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  • há 7 semanas
Transcrição
00:00E chegou a hora da coluna Olhar Espacial de hoje.
00:04Marcelo Zurita faz uma reflexão sobre o futuro da humanidade como uma sociedade
00:10multiplanetária. Quais são os possíveis destinos? Quais são as dificuldades
00:17tecnológicas e éticas? Então, vamos com ele, Marcelo Zurita.
00:30Olá, pessoal! Saudações astronômicas. Desde que o primeiro ser humano olhou para o céu,
00:37buscamos entender o que havia além. Usamos as estrelas para nos orientar, medir o tempo,
00:42prever as marés e escolher as melhores épocas do ano para plantar e colher. Elas foram nosso
00:47primeiro calendário, nosso primeiro mapa e palco para nossos enredos mitológicos. Durante séculos,
00:54o céu pareceu imutável. As constelações sempre voltavam ao mesmo lugar e o Sol nunca falhou em
01:00nascer. Mas na escala do tempo cósmico, nada é fixo. Nuvens de gás dão origem a novas estrelas que
01:07depois colapsam tornando-se anã brancas, estrelas de nêutrons ou buracos negros. Um dia, nosso Sol
01:13não será o mesmo e a Terra, mais cedo ou mais tarde, vai se tornar inadequada para a vida ou pequena
01:20demais para as aspirações humanas. No futuro, inevitavelmente, precisaremos olhar para o céu
01:26em busca de um novo endereço cósmico. Aos poucos, a humanidade caminha para se tornar uma
01:31sociedade multiplanetária. Mas calma, não é preciso arrumar as malas ainda. O Sol não se tornará uma
01:38gigante vermelha tão cedo e a Terra ainda continuará sendo o melhor planeta para abrigar
01:43a vida humana por muito tempo. Mas existem motivos bem mais imediatos para pensarmos em expandir as
01:49nossas fronteiras como o instinto de preservação da espécie. Já enfrentamos glaciações, impactos
01:56cósmicos, pandemias e governos negacionistas. E ainda assim, sobrevivemos. Nosso planeta é
02:02generoso, mas também imprevisível. Mudanças climáticas, escassez de recursos ou até uma
02:07colisão catastrófica poderia um dia ameaçar a nossa existência na Terra. Mas nós humanos
02:13também temos naturalmente um espírito desbravador. O mesmo que nos leva para o alto de montanhas
02:19geladas e fez nossos ancestrais cruzarem oceanos em busca do desconhecido. Explorar está em nosso
02:25DNA. Queremos entender o que há além do horizonte e muitas vezes isso nos leva a ignorar os riscos
02:31e superar os desafios. Hoje, não existe motivo forte o suficiente para justificar lançarmos
02:37nossas jangadas pelo oceano cósmico. E mesmo que existisse, será que a nossa tecnologia já estaria
02:42à altura dessa pretensão? Antes de pensar em mudar de planeta, precisamos aprender a sobreviver
02:48fora dele. Transformar esse sonho em realidade exige mais do que foguetes potentes. Exige uma
02:53revolução tecnológica e talvez até mesmo biológica. Precisaremos de meios de transporte
02:59interplanetário mais eficientes, foguetes reutilizáveis, propulsão nuclear e talvez
03:05naves autônomas capazes de cuidar de si mesmas durante longas viagens. Em outros planetas, precisaremos
03:11criar habitats autossuficientes com agricultura hidropônica, reciclagem total de água e ar, geração
03:18de energia e proteção contra a radiação. Basicamente, teremos que aprender a construir
03:22um planeta de bolso, compacto, funcional e com garantia estendida. E claro, teremos que
03:28lidar com desafios fisiológicos, gravidade reduzida, poeira tóxica, ausência de campo
03:33magnético. Tudo isso pode resultar em novas doenças, exigirá novas soluções médicas
03:39e talvez até pequenas adaptações genéticas. Ao nos mudarmos para outros planetas, poderemos
03:44estar dando origem a uma nova ramificação da espécie humana adaptada aos novos mundos.
03:50Mas que mundos seriam esses? Nosso primeiro passo rumo ao cosmos provavelmente será a modesto,
03:56a Lua. Ela é o quintal cósmico da Terra, próxima, conhecida e um excelente laboratório
04:01para aprendermos a viver fora do planeta. Mas por enquanto, qualquer colônia lunar dependeria
04:06de recursos vindos daqui. Seria como morar numa ilha deserta no meio do oceano, com a padaria
04:12mais próxima, a 380 mil quilômetros de distância. Impossível comer pão quentinho no café da
04:18manhã. A Lua provavelmente será um excelente posto avançado, mas não um lar para a humanidade.
04:23O principal candidato para o primeiro mundo a abrigar a vida humana fora da Terra é Marte.
04:28Lá existe gelo, dias praticamente com a mesma duração que aqui e gravidade quase igual.
04:34Mas o frio é de congelar pensamento. Faria o Alasca parecer um paraíso tropical e a atmosfera
04:40tão rarefeita que um balão não sobe nem com reza. Ainda assim, se conseguimos transformar
04:46o clima marciano e torná-lo um pouco mais quente e respirável, talvez o planeta vermelho
04:50abrigue a primeira colônia fora da Terra de uma sociedade humana multiplanetária.
04:56Mais longe teremos as luas de Júpiter e Saturno, como Europa e Titã. Mundos com oceanos subterrâneos
05:02e atmosferas exóticas. São candidatos distantes, talvez ideais para futuras civilizações
05:08humanas quando o Sol envelhecer e criar novas unidades habitacionais na periferia do sistema
05:15solar. Outra opção são as estações espaciais, verdadeiras cidades entre planetas girando
05:21em torno do Sol com gravidade artificial e energia solar constante. Elas seriam como
05:26ilhas flutuantes no oceano cósmico, refúgios temporários para nômades espaciais viajando
05:32em busca de um novo lar. E quem sabe, em um futuro ainda mais distante, quando aprendemos
05:37a viajar entre as estrelas, possamos vagar pelo deserto cósmico em naves gigantes e
05:43autossustentáveis, procurando por uma nova Terra prometida. Um planeta que reúna as melhores
05:49condições de abrigar a vida humana, um paraíso como a Terra foi um dia e não soubemos
05:54cuidar. Ainda estamos distantes desse momento, mas quando ele chegar, precisaremos estar preparados,
06:00não só tecnologicamente, mas também ética e socialmente. Será que estamos preparados
06:05para decidir quem serão os primeiros desbravadores do cosmos? Como serão as leis e governos em
06:11outros planetas? E se já houver habitantes nesses mundos? Vamos saber respeitá-los ou
06:16faremos como os colonizadores da Idade Moderna? Essas perguntas parecem distantes, mas são
06:21inevitáveis. E se depender do nosso instinto ancestral, creio que nos sairemos bem. Nós já
06:27enfrentamos e superamos desafios como esses. Na época das grandes navegações, quando os europeus
06:33viajavam pelo mundo descobrindo novas terras, encontraram humanos na América e em cada pequena
06:39ilha por onde passaram. Não sabemos exatamente como tudo começou, mas num passado remoto,
06:44nossos ancestrais já enfrentaram seus medos, seus desafios tecnológicos e se lançaram ao
06:49mar. Navegando em pequenas embarcações, eles buscaram e encontraram novos lares onde viveram
06:55e construíram sua história. Mesmo que um dia nossas cidades floresçam sob céus alaranjados
07:00ou violetas, a Terra será sempre a nossa mãe, aquela que nos criou e nos transformou
07:06em uma espécie capaz de viajar pelo espaço. E a dificuldade de encontrar outro mundo como
07:11o nosso nos mostra o óbvio. Precisamos cuidar do único planeta que conhecemos capaz de abrigar
07:17a vida humana. Estamos à beira de uma nova era. Nossos ancestrais olhavam para o céu
07:22e viam um passado mítico de deuses e heróis. Hoje, olhamos para as mesmas estrelas e enxergamos
07:28um futuro destino para a humanidade. Talvez um dia, quando seus últimos habitantes deixarem
07:33a Terra, encontrarão em mundos distantes civilizações prósperas e conscientes. E assim como os
07:39navegantes do século XVI, perceberão que todos descendem de um ancestral comum, os humanos,
07:45vindos daquele pálido ponto azul no céu e que um dia se lançaram ao imenso oceano cósmico
07:51para se tornar uma sociedade multiplanetária. Bons céus a todos e até a próxima!
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