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  • há 3 meses
Transcrição
00:00E chegou a hora da coluna Olhares Facial com Marcelo Zurita e o tema de hoje, constelações.
00:09Afinal, como elas surgiram e como elas se apresentam em diferentes culturas astronômicas.
00:17Então, chegou a hora de ir com ele, Marcelo Zurita. Vamos juntos!
00:30Olá pessoal, saudações astronômicas.
00:33Se você já teve a oportunidade de olhar para o céu estrelado numa noite sem lua, num local escuro, afastado dos centros urbanos,
00:40então você conhece a fascinante sensação de estar mergulhada em um mar de incontáveis estrelas.
00:47Para os nossos ancestrais, essa visão inspiradora também trazia uma questão prática.
00:52Como se localizar e aprender com esse imenso palco celeste?
00:56A solução encontrada foi engenhosa e, de certa forma, poética.
01:01Agruparam os pontos de luz de modo a formar figuras familiares.
01:06Assim nasceram as constelações, um conjunto de estrelas próximas que transformaram um aparente caos cintilante em narrativas celestes.
01:14As constelações são a forma que a humanidade encontrou de dar sentido ao céu.
01:19Os astros salpicados aleatoriamente na noite ganharam formas e, junto a elas, histórias.
01:26Mitos que ajudaram os antigos a perpetuar o conhecimento astronômico e criar mapas do céu que orientavam os viajantes
01:33e influenciavam a agricultura dos povos ancestrais.
01:37Mas, afinal, o que são as constelações?
01:40Ciência ou poesia?
01:42As constelações nada mais são do que agrupamentos de estrelas,
01:46que, do nosso ponto de vista, parecem formar figuras, criações da nossa imaginação.
01:51A mente humana é hábil em encontrar padrões que nos lembram formas conhecidas.
01:57Por isso, enxergamos animais nas nuvens, rostos em frutas, vegetais e até mesmo em Marte.
02:03E, quando olhamos para as estrelas, nossa mente liga os pontos e enxerga as constelações.
02:09Vistas aqui da Terra, temos a impressão de que as estrelas de uma mesma constelação estão próximas entre si.
02:14Mas essa é apenas uma ilusão.
02:17Órion, por exemplo, um dos conjuntos mais famosos do céu, tem Bellatrix a apenas 250 anos-luz de distância,
02:24Betelgeuse a cerca de 640 anos-luz e Aonilan a 1250 anos-luz da Terra.
02:31Para nós parecem vizinhas, mas no espaço estão mais afastadas do que alguns familiares depois das últimas eleições.
02:37Mesmo assim, desde os primórdios os humanos encontraram nessas ilusões um poderoso aliado.
02:43Povos antigos usavam as constelações para marcar as estações do ano, prever períodos de plantio e colheita,
02:50se orientar em viagens e, claro, contar histórias.
02:53Para os gregos, o céu era um palco mitológico.
02:57Órion, o caçador, Andrômeda, a princesa, Perseu, o herói.
03:02Já os egípcios associavam estrelas e constelações aos ciclos do Nilo, fundamentais para a agricultura.
03:08Do outro lado do mundo, os chineses viam o céu dividido em centenas de pequenos asterismos,
03:14cada qual ligados ao imperador, à corte e à ordem terrena.
03:19E nas Américas, povos indígenas identificaram figuras mais próximas da vida cotidiana,
03:24animais, ferramentas e caçadas,
03:27muitas vezes formadas não apenas pelas estrelas,
03:29mas também pelas manchas escuras e luminosas da Via Láctea.
03:33Assim, cada cultura projetou no céu seus próprios medos, sonhos e esperanças.
03:39Para a cultura ocidental, o céu do Hemisfério Norte foi povoado por heróis, monstros e deuses da mitologia clássica.
03:47Mais tarde, durante as grandes navegações,
03:49astrônomos europeus se depararam com estrelas invisíveis do Norte
03:53e batizaram novas constelações com um olhar mais moderno.
03:56Surgiram no céu um telescópio, uma régua, uma bússola, um barco a vela inteiro,
04:02um tucano, um peixe dourado.
04:04E, claro, o Cruzeiro do Sul,
04:06que se tornou não apenas uma referência na navegação,
04:10mas um símbolo da própria identidade dos países do Hemisfério Sul.
04:14O contraste é curioso.
04:16Enquanto os antigos viam heróis e mitos,
04:19para os modernos eram os instrumentos de ciência e a natureza
04:22que orientavam o nosso futuro.
04:24Entre as constelações mais famosas,
04:27algumas brilham em destaque em qualquer céu.
04:30Órion, o Caçador, é visível em ambos os hemisférios
04:34e facilmente reconhecível por seu cinturão de três estrelas alinhadas,
04:38Aunilã, Aunitake e Mintaka,
04:41que nós preferimos chamar de Três Marias.
04:44A ursa maior no Hemisfério Norte
04:46é usada há séculos para encontrar a estrela polar,
04:49referência essencial para os viajantes e navegadores.
04:52Escorpião com sua estrela vermelha,
04:55Antares, como um coração pulsante,
04:58é um espetáculo das noites de inverno no Brasil.
05:01E o já citado Cruzeiro do Sul
05:03é o guia mais confiável do nosso hemisfério.
05:06Prolongando seu eixo maior,
05:08chega-se ao Polo Sul Celeste.
05:10Antigamente, cada cultura via o céu à sua maneira
05:13e tinha suas próprias constelações.
05:15Como um forró da Brucelose com a mesma melodia do Guns N' Roses.
05:20Mas essa liberdade poética trouxe um problema prático.
05:25A falta de padronização no céu.
05:27Imagine a frustração de um astrônomo informado
05:30de uma supernova observada na constelação de Noctua,
05:34só que ele não faz ideia de onde fica Noctua.
05:37Até o início do século XX,
05:38não havia consenso sobre as constelações
05:40e isso limitava a integração entre astrônomos de diferentes culturas.
05:45Foi só em 1922
05:46que a União Astronômica Internacional
05:49entrou em cena e colocou ordem na casa.
05:52Ficou decidido,
05:54seriam oficialmente 88 constelações
05:56cobrindo todo o céu.
05:58Aproveitando a herança das tradições antigas,
06:01como as constelações egípcias e greco-romanas
06:03imortalizadas no almagesto de Ptolomeu.
06:07E somando as modernas introduzidas por Bayer e Lacalle
06:10durante as grandes navegações.
06:13Além das figuras e mitos,
06:15cada constelação passou a ter fronteiras bem definidas.
06:18O firmamento se tornou um grande mapa oficial
06:21dividido em 88 territórios celestes.
06:25Ainda poético,
06:26mas agora com endereços certos.
06:29Desde então,
06:30quando dizemos que uma estrela ou galáxia
06:32está em determinada constelação,
06:33estamos nos referindo a essa divisão oficial.
06:37As constelações celestes são estruturas imaginárias
06:40que unem a ciência, a poesia e a cultura.
06:43Aproximam os astros do céu de nós,
06:45meros mortais aqui na Terra.
06:47E nos mostram que o universo pode ser
06:49tanto ciência quanto poesia.
06:52Hoje sabemos que as estrelas que compõem uma mesma figura
06:55estão a distâncias imensas umas das outras
06:58e não compartilham nenhuma ligação física.
07:00Mesmo assim,
07:02continuam unidas por algo muito mais forte
07:04do que a gravidade,
07:06a nossa imaginação.
07:08As constelações são o espelho da humanidade no céu.
07:12Cada cultura deixou nelas um pedaço da sua criatividade,
07:15de seus medos e de suas esperanças.
07:18Enquanto olharmos para as estrelas
07:19e tivermos a capacidade de traçar linhas invisíveis
07:22identificando figuras do folclore
07:24ou do nosso dia a dia,
07:26nunca nos perderemos no imenso palco estelar do universo.
07:30Afinal, a invenção das constelações
07:32nos ajudou não apenas a localizar os astros,
07:36mas também a encontrar o nosso próprio lugar no cosmos
07:39e guiar a nossa jornada para as estrelas.
07:43Bons céus a todos
07:44e até a próxima!
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