Em entrevista ao Jornal Jovem Pan, o especialista em política externa do Oriente Médio, Alexandre Ostrowiecki, analisa a escalada da tensão e ataques entre Israel e Irã e afirma que "Israel mostrou plena capacidade de lidar com Irã" após os recentes confrontos.
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00:00Justamente sobre isso é que a gente volta a falar agora e para isso recebemos um convidado especial
00:04para analisar a escalada dos ataques entre Israel e Urã.
00:07A gente recebe conversa ao vivo com Alexandre Ostroviek, especialista em política externa do Oriente Médio.
00:15Alexandre, é um prazer te receber. Seja bem-vindo mais uma vez à Jovem Pan.
00:18Eu quero já entender de você como você tem analisado essas últimas notícias em relação ao conflito,
00:23em especial a tentativa de líderes globais pela solução, por uma saída diplomática em relação a esse conflito.
00:31Explica para a gente como você avalia esse tipo de notícia vindo dos Estados Unidos, da Rússia e da União Europeia em especial.
00:39Bem-vindo.
00:41Boa noite, Kobayashi. Boa noite a todos os espectadores da Jovem Pan.
00:45A gente tem visto o conflito se desenrolar muito dentro do que seria esperado.
00:50Do ponto de vista de Israel, tem sido operações de sucesso.
00:55Israel, como declarou desde o início, visa como objetivo número um, impedir o Irã, ou adiar pelo menos, o Irã de construir bombas atômicas.
01:07É um objetivo que ajuda na estabilidade do Oriente Médio e de todo o mundo.
01:11E o Irã, por sua vez, ele busca retaliar para que o preço a Israel seja muito alto e Israel corra processar fogo.
01:18Nesse momento, é uma guerra contra o tempo também.
01:21Israel precisa rapidamente inutilizar o programa nuclear iraniano.
01:26E os iranianos querem, um, se manter no poder, e dois, conseguindo cessar fogo para começar a se rearmar e começar a armar os seus grupos terroristas
01:34que obedecem as ordens de Teherã no Irã.
01:38Agora, nesse momento, como esses grupos, os Houthis, o Hezbollah, o Hamas, estão temporariamente desabilitados,
01:47a arma que resta ao Irã é usar o seu arsenal de mísseis balísticos, que são as imagens que a gente vê aí na TV.
01:54Durante o dia e as noites, Israel bombardeia alvos exclusivamente militares e políticos do Irã.
02:00E o Irã, por sua vez, bombardeia as cidades israelenses buscando fazer o máximo de vítimas possíveis e aí forçar a mão de Israel.
02:09A gente acompanhou há pouco, aqui em tempo real, novos ataques do Irã a Israel.
02:14Por volta de 40 minutos atrás, aproximadamente, 40, 50 minutos atrás, aproximadamente, as serenes tocaram em Israel.
02:21A gente viu no céu de Tel Aviv, justamente, o sistema de defesa israelense funcionando mais uma vez.
02:26Alexandre, eu quero te perguntar a respeito de como você tem recebido as falas do presidente americano, em específico,
02:34que disse ontem que, se em duas semanas a situação não se resolver, ele decidirá se entra para valer neste conflito ou não.
02:43Como você enxerga este prazo estipulado por Donald Trump?
02:48Olha, se tem uma coisa que é previsível sobre o Donald Trump é a imprevisibilidade.
02:53Ele é, aos seus admiradores, ele é conhecido como um grande jogador do tal xadrez 4D,
03:00em que ele joga por um lado, coloca no Twitter afirmações polêmicas para conseguir os objetivos estratégicos dos Estados Unidos.
03:08E quem for detrator vai dizer que ele tem o receio de envolver os Estados Unidos em mais uma guerra,
03:14lembrando que Israel já lutou em diversas guerras contra o mundo árabe,
03:19e nenhuma delas nos Estados Unidos participou diretamente.
03:22Então, nunca houve uma participação direta americana, agora seria um primeiro caso.
03:27Então, a pergunta é se os Estados Unidos vão entrar, se eles vão entrar de que forma,
03:32porque a verdade é que Israel tem demonstrado plena capacidade de lidar com o Irã.
03:37Existem algumas operações que, segundo a inteligência militar, Israel não consegue fazer.
03:44Por exemplo, existe uma base específica, que é a base de Forlom,
03:48que fica a cerca de 60 metros ou 70 metros abaixo da terra.
03:53Então, a base militar enterrada, onde tem enriquecimento de urânio,
03:57onde tem produção de armas atômicas, segundo relatórios da Agência Internacional de Energia Atômica da ONU.
04:03E para atingir e destruir essa base, é preciso um tipo de bomba muito específica,
04:09que é a bomba que desmonta o bunker, que só os Estados Unidos têm.
04:16Então, fica a pergunta, será que os americanos vão entrar especificamente para usar essa bomba,
04:21vão entrar para só usar essa bomba, ou eventualmente fazer até uma operação completa contra o Irã?
04:29O Alexandre Ostroviek, que é especialista em política externa do Oriente Médio.
04:36O Alexandre, eu vou trazer os nossos analistas para essa conversa.
04:39Quem vai te fazer a próxima pergunta é a Dora Kramer.
04:43Boa noite, Alexandre.
04:45Você citou os grupos terroristas, resvolais, ramás, que estão enfraquecidos, a gente sabe.
04:51Mas qual é o papel deles nessa história, nesse conflito e, principalmente, como é que eles saem dele?
04:59Qual é o futuro deles dois, desses dois grupos?
05:03Boa noite, Dora.
05:05Tanto o Hamas na Gaza, quanto o Hezbollah no Líbano, quanto os Houthis no Iêmen,
05:12quanto algumas milícias no Iraque que são apoiadas pelo Irã e uma série de outros atores,
05:18eles fazem parte de todo esse movimento islamista que luta pelo coração, no final do dia,
05:24no coração do mundo árabe, do mundo islâmico.
05:27São quase dois bilhões de muçulmanos na Terra, a grande maioria esmagadora,
05:31pessoas pacíficas que querem trabalhar, que querem viver a sua vida e cuidar dos seus filhos.
05:36Porém, existe uma narrativa dentro dessa fatia islâmica extremamente radical
05:41que remonta a um mal-estar com a modernidade, com o atraso relativo dos países islâmicos
05:49em relação à Europa, Estados Unidos.
05:51Então, tem todo um mal-estar e um desejo de retornar às raízes muito profundas,
05:56fundamentalistas islâmicas, e aí, com isso, como se fosse curar a fé.
06:01E essa narrativa, ela está em luta pelo... não é uma guerra só contra Israel,
06:06é uma guerra para conquistar esses corações e levar a revolução islâmica que o Irã fez
06:12para outros países da região.
06:14Então, nesse sentido, eles são aliados ideológicos.
06:18Claro que Hamas e Hezbollah, etc., são árabes, e o Irã é persa, não é árabe,
06:24mas o Hamas é um grupo patrocinado pelo Irã, treinado pelo Irã.
06:28O Hezbollah é muito mais próximo ainda, recebe mísseis e armas do Irã.
06:32Então, eles estão muito próximos.
06:35Agora, a gente viu aí na Guerra de Gaza que Israel reduziu muito a capacidade militar do Hamas,
06:40houve operações contra o Hezbollah no Líbano, em que aconteceu a mesma coisa.
06:44Então, o Hezbollah está temporariamente fora de combate nesse momento,
06:48e o governo, até legítimo do Líbano, se sentiu forte o suficiente
06:52para até dar ordem para o Hezbollah não começar um novo fronte contra Israel.
06:57Então, é um momento em que o Irã está um pouco mais isolado,
07:00um momento em que o Irã já estava muito avançado na produção de armas atômicas,
07:04que Israel achou que era o momento correto para esse tipo de operação.
07:09Muito bem. Pergunta agora do professor Manuel Furrella.
07:13Boa noite, Alexandre.
07:14Com o contexto que a gente tem do presidente israelense,
07:21passando por diversas dificuldades dentro da política externa e também dentro da política interna,
07:29essas conquistas militares que ele tem conseguido e são notáveis,
07:33você trouxe aqui, realmente é verdade,
07:35tanto contra o Hezbollah, outros grupos,
07:38mas também agora em relação ao Irã,
07:42trouxeram ou trazem alívio para a sua base de sustentação
07:46ou ele continua ainda com muitos desafios
07:49que fazem com que talvez,
07:52mesmo nesse momento de guerra, onde ele está em combate,
07:55ele tenha dificuldades de sustentação, ele e todo o gabinete?
07:58Boa noite, professor.
08:03O Netanyahu, ele sofria bastante pressão por conta do 7 de outubro.
08:09Afinal de contas, ele era o primeiro ministro que estava governando o país
08:14no dia em que aconteceu o maior desastre militar da história de Israel,
08:19quando Israel foi invadido por dezenas de milhares de terroristas do Hamas,
08:25com mais uma porção de gente de Gaza, cidadãos comuns de Gaza
08:28que atravessaram a fronteira, entraram em Israel,
08:31furaram as defesas israelenses, invadiram kibbutz, cidades pequenas,
08:36mataram pessoas, sequestraram, estupraram,
08:39quer dizer, foi um trauma muito grande
08:41e no final do dia o Netanyahu, como líder do país,
08:44é o grande responsável por isso.
08:47Além disso, ele já vinha num certo enfraquecimento
08:49por disputas internas, por alegações de corrupção,
08:52pelo próprio tempo que demorou ele no poder.
08:55Vamos lembrar que ele é já o governante que mais ficou no poder
08:59na história de Israel, passando até o Davi Ben-Gurion,
09:03que era o grande fundador do Estado de Israel.
09:06Então tinha esse desgaste natural.
09:08Certamente as vitórias contra o Hezbollah contam pontos aí,
09:12fortalecem ele, e a vitória contra o Irã,
09:14pelo menos até agora, esses primeiros dias, falam a favor.
09:18Agora, o Irã é um tema muito de consenso em Israel,
09:22então se você pegar as declarações da oposição,
09:25de todos os partidos do espectro político de Israel,
09:29é uma unanimidade, não tem uma disputa política interna
09:33se deve ou não fazer a operação contra o Irã.
09:35Todos os israelenses entendem que a bomba atômica na mão do Irã
09:39é uma ameaça existencial, é o fim do Estado de Israel,
09:42é a morte deles e das suas famílias.
09:45Então não tem a menor dúvida que Israel tinha que fazer isso.
09:47Em Gaza já tem um pouco mais de discrepância.
09:52Tem gente que acha que o Netanyahu não está com uma estratégia muito clara
09:56para neutralizar o Hamas.
09:57Tem gente que acha que ele tinha que ceder mais
09:59para libertar os reféns que ainda sobraram em Gaza.
10:03Vamos lembrar que ainda tem reféns,
10:05dezenas de reféns israelenses,
10:08presos nos porões de Gaza, lá nos túneis do Hamas.
10:11Perfeito.
10:13Quero agradecer demais a participação aqui do Alexandre Ostrovieck,
10:16que é especialista em política externa no Oriente Médio,
10:19sempre conosco aqui na Jovem Panos,
10:20ajudando a entender todos os detalhes desses conflitos por lá.
10:24Alexandre, muito obrigado pela sua participação.