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  • há 6 meses
Em entrevista ao Papo Antagonista, o ex-juiz Sergio Moro afirmou que sua esposa, Rosângela, se expressou mal quando, em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, falou que “Moro e Bolsonaro: vejo uma coisa só”.

A entrevista foi concedida em fevereiro de 2020, quando o então ministro da Justiça já sinalizava que havia atritos entre ele e o presidente da República.

“Ela se expressou mal nessa entrevista”, disse Moro.

“Havia um movimento da imprensa, que percebia que havia esse desconforto. O próprio O Antagonista publicava ocasionalmente notícias informando que a relação não ia bem, entre o presidente [Jair Bolsonaro] e o ministro. Agora, eu, como ministro, não poderia simplesmente confirmar esse tipo de notícia”, declarou.

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Transcrição
00:00O que aconteceu foi o seguinte, eu acolhi a oportunidade pelos motivos que já mencionei, eu vi uma chance, veja, mais de 50 milhões de brasileiros elegeram um novo presidente, havia ceticismo, havia desconfiança, sim, mas também havia esperança de que pudesse dar certo.
00:19E os primeiros movimentos foram de nomear pessoas qualificadas, ministros da Economia, ministros das áreas técnicas, então havia uma expectativa de uma mudança no país.
00:35Eu assumi com essa missão, apresentei projetos nessa linha, as ações que foram tomadas no Ministério da Justiça eram todas consistentes com os princípios que me levaram a aceitar a decisão de ir para o governo.
00:51Paulatinamente, no ano de 2019, a minha percepção foi que a minha pauta estava sendo sabotada.
01:00Se você tem resistência no Congresso, isso é algo normal, nós temos uma separação dos poderes.
01:06Se você tem dificuldades, às vezes, nas cortes de justiça, no poder judiciário, isso é normal, faz parte da separação dos poderes.
01:13Tem que se alugar e tem que se trabalhar para vencer essas dificuldades.
01:17Mas quando você começa a sofrer sabotagem do próprio presidente do Palácio do Planalto, aí tem alguma coisa de errado.
01:26E eu comecei a perceber isso durante o ano de 2019, primeiro na questão envolvendo o COAF,
01:32depois nas declarações públicas do presidente querendo interferir na Polícia Federal, isso já em agosto de 2019,
01:40na falta de apoio ao projeto anticrime, o projeto anticrime tramitou no Congresso, ele foi aprovado ali em dezembro de 2019,
01:52foi para veto presidencial, sanção ao veto presidencial.
01:55O presidente não vetou algumas medidas que, infelizmente, minavam o combate à corrupção,
02:01que haviam sido inseridas pela Câmara dos Deputados durante a tramitação.
02:06Então, ali eu já tinha perdido a confiança, mas eu também acreditava que a minha permanência no governo,
02:14ainda assim, era importante, que eu queria preservar a Polícia Federal de qualquer espécie de interferência.
02:22Claro que não é só uma questão da instituição, Polícia Federal, mas também porque eu entendia que aquilo era importante para o país,
02:29preservar a Polícia Federal para que ela pudesse realizar o seu trabalho e não ter a sua atividade desvirtuada.
02:35Então, eu fui estendendo minha permanência no governo até o momento limite em que há essa interferência e eu decido realmente sair,
02:43porque aí não faria mais sentido eu permanecer no governo.
02:48Então, basicamente, enfim, já em 2019 já tinha essa percepção.
02:54Agora, enquanto você é ministro, Diogo, do governo, você está lá, acho que não cabe você ficar criticando publicamente o presidente
03:04ou externando essa discordância.
03:07Então, você tem que fazer o seu trabalho.
03:09E eu, internamente, defendi as minhas posições com muita veemência, certo?
03:13Não só da minha pasta, mas nas outras pastas em que eu entendia que havia um ponto fundamental que eu deveria me pronunciar,
03:21como no caso da pandemia, até que chegou um momento limite em que eu disse,
03:26olha, não faz mais sentido eu ficar.
03:27Se você estava ficando para evitar interferência e o presidente te pula a você para fazer essa interferência,
03:34então, aí você tem que sair.
03:36Vamos pensar o que nós pensaríamos se tivesse havido o mesmo nível de interferência durante governos anteriores,
03:45durante a Operação Lava Jato.
03:49Seria inaceitável.
03:50Houve tentativas.
03:51Houve tentativas, mas não houve sucesso.
03:54E eu sempre tive presente assim, enquanto eu estou com o ministro da Justiça,
03:58eu sou um garante contra qualquer espécie de interferência.
04:01Por que eu não interferia?
04:02Eu escolhi pessoas técnicas para trabalhar lá.
04:05Eu não ficava conduzindo investigação, ou pedindo que investigasse X ou Y,
04:10ou pedindo qualquer espécie de coisa inapropriada.
04:13Porque ninguém faria isso enquanto eu fosse ministro.
04:18Entendeu?
04:18Moro, só uma coisa.
04:20Nessa cronologia aí que você fez para o Diogo,
04:23tem um ponto aí que me causa alguma dúvida.
04:29Porque em 16 de fevereiro de 2020, a sua esposa deu uma entrevista ao Estadão
04:37e que disse, abre aspas, sou pró-governo federal, eu não vejo o Bolsonaro, o Sérgio Moro.
04:44Eu vejo o Sérgio Moro no governo do presidente Jair Bolsonaro.
04:47Eu vejo uma coisa só.
04:49Fecha aspas.
04:50Bom, a esta altura do campeonato, segundo a sua cronologia, você já havia percebido,
04:55embora ainda permanecesse no governo, que o Bolsonaro estava sabotando o seu projeto.
04:59No entanto, a sua esposa dá essa declaração e isso parece um pouco contraditório em relação a essa cronologia que você nos deu.
05:10Você poderia explicar essa declaração da sua esposa em fevereiro de 2020?
05:15Mário, muito claramente, eu adoro minha esposa, tenho uma confiança absoluta na minha esposa.
05:21Ainda bem que você está falando isso.
05:22A gente tem 22 anos de casados, dois filhos, nós temos uma parceria fundamental.
05:34Ela se expressou mal nessa entrevista, mas o que havia ali, veja, mesmo eu,
05:39eu não colocava essas discordâncias em relação ao presidente de maneira pública.
05:45E havia um movimento da imprensa que percebia que havia esse desconforto.
05:52O próprio antagonista publicava, ocasionalmente, notícias informando,
05:58olha, a relação não vai bem entre o presidente e o ministro.
06:02Agora, eu, como ministro, não posso simplesmente confirmar esse tipo de notícia.
06:08E, na verdade, o que eu queria fazer era construir.
06:12Enquanto eu estava dentro do governo, sempre havia uma chance, uma possibilidade de construir o projeto
06:18e tentar fazer as coisas melhorarem.
06:21Então, a minha esposa, a Rosângela, quando deu essa entrevista,
06:25ela foi um pouco nessa linha, tentando, vamos dizer assim, deixar...
06:30É muito claro que eu não sou o presidente Bolsonaro, sou uma pessoa muito diferente do presidente Bolsonaro.
06:39Mas, naquele momento, era uma oportunidade para diminuir as arestas.
06:45Então, o que ela estava querendo dizer, olha, que o ministro, no caso eu,
06:50eu não sou uma oposição dentro do governo,
06:53porque as minhas discordâncias eram colocadas internamente, não publicamente.
06:57Então, foi esse sentido que ela quis colocar.
07:00E aí, houve todo um...
07:01Realmente, não se expressou tão bem naquele momento.
07:05Uma pessoa extremamente qualificada.
07:07Mas, assim, para a gente que não é político...
07:10Agora, eu estou entrando na política.
07:11Não vou ficar falando que eu não sou político.
07:13Estou entrando na política e acho que tem que construir a solução do país através da política.
07:18Mas nós, que não somos treinados, seja em discurso ou seja em entrevista,
07:22muitas vezes a gente tem dificuldade, pode cometer alguma gafe, algum equívoco.
07:26O que não muda, aquilo que nós somos e aquilo que nós acreditamos.
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