- há 3 meses
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AprendizadoTranscrição
00:00Atenção, por favor.
00:01Professor na tela!
00:03Oi, gente, como é que vocês estão? Tudo bem?
00:05Bem-vindo de volta ao Arte ou Nada, seu canal de arte, cultura e um monte de coisas.
00:09Hoje eu vou fazer a segunda parte do sexto tema mais cobrado no Enem,
00:13que são as influências indígenas e africanas na arte brasileira.
00:19Na aula passada eu falei sobre as influências africanas,
00:23hoje eu vou falar sobre as influências indígenas.
00:26Sem enrolação, vamos pra aula.
00:30Já vou começar essa aula fazendo diferente, né, gente?
00:34Não tô lá no canto onde eu sempre tô, tô aqui entre as Américas.
00:38E isso aqui é importante pra gente entender que se eu for falar sobre povos indígenas
00:42ou povos originários das Américas, eu preciso fazer um mapeamento.
00:47Eu preciso que vocês entendam, assim como eu falei lá sobre arte africana,
00:51eu preciso que vocês entendam esses povos aqui que eu vou falar agora.
00:54Ao longo de todas as Américas, já haviam povos quando os europeus chegaram aqui.
01:01Existe uma estimativa de que há mais ou menos 10 mil anos esses povos já existiam,
01:07e aí a gente tem aqui uns 500 anos de história pós-colonização.
01:10Foi onde mudou tudo.
01:12Então a gente não tá falando de povo, quando a gente fala de povo originário,
01:16povo tradicional, a gente não tá falando de alguém que chegou aqui um pouco antes do europeu,
01:20um pouco antes do africano.
01:22A gente tá falando de alguém que chegou aqui e que construiu uma vida,
01:25que entendeu como viver nesse continente.
01:28Então a gente conhece já os Incas, estamos falando também do continente dos Maias,
01:34os Astecas, os Astecas construíram Tenochtitlan.
01:38Vai pesquisar sobre essa cidade, uma cidade dentro de um lago,
01:41foi totalmente derrubada, totalmente demolida pelos europeus.
01:44Os Quétias e os Aymaras, os Mapuche, lá na pontinha do Argentina e Chile.
01:52E aqui, já falando no território brasileiro, a gente tem os Guaranis e os Tupis,
01:55inclusive, essa designação Guarani e Tupi, não tem a ver com um único povo, nem uma única língua.
02:03São dois troncos linguísticos, Tupis e Guaranis.
02:06Outros indígenas que também chamaram atenção foram os Krenak, ou os Aymorés,
02:13que os europeus chamavam de Botocudos, porque eles usam Botox.
02:16Botox na boca, Botox na orelha, os famosos alargadores.
02:22Só que no nosso território existe uma estimativa de que haviam 1.400 idiomas sendo falados aqui.
02:331.400 idiomas.
02:35Aí a gente fala assim, não é porque o idioma do índio era Tupi-Guarani, primeiro.
02:39Tupi-Guarani não é um idioma, é um tronco linguístico.
02:42Segundo, Tupi-Guarani não é um tronco linguístico, são dois.
02:46Tupi é um, Guarani é outro.
02:50E se é um tronco, vamos pensar numa árvore.
02:52A árvore tem os galhos e as folhas.
02:54Então, do Tupi surgem vários idiomas, do Guarani surgem vários idiomas.
03:00Havia outros dois troncos linguísticos, que eram os Macro-G.
03:04Por que separa Tupi-Guarani-Macro-G?
03:07Porque havia certa rivalidade e a cultura era bem diferente.
03:11Aqui, entre Tupis-Guarani e Macro-G.
03:13Todos eram sustentáveis, bem antes da COP, da Conferência do Clima, bem antes da COP30 que está vindo aí.
03:21No fim das contas, o que a gente precisa fazer para salvar o planeta,
03:25é tentar aproximar a nossa vivência com a vivência dos povos da floresta.
03:29Erva mate era muito usada até hoje, né?
03:31A região do Paraguai tem esse costume por conta dos Guaranis.
03:34E a erva mate, ela serve para trazer um certo alívio do cansaço.
03:38Tanto cansaço físico, quanto cansaço mental.
03:40E a quina, quina é uma árvore.
03:44O que alguns indígenas fazem na região ali da Amazônia, do Peru e tal?
03:49Eles usavam a casca dessa árvore para fazer um chá e tomavam esse chá quando alguém estava com febre,
03:56quando alguém estava com uma doença mais séria, mais forte.
04:00É da quina que nasce o medicamento cloroquina, para poder fazer o tratamento da malária.
04:05Então, olha só, os indígenas tinham um conhecimento da medicina natural muito forte.
04:12Inclusive, uma das influências que eles trazem para a nossa cultura está exatamente aí.
04:17O conhecimento medicinal das plantas.
04:20Vamos pensar que o folclore brasileiro é basicamente indígena.
04:23A gente tem o Curupira, a gente tem o Poitatá, a gente tem o Bouto Rosa.
04:30E se for investigar, a gente tem muita coisa, muita história, muita lenda indígena que faz parte do nosso folclore.
04:38E no caso aqui, pensando principalmente ali nos tupi-guaranis, a gente tem o mito da criação com o Ser Supremo,
04:46que criou tudo, inclusive criou o Homem do Barro.
04:50E esse Homem de Barro, ele recebeu um sopro no nariz, que foi o sopro da vida, o ar que entra para a gente, né?
04:58A gente tem que respirar para continuar vivendo.
05:00Morreu, parou de respirar.
05:01E a inteligência foi soprada pelo ouvido.
05:06Deus soprou a inteligência aqui no ouvido.
05:09Cada ouvido, ele soprou uma coisa que compõe ali a inteligência, a consciência e tudo mais.
05:14Papéis de gênero é complicado.
05:19Por aqui, não existia esse negócio de o homem vai caçar, a mulher vai cuidar da agricultura.
05:25Essa é a invenção.
05:26Caça aquele que é melhor caçador ou melhor caçadora.
05:30Cuida da cultura, da agricultura, aquele que é melhor agricultor ou aquela que é melhor agricultora.
05:40No caso da criação das crianças, até anotei aqui, filho de todos, porque você tem que sair para caçar.
05:51Você vai deixar seu filho com a comunidade.
05:52A ideia de pai e de mãe é um pouco complicada, porque não é a responsabilidade só do sujeito que fez a criança.
06:02Todo mundo era responsável pela educação da criança.
06:05Todo mundo podia dar o seu hospitáculo, todo mundo dá o seu hospitáculo.
06:07Então a criança acaba crescendo muito mais integrada à comunidade do que a gente.
06:13Aprende a respeitar todo mundo, porque todo mundo tem aquele peso, aquele valor do pai e da mãe.
06:21A natureza era considerada muito sagrada.
06:24Então essa ideia que a gente tem hoje de monocultura, de sair extraindo minério,
06:31de fazer uma COP30 para poder ver se dá um jeito no clima,
06:36isso não existiria de modo algum aqui no Brasil.
06:41Eu falei monocultura porque a horta indígena é chamada de policultura.
06:48Em vez de a gente ter uma plantação de cana, uma plantação de soja, uma plantação de café,
06:54a gente teria vários ingredientes, vários produtos plantados ao mesmo tempo, imitando a natureza.
07:02Qual é a vantagem de imitar a natureza?
07:05Primeiro, a produção dentro daquela horta não vai parar nunca.
07:08Enquanto está nascendo uma cultura, está morrendo a outra.
07:11Quando uma cultura morre, ela vira substrato para que a outra cultura nasça.
07:17Na policultura, você reduz a quantidade de agrotóxicos, porque ao misturar plantas diferentes,
07:23você pode misturar plantas que repelem certos insetos.
07:27Se você tem só a cana-de-açúcar plantada, não tem nada que vai repelir aquele inseto que vai comer a cana-de-açúcar.
07:35Mas se você tem a cana-de-açúcar com outras plantas, alguma delas pode servir como um repelente, pode afastar certas pragas.
07:43Olha aqui que inteligência, né?
07:44Voltei pro meu lugarzinho, querido.
07:47E olha só, aqui eu queria falar um pouco sobre a arte dos povos originários, tá?
07:51Tá aqui embaixo de mim alguns... parece uma pineira, um tacho, né?
07:56Muita gente usa isso aqui pra fazer decoração, mas os indígenas usavam isso aqui pra carregar coisas, né?
08:01Como se fosse uma fruteira, como se fosse alguma coisa assim.
08:04E por que não usar como um item decorativo dentro das próprias aldeias?
08:08Mas ali na frente a gente tem uma espécie de vaso, o jarro, que também é feito em cestaria.
08:15O que é cestaria?
08:16É um trançado, tá?
08:17Isso aqui é um trançado e aí você vê que tem formas geométricas que representam animais.
08:25Então a gente pode ter o casco do jabuti, uma representação dos desenhos das manchas da cobra,
08:31das manchas da onça, de outros pássaros, outros mitos, né?
08:38Pode ser forma abstrata, mas que tenha significado.
08:41Até na cerâmica, até no artesanato, a gente tem esses grafismos indígenas.
08:45O que é grafismo indígena?
08:46É como se eles estivessem escrevendo alguma coisa com esses desenhos.
08:51Não são simplesmente decorativos.
08:53Tem um significado por trás de cada elemento desse.
08:56Cada um representa uma coisa, simboliza um animal, pode até simbolizar uma história.
09:02Cocarno é uma coisa que qualquer um pode usar.
09:04Cada indígena tem o seu, tem tamanhos diferentes, formatos e cores diferentes.
09:11E a pintura corporal, normalmente a gente vê o vermelho e o preto.
09:15O que a gente vê em preto, na verdade, é um azul bem profundo, bem escuro, do genipapo.
09:20E urucum e genipapo são repelentes naturais.
09:23Então olha que inteligência, né?
09:25Não é só se enfeitar, se adornar, é também usar um repelente.
09:30E a pintura corporal para o indígena, ela é quase que uma roupa para a gente.
09:35O indígena tem que ter a sua pintura corporal.
09:38Só que não é só pintar para ficar bonito.
09:41Como eu falei, cada desenho simboliza alguma coisa.
09:43Então o indígena solteiro vai usar uma pintura diferente do indígena casado.
09:48A mulher que tem uma posição na tribo vai usar uma pintura diferente da mulher que tem outra posição.
09:55A pintura vai representar hierarquias, quem sou eu, qual é a minha posição nessa tribo, de qual tribo eu sou.
10:04Porque algumas...
10:05Nossa, eu estou falando tribo, tribo, tribo.
10:07Deixa eu chamar a atenção da gente, inclusive de mim, tá?
10:10Povos.
10:12Tribo é um termo muito pejorativo hoje em dia.
10:16É um termo que insulta, né?
10:19São povos tradicionais.
10:20Estão aqui há 10 mil anos, construíram um conhecimento riquíssimo.
10:23A gente não vê esse conhecimento, porque muito dele foi devastado com o processo da colonização.
10:33Mas eu e vocês vamos tentar evitar ao máximo chamar os povos originários de tribo.
10:39Então eu perguntei para uma inteligência, eu sempre me faço essa pergunta, de como seria o Brasil se não houvesse o processo de colonização.
10:48Então, conversando com várias inteligências artificiais, a única que conseguiu me responder com imagens, como seria esse Brasil, foi o Gemini do Google.
10:58Copilot, se recusou a produzir imagens.
11:02ChatGPT disse que criar uma imagem como essa vai contra as suas políticas.
11:09E Meta, aquela inteligência artificial do WhatsApp, criou imagens de vilas e cidades lá do século XVIII, da época da colonização.
11:23Primeiro, muita gente aqui do lado de fora.
11:26Os povos originários, eles tomam decisões coletivas.
11:28Apesar de ter a figura de alguém ali no centro, tudo é decidido pela aldeia.
11:33A vida em comunidade é uma coisa importantíssima para esses povos e com certeza isso seria a cultura desse território chamado, que nós chamamos de Brasil, porque nessa ideia de que a colonização nunca existiu, talvez não existisse, 1400 línguas, 4 troncos linguísticos, vários povos espalhados, talvez não existiria esse território chamado Brasil.
11:54Aliás, a definição do território seria complicada pelo europeu, porque para o europeu o território é o cerco, isso aqui é meu, esse é meu limite, isso é minha fronteira.
12:04Aqui não tinha essa noção de posse, existia uma noção mais de comunidade, isso aqui não é meu, isso aqui é nosso.
12:11Sustentabilidade seria a regra, então a gente vê muito verde, a gente vê muita natureza, inclusive nos prédios, nas edificações, nas formas.
12:19Na outra imagem tem uma coisa que eu acho muito interessante, que são as rotas comerciais, tem vários barquinhos ali, só um último comentário antes de passar para o próximo slide.
12:29As canoas com roda, gente, aqui não sei se vocês conseguem ver, canoa com roda, eu achei isso fantástico da inteligência artificial, mostrar que a tecnologia indígena iria, como ela iria evoluir.
12:42Além dos telhados das casas, todos enfeitadinhos, vários grafismos indígenas espalhados pela arquitetura, pela decoração, coisa que a gente não vê hoje em dia.
12:53Assim como na aula sobre as influências africanas, a gente tem muita influência indígena nas nossas palavras, a maioria delas vem desse tronco tupi, ou do tupi guarani.
13:04Inclusive nomes de cidades, né? Toponímia é o estudo do nome das cidades, por que que essa cidade tem esse nome?
13:11Então assim, eu coloquei uma lista aqui, pelo menos uma de cada estado diferente, para você ver como é que isso é espalhado no Brasil.
13:18E eu me lembro de uma vez que eu fui para São Paulo, e eu fiquei chocado a primeira vez que eu fui para São Paulo para passear, para turistar.
13:22Eu vi, eu entrei no metrô e eu fiquei assim, maravilhado com a quantidade de bairros de São Paulo que tem nomes indígenas.
13:28Mas no Brasil a gente tem muito, muito nome indígena para rio, nome indígena para cidade e por aí vai.
13:37Culinária, né gente? Até destaquei aqui do lado o açaí, que a gente gosta tanto.
13:41A mandioca deveria ter sido mais destacada por mim.
13:44Mas é um ingrediente muito utilizado pelos indígenas e muito utilizado por nós.
13:49Mas tem outras coisas também, tem outros frutos, outros legumes, outras verduras, que são originais aqui.
13:56Conhecemos com os indígenas, inclusive técnicas de cozimento, né?
14:02Cozinhar na panela de barro, me lembro agora de cozinhar na folha, cozinhar coisa enrolada na folha.
14:07Não que outros povos não tenham esse costume, né?
14:10Pegar a folha de bananeira, enrolar o peixe, mas assar com fogo bem baixinho.
14:16Só a brasa ali baixinha e colocar o peixe para assar ali.
14:19E na culinária tem muita, muita, muita influência.
14:23Acho importante também dar uma passada nas influências religiosas, tá?
14:26Primeiro, elas vêm através da pagelança.
14:30O que é pagelança?
14:32São rituais de cura e de magia, usando ervas.
14:36Lembra que eu falei que os indígenas, eles, 10 mil anos aqui, dominavam essa terra.
14:41E aí, já que é para usar uma erva medicinal para tratar um problema de saúde,
14:45vamos também fazer uma oração, vamos também fazer uma reza,
14:48para juntar essa cura física através de meios físicos e a cura espiritual através de meios espirituais.
14:56Isso é a pagelança, tá?
14:57Isso é muito forte aqui, né, gente?
14:59Vamos pensar nas benzedeiras.
15:01Quem já foi benzido?
15:02Quem já foi numa benzedeira?
15:04É por aí, a pagelança tá mais ou menos aí.
15:09E aí eu trouxe aqui duas religiões.
15:11Primeiro, Santo Daime, que surge lá no Acre,
15:13quando um...
15:14Ah, eu me esqueci o nome do rapaz que criou o Santo Daime,
15:18mas ele foi participar do ritual da Ayahuasca,
15:23tomou a Ayahuasca e ali ele teve uma visão de uma santa
15:26que incumbiu a ele, deu a ele esse recado
15:31de que ele deveria, a partir daquele momento,
15:35divulgar o Santo Daime para o mundo,
15:37para que o Santo Daime chegasse,
15:39para que a Ayahuasca chegasse a quem precisa desse produto.
15:44Vai estudar sobre o Santo Daime para entender o que é, tá?
15:46Porque não é só tomar Ayahuasca e ter alucinações, não.
15:50Vamos continuar aqui falando da Umbanda.
15:53Na aula passada eu falei do Candomblé
15:54e deixei para falar sobre a Umbanda hoje,
15:56porque é o seguinte, a Umbanda surge no Rio de Janeiro,
15:59do iníciozinho do século XX, 1900, 1903, 1905,
16:03já havia o Candomblé, já haviam os católicos,
16:08o kardecismo já tinha chegado aqui no Brasil,
16:12e um rapaz, mais ou menos 18 anos,
16:13que ele estava 18, 19, na época de entrar ali para o exército,
16:16ele mudou o comportamento.
16:17A família levou no médico, o médico falou,
16:18não tem nada no físico, não.
16:20Mas se vocês acham que tem alguma coisa, leva no padre.
16:22A família, não, não vou levar no padre, não, vamos levar no kardecista.
16:24O pessoal do kardecismo resolveu entender
16:26se tinha algum espírito querendo se manifestar.
16:29E aí veio um espírito chamado Caboclo das Sete Encruzilhadas.
16:33E os espíritas falaram, não, não vamos conversar com você,
16:35porque você é um espírito menor e inferior.
16:36E vieram outros espíritos.
16:38E os kardecistas não queriam conversar com esses espíritos,
16:40porque eram espíritos menores e inferiores.
16:42O que acontece? Kardecismo é a chamada mesa branca,
16:44só falam como espíritos de luz.
16:45Não sei se é exatamente isso,
16:48mas o Caboclo das Sete Encruzilhadas,
16:50ele chegou num ponto ali da roda que ele falou o seguinte,
16:52olha, por que vocês não querem conversar comigo?
16:53Porque eu sou indígena? Caboclo é um indígena.
16:55Vocês não querem conversar com os outros espíritos também.
16:57São ex-escravizados aqui no Brasil.
16:59E aí?
16:59E aí esse Caboclo das Sete Encruzilhadas,
17:01ele disse o seguinte,
17:02antes de me tornar um caboclo,
17:04eu estava lá na Europa com um padre.
17:05Se eu chegasse aqui na mesa branca enquanto padre,
17:08vocês conversariam comigo,
17:08mas agora que eu sou caboclo,
17:09como na minha última encarnação,
17:10eu vi um caboclo,
17:11vocês não vão conversar comigo?
17:12Então, já que vocês vão agir com preconceito,
17:14a partir de amanhã eu estou num lugar tal,
17:16num terreiro,
17:17e eu vou começar uma nova religião.
17:19E assim surgiu a Umbanda.
17:21Então, assim, a Umbanda é, com certeza,
17:23a religião mais brasileira que existe.
17:26Num terreiro de Umbanda,
17:28você tem influências católicas,
17:32tem imagem de santo católico,
17:33você tem influências do candomblé,
17:37talvez na música,
17:38talvez na roupa,
17:39no gestual, na fala,
17:42e você tem esses espíritos,
17:44ou seja, uma influência kardecista,
17:45mas que não é só o espírito de luz ali na mesa branca.
17:50Então, é uma mistura de candomblé
17:52com católico,
17:54com o kardecismo,
17:56mas que escuta espíritos de indígenas
17:59e escuta espíritos de africanos.
18:03escravizados.
18:05E tem a pagelança ali no meio.
18:07O uso de ervas,
18:09ervas medicinais,
18:10ervas sagradas.
18:12O que a Umbanda quer é buscar a cura,
18:16é buscar a melhora,
18:18é buscar a paz,
18:20é buscar o alívio,
18:21e dando voz àqueles que não são,
18:25aqueles que são marginalizados.
18:27E a gente tem que respeitar essa religião,
18:30porque a Umbanda,
18:32ela junta tudo que havia de religioso no Brasil,
18:35ali do início do século XX e anterior,
18:38ela agrupa aquilo tudo num lugar só.
18:40Vamos passar para as influências agora na arte.
18:44Sebastião Salgado é um fotógrafo brasileiro,
18:47conhecidíssimo,
18:48premiadíssimo,
18:49muito famoso pelo livro Gênesis,
18:52mas ele também tem o livro Amazônia,
18:54e ele tem outras séries de fotografias,
18:56que são bem interessantes.
18:58Ele ficou seis anos na região da floresta amazônica,
19:02navegando rios,
19:03conhecendo povos,
19:04fotografando a própria natureza,
19:06e ele registrou diversos grupos indígenas,
19:10então, assim,
19:11é muito rico e muito importante
19:15o trabalho de Sebastião Salgado
19:17para a gente conhecer esses povos.
19:19E todo esse trabalho na Amazônia,
19:22ele faz o seguinte,
19:23ele denuncia o descaso do governo,
19:26ele mostra a preocupação desses indígenas
19:28com o respeito à floresta,
19:30o respeito ao lugar onde eles vivem,
19:33o respeito aos rios que alimentam eles,
19:35que oferecem água para eles viverem.
19:38Então, o trabalho de Sebastião Salgado
19:40durou seis anos,
19:42e no fim das contas ele mostrou o seguinte,
19:43olha, a gente precisa respeitar esse povo.
19:46E aqui nessa imagem,
19:48eu não sei se vocês conseguem perceber,
19:50tentando fazer uma leitura rapidinha aqui,
19:53tem uma integração,
19:54o Sebastião Salgado usa esse preto e branco,
19:57com um pouquinho de edição ali na luz e na sombra,
20:00para mostrar o quanto eles estão integrados,
20:04mas sem camuflagem.
20:06A gente consegue ver ali a zarabatana,
20:10que é muito grande.
20:12Primeiro, isso aqui é quase que uma escola,
20:14a gente tem um adulto, um monte de criança,
20:16observando tudo,
20:18prestando atenção em como lançar o dardo
20:20com a zarabatana para poder abater algum animal.
20:24Mas eu acho interessante como esse zarabatana de pé,
20:28ela quase que se une às árvores lá no fundo.
20:32É como se o Sebastião Salgado
20:34quisesse mostrar essa capacidade de mescla.
20:38Será que esse indígena é um professor?
20:40Eu acho que ele é mais um caçador,
20:43que nesse momento de caça,
20:44resolveu ensinar as crianças a fazer
20:46o que ele sabe fazer de melhor.
20:48E vamos lembrar que nas tribos
20:50não tem essa coisa do papel do homem,
20:53do papel da mulher,
20:54que o homem tem que ser homem,
20:55que a mulher tem que ser mulher.
20:57Você tem que ser o melhor
20:59naquilo que você sabe fazer de melhor.
21:02E é assim que você contribui
21:03para a sua comunidade,
21:05para o seu grupo, para o seu povo.
21:07Essa é uma pintura do Jaider Esbel.
21:10Ele é indígena e ativista da causa indígena.
21:15Nesse trabalho,
21:17talvez um dos mais conhecidos
21:18e um dos mais interessantes dele,
21:20ele, de certo modo, denuncia
21:22a violência e dá voz
21:25a esses povos indígenas.
21:29O que a gente tem aqui
21:29é uma árvore dos saberes.
21:32Tem vários círculos em branco,
21:33alguns preenchidos e outros não.
21:36O que essa árvore mostra?
21:38É a riqueza da diversidade desses povos.
21:42Cada círculo está preenchido com algo
21:44que simboliza um dos povos da floresta.
21:47Olha quantos já estão preenchidos.
21:50Olha quantos ainda faltam ser preenchidos.
21:53Isso mostra o quê?
21:54Que, primeiro, essa é uma arte coletiva.
21:56É uma arte onde os indígenas vão
21:58contribuindo com símbolos
22:01que representam suas comunidades.
22:05Cada povo, olha a quantidade
22:08que já está preenchido.
22:09Então, a gente já vê que tem um monte
22:10de povo diferente na floresta.
22:14Tem os que estão por vir,
22:15os que ainda não preencheram.
22:17Essa obra ainda não está completa
22:19e talvez nunca esteja,
22:20porque a gente sabe que existem povos
22:22no meio da Amazônia
22:24que ainda não fizeram contato
22:25com outros seres humanos.
22:27Talvez eles nem contem
22:28os anos porque não é necessário.
22:31E, bom, eu acho interessante falar
22:35da originalidade.
22:36Essa obra não tem a menor preocupação
22:38em seguir um estilo
22:40ou uma estética europeia,
22:43uma estética dos Estados Unidos,
22:44uma estética de outras pessoas.
22:46Ele fez, e ele simplesmente fez,
22:48esse trabalho.
22:50Está vendo que eu trouxe
22:51algumas informações aqui
22:52que lembram aquela aula
22:53da arte periférica?
22:56Enfim.
22:57E queria mostrar também
22:58esse trabalho do Denilson Banyuá.
23:00Não sei se eu falei certo,
23:01mas enfim.
23:02É uma releitura de mitos e símbolos.
23:04É o que ele mais faz
23:05nas obras dele.
23:07São obras de arte
23:08bem mais contemporâneas.
23:09Tem um estilo
23:10bem original também.
23:13Mas aqui ele pega
23:16esses mitos,
23:17essas lendas,
23:18esses folclores
23:19para poder construir
23:20suas narrativas.
23:22Ou seja,
23:22para construir suas histórias
23:23a partir de uma pintura,
23:24de um desenho e por aí vai.
23:26Aqui a gente tem uma história
23:28sendo contada,
23:28que é a história do povo Onça
23:30e suas lutas
23:32por poder,
23:33sobre guerra e tal.
23:35Nesse povo Onça,
23:37o ser humano
23:38já não é mais
23:39um ser humano puro.
23:40É uma mistura
23:41de ser humano
23:41e um bicho
23:42que não raciocina,
23:44que só quer lutar,
23:45que só quer conquistar
23:47e que vive de impulso.
23:50Mas ao mesmo tempo,
23:51esse povo Onça,
23:52a gente vê que
23:52essa pessoa
23:53que está ali
23:54representada
23:55no centro da imagem,
23:56ela só tem um capuz.
23:57Então,
23:58o que eu entendo aqui?
23:59Qual é a leitura?
24:00Dentro das várias leituras
24:02que a gente pode fazer
24:03dessa imagem,
24:04qual é a leitura
24:04que a gente pode fazer aqui?
24:06Ele está refletindo
24:07sobre a conduta
24:09e sobre os conflitos humanos.
24:11Ele usa essa metáfora
24:12do povo Onça,
24:13do povo animal,
24:15que tem unha,
24:16que tem garra,
24:17que é carnívoro,
24:18para mostrar o quanto
24:19a gente é predador
24:20enquanto humano.
24:22e que isso
24:24não nos faz humano.
24:25Se a gente pensar
24:26que a gente tem
24:28aí uma conferência
24:28do clima
24:29que está chegando
24:29e que a vida
24:31vai se tornar
24:32insustentável
24:33nesse planeta
24:34por conta do
24:34aquecimento global
24:35que nós mesmos
24:36estamos causando,
24:38o que tem de humano
24:39nisso aí?
24:40E se a gente pensar
24:41nos povos das florestas
24:42que eles entraram
24:43em comunhão
24:44com essa natureza,
24:46absorvem dela
24:47o que é necessário,
24:48ainda assim,
24:50vivem,
24:50produzem,
24:51têm a sua cultura,
24:52existem,
24:53resistem,
24:54estão muito bem.
24:56Então a gente tem
24:57esse tipo de reflexão.
24:59E eu acho muito interessante
25:01esse tipo de reflexão
25:03aqui do Terninho Subbanuá
25:04porque ele consegue
25:06realmente
25:06chamar a atenção
25:09da gente,
25:10mostrar o que tem
25:11de influência
25:13indígena
25:14numa arte
25:15que fala sobre,
25:16não só sobre o Brasil,
25:17mas sobre
25:18o povo todo,
25:19o mundo inteiro.
25:21Resumindo a aula
25:22de hoje, gente,
25:23indígenas
25:24ou povos originários?
25:25Vamos evitar
25:26índio,
25:26vamos evitar
25:27tribo,
25:29porque já deu,
25:31estamos no século XXI.
25:32A cultura indígena
25:34é uma mistura
25:35de saberes,
25:36a pintura corporal
25:37já identifica
25:38vários,
25:38a forma de trabalhar
25:40com argila
25:41ou barro
25:42também vai identificar
25:42vários.
25:44Quando a gente estuda
25:45a cultura indígena
25:47parece que a gente
25:47está falando de uma coisa
25:48só, mas não é.
25:49Tupi-guarani,
25:49por exemplo,
25:50não é uma língua.
25:51A arte indígena
25:52carrega significados,
25:53ela não é só
25:54uma arte decorativa,
25:56ela não é só
25:56um enfeitezinho,
25:58tem todo um simbolismo
25:59ali por trás.
26:01Um dia eu vou fazer
26:02uma aula só
26:03sobre arte indígena
26:04ou uma série
26:05para poder explicar
26:06isso tudo,
26:07porque o foco
26:07aqui é outro.
26:08e a gente precisa
26:11lutar pela preservação
26:13da cultura,
26:15das terras,
26:16da demarcação
26:17das terras,
26:18desses povos,
26:19porque eles têm
26:20muito a ensinar
26:20para a gente.
26:22Vai chegar um momento
26:22em que a vida
26:24nesse planeta
26:24vai se tornar
26:25insustentável
26:25para nós
26:26e sustentável
26:26para eles.
26:28Espero que
26:29pelo menos
26:30sustentável para eles,
26:31porque assim
26:31a gente vai começar
26:32a olhar
26:33para essa população
26:34que já estava aqui
26:35e vai entender
26:36e vai pedir,
26:38pelo amor de Deus,
26:39me ensina
26:39a entrar em harmonia
26:41com a natureza,
26:41porque eu também
26:41quero sobreviver.
26:44Gente,
26:45por hoje é isso.
26:48Eu peço
26:48para que vocês
26:49curtam esse vídeo,
26:50para que vocês
26:51ativem o sininho,
26:53para isso se inscrevam
26:54no canal,
26:55comentem
26:56o que vocês acharam
26:58que eu falei
27:00e que foi necessário
27:01ou desnecessário,
27:02o que eu falei errado,
27:04o que faltou falar
27:05nesse vídeo.
27:06No mais é isso.
27:07Um beijo e um queijo.
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