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  • 25/06/2025
Estudioso da imagem do Brasil no exterior, Daniel Buarque comenta o impacto das invasões do 8 de janeiro na forma como o mundo enxerga o país.

Assista à íntegra do programa: https://youtu.be/BY10p_qS8VI

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Notícias
Transcrição
00:00O Daniel é editor executivo, me corrija se estiver errado, da revista Interesse Nacional, que é uma revista trimestral de artigos sobre política externa e diplomacia, e que tem um portal que é atualizado diariamente, com notícias, artigos, etc.
00:12A Interesse Nacional tem, desde abril do ano passado, uma pesquisa chamada Índice de Interesse Internacional, que acompanha sete jornais estrangeiros, sete veículos, o noticiário sobre o Brasil em todos eles e tenta classificá-lo em positivo, neutro ou negativo.
00:31E o Daniel estava dizendo para a gente aqui, antes de a gente entrar, e está no portal da Interesse Nacional, caso vocês queiram ver, que depois da invasão bolsonarista em Brasília, no 8 de janeiro, da depredação dos prédios dos três poderes, as menções negativas ao Brasil dispararam na imprensa internacional.
00:50Algo no tom de 75% de dimensões negativas na semana posterior aos ataques. Eu queria que você falasse um pouco não só dessa repercussão específica dos ataques aos prédios dos três poderes, mas do anterior, de como o que a pesquisa de vocês, do interesse internacional, estava captando em relação à imagem do Brasil durante o último ano do governo Bolsonaro e antes desses ataques.
01:18Certo. Começando pelos ataques, o que eu achei mais surpreendente não é nem só que três em cada quatro matérias eram negativas sobre o Brasil, é o tamanho da visibilidade.
01:28A gente tenta fazer essa classificação de visibilidade, é quanto se fala sobre o Brasil, quantas reportagens de convenção de destaque ao Brasil fazem esses sete jornais.
01:35E a gente tem um histórico que a média era de em torno de 60 matérias por semana. Na semana depois do ataque, de segunda-feira, 9 de janeiro até o domingo agora,
01:47foram 263. Ou seja, foi a maior visibilidade que a gente pegou em um ano.
01:54Foi um crescimento de mais de 50%, se não me engano.
01:5655% além do recorde que era anterior, que tinha sido na semana após o segundo turno da eleição.
02:03No segundo turno depois... Nas duas semanas antes e depois do segundo turno da eleição, foram 161 e 169, se eu não me engano.
02:09Então, já tinha sido três vezes a média que a gente tinha semanal. E com a invasão, foi 263, ou seja, foi 55% a mais do que o recorde anterior.
02:19E quase cinco vezes mais do que a média. Então, essa visibilidade chamou muita atenção.
02:24O número de matérias que a gente teve que analisar foi muito maior do que a gente estava acostumado.
02:28E também teve essa questão negativa. O recorde que a gente tinha negativo antes do ataque em Brasília
02:38tinha sido em junho, na época do desaparecimento do Dom Félix e do Bruno Pereira.
02:43Aquele tinha sido, até então, o pior momento de imagem do Brasil.
02:46O que mostra, sem querer te interromper, o quanto a questão ambiental é crucial para a visão do Brasil lá fora.
02:53Aí tem dois pontos. Tem a questão ambiental e tem a questão que era um jornalista estrangeiro,
02:57um jornalista inglês que escrevia para o Guardian. Então, a cobertura do Guardian foi gigantesca.
03:04Dos outros também. Existe esse corporativismo também, do jornalismo, de chatar, que morreu um jornalista estrangeiro.
03:11Mas é isso. Até então, e naquele momento tinha sido 70% de notícias negativas sobre o Brasil.
03:15E agora foram 75%. Então, foi o pior momento de imagem do Brasil.
03:18Tive muita visibilidade, muita visibilidade negativa.
03:20E tem um ponto também que é, essa classificação de positiva, negativa e neutra, a gente tenta fazer de uma forma muito sistemática
03:28para poder mostrar de que forma a notícia pode afetar o olhar do leitor sobre o país.
03:35É isso que a gente tenta entender como negativa, positiva e neutra.
03:38A pessoa que vai ler essa notícia, ela vai sair dela com a visão igual, pior ou melhor do Brasil.
03:44E algumas notícias são um desafio.
03:49Porque algumas notícias, por exemplo, de combate à corrupção, prisão de pessoas por corrupção.
03:55Como é que você avalia isso?
03:56Porque a prisão por corrupção é uma coisa positiva, porque você está combatendo a corrupção.
04:00Mas, ao mesmo tempo, você está dando visibilidade a um escândalo de corrupção.
04:03Então, tem sempre nuances e a gente tem que sempre discutir.
04:06Tem coisas que não dá para saber muito claramente.
04:08E tem que ter uma decisão ali sobre o que você interpreta que é isso.
04:11Isso é um trabalho que a gente faz sistematicamente, duas pessoas analisando, discutindo.
04:15Mas, no caso da invasão, o que a gente percebeu foi que, tirando se tivesse uma notícia que dissesse
04:22a democracia venceu, não tinha como analisar nada como positivo.
04:25Porque era um ataque com tons golpistas, que foi tratado de fora como tentativa de golpe o tempo todo,
04:31destruindo um palácio presidencial que demonstra a fragilidade da democracia,
04:36que demonstra radicalismo, que demonstra vários problemas da política brasileira.
04:41O prédio do Supremo Tribunal Federal.
04:42Isso, isso.
04:43Não havia como não condenar.
04:44Exatamente.
04:45Então, é isso.
04:46Teve um aumento gigantesco da visibilidade e essa visibilidade foi muito associada a um tom negativo.
04:52Ao longo desse ano que a gente fez a análise, que foi o último ano do governo Bolsonaro,
04:55teve uma coisa muito curiosa que, tipo, tradicionalmente,
04:59não existe uma tendência única de sempre é positivo, sempre é negativo,
05:05sempre oscila muito, oscila muito e oscila muito com o noticiário.
05:09Tem uma predominância tradicional de notícias neutras que são notícias factuais.
05:15São coisas, tipo, aconteceu isso no Brasil, dessa forma, tal, o texto não tem um tom crítico,
05:19não tem uma análise e aí isso acaba sendo uma coisa neutra.
05:23Normalmente, a maioria das notícias, na média, 50%, tem um tom neutro.
05:27Até a eleição, as notícias negativas eram quase 40%, eram 37%, 38% e eram muitas vezes ligadas à cobertura de política.
05:40A imprensa internacional sempre tem uma cobertura muito crítica ao governo Bolsonaro
05:44e acompanhava o noticiário brasileiro sobre política e tudo isso aparecia fora e aparecia muito de forma negativa.
05:52E aí tinha o noticiário sobre questão ambiental, que é muito frequente também,
05:57a gente está falando de uma amostra de sete jornais, claro, não representa todo o universo de jornais do mundo,
06:02mas a gente tenta pegar de vários países e pegando jornais que se chamam de newspapers of record,
06:07que são os jornais que estão registrando a história, e isso é uma amostra do que está sendo pensado fora.
06:13Só para a gente dizer para o espectador quais são os jornais.
06:15O New York Times, o Guardian, o Le Monde, da França, o Público de Portugal, o Clarim, da Argentina,
06:22o país da Espanha e o China Daily.
06:25O China Daily é interessante, a gente estava conversando também antes de vir para cá,
06:28porque desses todos é o mais porta-voz do governo.
06:32A opinião do New York Times, assim como do Le Monde, do Clarim, não são as dos respectivos governos.
06:37A do China Daily, que é escrito em inglês para um público que está na China,
06:41é o Partido Comunista Chinês falando ali.
06:44E eles focam muito mais em economia do que os outros.
06:48Economia, parcerias com o Brasil, desenvolvimento dos BRICS e menos política.
06:52E tem essa coisa do próprio governo chinês de não se envolver abertamente.
06:58Em assuntos internos.
06:59Exatamente.
07:00Pelo menos oficialmente essa é a postura, então é isso que eles seguem ali.
07:04Mesmo na eleição, a cobertura deles foi muito mais limitada e muito mais factual.
07:08Esse foi um ponto interessante.
07:09Eu estava falando antes da dificuldade de fazer essa análise positiva e negativa.
07:13Na eleição, a gente tinha que ter muito cuidado, porque boa parte da cobertura foi puramente factual.
07:20Lula ganhou, teve tantos votos.
07:22Isso era tudo neutro.
07:24Aí era, Lula agora vai salvar a Amazônia.
07:27Era positivo.
07:28Era, Bolsonaro ameaça a democracia brasileira.
07:30Era negativo.
07:31Então é isso.
07:32É como fazer essa análise do que é positivo e negativo.
07:35Bem, mas como eu falava, na média, 50% de notícias factuais, sem nenhum efeito direto
07:43que a gente possa perceber na imagem do Brasil.
07:45A maioria até a eleição negativa, a maioria tirando as neutras, 35% a 40% negativas e
07:51só 10% a 15% positivas.
07:53E essas notícias positivas quase sempre ligadas aos estereótipos do Brasil, como o Brasil
07:57é um bom lugar para você ir passar o turismo, para você viajar, o Brasil olha a música
08:01brasileira que é maravilhosa, a cultura brasileira é muito boa, a comida brasileira aparece
08:06de vez em quando.
08:07Então tem essa coisa.
08:08O Brasil é visto positivamente nesses atributos mais suaves, mais de cultura.
08:14Soft power.
08:15Soft power e muito criticado no lado da política.
08:18Desde a eleição, mudou.
08:21Porque, como eu falei, teve quase uma euforia nesses jornais, vendo positivamente a vitória
08:28de Lula, e a abordagem muito em cima de isso é positivo para a democracia, porque
08:33Bolsonaro ameaçava a democracia, isso é positivo para o meio ambiente, vai ser positivo
08:36para o mundo todo, porque vai ajudar a proteger a Amazônia.
08:40Então foi um momento em que, foi uma das primeiras vezes em que a gente viu o número
08:45de notícias com tom positivo ultrapassar o de negativo e neutro.
08:49E isso se manteve ali por uma ou duas semanas.
08:52A ida de Lula ao Egito, lá na COP, foi muito bem vista também.
08:55E ainda, de novo, o meio ambiente, mudança de postura, vai ser bom agora.
09:01Os atos antidemocráticos pioraram um pouco a imagem um momento ou outro, mas na média
09:05foi isso.
09:06Tinha essa predominância de notícias mais factuais, cultura aparecendo bem, política
09:12aparecendo mal.
09:13A eleição virou um pouco e ficou oscilando.
09:16Antes disso, teve o caso que eu falei, que foi do Dom Felipe e do Bruno Araújo, que
09:20foi um momento muito negativo.
09:21A gente chegou até a separar isso para fazer uma análise separada, porque não só
09:25teve uma cobertura muito grande, porque durou muito tempo, eles ficaram semanas desaparecidos,
09:30o desaparecimento já chamou muita atenção, depois eles morreram e teve toda a investigação
09:33e tudo isso foi muito acompanhado.
09:36E depois, o que a gente percebeu foi que isso manteve um volume muito alto de notícias
09:43sobre a questão ambiental e sobre um olhar da Amazônia como terra sem lei, que é algo
09:50que eu já percebia desde esse primeiro livro, que você falou que é 2013, eu fiz essa pesquisa
09:55em 2000, comecei em 2010, e naquela época, especialmente nos Estados Unidos, já tinha
09:59muito essa sensação, a Amazônia é muito retratada como uma terra sem lei, era muito
10:04associada à morte da Dorothy Stang, e tinha essa percepção de Amazônia terra sem lei.
10:10Com a morte do Dom Felipe, isso voltou muito forte.
10:13E voltou e se manteve ali por semanas depois, vários jornais, o Le Monde fez uma série
10:17sobre a Amazônia e toda crítica, toda mostrando aumento de matamento, esse problema de falta
10:22de segurança, de terra sem lei, e manteve-se por muito tempo essa imagem negativa da Amazônia
10:28e que se inverteu com esse otimismo que veio desde que Lula foi eleito.
10:43Amazônia
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