Tarifaço de Trump vira crise global e pode favorecer Lula politicamente; Renan de Souza analisa

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Tarifa de Donald Trump vira crise global e pode favorecer Lula politicamente. Renan de Souza analisou, direto de Abu Dhabi (EAU), a repercussão internacional da tarifa de 50% imposta pelo norte-americano ao Brasil. Ele apontou os impactos políticos, os paralelos entre Trump e Bolsonaro, e como Lula pode sair fortalecido com a crise.

Acompanhe a cobertura em tempo real da guerra tarifária, com exclusividade CNBC: https://tinyurl.com/guerra-tarifaria-trump

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00:00Vivo com você e um dos principais temas dos jornais pelo mundo são as tarifas que Donald Trump tem imposto para os países espalhados por aí.

00:08O Brasil foi quem recebeu a maior taxação até agora com 50% de todos os produtos que entram nos Estados Unidos.

00:16A gente vai puxar o Renan de Souza, direto de Abu Dhabi, meu parceiro de Money Times, para essa conversa,

00:22para contar para a gente como é que estão as coisas no cenário internacional, o que ele tem sentido por lá desde ontem, Renan.

00:29Boa noite para você, bom contar contigo.

00:34Olá, Nath, muito boa tarde para você e para todos que nos acompanham.

00:38Pois é, essa repercussão das tarifas do Brasil foi muito grande em todos os jornais, a imprensa inteira falando disso o tempo inteiro,

00:46porque obviamente chama atenção a maneira como o presidente Donald Trump fez, aplicou essas tarifas em relação ao Brasil.

00:55E é a primeira vez que a gente vê o presidente dos Estados Unidos utilizando as tarifas para um meio político.

01:03Até então as questões eram extremamente comerciais e agora, neste momento, ele está tirando vantagem do seu poder,

01:11como uma grande potência ali, que os Estados Unidos são, para atingir vantagens políticas.

01:18Obviamente, como o Paul Krugman falou hoje no New York Times, se a gente estivesse em outros tempos, inclusive,

01:26isso seria base para um impeachment do presidente dos Estados Unidos, porque ele está utilizando a máquina pública contra outra nação,

01:33neste caso, o Brasil.

01:35Porque os fatos não justificam.

01:38Quando a gente lê a carta do presidente Donald Trump, ele fala sobre uma questão possivelmente deficitária

01:44da relação entre Estados Unidos e Brasil.

01:47E quando a gente olha os números, isso não é verdade, isso não é uma realidade.

01:53Então, obviamente, ele está focando na questão do grande aliado dele, que é o Jair Messias Bolsonaro,

02:00e está tentando ajudar Jair Bolsonaro, de alguma maneira,

02:04tentando se intrometer na política, no sistema judiciário brasileiro.

02:09Agora, a gente precisa levar em consideração como funciona ali a cabeça do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

02:18Isso porque Donald Trump não fica acompanhando a política brasileira.

02:21Ele não sabe o que acontece.

02:23No círculo mais próximo de Donald Trump, funciona ali como uma espécie de lobby.

02:29Quem grita mais, quem grita mais próximo da orelha do presidente, consegue.

02:33Então, a gente precisa saber, no futuro, qual foi o caminho.

02:37Mais ou menos, a gente tem uma ideia que, possivelmente, pode ser algum interlocutor da família Bolsonaro

02:43que fez com que isso chegasse até os ouvidos do presidente Donald Trump

02:47para decidir escrever a carta e aplicar a tarifa dessa maneira.

02:51Porque, obviamente, ele não fica olhando o que acontece.

02:55Tudo o que acontece com Donald Trump, da maneira como ele faz as coisas,

02:58é porque alguém sopra no ouvido dele o motivo que ele precisa fazer e ele vai e aplica.

03:05Só para dar um exemplo muito claro, a gente viu no início de algumas semanas

03:10a questão da África do Sul, a questão de que ele dizia que havia uma perseguição contra brancos na África do Sul,

03:18algo que não existia, mas aquilo foi soprado pelo presidente Donald Trump.

03:22E aí, ele toma isso como verdade absoluta.

03:26Então, esse é um ponto interessante que a gente precisa destacar.

03:30E outro é como destrava isso.

03:32Porque o governo brasileiro vai, obviamente, aparentemente, vai acabar retaliando os Estados Unidos,

03:39que seria o caminho natural, seria o caminho de se fazer isso.

03:44Mas, obviamente, para tentar destravar isso, Donald Trump precisa sentir que tem algum ganho.

03:50Então, o governo brasileiro vai ter que dar algo que Trump vai sentir como um ganho

03:54para, assim, recuar à questão das tarifas.

03:58Agora, por outro lado, o norte-americano também sofre com essas tarifas.

04:03É importante a gente dizer que os Estados Unidos importam muito o suco de laranja do Brasil,

04:08o café, um terço do café que os Estados Unidos importam, vem do Brasil.

04:13E esse café, aquele café que o americano toma de manhã, passa, compra, leva para o trabalho, né?

04:19O preço do café disparou mais de 2% desde esse anúncio de Donald Trump.

04:26Tem a questão do cacau, que também afeta diretamente os norte-americanos.

04:30Então, é uma política que não faz muito sentido, né?

04:33Donald Trump está agindo pessoal, utilizando a máquina pública para agir em sua vontade própria,

04:40de maneira completamente pessoal, Nath.

04:42É, com certeza.

04:44Imagina, né?

04:45O café já está caro.

04:46Como está?

04:47Imagina com esse impacto, né?

04:50De uma tarifa recíproca ali, né?

04:52E bem no café da manhã, né?

04:54O suco de laranja e o café.

04:55É, as duas coisas.

04:56Duas itens que fazem parte do café da manhã do americano.

04:59Exato.

04:59Nath, deixa eu só fazer um complemento agora.

05:01Uma outra reflexão, assim, pensando de uma maneira um pouco mais fora da caixinha, né?

05:05Tá.

05:06Eu acho que uma coisa também que passa um pouco pela cabeça do presidente Donald Trump

05:09é a similaridade que o caso dele tem com o presidente Bolsonaro, o ex-presidente Bolsonaro.

05:15Vamos lembrar que o presidente Donald Trump é acusado pela justiça americana, foi acusado

05:20de incitar uma rebelião, de incitar a invasão ali do Capitólio, ali no dia 6 de janeiro

05:25de 2021, né?

05:28Teve até cinco mortes, foi um caso muito falado pela imprensa americana e ali ele quase

05:33foi condenado.

05:35Ele chegou a ter, né?

05:36Teve um caso, teve um julgamento.

05:38Aquele caso foi bastante falado na imprensa americana e foi uma polêmica muito grande.

05:44E a gente tem que lembrar que é muito parecido com o que aconteceu aqui no 8 de janeiro de

05:472023, exatamente dois anos depois.

05:50Partidários também, apoiadores, dizendo que não aceitavam o resultado da eleição,

05:54tentaram invadir também prédios públicos.

05:56Então, há uma similaridade muito grande entre os dois casos.

05:59Bom, o que acontece?

06:01O julgamento do presidente Bolsonaro, ele pode dar uma ideia, né?

06:06Ele pode ser uma espécie de um roteiro para também a justiça americana mais lá na frente

06:12quando o presidente Donald Trump sair do seu cargo e eventualmente um democrata um pouco

06:16mais radical, por exemplo, né?

06:18A gente tem que lembrar que a política é uma espécie de pêndulo, né?

06:21Assim como você vai, você está indo para a direita agora, você pode vir também um

06:25candidato um pouco mais radical para a esquerda, que leve esse caso para a justiça americana

06:29e se baseie no roteiro da justiça brasileira.

06:32Então, quer dizer, estou falando de uma maneira um pouco mais ampla, mas fazendo um paralelo

06:36entre os casos dos dois presidentes.

06:37São muito semelhantes.

06:38Então, o presidente Donald Trump tem uma ligação pessoal, ele tem um desejo pessoal

06:44que o caso do ex-presidente Bolsonaro não vá para frente e ele não seja punido pela

06:48justiça brasileira e preso, né?

06:50Uma coisa que pode acontecer no julgamento do Supremo Tribunal Federal.

06:54Imagina se o presidente Bolsonaro é preso e depois essa analogia com a justiça brasileira

06:59seja aplicada também pela justiça americana.

07:02Aliás, uma coisa que já deveria ter sido feita pela justiça americana e não foi para

07:05frente porque lá eles tratam ex-presidentes de uma outra forma.

07:08Mas, enfim.

07:09Então, o paralelo entre os dois casos, ele é muito parecido, né?

07:13Ele existe na vida real.

07:14Então, eu acho que o presidente Donald Trump também olha para isso, talvez até de uma

07:18maneira um pouco mais subliminar, mas assim, tendo em jogo ali o seu futuro político ou

07:24até o seu futuro pessoal do ponto de vista da sua liberdade.

07:28Então, influenciar nesse julgamento, né?

07:31Colocar uma mão pesada para definir esse julgamento e evitar que o ex-presidente Jair

07:35Bolsonaro seja preso pode ser também um recado para que a própria justiça americana não

07:39faça o mesmo com ele daqui a pouco quando ele sair do poder.

07:41Então, eu acho que faz um certo sentido.

07:43Pode ser um pouco longe das discussões econômicas que a gente vem tratando aqui, mas acho

07:47que é uma leitura política que faz um certo sentido, ainda mais num cenário um pouco

07:51mais amplo, se a gente tirar um pouquinho o olhar da lupa daquele momento ali imediato

07:56das tarifas e olhar um pouquinho para o maior cenário, né?

07:59Ver um pouquinho mais de longe e pensar um pouco fora da caixa.

08:03Eu acho que o ex-presidente Donald Trump pode ter levado isso em consideração também.

08:07É.

08:08E o Renan estava te ouvindo, né?

08:09E acenando aqui, quero ver se você quer trazer algum complemento, porque, bom, no

08:14mundo ideal, líderes, né?

08:16À frente de uma nação, isso eu estou falando dos Estados Unidos, eu estou falando do Brasil,

08:20não deveriam, né, Felipe?

08:22Tomar decisões baseadas em questões tão pessoais ou ideológicas.

08:27Deveriam pensar no interesse geral da nação.

08:29Não, com certeza.

08:30Mas a gente sabe que na prática não é assim.

08:31Não é o caso nem com o presidente Trump, nem com o presidente Bolsonaro.

08:34E, né, é, exatamente.

08:36E a gente espera que o presidente Lula tenha esse sangue frio, ele equipe agora na condução

08:40dessa situação, né, para não se contagiar por tudo isso também.

08:43E o Renan, quer acrescentar alguma coisa, Renan?

08:46Sim, eu concordo com o Felipe, eu gosto muito de analisar o texto, né, a maneira como o

08:54presidente Donald Trump fala, porque ele fala e quando você olha ali nas entrelinhas, você

08:59acaba entendendo o recado como um todo, né?

09:02Antes dele escrever a carta para o presidente Lula com as tarifas, ele fez aquela postagem

09:07na rede social Truth e Donald Trump, naturalmente, na primeira postagem antes da carta, ele se

09:13comparou a Jair Bolsonaro, o que está acontecendo.

09:16A palavra que ele usa é caça às bruxas, né?

09:20E Donald Trump sempre se referiu a si mesmo nos Estados Unidos, como o que aconteceu com

09:26ele, uma caça às bruxas.

09:28Então, a linguagem, até na postagem ele fala, ninguém entende mais disso do que eu,

09:34ninguém sofreu mais disso do que eu.

09:36Então, ele quer dizer que ele está ajudando um semelhante, alguém que está sendo perseguido,

09:40como ele foi perseguido, né, em aspas, vamos dizer assim, na visão de Donald Trump, ele

09:47está ajudando um aliado que é perseguido, obviamente que é uma história contada sob

09:52a ótica dele, sobre a visão dele, distorcida dos fatos.

09:56Agora, eu queria só chamar a atenção para um caso importante, quando a gente olha para

10:01o Brasil e comparando com o Canadá, porque as tarifas, elas podem causar um certo desconforto

10:08inicial, obviamente, mas às vezes há um motivo de união nacional que a gente precisa

10:13entender o que vai acontecer com o Brasil.

10:16Porque quando o Donald Trump elevou o tom em relação ao Canadá, o Partido Liberal,

10:22que estava basicamente esquecido no Canadá, que iria perder eleições, conseguiu se manter

10:26no poder.

10:27Mesmo o Justin Trudeau, né, tendo renunciado, conseguiu eleger um sucessor e o partido conseguiu

10:33se manter no poder.

10:35Agora, Donald Trump fazendo isso, mirando em Lula, neste momento, um ano antes da eleição,

10:41na verdade, pode acabar favorecendo o presidente Lula, que enfrenta até um momento de avaliação

10:48pessoal no Brasil baixa.

10:50Isso pode acabar ajudando, inclusive, o presidente Lula, que pode capitalizar nesse momento, num

10:55ano que a gente precisa pensar que no ano que vem é ano de eleição no Brasil, né.

11:00Então, também tem essa correlação a ser feita.

11:03Bom, falaremos mais, claro, sobre isso ao longo dessa edição do Money Times.

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