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No Papo Antagonista desta quarta-feira, Felipe Moura Brasil entrevistou os médicos Bruno Filardi e Marcio Sommer Bittencourt, que analisaram os dados da eficácia da Coronavac e traçaram um panorama sobre a vacinação no Brasil.
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No Papo Antagonista desta quarta-feira, Felipe Moura Brasil entrevistou os médicos Bruno Filardi e Marcio Sommer Bittencourt, que analisaram os dados da eficácia da Coronavac e traçaram um panorama sobre a vacinação no Brasil.
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NotíciasTranscrição
00:00Muito bem, esse é o Panorama Geral sobre a vacinação com as notícias de hoje e eu vou conversar agora com Bruno Filar, de médico oncologista clínico do Instituto do Câncer Brasil, doutor em medicina pela USP, pós-doutorado em imunopatologia molecular, além de outro convidado, mas eu já dou o meu boa noite ao Bruno Filar, de tudo bem, seja bem-vindo.
00:21Boa noite, é um prazer estar aqui, é uma honra poder participar e ajudar, trocar ideia com todos.
00:27O prazer é nosso, seja bem-vindo. E eu converso também, simultaneamente, com Márcio Bittencourt, médico do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica do Hospital Universitário da USP. Boa noite, Márcio, tudo bem, seja bem-vindo.
00:42Boa noite, é um prazer, obrigado pelo convite.
00:45Obrigado a vocês. Deixa eu perguntar, já que a gente deu esse panorama geral, começar sobre essa questão da cloroquina, da ivermectina. O que que vocês acham disso? Começo pelo Bruno.
00:59O senhor acredita que ainda tem sentido fazer uma pressão para que esses medicamentos sejam usados? Existe, afinal, um tratamento precoce? Em que consiste um eventual tratamento precoce, Bruno?
01:16Bom, Felipe, o que a gente sabe hoje, né, através dos estudos, inicialmente teve aquele estudo observacional, um estudo feito pelo médico francês, no qual ele aventou a possibilidade de uma eficácia da cloroquina e da azitromicina.
01:31Muitas pessoas utilizaram, acreditou, deu-se um voto de confiança para essa hipótese, né, e depois dos estudos controlados acabaram considerando essa hipótese uma hipótese nula.
01:42E a gente sabe que não existe um tratamento precoce hoje, eficaz, comprovado pelos critérios mais puros e mais fidedignos da medicina baseada em evidência.
01:55Mas há, sim, tratamento para as fases mais avançadas, como corticóide.
01:59O x-cina tem uma eficácia também comprovada.
02:03E, claro, todo o manejo clínico, mas tratamento precoce até hoje não tem nenhuma droga comprovada.
02:08Márcio, qual é a sua avaliação?
02:13Bom, acho que especificamente do tratamento farmacológico, eu concordo com o Bruno, acho que a gente já tem evidência suficiente para dizer que cloroquina não funciona,
02:23pelo menos na forma como a gente aprendeu a testar as medicações da forma mais rigorosa que tem.
02:29Cloroquina não funciona, azitromicina não funciona e talvez tenha até um sinal de fazer mal.
02:34Ivermectina foi muito pouco estudada, a evidência é muito pobre, mas também não tem uma indicação consistente de que funciona.
02:41Então, eu diria que quanto a cloroquina, quanto a azitromicina, acho que a gente está completamente resolvido.
02:46Contra a Ivermectina, ela está perdendo no jogo, a probabilidade de ter alguma coisa é muito pequena,
02:51mas ainda tem algum outro estudo em andamento e evidência que tem de qualidade muito ruim para me dar certeza de negativo.
02:57Eu diria que a probabilidade é de que seja negativo.
03:00O que eu costumo dizer com relação ao tratamento precoce é que a gente tem como fazer a contenção mais precoce de todas que a prevenção.
03:07A gente tem estratégias para ser mais precoce do que o vírus, com distanciamento, com isolamento de caso, com quarentena de contato e com uso de medidas de bloqueio.
03:16Então, a gente sabe ser mais precoce do que eles dizem fazer com o tratamento.
03:19Infelizmente, tem gente que insiste contra, infelizmente tem gente que não reconhece.
03:23E como o Bruno falou, para fases mais avançadas, a gente também tem opções de tratamento para a COVID.
03:29E, além disso, a gente tem estratégias terapêuticas conhecidas para outras doenças de suporte que permitem ajudar o paciente durante o quadro infeccioso, que é de um prazo limitado.
03:39Então, dá para a gente fazer muita coisa quando o paciente fica mais grave, precisa internar, além de oxigênio, suporte de UTI, tem muita coisa para fazer.
03:46Mas de precoce, o que tem é não farmacológico, prevenir que a pessoa se infecte.
03:50Essas medicações que estão vendendo não funcionam.
03:52Certo. Passando aqui para a Coronavac, ontem o Instituto Butantan divulgou os dados com maiores detalhes.
03:58E hoje, inclusive, no Twitter, soltou uma imagem que a nossa produção separou aqui.
04:03Para quem acompanha pelo YouTube, está vendo lá uma tabela com os resultados da eficácia da vacina do Butantan contra a COVID-19.
04:10Aí tem ali casos graves, que envolvem hospitalização e internação na UTI, e moderados, apenas hospitalização.
04:19São tanto graves quanto moderados, portanto, 100% de eficácia.
04:23Aí você tem os casos leves, que dá quase 78%, 77,96% de eficácia.
04:32E os casos muito leves, que são aqueles que nem sequer precisam de assistência médica,
04:38que são esses com o valor menor que foi apresentado nessa semana, 50,38% de eficácia.
04:46Eu vejo, obviamente, as ressalvas, os comentários dos senhores e de outros médicos e pesquisadores nas redes sociais,
04:56e vejo que a situação não é tão esquemática assim quanto essa imagem dá a entender.
05:01Bruno, em relação a essa prevenção em 100% de casos relativos a casos graves,
05:08houve a informação de que nenhum dos voluntários, nenhuma das pessoas que participaram desse estudo,
05:18elas vieram a morrer ou a divulgação foi a respeito desses 100%.
05:23Mas há uma ressalva que eu chamei atenção, para a qual eu chamei atenção ontem no programa, inclusive,
05:29porque no anúncio do Butantan chamaram atenção para isso,
05:32que não há uma significância estatística.
05:36Quer dizer, não é porque nenhum voluntário acabou morrendo
05:41que dá para garantir que 100% dos casos graves serão evitados.
05:49É isso mesmo? Como é que o senhor analisa isso?
05:53Bom, Felipe, é isso mesmo que você disse.
05:55A gente tem debatido isso nas redes sociais para tentar esclarecer.
05:59Porque a gente acredita que... A gente acredita não.
06:02É um fato.
06:03A vacina, ela só vai funcionar se houver uma adesão da população.
06:06A vacina nunca é um tratamento individual.
06:10A vacina é sempre um tratamento para a sociedade, para a população.
06:13E a confiança da população só vai vir se houver uma transparência
06:17e uma clareza nas informações dadas.
06:19E essas informações têm que ser científicas e ter pouco viés político.
06:24A gente acredita que isso tem sido uma falha sistemática
06:27de praticamente todos os governantes.
06:29Então, mas para responder a sua pergunta,
06:32não, a gente não consegue afirmar de modo categórico
06:35de que a vacina, a Coronavac, protege em 100% dos casos graves.
06:41Eu diria de uma maneira mais simples, para ser bem simplista, né?
06:46Da mesma forma que eu vou tirar na roleta,
06:49se cair duas, três vezes o preto,
06:53não posso dizer, pelaquela baixa amostragem,
06:56que vai sempre cair para sempre no preto.
06:58Ou seja, o estudo não tem um poder estatístico
07:02para a gente conseguir afirmar que esse dado é um dado
07:06que vai ser condizente com a realidade.
07:08O que a gente pode falar,
07:09isso a gente pode falar de modo muito claro
07:11e sem chance de errar,
07:13é que a vacina, ela é eficaz.
07:16Lembrando que o critério de 50% de eficácia,
07:20ele é um critério recomendado pelo OMS.
07:22Se a vacina tiver uma eficácia comprovada de 10%, 20%,
07:27ela é uma vacina eficaz, né?
07:29E considerando que a gente não tem um tratamento precoce,
07:32a gente não tem arma para combater a doença,
07:35além de, claro, o Márcio falou muito bem,
07:37como ele sempre fala,
07:38mas isso não é seguido,
07:39até porque tem uma resistência muito grande
07:41da população dessas medidas de distanciamento.
07:44Vamos dizer, uma relutância cultural,
07:45até de seguir essas recomendações,
07:48e uma incapacidade até econômica
07:49da característica da nossa população,
07:51não vou entrar em detalhe disso,
07:53mas a gente tem que incentivar toda e qualquer vacina
07:57com a eficácia,
07:59sem ser uma eficácia de 90%.
08:01Aliás, eficácia de 95%
08:04para a vacina feita em um ano,
08:05em dois anos que seja,
08:07foi uma grande surpresa.
08:08Ninguém esperava que as vacinas de RNA,
08:10isso só aconteceu porque
08:11a característica da vacina de RNA
08:14permitiu isso, né?
08:16Foi uma surpresa,
08:17ninguém acreditava que fosse ter uma vacina
08:19com tanta eficácia assim,
08:20tão rápido.
08:22Então, a gente não pode falar,
08:24resumindo,
08:24a gente não pode falar que
08:25esse 100% de eficácia é real,
08:28a gente não tem poder estatístico para isso,
08:30mas a gente pode afirmar,
08:32de modo inequívoco,
08:33pelos dados apresentados,
08:34que a vacina sim funciona,
08:36ela deve ser tomada
08:37pelo maior número de pessoas possível,
08:39e ela vai salvar milhares
08:41e, eventualmente,
08:42dezenas de milhares de vidas.
08:43Isso a gente não tem a menor dúvida.
08:45Certo, Bruno.
08:46Marcio, qual é a sua avaliação desses dados?
08:48Eu já emendo uma outra pergunta,
08:50que é quanto menor
08:52é a eficácia geral de uma vacina,
08:56maior a necessidade de uma vacinação coletiva,
08:59quer dizer,
08:59de que mais gente se vacine?
09:04Então, vamos lá.
09:05A minha visão do dado
09:06é uma visão de quem tem informação
09:08em saúde pública.
09:10Quando a gente trabalha com saúde pública,
09:12a gente vê as coisas um pouco diferente
09:13do médico que está atendendo um paciente.
09:16Quando você está atendendo um paciente,
09:17está preocupado com aquele
09:18um paciente que está na sua frente.
09:20O nosso paciente,
09:22como sendo trabalhando
09:23na área de saúde pública,
09:24é a comunidade inteira.
09:25E, para uma pandemia,
09:26o lógico é que a doença
09:28está na comunidade.
09:29Quem está doente
09:30é a sociedade.
09:31Então, a nossa estratégia
09:32é de conter a transmissão
09:34na comunidade.
09:35E o que a vacina faz
09:37é diminuir o número de pessoas
09:39que potencialmente pode pegar.
09:40quanto mais gente protegida
09:43pela vacina,
09:44menos a vacina consegue se espalhar,
09:46menos a vacina vai chegar
09:47até nos que não vacinaram,
09:49e mais a gente vai se proteger.
09:50É o rebanho
09:51protegendo o restante do rebanho.
09:53É mais ou menos simples.
09:54Se eu estou vacinado,
09:56minha esposa está em casa,
09:58se eu entrar em contato
10:00com alguém na rua
10:00que tem Covid,
10:01eu não vou pegar
10:02e não vou passar para ela,
10:03mesmo que ela não esteja vacinada.
10:04Claro, isso é uma via só,
10:05nossos contatos são múltiplos,
10:07mas é essa a ideia
10:08da proteção de rebanho.
10:09Então, quanto mais eficaz
10:11for a vacina,
10:13menos a gente vai ter
10:14essa transmissão entre as pessoas,
10:16mais vai ter proteção.
10:17Se a vacina é menos eficaz
10:19e a gente vacinar mais gente,
10:21dá no mesmo.
10:22Grosseiramente,
10:23é quase como se fosse,
10:24se você vacinar mais gente
10:25do ponto de vista populacional,
10:27é mais ou menos a mesma coisa,
10:29ou até melhor
10:29do que vacinar menos gente
10:31com uma vacina super eficaz.
10:33Então, se a vacina tem 100% de eficácia
10:34e só tem um milhão de doses,
10:36é muito melhor uma vacina,
10:38mesmo que fosse 30%,
10:40mas que pudesse pegar a população inteira.
10:42Então, é uma conta de quanto ela protege,
10:45quantas pessoas a gente consegue vacinar
10:47e quão rápido.
10:48Porque se a gente demorar um ano
10:49para receber a vacina da Pfizer,
10:51é um ano se expondo,
10:53é um ano que as pessoas se infectam.
10:54Tem região do Brasil
10:55que está infectando 1% da população
10:57a cada duas semanas.
10:59Isso quer dizer que em um ano
11:01eles infectam um terço,
11:03um quarto da população.
11:04a proteção adicional da vacina
11:06não vai fazer diferença nenhuma.
11:07Então, a gente tem que pensar sempre
11:08em quanto a gente consegue entregar,
11:11quão rápido
11:11e quantas pessoas a gente vai proteger.
11:13Então, 50% é o melhor possível?
11:16Não é o melhor possível,
11:16mas como o Bruno falou,
11:18versus não ter nada,
11:19que é onde a gente está agora,
11:20até 30% é melhor do que não fazer nada.
11:23Mas 50% é muito melhor.
11:25E o que é interessante é o 78%.
11:27Porque o 78% é quem precisou ir no médico.
11:29Isso quer dizer que quem se vacina
11:31tem cinco vezes menos chance,
11:33quatro e meio,
11:34mas quase cinco vezes menos chance
11:36de pegar Covid a ponto
11:38de precisar ir no médico.
11:39Isso é uma coisa muito importante,
11:40porque tem a ver,
11:41além da transmissão comunitária,
11:43com o impacto na sociedade,
11:45com o impacto no sistema de saúde,
11:47na ocupação de leite,
11:48no uso do sistema de saúde como um todo.
11:50Então, a interpretação do número
11:51que a gente tem que ter é, sim,
11:53quanto mais gente vacinada,
11:55maior a proteção.
11:56Mas isso é com todas as vacinas.
11:58Vacinas que transmitem de pessoa a pessoa,
12:00é com sarampo,
12:01isso vale para todas as vacinas da infância,
12:04vale para a tuberculose,
12:05vale para a gripe.
12:06Quanto mais, melhor.
12:07Se a gente puder vacinar mais do que 100%,
12:09é o que a gente gostaria.
12:10Para ter certeza que pegou todo mundo,
12:12a gente até passa do todo.
12:13Quem ficar na dúvida,
12:14a gente vacina de novo.
12:15O objetivo é cobrir a população inteira,
12:18até com as melhores vacinas.
12:19Mas com essa aqui,
12:20a gente precisa ser mais enfático
12:21na ideia de que todo mundo
12:23que a gente conseguir vacinar
12:24traz benefício para a comunidade em volta.
12:27tomar vacina é um ato de cidadania
12:30para proteger as pessoas com quem você convive.
12:33Tomar vacina protege as pessoas mais frágeis
12:36ao seu redor,
12:37assim como te protege.
12:39Maravilha.
12:40Bruno, fique à vontade para comentar
12:41as respostas também do Márcio e vice-versa.
12:44Eu só queria perguntar a respeito
12:45do rigor do Instituto Butantan,
12:48porque eles exaltaram muito isso na apresentação,
12:51falaram que lidaram com profissionais de saúde,
12:54que isso na sociedade pode ter, eventualmente,
12:57uma eficácia maior.
12:59Se falou também de eliminação de casos suspeitos,
13:01sem PCR positivo,
13:02essas questões mais técnicas.
13:04Eu queria, Bruno,
13:05que o senhor avaliasse,
13:06que sabe melhor do que eu,
13:09a importância desse rigor
13:10em relação a outros casos de vacinas
13:14que estão sendo estudadas.
13:16Realmente foi um estudo rigoroso,
13:18apesar do resultado ter decepcionado algumas pessoas
13:22por causa do número baixo que foi apresentado
13:24depois de números mais altos?
13:27Eu acho que,
13:28começando pela última parte da sua pergunta,
13:31eu acredito que a decepção veio muito,
13:33além da comparação com as vacinas de RNA,
13:37que já estão em uso fora,
13:38mas a decepção veio porque informaram um número
13:41que não era um número de eficácia global,
13:43informaram um número que a gente chama,
13:45do ponto de vista mais formal,
13:46de desfecho secundário,
13:49que seriam as estratificações dos casos mais graves, etc.
13:54Então, mas, eu concordo,
13:56para começar, eu concordo completamente com o Márcio,
13:58aliás, a gente tem contato em mídia social,
14:00eu conheci ele através de mídia social,
14:03do estudo que eu ajudei com o Sam e Dana,
14:05ele me ajudou também muito naquele estudo,
14:07ele contribuiu bastante com aquele estudo,
14:09e as nossas opiniões são concordantes
14:11na grande maioria das vezes,
14:13então essa é mais uma opinião,
14:14que eu concordo com ele.
14:16Então, para responder, eu acredito que sim,
14:21teve essa grande decepção,
14:24porque foi informado,
14:27eu acredito que talvez por uma questão mais política,
14:30foi informado um número um pouco maior,
14:32e isso, como eu disse na minha primeira fala,
14:34não ajudou,
14:35essa falta de transparência,
14:36não ajudou na adesão da população.
14:40Agora, o rigor que o Botantham está tendo,
14:42é um rigor que a gente espera,
14:44que a gente quer que ele tenha.
14:45Eu sou suspeito para falar do professor Dimas,
14:48eu sou da USP de Ribeirão,
14:50meu doutorado foi feito dentro do Hemocentro,
14:52então o professor Dimas é uma lenda aqui em Ribeirão Preto,
14:55a gente tem uma grande admiração por ele,
14:57e o que a gente espera realmente do Botantham é esse rigor.
15:00Essas análises mais técnicas, Felipe,
15:02elas são às vezes de exclusão de casos,
15:05quando você vai analisar,
15:06se você vai analisar, por exemplo,
15:08o estudo nos pacientes excluídos,
15:10ou se você vai analisar o estudo
15:12com os pacientes excluídos,
15:14que seria um estudo analisado na intenção de tratar,
15:17são detalhes mais formais, mais técnicos,
15:19que servem muito para uma publicação,
15:21servem também para uma autorização da Anvisa,
15:25mas essa formalidade,
15:28eu não diria que ela é necessária,
15:31não vou nem elogiar,
15:33muito menos criticar,
15:35ela é necessária,
15:36é o que a gente espera do Botantham.
15:37Certo, Bruno.
15:40E, Márcio, em comparação com a Pfizer,
15:43ficou-se uma impressão,
15:45entre as pessoas leigas,
15:46que a Pfizer é uma vacina mais eficaz
15:50do que a Coronavac,
15:52mas os defensores da Coronavac
15:54falam de uma praticidade maior,
15:56é certa essa impressão?
16:00Primeiro, a comparação direta,
16:02ela é muito complicada,
16:04porque as populações são diferentes,
16:07exatamente como o Botantham falou,
16:08eu não sei dizer em qual população
16:10vai ser mais ou menos eficaz,
16:12mas se eu incluir muito idoso,
16:14tradicionalmente, por exemplo,
16:14com vacina de gripe,
16:15idoso tem uma resposta um pouco pior.
16:17Então, um estudo que incluir mais idoso
16:19pode ter um perfil de eficácia diferente
16:22de um que tem menos idoso.
16:23Se a pandemia está muito intensa
16:25na região que está randomizando os pacientes,
16:27pode ter uma eficácia,
16:28por vários motivos técnicos,
16:30que eu não vou entrar em detalhes,
16:31mas pode ter uma eficácia diferente.
16:34Se é profissional da saúde,
16:35pode ter uma eficácia diferente.
16:37Então, o número preciso
16:38pode ter uma variabilidade,
16:40não só por aleatoriedade estatística,
16:42mas pelo perfil da população,
16:44que a vacina pode ter uma,
16:46criar uma resposta imunológica melhor,
16:48ou não ter essa capacidade
16:50de ser uma resposta tão boa
16:51naquela população.
16:52Então, acho que é importante entender
16:53esta diferença dos estudos.
16:55Então, provavelmente,
16:57se fizesse na mesma população,
16:58não necessariamente ia ser 50 e 95.
17:00Poderia ser uma diferença
17:01até maior ou menor,
17:03não tenho o que saber,
17:03mas essa de comparação direta,
17:06sem ter todos os detalhes da população,
17:07sexo, idade, profissão, exposição,
17:10carga de doença na comunidade,
17:12na época, etc.,
17:13é difícil de fazer.
17:14Mas, como a diferença é grande,
17:16é muito provável
17:17que as duas vacinas,
17:18Pfizer e Moderna,
17:19as duas vacinas de RNA,
17:21sejam vacinas
17:22com uma eficácia maior
17:24que a vacina da Coronavac
17:26e maior que a vacina
17:28divulgada pelo governo federal
17:30e pela Fiocruz da AstraZeneca
17:31com Oxford.
17:34Ambas são vacinas
17:35que têm, numericamente,
17:37uma eficácia abaixo
17:38do que as duas de RNA.
17:39E, até aí,
17:40é uma coisa,
17:41só que,
17:42quando você falou de praticidade,
17:43eu vou estender
17:43mais do que praticidade,
17:45eu vou resumir,
17:46resumir de forma rápida,
17:47três conceitos
17:48que a gente trabalha
17:49do ponto de vista
17:50de análise dessas coisas.
17:51Tem uma coisa
17:52que a gente chama
17:52de eficácia.
17:54Tem uma coisa
17:55que a gente chama
17:55de efetividade.
17:57E tem uma coisa
17:58que a gente chama
17:59de eficiência.
18:00Eficiência é fazer
18:01a máquina rodar
18:02o melhor possível
18:02em todos os aspectos
18:03com o menor custo possível.
18:06Essa a gente
18:06não precisa discutir agora.
18:08Mas a eficácia
18:09é como qualquer coisa
18:11que a gente usa
18:12e qualquer remédio,
18:12no caso da medicina,
18:13funciona no mundo ideal,
18:15como é o ambiente de estudo.
18:17Efetividade
18:17é como essa coisa funciona,
18:19com essa medicação
18:20ou como essa vacina funciona
18:21na vida real,
18:23na implementação dela.
18:24Então, não é só
18:25ser mais prático,
18:26mas tem muitas coisas
18:27que, apesar de ter
18:28uma eficácia,
18:30essa eficácia não consegue
18:31ser replicada
18:32no mundo real.
18:33Então, a efetividade cai
18:34e o contrário
18:35pode acontecer.
18:36Por quê?
18:37Por exemplo,
18:38uma vacina que precisa
18:38ficar armazenada
18:39a menos 70 graus.
18:40O que acontece
18:41se ela não ficar
18:41a menos 70?
18:42Ou se descarta a dose
18:44ou ela pode perder
18:45uma parte da eficácia dela.
18:46E ela pode,
18:47na hora que a gente entrega,
18:48dependendo da região
18:49do Brasil,
18:49onde era para chegar.
18:50Ou não vai ter,
18:51vai ser zero eficácia,
18:53ou vai ter com uma qualidade
18:54pior se a gente
18:55não conseguir chegar lá.
18:56Ou a gente vai conseguir
18:57entregar muito pouca dose
18:58porque vai em caixinha
18:59de gelo seco.
19:00E aí,
19:00quando você distribui
19:01as doses das duas,
19:03a Coronavac
19:04que chega
19:04em gelo
19:06uma cadeira,
19:06vai ter muito mais resultado
19:08do que a outra
19:09que precisa de toda
19:10essa estrutura
19:10e não vai chegar
19:11em grande parte do país.
19:11Então,
19:12não é só de ser mais prático,
19:13é de conseguir chegar
19:14na qualidade que ela
19:16deveria ter no mundo ideal
19:17na vida real.
19:18Por quantidade de dose,
19:20por capacidade de transporte,
19:21por capacidade de aplicação
19:23e por entregar
19:24para a comunidade.
19:24Então,
19:25talvez na vida real
19:26elas sejam muito mais próximas
19:27pela dificuldade.
19:28A moderna é menos complexa
19:30um pouco que a Pfizer,
19:30mas também é complexa.
19:32Eu diria que não é só
19:32uma questão de prático,
19:33é uma questão de que
19:34o resultado final
19:36vai ser da vacina
19:38que tiver mais doses,
19:39entregues mais rápido,
19:41de uma forma mais eficiente
19:43e com efetividade
19:44para ser distribuída.
19:45E eu acho que na hora
19:46que a gente coloca
19:47tudo isso no papel,
19:48a diferença é bem menor
19:49do que estão divulgando
19:50por aí.
19:51Certo,
19:51só dá uma notícia aqui
19:52que a Câmara dos Deputados
19:54dos Estados Unidos
19:54acaba de aprovar
19:56o pedido de impeachment
19:57contra Donald Trump
19:58por incitar insurreição
20:00contra o governo
20:01dos Estados Unidos.
20:02O placar já estava
20:04agora há pouco
20:04em 225 a 194
20:06com votos a favor
20:07de nove deputados republicanos,
20:10deputados, portanto,
20:11do mesmo partido do Trump.
20:12A gente vai dar
20:13maiores detalhes
20:14mais adiante.
20:15A gente já estourou o tempo
20:16que é bom,
20:17passa rápido,
20:18mas eu peço ao Bruno
20:19para considerações finais
20:21em 30, 40 segundos
20:22com a perspectiva
20:23sobre esse processo
20:24de vacinação,
20:25se possível falando um pouco
20:26da vacina de Oxford
20:27que o senhor ainda não falou, Bruno.
20:32Bom, Felipe,
20:33agradecer primeiro
20:34a oportunidade e a honra
20:35de estar aqui no programa
20:36e estender o que a gente
20:38está fazendo nas redes sociais
20:39que é ajudar a esclarecer
20:41os assuntos
20:42e poder motivar
20:43o maior número de pessoas
20:44a se vacinar.
20:45Um recado final,
20:47se você tomar a Coronavac
20:48agora,
20:48depois que chegar a vacina
20:49da Pfizer
20:50ou uma outra vacina
20:51da Johnson & Johnson,
20:52por exemplo,
20:53que deve chegar no meio do ano,
20:54você pode vacinar de novo,
20:55entendeu?
20:56Isso é uma dúvida
20:56que todo mundo tem,
20:58isso não vai ter
20:58nenhuma contraindicação.
20:59A vacina de Oxford
21:00também é uma vacina
21:01que a gente não sabe
21:01o número de eficácia exato,
21:03porque muda a população,
21:05muda o esquema de doses,
21:06se você dá uma dose
21:07só tem uma eficácia,
21:09se você dá duas doses
21:10tem outra eficácia,
21:11isso entra muito
21:11no que o Márcio
21:12muito bem falou
21:12sobre efetividade,
21:14sobre eficiência da vacina,
21:16porque se você estender
21:17mais de três meses,
21:19eventualmente a eficácia
21:21pode ser maior,
21:22entendeu?
21:22Então, na população
21:23a gente não sabe
21:23como vai se comportar.
21:25Eu ratifico o que o Márcio
21:26disse,
21:27que na hora prática,
21:28se muitas pessoas
21:30tomarem essa vacina
21:32da Coronavac,
21:32a gente vai ter uma,
21:33a gente provavelmente
21:34vai ter uma eficiência
21:36muito maior
21:37do que essa eficácia
21:38divulgada,
21:38até porque o grupo
21:40de médicos
21:40tem um viés muito grande,
21:42que foi a população testada.
21:43Então, a gente pode
21:44se surpreender
21:45com um resultado
21:45muito melhor na prática
21:46do que no estudo.
21:48Maravilha.
21:48Bruno Márcio,
21:49suas considerações finais,
21:50o seu recado.
21:53Então, antes de mais nada,
21:53eu gostaria de agradecer
21:54pelo convite
21:55e o meu recado final
21:56é qualquer vacina
21:58é melhor do que
21:59não ter vacina.
22:00Hoje, a gente não tem
22:01nenhuma.
22:02Qualquer vacina
22:03ajuda a gente
22:04da situação
22:05onde a gente está.
22:06A comparação
22:06que alguém fez
22:07que eu acho
22:07que é bem razoável
22:09é se você pulou
22:10de um avião
22:10sem paraquedas.
22:12Se eu te oferecer
22:13um paraquedas
22:13que tem 50%
22:15de chance
22:15de te proteger
22:16e você não quer,
22:18é essa a interpretação.
22:18Ou 80%
22:19de chance
22:20de você não complicar
22:22ou de você não precisar
22:23de médico,
22:24é melhor a gente
22:25ter alguma proteção
22:26do que não ter
22:26proteção nenhuma.
22:27E a gente tem
22:28uma proteção potencial
22:29de 50 ou 70
22:31entre a vacina
22:32de Oxford
22:33e a vacina da Coronavac,
22:34as duas que podem
22:35atingir centenas
22:36de milhões de brasileiros,
22:37a gente vai ter
22:37160 milhões
22:38de pessoas vacinadas
22:39até o final do ano,
22:42no próximo ano,
22:43se a produção
22:43for como prometido.
22:45Essas duas vacinas
22:46podem garantir
22:47muita proteção
22:48para a comunidade,
22:49muito mais do que
22:50ter um pouquinho
22:51de doses das outras.
22:51Então, versus não ter nada,
22:53a gente está
22:53com o jogo
22:54muito mais ganho,
22:55só falta a vacina
22:57começar a ser distribuída
22:58e a última parte
22:59que é importante,
22:59as pessoas tomarem,
23:01as pessoas terem vontade,
23:03iniciativa,
23:04interesse
23:04de ir lá tomar,
23:06que é o que a gente
23:06vai precisar
23:07na próxima etapa
23:08e a gente conta
23:08com cada um dos brasileiros
23:10para ajudar a proteger
23:11os outros brasileiros
23:12que estão em volta
23:12para isso aqui dar certo.
23:13Muito obrigado.
23:15Maravilha,
23:15muitíssimo obrigado.
23:16Bruno Filar,
23:17de médico-oncologista
23:17clínico do Instituto
23:19do Câncer Brasil,
23:19doutor de Medicina
23:20pela USP,
23:21pós-doutorado
23:21em imunopatologia molecular
23:23e Márcio Bittencourt,
23:25médico do Centro
23:25de Pesquisa Clínica
23:26e Epidemiológica
23:27do Hospital Universitário
23:29da USP.
23:29Muitíssimo obrigado
23:30pelos seus esclarecimentos,
23:32boa noite,
23:32bom trabalho.
23:51e Márcio Bittencourt e Pesquisa Clínica
24:00e Márcio Bittencourt e Pesquisa Clínica
24:01e Márcio Bittencourt.
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