pessoas do humor, que são meus amigos.
15:52E aí a história fluiu, né?
15:53E a gente começou a bater papo.
15:55E foi muito bacana, cara, assim.
15:56Porque ele...
15:57Eu não fui...
15:57Ele veio fazer uma palestra aqui, deve ter uns 15 dias.
16:00E ele...
16:02Eu não podia ir na palestra dele, que era em Pedra Azul.
16:05E ele citou o meu livro na palestra, né?
16:09Ele citando, falando da inspiração que eu fui para ele, né?
16:13Que ele foi para mim de escrever sobre essa história.
16:18De ter vencido essa história através da disciplina que ele tanto ensinou durante a carreira
16:23e a vida dele, de um modo geral, né?
16:25Ocine, eu queria falar com você sobre um aspecto que me chamou muita atenção nessa sua história.
16:30Essa história fantástica que você está compartilhando aqui com a gente.
16:34Que é a importância do ídolo da referência.
16:37Sim.
16:38Você citou o Zico, que até hoje você vê o Zico como uma referência para muitas pessoas.
16:46O Zico é uma pessoa fabulosa.
16:49E a sua professora, que lhe deu aquela oportunidade.
16:52Hoje você, como uma pessoa pública, que você é,
16:57e você percebe a importância do exemplo,
17:01da referência que o ídolo tem que ser,
17:03e está faltando pessoas assim no mundo hoje?
17:06Olha que coincidência.
17:06aqui no prefácio do Zico, eu vou pegar aqui na caixa,
17:09que está mais perto.
17:10Leia, leia, leia.
17:11Eu botei um trecho aqui antes do prefácio do Zico,
17:14eu escrevi uma coisa aqui.
17:16Eu digo assim,
17:17a importância de um ídolo que dá exemplo.
17:20O Zico é exemplo de ídolo que se eternizará no coração dos seus admiradores.
17:25Porque são milhões pelo mundo inteiro, né?
17:27Porque no Japão o Zico é um deus, né?
17:30E assim, como eu,
17:32se inspiram em seus exemplos como profissional e como homem de família.
17:36usando a disciplina como marca principal,
17:38infelizmente,
17:40muitos que atingem o patamar de ídolo
17:42não têm essa dimensão.
17:45Obrigado, ídolo.
17:46Fantástico.
17:46Eu falo isso criticando jogadores como o Gabigol, por exemplo,
17:49que chegou a ser cogitado como o segundo maior ídolo do Flamengo,
17:52eu acho que talvez seja,
17:54mas não tem o mesmo ensinamento do Zico.
17:58Qual a criança que vai se inspirar no Gabigol?
18:00E que vai se inspirar no Gabigol?
18:01Só em fazer gol, mas em mais nada.
18:02Eu acho que o ídolo tem uma responsabilidade incrível.
18:06Eu conversava muito isso com o Chicanísio também, sabe?
18:09A responsabilidade de um ídolo é um negócio incrível.
18:11Eu não me coloco nesse patamar de ídolo,
18:13mas eu tenho certeza que eu inspiro muitas pessoas
18:16nas minhas palestras, no meu trabalho.
18:18Eu recebo todo dia mensagens nas minhas redes sociais
18:20de pessoas que, cara, eu saio de uma depressão
18:22porque eu vi uma piada sua,
18:23porque eu vi uma poesia de cordel sua,
18:25porque eu assisti uma palestra sua e tal.
18:27Então eu sei que a minha missão é essa.
18:28Como um cara que inspira, não como ídolo,
18:31eu não me coloco nesse patamar.
18:34Mas os caras que são ídolos,
18:35eles têm uma responsabilidade muito grande, cara.
18:38Sabe?
18:38De levar uma vida correta, uma vida, sabe,
18:41regrada, direita, como o Zico.
18:43E muitos outros ídolos que a gente conhece.
18:46Acho que não tomar partido político,
18:48não entrar nessa onda de ver a política e tal,
18:52porque as divergências são muito grandes,
18:54ideologias e tal.
18:55A importância é muito grande,
18:57porque a nossa missão maior, Luciana,
18:59é a gente mudar a vida das pessoas.
19:00Quando a gente tem uma vida boa,
19:03como eu me considero assim,
19:05eu tenho uma vida maravilhosa,
19:06muito acima do que eu jamais imaginei que eu teria,
19:09morar num lugar maravilhoso como é Vitória,
19:11ter uma mulher maravilhosa como eu tenho,
19:13ter filhos maravilhosos como eu tenho,
19:15vou ganhar uma neta agora em janeiro.
19:17Quer dizer, cara, o que eu posso pedir a Deus?
19:20Eu só posso pedir a Deus saúde
19:22para poder fazer com que a vida das outras pessoas
19:24também sejam boas.
19:26Então, no que eu puder ajudar,
19:28meu irmão, eu estou ali para ajudar.
19:30Só para você ter uma ideia,
19:32tem uma coisa assim que as pessoas não...
19:34Eu sempre fiz,
19:36mas agora com as redes sociais,
19:39eu comecei a postar vídeos fazendo isso.
19:41Eu fui na minha cidade,
19:42a última vez que eu fui na minha cidade,
19:44eu estava com dois mil reais no bolso,
19:46assim, em dinheiro,
19:48aí eu chamei minha prima e disse,
19:49quem são duas pessoas que precisam muito de ajuda?
19:51Aí ela falou de duas pessoas,
19:53uma menina deficiente de física,
19:55que era atleta,
19:55para-atleta,
19:56representa o Brasil no mundo,
19:58na minha cidade,
19:59lá no interior da Paraíba,
20:01e tem dificuldade para comprar material esportivo e tal,
20:05essa coisa.
20:05Chamei a menina,
20:06fui lá fazer uma visita,
20:07a mãe dela faz marmita para sustentar,
20:09aí eu comprei,
20:10disse,
20:10vou comprar mil reais de marmita,
20:12aí dei mil reais,
20:12a mãe chorou.
20:14É claro que eu não levei as marmitas e tal,
20:15mas foi uma coisa assim,
20:17aí divulguei o vídeo,
20:18se bombou e tal,
20:19e outra mulher que tem uma história fantástica lá na minha cidade,
20:23que é uma moradora de rua,
20:24que foi,
20:26sofreu a tentativa de assassinato do marido,
20:29que também era morador de rua,
20:30drogado e tal,
20:31e ela virou atleta,
20:32hoje é campeã paraibana de atletismo,
20:34de maratona e tal,
20:36e veio me pedir dinheiro para comprar um tênis,
20:38eu dei mil reais para ela,
20:40então foi assim,
20:41aquilo foi maravilhoso,
20:42aí eu disse,
20:42cara,
20:42é isso,
20:43eu vou continuar fazendo isso,
20:45porque é uma coisa que não me faz falta,
20:46uma grana e tal,
20:47aí um dia um fã meu do interior de São Paulo,
20:51um cara da minha cidade,
20:52mas mora no interior de São Paulo,
20:53eu não conheci o cara,
20:55todo dia ele entra no meu Instagram
20:56e faz um comentário e tal,
20:59e aí um dia ele,
20:59rapaz,
21:00tem uma criança aqui na minha cidade
21:01com uma doença,
21:02distrofia muscular de Duchenne,
21:04é uma doença muito,
21:05você deve saber,
21:06muita gente sabe,
21:07e aí eu digo,
21:07caramba,
21:08aí eu fiquei estudando a doença,
21:10fui pesquisar,
21:10vi que o remédio é muito caro,
21:12que não sei o que,
21:12aí fui lá no Instagram da família,
21:14e vi que o negócio era verdade,
21:15a família precisava de 17 milhões
21:17para fazer,
21:19ajudar no tratamento,
21:20o cara já tinha,
21:21aí eu liguei para o pai da criança,
21:23o cara,
21:23não,
21:23eu já arrecadei 900 mil reais,
21:25mas está difícil,
21:26porque os artistas não se propõem a isso e tal,
21:30aí eu digo,
21:30cara,
21:30eu vou ajudar esse cara,
21:32mas eu dar mil reais para esse cara,
21:33em 17 milhões,
21:34ia fazer que diferença,
21:35né,
21:36eu só dar o dinheiro
21:37e não divulgar nada,
21:38né,
21:38aí eu cheguei em casa,
21:40na minha garagem,
21:41eu só ando de moto em Vitória,
21:42a gente só tem um carro,
21:43da minha esposa,
21:44eu só ando de moto,
21:45porque eu sou apaixonado por moto e tal,
21:48aí eu olhei,
21:49cheguei em uma das minhas motos,
21:50guardei lá,
21:51e eu tinha um Fusca,
21:52que eu tinha comprado,
21:54de um amigo meu e tal,
21:55e estava lá,
21:55esse Fusca,
21:56eu só ligava o Fusca,
21:56nem andava no Fusca,
21:58Fusca novinho,
21:58bonitinho,
21:59aí eu liguei o Fusca assim,
22:00bateu uma coisa na minha cabeça,
22:01por que é que eu não dou o Fusca,
22:03já que eu não estou utilizando,
22:05o Fusca vale uns 30,
22:0640 mil reais,
22:07eu dou para a família fazer uma rifa,
22:09eu ajudo na divulgação e tal,
22:12eu liguei do Fusca mesmo,
22:14eu liguei para a minha mulher,
22:14para pedir autorização,
22:15porque em casa quem manda é a mulher,
22:17ela disse,
22:18claro meu amor,
22:19se Deus tocou no seu coração,
22:20pode fazer,
22:21aí eu liguei para o pai do menino,
22:24o cara chorou,
22:25rapaz,
22:26eu não esperava,
22:27eu só esperava que você fizesse um vídeo,
22:28e você já tinha feito,
22:29eu digo,
22:30não cara,
22:30eu vou doar o Fusca,
22:32amanhã mesmo,
22:32eu peço para minha equipe,
22:33fazer um vídeo da campanha e tal,
22:36essa coisa toda,
22:36e a gente vai fazer uma campanha,
22:37para doar o Fusca,
22:38e você vai arrecadar,
22:39ele preparou toda a,
22:42porque aí já entrava direto na conta lá,
22:43que ele tinha aberto o dinheiro,
22:46só sei que no final,
22:46a gente vendeu 63 mil reais de rifa,
22:50o cara que ganhou o Fusca,
22:51o cara de Santo André,
22:52interior de São Paulo,
22:54e muitos artistas vieram depois disso,
22:55para ajudar na campanha,
22:56então ele,
22:57fantástico,
22:58me viram lá fazendo e tal,
22:59e muitos colegas meus também,
23:01do humor entraram,
23:02muitos cantores entraram,
23:04as pessoas,
23:04isso vai desencadeando,
23:06e a campanha continua,
23:08e eu não tenho dúvida,
23:09que ele vai conseguir,
23:10e a gente,
23:11Deus preparou um momento especial,
23:13a gente foi fazer uma palestra,
23:14em Arassatuba,
23:15a cidade pertinho da cidade dele,
23:16100 quilômetros da cidade dele,
23:18minha esposa foi comigo,
23:18a gente foi lá na cidade,
23:19ele preparou um café da manhã,
23:22e as pessoas pagavam,
23:23para ir lá no café da manhã,
23:24e eu vi,
23:25as pessoas foram,
23:26ele arrecadou mais 4 mil e poucos reais,
23:29e assim,
23:30eu nunca fui tão bem acolhido,
23:31numa cidade,
23:32sabe,
23:32porque as pessoas ficaram felizes,
23:34por conta daquilo que eu fiz,
23:35aquela atitude de doar um carro,
23:37que para mim não se via,
23:39que eu não usava,
23:40e se eu fosse vender,
23:40o cara não ia pagar o que eu achava que valia,
23:43eu preferi doar,
23:44então é isso,
23:45acho que a gente tem que fazer pelo outro,
23:47a gente vive aqui,
23:47Luciano,
23:48para melhorar a vida do outro,
23:50essa é a tua função como jornalista,
23:52a tua função como diretor,
23:54de uma grande rede,
23:55como é a Tribuna,
23:56de melhorar a vida do próximo,
23:58a minha missão como humorista,
23:59como palestrante,
24:01como pai,
24:02como exemplo,
24:03a gente tem que dar exemplo,
24:04é essa,
24:06e assim,
24:06ter coragem de contar,
24:08minha esposa,
24:08quando eu comecei a contar essa história,
24:09disse para mim,
24:09você é muito corajoso,
24:10cara,
24:11ter coragem de contar isso,
24:13não é fácil,
24:14aí eu digo,
24:14mas Deus está tocando no meu coração,
24:16ele está mandando eu contar,
24:17e assim,
24:18desde o primeiro momento,
24:19eu me emociono toda a vida que eu conto,
24:21a gente percebe que você se emociona falando disso,
24:23porque eu vivi a história,
24:24então,
24:25quando eu escrevi o livro,
24:26eu digo,
24:27vou escrever o livro para eu parar de contar,
24:29eu não preciso mais contar,
24:30a pessoa que quiser saber,
24:31ela vai comprar o livro,
24:32ou vai assistir o teu podcast,
24:34ou qualquer outro podcast,
24:35que eu já contei essa história,
24:36então,
24:37eu não quero mais contar,
24:38de verdade,
24:38assim,
24:39a partir de janeiro do ano que vem,
24:40eu não conto mais essa história nas minhas palestras,
24:42já determinei isso na minha vida,
24:43porque gasta muita energia,
24:45eu,
24:46sabe,
24:47eu derramo muita energia ali para contar,
24:50e me emociono muito,
24:51às vezes eu saio muito cansado das palestras,
24:53por conta disso,
24:54e vão vir outras histórias,
24:56histórias,
24:56mas,
24:58eu não tenho dúvida que essa história,
25:00melhora a vida de muitos homens,
25:02que ainda pensam em bater em mulher,
25:04melhora a vida de muitas mulheres,
25:05que precisam separar dos homens,
25:07né,
25:08porque sabem que não,
25:09não pode viver aquela vida,
25:10porque essa vida é só uma,
25:11né,
25:11meu irmão,
25:11você vai passar a vida toda apanhando do marido,
25:13apanhando do cara,
25:14então,
25:15o livro não é só isso,
25:16né,
25:16o livro eu conto como você pode sair,
25:18tem histórias,
25:19tem,
25:19eu conto histórias engraçadas,
25:21por exemplo,
25:22no livro eu conto uma história,
25:23que é verídica também,
25:25que é uma,
25:25parece uma piada,
25:26mas é verídica,
25:27eu,
25:27eu,
25:28às vezes eu vou muito de moto,
25:29para fazer palestra em Minas Gerais,
25:31na Bahia,
25:31cidade que não tem avião,
25:33eu vou de moto,
25:34até mil quilômetros de distância eu vou lá,
25:37e eu tenho uma moto grande para isso,
25:38aí eu estou saindo de Vitória,
25:39passando em Cariacica,
25:40para ir em Minas Gerais,
25:41é uma cidade,
25:42a 800 quilômetros daqui,
25:44saindo sete,
25:45oito horas da manhã,
25:45um trânsito danado ali em Cariacica,
25:47no centro,
25:47ali perto do,
25:48de Campo Grande,
25:49ali na entrada da prefeitura,
25:52cara,
25:52quando eu estou passando o corredor,
25:54transparado,
25:54eu fui passar no corredor,
25:55só que a moto grande,
25:56não estava para passar,
25:57aí eu parei assim,
25:58aí um cara numa moto atrás,
26:00dois caras,
26:01uma CG,
26:01eu olhei pelo retrovisor,
26:02um gordão atrás de chinela havaiana,
26:04e tal,
26:04isso vai dar merda,
26:05e o cara,
26:06às vezes gritando,
26:07tira essa banheira do meio,
26:09velho,
26:10coroa,
26:11não sei o que,
26:12acho que os cabelos brancos aparecendo aqui,
26:14aí eu estava,
26:15beleza,
26:15olhando pelo retrovisor,
26:16o carro saiu um pouquinho,
26:17eu encostei entre os dois carros,
26:19e deixei para deixar ele passar,
26:21cara,
26:21quando o cara emparelhou do lado,
26:22o que estava atrás,
26:23começou a me xingar,
26:24filho de uma égua,
26:26não sei o que,
26:27tira essa banheira do meio,
26:29seu velho,
26:29não sei o que,
26:30aí eu lembrei,
26:31se eu for discutir com esses caras,
26:32imediatamente a minha mente processou,
26:34se eu for discutir com eles,
26:35vai acontecer duas coisas,
26:36eles vão descer da moto,
26:37vão bater em mim,
26:38ou vão puxar uma arma e me matar,
26:40não adianta eu discutir com os caras,
26:42e se eles descobriram que eu sou o Tonho dos Coros,
26:43pior ainda,
26:44porque aí eles vão dizer,
26:45o Tonho dos Coros discutiu comigo,
26:47eu digo,
26:47sabe de uma coisa,
26:48eu vou fazer um personagem
26:49que eu sempre gostei de fazer,
26:50que era um homossexual,
26:51uma bichinha que eu fazia na rádio,
26:52aí eu levantei a viseira do capacete,
26:54e disse,
26:54gente,
26:55como vocês estão nervosos,
26:57aí o Gol disse,
26:58e o Coro é endéviado,
26:58ó, endéviado,
26:59o cara que estava no carro de trás,
27:01riu pra caramba,
27:02sabe,
27:03e eu conto essa história do livro,
27:04para as pessoas entenderem,
27:04que é muito mais negócio
27:05você soltar uma piada,
27:07fazer uma brincadeira,
27:08do que você discutir,
27:09pô,
27:09você está arriscando a tua vida,
27:10né,
27:10sem dúvida,
27:11então é por isso que eu digo
27:12que não há violência,
27:12que é o humor e a poesia não vençam,
27:14é só você usar isso como exemplo,
27:16de dizer assim,
27:17cara,
27:17é muito melhor soltar uma piada
27:18e ir embora,
27:19do que discutir com essa pessoa.
27:21Ô,
27:21assim,
27:22para encerrar,
27:23eu queria que você dissesse duas,
27:25respondesse duas perguntas,
27:28um motivo para ser otimista,
27:30e o que que te dá medo?
27:33Rapaz,
27:33de verdade,
27:34eu digo para as pessoas,
27:36eu digo que medo,
27:37eu já tive três vezes
27:39muito medo na minha vida,
27:41medo de morrer,
27:42a primeira foi essa do meu pai
27:43que eu relatei para você,
27:45a segunda foi quando eu
27:47estava no auge da minha carreira,
27:49fazendo todos os programas
27:51de televisão possíveis,
27:53viajando o Brasil,
27:54fazendo na época de 2008,
27:552009 até 2010,
27:57fazendo eventos no Brasil inteiro,
27:59eu conheço todas as capitais do Brasil
28:01e todas as grandes cidades do Brasil,
28:04eu fiz eventos no Brasil inteiro,
28:05então eu sou um cara muito feliz por isso,
28:07eu descobri que eu tinha hepatite C,
28:10e o tratamento de hepatite C
28:11naquela época era muito duro,
28:13e eu comecei a questionar Deus,
28:15eu digo,
28:16Deus, como é que pode?
28:18Eu no momento trabalhei tanto
28:19para chegar aqui,
28:20cheguei aqui,
28:21e agora eu vou fazer esse tratamento,
28:23cara,
28:23o tratamento era um tratamento
28:24de quimioterapia,
28:25todo o meu cabelo,
28:26eu perdi 12 quilos,
28:27eu passei um ano
28:28tomando injeção toda semana,
28:29tomando sete comprimidos por dia,
28:31eu tinha febre todo dia
28:32de 39, 40 graus,
28:34todo dia,
28:35eu cansava no meio da piada,
28:37eu não sei como é que eu consegui
28:38fazer todos os shows
28:39que eu fiz durante aquele ano,
28:41e no dia que eu questionei Deus,
28:43assim,
28:44que eu cheguei em casa
28:44e reclamei de Deus,
28:46que eu digo que a gente,
28:47em vez de reclamar,
28:48a gente tem que agradecer
28:49por tudo,
28:51que eu acho que era a missão
28:52de Deus naquele momento,
28:54eu fui,
28:54era,
28:55acho que,
28:56na terça-feira que eu tomei injeção,
28:57cheguei em casa,
28:58arrasado,
28:59na segunda-feira,
28:59tomei injeção,
29:00cheguei em casa,
29:00arrasado,
29:01e reclamei de Deus,
29:02quando foi na outra segunda-feira,
29:03eu fui lá no hospital das clínicas
29:04tomar injeção novamente,
29:06que é uma injeção cara na época,
29:07hoje o tratamento é mais simples,
29:08a minha médica me acompanha,
29:10ela disse que hoje é três meses,
29:11não cai cabelo,
29:12não tem mais nada,
29:13mas antes era complicado,
29:15aí,
29:16a enfermeira que aplicava injeção em mim,
29:17falou assim comigo,
29:18assim,
29:18você podia me dar dois ingressos
29:22para o seu show,
29:23que eu fazia o show
29:24sexto e sábado lá no Picuí,
29:26e eu digo,
29:27mas para quê?
29:27Para você?
29:28Você não falou que já foi com o seu marido?
29:30Ela falou,
29:31não,
29:31não é para mim não,
29:32é para as pessoas que fazem o tratamento que você,
29:34que elas não acreditam que você faz o tratamento,
29:36quando eu conto aqui que você faz o mesmo tratamento,
29:38elas dizem que é mentira,
29:39como é que o Tom dos Coros faz isso,
29:40se ele faz televisão,
29:42faz rádio,
29:42faz show,
29:43é impossível,
29:44porque dá depressão,
29:45causa depressão nas pessoas,
29:47chegou a querer me pegar também,
29:49mas o otimismo,
29:49o humor realmente falou mais alto,
29:52e aí eu digo,
29:53cara,
29:53é isso que Deus quer,
29:54é a minha missão,
29:55de mudar a vida dessas pessoas,
29:56de incentivar essas pessoas a concluir o tratamento,
29:59porque quem desistia no meio do tratamento,
30:00naquela época,
30:01tinha que começar do zero,
30:02irmão,
30:03então você tinha que começar tudo de novo,
30:04sabe,
30:05e você desistir,
30:07era muito fácil,
30:07porque o tratamento era pesado,
30:10e aí eu comecei a dar,
30:11toda semana ela me pedia,
30:12eu dava os ingressos,
30:12as pessoas iam assistir o meu show,
30:14e eu percebia pelo aspecto físico da pessoa,
30:16que ela estava fazendo o tratamento,
30:18e muitas vezes a pessoa não ria o show inteiro,
30:21e eu ia lá no final,
30:22e aí eu consolava essa pessoa,
30:24que às vezes era a mulher ou o marido,
30:26e o cara dizia,
30:27cara,
30:27ela veio aqui só para comprovar o que você faz,
30:30ela não sei como é que eu consegui tirá-la de casa,
30:34e eu digo,
30:34cara,
30:34aí eu ficava feliz,
30:35então aquele medo saía com a minha felicidade,
30:37entendeu,
30:38e aí por último,
30:40na pandemia,
30:41na pandemia,
30:42sim,
30:42eu negativei o vírus da hepatite C,
30:46graças a Deus,
30:47faço um acompanhamento com a minha médica,
30:48a doutora Patrícia Lofredo,
30:50que é uma das maiores especialistas do Brasil,
30:52é capixaba,
30:52o pai dela foi um dos precursores,
30:55um dos homens que mais conheciam sobre a hepatite C no Brasil,
30:58o cara é importantíssimo,
31:00é um médico fenomenal,
31:04e na pandemia eu fiquei cinco dias na UTI,
31:10irmão,
31:11e se foram os únicos medos da minha vida?
31:14Quando eu percebi que eu estava,
31:17eu fui fazer uma live com o Alemão do Forró lá em Linhares,
31:20e eu peguei,
31:21o Alemão pegou,
31:21meu filho que foi comigo pegou,
31:24algumas pessoas da banda do Alemão pegaram,
31:26porque as pessoas em Linhares ainda não usavam máscara naquela época,
31:29logo no início da pandemia,
31:30isso foi em agosto mais ou menos de 2000,
31:33e aí eu cheguei aqui e passei mal o meu filho,
31:35que era diabético,
31:36o meu medo era meu filho ficar mal,
31:37porque ele era diabético,
31:39meu filho mais velho,
31:40e eu digo,
31:41cara, ferrou,
31:42se meu filho parar no hospital vai morrer,
31:44porque era logo no início da pandemia,
31:46só que foi eu que fui para a UTI,
31:48fui para o hospital e fiquei cinco dias,
31:51o doutor Gustavo foi meu salvador e tal,
31:53que me acompanhou lá.
31:54Não chegou a ser entubado?
31:55Não, não cheguei a ser por causa da disciplina,
31:57por causa do zico,
31:58novamente,
31:59porque ele chegou para mim,
32:00só se você não,
32:02porque eu não conseguia levantar o braço,
32:03eu não tinha força para levantar o braço,
32:05ele só se você não se adaptar,
32:06eu vou para uma VNI,
32:08se você não se adaptar,
32:09eu vou ter que entubar você,
32:11e a minha preocupação era assim,
32:12eu ser entubado
32:13e prejudicar minhas cordas vocais,
32:15como é que eu ia fazer depois?
32:17Aí eu disse,
32:18cara, não,
32:18eu não quero ser entubado não,
32:19então eu vou,
32:20aí eu fiquei,
32:21vai ficar dez horas sem comer,
32:23sem beber,
32:23sem aquela máscara e tal,
32:25a máscara toda embaçada,
32:26você não via nada,
32:27era oito horas,
32:28e eu fiquei dez horas a primeira vez,
32:30ele disse,
32:30cara,
32:31tu é disciplinado demais,
32:32bicho e tal,
32:32vamos,
32:33aí tirava,
32:34eu comia alguma coisa,
32:35bebia alguma coisa,
32:36botava de novo,
32:37e lá,
32:37mais oito horas,
32:38fiquei assim durante uns dois ou três dias,
32:42cara,
32:43eu não dormia,
32:44Luciano,
32:44com medo de acordar,
32:46com medo de eu não acordar,
32:47eu disse,
32:47se eu dormir,
32:48tinha uma televisão ligada,
32:49e só aparecia morte,
32:50morte,
32:51contando os mortos,
32:52aí eu disse,
32:52se eu dormir aqui,
32:53eu não acordo,
32:54não acordo não,
32:55e aí minha mulher ligava todo dia,
32:57de vídeo e tal,
32:58meus filhos,
33:00minha mãe,
33:00então assim,
33:02eu disse,
33:02eu tenho que viver por essas pessoas,
33:03eu tenho que viver para,
33:05eu dizia,
33:05Deus,
33:05se minha missão não terminou,
33:07me deixa vivo,
33:07me dá força para eu aguentar essa onda aqui,
33:10cara,
33:11quando eu saí,
33:13aí eu fiquei feliz demais,
33:15assim,
33:15sabe,
33:15porque eu disse,
33:15caramba,
33:17eu fui disciplinado,
33:18aí o doutor Gustavo falou comigo,
33:20o médico que me acompanhou,
33:22que é,
33:23ele é médico de idoso,
33:26só a partir de 60 anos,
33:27como é a especialidade dele,
33:29geriatra,
33:29e aí eu digo,
33:31doutor Gustavo,
33:32você vai ser meu médico,
33:33não,
33:33você não tem 60 ainda,
33:34só quando você completar,
33:35então o ano que vem,
33:36eu já vou começar a frequentar o consultório dele,
33:38que é maravilhoso,
33:39doutor Gustavo,
33:40é tricolor,
33:41eu brinco com ele para caramba,
33:43e aí ele,
33:43eu fui levar uma caixa de chocolate para ele,
33:45para a equipe dele,
33:46depois foram muito gentis comigo,
33:48e tal,
33:48aí ele disse,
33:48assim,
33:48você não sabe da maior,
33:49não te falei,
33:51mas no dia que você estava lá,
33:52na UTI,
33:53que eu te levei,
33:53eu fui te levar para a UTI,
33:54não tinha vaga,
33:55eu procurando uma vaga para você,
33:56aí a enfermeira olhou assim e disse,
33:58doutor,
33:59você ouviu quem está lá,
34:00no quarto?
34:01Aí eu digo,
34:01vi,
34:02pois é,
34:03o Tony dos Coros,
34:03ele não conta nem uma piada para a gente,
34:06ele não está conseguindo nem falar,
34:08mas como é que ele vai conseguir contar a piada?
34:10Ou seja,
34:11você não precisa nem dizer o que te faz ser otimista,
34:13porque a sua própria história já é o motivo,
34:15é nisso que você encontra a força para ser otimista.
34:17Exatamente,
34:18cara,
34:18o medo acho que é vencido pela tua coragem,
34:20pela tua disciplina,
34:21e eu falo isso nas minhas palestras,
34:23a palavra mais importante que existe é disciplina e coragem,
34:25as duas palavras que você tem que levar para a tua vida,
34:28seja consistente,
34:31bote tua coragem acima de qualquer coisa,
34:33o medo vai existir sempre,
34:35mas se a gente não tiver coragem,
34:37ninguém supera o medo,
34:39e aí eu conto,
34:40não conto essas três histórias,
34:41mas eu conto que eu já tive três medos muito grandes na minha vida,
34:44e foi o medo de morrer,
34:45o único medo que eu tenho é de morrer,
34:47então se eu tiver que morrer é porque Deus já quis me levar,
34:51mas ele já me salvou três vezes,
34:54então...
34:54Já deu muita chance.
34:56Já me deu três chances,
34:57então, irmão,
34:58se for vida de gato,
34:59eu ainda tenho mais quatro,
35:00são sete vidas.
35:03Muito bem,
35:03Rocine Macedo,
35:04eu queria agradecer muito,
35:05rapaz,
35:06sua história,
35:07eu não conhecia sua história,
35:09muita gente,
35:10eu não conhecia,
35:10o seu livro,
35:12esse encontro,
35:13que também foi um acaso maravilhoso,
35:15aqui na redação do Jornal da Tribuna,
35:17e assim,
35:18vou ler seu livro,
35:19falei que vai fazer uma pena,
35:20que nós conversamos sem que eu tivesse lido o livro antes,
35:24mas a sua história,
35:24muito obrigado por compartilhar aqui com a gente,
35:28e eu vou dizer que foi uma experiência muito boa,
35:32ouvir isso de você,
35:33muito obrigado.
35:33Obrigado você,
35:34meu irmão,
35:34obrigado você,
35:35vai ser uma honra ter você como leitor do nosso livro aí,
35:38e eu tenho certeza que isso vai se espalhar mais ainda,
35:41esse papo que a gente bateu aqui vai chegar em muita gente,
35:44que pode também multiplicar isso,
35:46e pode também ter coragem de contar as suas histórias,
35:48porque eu acho que é isso,
35:49as pessoas têm que ter essa coragem,
35:51para poder botar para fora,
35:53e não ficar com aquilo guardado,
35:54porque eu acho que aquelas coisas ruins que ficam guardadas na gente,
35:57Luciano,
35:58é o que prejudica a vida das pessoas,
36:01é o que faz com que as pessoas sejam depressivas,
36:04tristes,
36:05e a vida é muito curta,
36:08a vida é maravilhosa,
36:09a gente tem que ser feliz todo dia,
36:11procurar ser feliz,
36:12tem uma frase que eu uso aqui,
36:13está até no final do livro aí,
36:14que eu uso muito nas palestras,
36:15que eu transformei em uma poesia de cordel,
36:18que eu digo que gente feliz,
36:20o humor só existe por um motivo,
36:22para fazer as pessoas felizes,
36:23porque gente feliz não enche o saco de ninguém,
36:26e é isso que eu faço nas empresas,
36:28eu digo,
36:29eu vim aqui para fazer gente feliz,
36:30porque gente feliz não vai encher o saco de ninguém,
36:32se todo mundo for feliz,
36:33o chefe vai ficar feliz também,
36:35porque ninguém vai encher o saco dele,
36:36então está tudo certo.
36:37Perfeito,
36:38bem,
36:38esse foi o Rocinho Macedo,
36:40Não há violência que o humor e a poesia não vençam,
36:44muito obrigado pela sua audiência.
36:46E aí
36:51Legenda Adriana Zanotto
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