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  • há 6 meses
O colunista da Crusoé Augusto de Franco analisa os primeiros 100 dias do governo Lula. Para ele, a principal falha é a falta de pacificação política nacional.

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Transcrição
00:00E a gente vai estudando aqui com análise nesse momento, daqui a pouquinho a gente tem Augusto Franco, que vai estar aqui com a gente, professor, palestrante, escritor, para fazer a análise dele sobre os 100 dias de governo Lula. Professor, já está aqui com a gente?
00:15Olá, Kis, tudo bem?
00:17Olá, Kis, você acompanhou aí o debate, a gente teve um debate agora há pouco com dois parlamentares, um da esquerda, outro da direita e o meio de em Brasília para isso, para a gente trazer aí sempre pontos de vista antagônicos para debater e lançar luz sobre um tema.
00:33O tema foi os 100 dias do governo Lula. E antes da gente começar, professor, eu quero pedir para a gente assistir junto aqui uma fala do Lula.
00:40O Lula acabou de falar, ele estava em coletiva de imprensa, agora há pouco, falando justamente sobre a sua gestão, os 100 dias da sua gestão, e ele falou sobre a questão da vacinação, que ele vai cobrar a carteirinha de vacinação dos servidores do Palácio do Planalto.
00:55A gente tem um vídeo aí para a gente, por gentileza?
00:58Aliás, Nisa, eu depois quero conversar com você, porque eu vou tomar uma decisão, que nesse Palácio não trabalhará ninguém que não tenha cartão de vacina nesse país.
01:08Porque isso vale, vale inclusive para as audiências que eu vou dar.
01:15É exigir cartão de vacina para as pessoas aprenderem a, se não se respeitar, respeitar os outros.
01:22Porque a pessoa pode até querer ter o direito de ficar doente, mas ele não tem o direito de transmitir a sua doença para outra pessoa.
01:30E é por isso que a gente tem que ser duro.
01:32Eu vou tomar essa decisão de exigir, falando na frente da minha ministra da Saúde, que aqui nesse Palácio só vai trabalhar e só vai entrar quem tiver cartão de vacina.
01:45Eu vou para a China segunda-feira.
01:48Eu, quando terminar essa reunião aqui, eu vou ter que fazer exame de Covid.
01:52Faço aqui, quando eu chegar lá, vou ter que fazer outra vez.
01:57Quando for encontrar com o Xi Jinping, tem que fazer outra vez.
02:00Olha, eles estão corretos.
02:03Eles estão corretos.
02:04Eles têm um bilhão e quatrocentos milhões de chininhas.
02:08Eles têm que cuidar, sabe?
02:10Como nós temos que cuidar dos nossos.
02:12Professor, a gente percebe que ainda tem essa postura muito crítica do presidente Lula,
02:22em relação tanto ao Bolsonaro e o discurso dele hoje, a coletiva de imprensa, foi muito focada,
02:27tem duras críticas ao ex-presidente Jair Messias Bolsonaro,
02:30quanto também posturas ainda um tanto quanto controversas.
02:34Como é que o senhor avaliou essa coletiva de imprensa?
02:38Qual a sua visão sobre os 100 dias do governo Lula?
02:41A gente quer um parecer analítico sobre esse tema.
02:46Pois é.
02:48Eu acho que essa polarização entre dois populismos
02:54não permite que a gente faça uma análise equilibrada dos 100 dias do governo Lula.
03:02Para o PT, parece que não é 100 dias do governo Lula,
03:06e sim os mil dias do governo Bolsonaro, que não existe mais.
03:11todas as discussões, o Bolsonaro é como se o Bolsonaro estivesse no governo
03:16e o PT fosse a oposição.
03:21Isso é um truque,
03:24mas é um truque que desabilita a capacidade da análise política
03:29de revelar o que a gente quer saber.
03:33O que a gente quer saber?
03:34O governo Lula, nesses 100 primeiros dias,
03:40independente do conteúdo das suas políticas,
03:44ele falhou por um motivo básico.
03:48Ele não se revelou um governo de pacificação nacional.
03:55Então, ele investiu na polarização que já vinha da campanha
04:00e parece que continuou em campanha.
04:05Até agora, o que nós vimos foi proposta de palanque
04:09ou proposta apresentada que ainda para ser realizada no futuro.
04:15Então, a primeira grande falha dessa largada do governo Lula
04:21foi não ter assumido a postura que o próprio Lula prometeu que ia assumir
04:26de pacificar.
04:28Um presidente, uma vez eleito, é presidente de todos os brasileiros.
04:33Não pode ficar espichando artificialmente a guerra,
04:38a política como guerra,
04:41e atacando o governo Bolsonaro,
04:44como se o governo Bolsonaro, ou o próprio Bolsonaro,
04:47ou o bolsonarismo,
04:49fossem alternativas concretas a esse terceiro mandato de Lula.
04:54Não são.
04:55Agora, o Lula e o seu governo do PT,
04:59porque não é governo de frente ampla, como nós sabemos,
05:02é o governo do PT,
05:04e no máximo de uma frente de esquerda,
05:07com um ou dois enfeites de frente ampla,
05:10é necessário que esse governo
05:12diga o que vai fazer
05:14e que nós todos observemos como ele está fazendo isso.
05:19Então, para mim, essa foi a principal falha.
05:25Enquanto nós continuarmos nessa polarização
05:28entre dois populismos,
05:30o populismo autoritário bolsonarista
05:33e o neopopulismo de esquerda lulopetista,
05:37nós vamos ter muita dificuldade para caminhar
05:40para uma democracia mais consolidada e mais plena no Brasil.
05:44Os populismos, hoje, são os principais adversários da democracia.
05:49Não importa que se digam de direita ou se digam de esquerda.
05:53Então, esse é que é o problema.
05:55Nenhum país do mundo, nenhum regime do mundo,
05:59se transformou numa democracia mais plena,
06:03numa democracia liberal,
06:05na ausência de uma oposição democrática.
06:07Esse é o centro da questão.
06:10Nós não temos, hoje, no Brasil,
06:13uma oposição democrática.
06:15Tem uma oposição bolsonarista,
06:17que é antidemocrática,
06:19porque os bolsonaristas não se converteram à democracia,
06:23e tem uma situação
06:24que fica prolongando a guerra,
06:29fazendo o governo Bolsonaro sobreviver,
06:32respirando por aparelhos.
06:34E, portanto, o que eu tenho?
06:37Eu tenho palanque e guerra.
06:39Eu não tenho um governo de pacificação
06:42capaz de juntar os brasileiros
06:45em direção a projetos de melhorias do nosso país.
06:52Professor, eu li um artigo seu,
06:54inclusive, para quem está assistindo aqui a gente,
06:56o professor Augusto de Franco está com a gente aqui na Cruzoé,
06:59no Antagonista.
07:00Esporadicamente, eu leio alguns artigos seus
07:02na nossa página da Cruzoé,
07:05e são artigos incríveis.
07:06Então, se você está acompanhando a gente aí,
07:08deseja se aprofundar sobre esses temas,
07:10com esse brilhantismo do professor Augusto,
07:13então já acessa a página do Antagonista
07:15para conferir esses temas.
07:17E um artigo que me chamou bastante atenção
07:19foi sobre as falas do ex-ministro da Casa Civil,
07:22José Disseu,
07:24que ele afirmou que serão necessários
07:2612 anos de uma aliança desenvolvimentista
07:30para conseguir avançar em questões políticas.
07:32E eu queria que o senhor comentasse para a gente
07:33essa fala do José Disseu
07:35sobre os 12 anos a mais do governo do PT,
07:38se é isso mesmo.
07:40Essa fala do José Disseu revela
07:42a falha principal da concepção
07:44e da prática de democracia do PT.
07:46Em primeiro lugar, é preciso ver que o José Disseu
07:49não é uma carta fora do baralho.
07:52Pelo fato de ele não estar formalmente no governo
07:55e na direção do partido,
07:58isso não significa que ele não seja, de fato,
08:02o principal dirigente do partido,
08:04além do Lula, é claro.
08:06O Lula é o PT, o PT é o Lula,
08:09como nós sabemos,
08:10não são entidades separáveis.
08:12Mas o principal dirigente do PT
08:16ainda é o José Disseu de Oliveira e Silva.
08:20Muito bem.
08:21Qual é a falha
08:23na visão de democracia do PT
08:26que essa fala do José Disseu revela?
08:30O PT não convive com um dos critérios
08:33principais da legitimidade democrática,
08:36que é a rotatividade ou alternância.
08:38Ele não gosta disso.
08:40O PT usa as eleições,
08:42o PT é um partido convertido
08:44à democracia eleitoral,
08:46mas que não aceita os princípios liberais
08:49da democracia.
08:51Então, ele gosta de eleição,
08:53ama de paixão a eleição,
08:55quer ganhar eleições sucessivamente
08:59para ficar no poder e reter o poder,
09:03mas não gosta da alternância.
09:06Olha, vejamos só um exemplo.
09:09Aqui na América Latina,
09:10nós só temos três democracias plenas ou liberais.
09:14É a Costa Rica, o Uruguai e o Chile.
09:18Só temos essas três.
09:20Vamos ver o que aconteceu, por exemplo,
09:22no caso do Chile.
09:25O Alvin é substituído pelo Eduardo Frei,
09:29que é substituído pelo Lagos,
09:33que é substituído por Bachelet,
09:35que é substituída por Pinheira,
09:38que é substituído novamente por Bachelet,
09:41que é substituído novamente por Pinheira,
09:44e que é substituído pelo atual presidente Gabriel Boric.
09:48O mundo não acabou.
09:51Entenderam como é que a rotatividade faz parte
09:54do metabolismo normal das democracias mais plenas?
09:59Nós podíamos dar outro exemplo,
10:01o caso do Uruguai.
10:02O que aconteceu no Uruguai?
10:04Sanguinete foi substituído pelo Lacaia,
10:07não o atual presidente, o pai dele,
10:09que é substituído por Sanguinete novamente,
10:13que é substituído pelo Bachel,
10:14que é substituído por Vasques,
10:16que é substituído pelo Mujica,
10:18ou Mujica,
10:19que é substituído novamente pelo Vasques,
10:22e que é substituído pelo atual Lacaiepou.
10:26E o mundo não acabou.
10:28Essa é a vida normal das democracias plenas.
10:32Mas o PT não gosta disso.
10:34O PT quer o seguinte,
10:35quer usar as eleições para chegar,
10:37porque é o caminho, não é?
10:38Não pode fazer insurreição popular,
10:41guerra popular prolongada,
10:42foco revolucionário,
10:44ou seja, as velhas estratégias da esquerda
10:48hoje não se aplicam no mundo atual.
10:51Então, ele diz,
10:51bom, vamos aderir ao processo eleitoral.
10:55Mas, calma lá,
10:57nós não gostamos muito
10:58de alguns dos critérios
11:00que estão associados à democracia eleitoral.
11:02O principal deles é a rotatividade.
11:06Então, quando o PT perde uma eleição,
11:09ele não atribui isso
11:10ao funcionamento normal da democracia.
11:12ele acha que errou.
11:14Onde é que nós erramos,
11:15que nós perdemos?
11:17Como se não fosse natural
11:19essa rotatividade.
11:21Como se ela não fosse saudável
11:23para a democracia.
11:25Ela é saudável.
11:27As democracias conseguem ser regimes
11:29estáveis e mais consolidados
11:32porque há a aceitação da derrota
11:37por quem perde
11:38e que depois pode voltar
11:40e que pode perder novamente.
11:42O PT não gosta disso.
11:43Então, ele quer ganhar eleições sucessivamente,
11:48ganhando tempo
11:49para conquistar a hegemonia
11:50sobre a sociedade
11:51a partir do Estado
11:53aparelhado pelo partido.
11:55Essa é a estratégia do PT.
11:57A estratégia do PT
11:58nunca foi dar um golpe de Estado.
12:00Não é?
12:01Como podia ser, por exemplo,
12:02a estratégia do bolsonarismo.
12:04A do PT não é.
12:05O PT quer ganhar eleições sucessivamente,
12:08mas ele não gosta
12:09da rotatividade democrática,
12:11assim como não gosta
12:11de outros critérios da democracia,
12:14como é o caso
12:15da institucionalidade,
12:18da legalidade.
12:20Da institucionalidade
12:21é o seguinte,
12:22o PT gosta das instituições,
12:25ele não quer destruir as instituições,
12:27ele só quer ocupar as instituições
12:29e fazer maioria no interior
12:32de todas elas.
12:32Com isso, ele desfigura
12:35o caráter, vamos dizer assim,
12:37suprapartidário
12:38ou apartidário das instituições
12:41e transforma as instituições
12:45numa espécie de departamento do partido.
12:48Então, a fala do Zé Dirceu
12:50é preocupante.
12:53Eu vou dizer por quê.
12:54Primeiro, pela influência do Zé Dirceu
12:56sobre a militância
12:58e os dirigentes do PT.
12:59Em segundo lugar,
13:02porque quem quer ficar três mandatos,
13:05quando acabar o terceiro,
13:07por que não vai querer mais três?
13:10Essa é a questão.
13:12Se eu posso ficar três vezes no governo,
13:15eu ou o meu partido,
13:17mais três,
13:19então, não é assim que o Putin está fazendo
13:21desde 1999?
13:22Por isso esse namoro com o Putin.
13:25Aliás, no balanço que os deputados
13:28Zucco e Kiko fizeram ainda há pouco,
13:32não apareceu essa questão claramente.
13:35Mas nesses primeiros cem dias,
13:38uma das piores coisas que aconteceu,
13:41ou que aconteceram,
13:42foi exatamente
13:43esse alinhamento
13:46meio dissimulado
13:49com a ditadura de Vladimir Putin.
13:53Não é?
13:54E uma certa simpatia exagerada
13:58com a ditadura chinesa do Xi Jinping.
14:01Para onde o Lula, inclusive, vai agora.
14:04Exatamente.
14:05Então, quer dizer,
14:08o Brasil,
14:10não é que o Brasil voltou,
14:12o PT voltou.
14:14E o PT voltou,
14:16mas não está disposto
14:17a entrar na coalizão
14:20das democracias liberais do mundo
14:23contra o avanço das autocracias.
14:26O PT está fazendo o contrário,
14:28ele está sempre querendo namorar,
14:32ou quem sabe até casar,
14:34com as grandes autocracias,
14:36com as grandes ditaduras do mundo.
14:38Ora, isso é péssimo
14:41para todos nós.
14:43E no fim, vai ser péssimo,
14:44inclusive, para o próprio PT.
14:49Professor Augusto de Franco,
14:50obrigada pela gentileza,
14:52obrigada por vir ao Meio Dia em Brasília,
14:53com todo o brilhantismo aqui,
14:54que já é mais que reconhecido
14:56pelos nossos espectadores,
14:58pelos nossos leitores.
14:59E as portas do Meio Dia estão abertas,
15:01sempre que quiser voltar aqui,
15:02eu vou convidá-lo mais vezes
15:03para vir aqui ao Meio Dia,
15:05lançar a luz sobre temas polêmicos,
15:07controversos,
15:08e sobre temas, principalmente,
15:10que afetam a sociedade.
15:11Obrigada pela gentileza.
15:14Foi um prazer,
15:15grande abraço.
15:16Grande abraço.
15:33E aí,
15:34gente,
15:35que afetam a sociedade.
15:35Obrigado.
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