- 17/06/2025
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NotíciasTranscrição
00:00Oi pessoal, sei que a gente está aí no meio de carnaval, o país começa efetivamente a funcionar depois do carnaval
00:08e a gente está vendo um país diferente. É sobre isso que a gente vai discutir com o consultor político,
00:15professor de comunicação, que foi meu professor querido na Faculdade de Comunicação da USP,
00:21Galdêncio Torquato. Tudo bom?
00:24Tudo bem, Maderini. Prazer muito grande estar aqui com você.
00:26Professor, um prazer receber o senhor aqui na TV Antagonista.
00:31A gente sabe que o senhor é muito próximo do governo Michel Temer informalmente, porque o senhor ganha a vida de outro jeito,
00:38mas eu quero saber o seguinte, a gente está com as pessoas se organizando para voltar às ruas depois do carnaval.
00:45É um movimento parecido com o que a gente teve no governo passado ou não? Como é que o senhor vê isso?
00:50O Brasil está mudando. Está mudando de maneira muito celere.
00:55Eu vejo a consciência cívica cada vez mais acesa.
00:59A vontade do cidadão de participar do processo político.
01:03Então, é evidente que nós tivemos aí uma movimentação muito grande em 2013,
01:07grandes espaciatas, enfim, a grande movimentação de rua.
01:10Mas hoje eu vejo essa participação de maneira mais gradual, mais pontual, porém muito mais firme.
01:19Nós vimos na última eleição, por exemplo, municipal, um processo de decisão por parte do eleitor,
01:26um processo muito forte aqui em São Paulo mesmo.
01:28Nos últimos três dias o eleitor decidiu dar uma vitória a um candidato a Jundória.
01:33Então, eu vejo que nos próximos tempos nós vamos realmente ter esse cidadão participante, ativo,
01:43querendo influir no processo político.
01:46Portanto, o Brasil está mudando, a consciência política do Brasil está mudando
01:50e evidentemente tudo isso converge para a democracia participativa.
01:55Sabe uma coisa que você está falando agora que está mudando?
01:58Eu fico lembrando de quando eu tinha 18, 20 anos.
02:03O que era moda entre os jovens era uma coisa assim, mas a cultura, a música, isso era moda.
02:10Hoje, a molecada quer saber de humor político, de falar de política.
02:18Será que essa coisa da gente ter essa super comunicação por meio de redes sociais, de internet,
02:24também está mudando a forma de exercer a democracia?
02:28Sem dúvida nenhuma.
02:30O processo participativo começa com a percepção, por parte do jovem, por exemplo,
02:35de que ele tem vez nas redes sociais.
02:39A sua voz agora já é ouvida, a sua presença, a sua afeição já é vista.
02:45Portanto, a amplificação da tuba de ressonância da comunicação, vamos dizer assim,
02:54essa extensão da comunicação, atrai o jovem.
02:59Então, o jovem percebe que poderá participar do processo político.
03:03A observação que ele faz sobre A, B ou C e, evidentemente,
03:08um pouco de humor que também ele quer agregar à sua comunicação,
03:13tudo isso facilita, portanto, a interação social.
03:16Eu vejo que é uma interação social muito grande hoje,
03:18bem diferente do que nós tínhamos há 10, 20, 30 anos atrás.
03:22E também tem uma coisa que eu vejo que há, de repente, ali dois mundos que se chocam.
03:30Porque tem um mundo, tanto no jornalismo quanto na política,
03:34que controlava o fluxo de informações
03:37e que não está acostumado com essa moçada que sai furando o bloqueio.
03:41Aqui no Antagonista mesmo a gente vê, às vezes a gente cata um documento,
03:45põe ali no site e muda uma votação.
03:48E os poderosos de plantão, os jornalistões, não sabem como isso acontece.
03:55Isso já tem reflexos na política.
03:57Sem dúvida. Veja bem, o poder centrífugo do centro para as margens
04:04está dando lugar a um poder centrípeto das margens para o centro.
04:10Essa é a grande mudança.
04:12Ou seja, os capitães da política de Brasília já não decidem sozinhos
04:17sobre os rumos sociais.
04:19Daí porque há de conferir essas decisões com a sociedade.
04:25Então eu vejo que a sociedade organizada,
04:29o governo dos seus movimentos, associações, entidades, sindicatos,
04:33essa sociedade organizada está pressionando o poder centrífugo.
04:36Essa é a grande mudança.
04:38Uma outra imagem que eu tenho, pega aí o filtro, não é?
04:42Você vai colocar, por exemplo, gasolina no carro,
04:46joga muita gasolina e há realmente aí um transbordo,
04:52uma perda do líquido, da gasolina.
04:54Hoje nós temos, por exemplo, em vez desse filtro,
04:59nós temos hoje já canos maiores.
05:02Então nós não perdemos muita comunicação.
05:07A verdade, os meios informais, os meios alternativos,
05:11as mídias sociais estão dando vazão, estão alargando.
05:16Portanto, suporta a comunicação para a sociedade.
05:19Essa é a grande novidade.
05:20Então não temos mais só os meios tradicionais.
05:23A grande mídia, a mídia impressa, que na minha visão está vindo a maior crise
05:27da contemporaneidade.
05:31Então, a grande novidade.
05:33O jovem, o adulto, mulheres, homens, velhos e até a criançada.
05:44Está participando como fontes de comunicação.
05:46Nós éramos receptores.
05:49Hoje nós somos fontes de comunicação.
05:51Todo esse grupamento pode ser fonte de comunicação.
05:54Aí você vê, descobre lá um jovem cantor, um humorista,
05:59um contador de histórias no YouTube.
06:04Então é impressionante como nós estamos multiplicando as fontes de comunicação
06:09na contemporaneidade.
06:10E eu acho que isso também acaba tendo um impacto em como essa informação é passada.
06:18Porque o que a gente vê também de uma crise no meio político
06:22é dos pronunciamentos serem feitos da forma como tradicionalmente eles foram feitos
06:28para aquele pool de repórteres que combinava as mesmas manchetes
06:32passar a mesma informação para pessoas que só obtinham informações daqueles mesmos canais.
06:38E assim controlar a sociedade.
06:41Hoje uma sociedade não é mais controlável por meio da informação.
06:46Esse meio político que a gente tem, essas velhas raposas, essas velhas figuras,
06:52com raríssimas exceções, não sobrevivem mais.
06:56Não sei, estão passando de predador a presa já, né?
06:58Nós estamos identificando, vamos dizer, o fim de um ciclo.
07:03O fim do ciclo da velha política, com os discursos morfados.
07:10Você veja, por exemplo, um senador da República, que usa uma linguagem aí meio desbocada,
07:14usando um termo muito vulgar.
07:19Suruba.
07:20Não, a pessoa sabe.
07:22Suruba.
07:23Não, na minha cabeça não cabe.
07:25Como é que o cara vai falar suruba para tratar de foro privilegiado, líder do PMDB?
07:31E aí recebe uma saraivada de críticas.
07:36Antigamente, não, mas hoje a sociedade critica, observa, exige e vai dar resultado,
07:44dar recados, por meio das urnas.
07:47Eu estou...
07:48Ou de vídeo, eu fiz um vídeo maravilhoso.
07:50Eu estou identificando esse final desse ciclo.
07:54E é possível que esses personagens, mais adiante, percam a sua condição de apresentação política.
08:02Eu ouvi, faz muito tempo, uma discussão de molecada falando da política brasileira e da norte-americana,
08:09mas também do jeito das pessoas viverem.
08:11que a gente estava num processo civilizatório, saindo da era do sabe com quem você está falando,
08:20para a era do quem você pensa que é.
08:22Que é o Who Do You Think You Are, americano.
08:26Que...
08:27Será que nós estamos mesmo?
08:29Eu fico me perguntando.
08:31Por que esse povo não se localiza muito bem?
08:34Eles acham que são uma classe de ser humano acima, né?
08:38Veja bem, outra maneira de interpretar isso.
08:42O cidadão sai da posição de passividade para uma posição de cidadania ativa.
08:50O que significa, eu agora posso criticar você.
08:55E não venha mais dizer que você é mais poderoso para mim.
08:57Porque eu tenho poder também na comunicação.
08:59Então, é outra forma de você ver essa questão.
09:02Ou seja, a autonomia dos indivíduos se expande, né?
09:07O poder crítico também se expande, poder crítico, e ele torna-se um agente ativo do processo político.
09:14Professor, o senhor acha que, nesse caldeirão todo que a gente está falando,
09:18de mudanças que são inevitáveis porque frutos de processos históricos.
09:22A gente também tem o componente lava-jato, e digo não como operação lava-jato,
09:28mas como um componente que vem desse processo histórico, porque temos servidores públicos
09:33que se enxergam como agentes do Estado, como todos os outros, talvez, se devessem ter visto desde sempre?
09:41Lava-jato fará um bem enorme ao país.
09:48Vai fazer uma limpeza, a gente está fazendo uma limpeza dos canais da política.
09:55Nós vamos ter um país mais asséptico.
09:56Se eu sempre perguntar, mas vamos acabar com a corrupção?
09:59Não, não vamos acabar com a corrupção, porque o DNA da corrupção está infiltrado
10:06nas camadas mais profundas da política, né?
10:09Caixa 2, Caixa 3, Caixa 4, enfim.
10:12Mas a lava-jato, ela está realmente assim, abrindo os espaços para o campo ético mais visível, mais forte.
10:22E eu acredito que talvez não redunde a lava-jato num tsunami de forma a destruir a área política.
10:31Mas eu diria que nós vamos ter uma pororoca.
10:33Por que não teremos um tsunami?
10:35Porque houve uma tendência também da política em absorver, digamos assim, os impactos da lava-jato,
10:42até por medidas que poderiam, por exemplo, aliviar penas dos implicados na lava-jato.
10:49Como aliviar penas?
10:51Por exemplo, há uma tendência na área política de transformar o grupo que está lá,
10:57infiltrado na lava-jato, na corrupção, na Petrobras, enfim.
11:02Colocar esse grupo, tirá-lo da área da propina e jogá-lo na área do Caixa 2.
11:06E há uma tendência de apenar, dar uma pena menor, mais eleve para quem teve Caixa 2.
11:13Portanto, há uma tendência de se convergir para o Caixa 2.
11:18Bem, porque não vejo que 150 serão presos.
11:22Veja aí alguns sendo presos, mas os outros sendo aliviados em suas penas,
11:29em função da caracterização de Caixa 2.
11:32No fim, vai ter que rolar aquele ativismo político-judicial?
11:36Então, porque alguma cabeça o povo vai querer, senão volta todo mundo para a rua.
11:40Não, já está havendo aí um certo processo de penalização.
11:46Você vê algumas pessoas, ex-governadores, com a Sérgio Cabral, Eduardo Cunha, presidente da Câmara, enfim.
11:53Você já vê realmente pessoas poderosas, presas.
11:57A sociedade, de certa forma, está vendo que as coisas estão mudando.
12:00Ninguém mais hoje é imune, digamos assim, ao processo judicial.
12:05Agora, eu estou querendo dizer que talvez nós não tenhamos aí uma penalização
12:13de forma a pegar o universo todo dos implicados.
12:18Vejo que há uma tendência a se aliviar as penas da maioria dos nomes que estão hoje constando da Lava Jato.
12:25Para a gente finalizar, o que mais me choca quando eu leio os autos dos processos da Lava Jato
12:32é que tem uma galera que já estava no Mensalão
12:36e enquanto essa galera estava lá respondendo o processo do Mensalão
12:42estava fazendo um negócio que foi parar na Lava Jato.
12:46Aí eu falo, mas não tem fim a cara de pau do sujeito, porque ele está lá respondendo a um processo
12:51e está com o doleiro aqui fazendo o mesmo negócio que ele está...
12:54É isso que eu queria...
12:55O senhor acha que isso vai parar?
12:58Porque o cara não vai presar, ok, mas vai continuar fazendo o mesmo negócio igual?
13:03Porque essas pessoas imaginavam que não seriam apenadas, não seriam condenadas.
13:10Mas daqui por diante, a partir dessas condenações que vão aparecer,
13:15algumas já aconteceram, outras vão aparecer, é evidente que isso vai parar.
13:20O primeiro é diminuir.
13:21Não é que vamos parar porque haverá sempre os transgressores, não é?
13:25Mas diria que vai diminuir muito o que eu chamo de PNBC,
13:31Produto Nacional Bruto da Corrupção.
13:33E falando em sigla, termina falando aquela sua fórmula mágica para quando o povo está na rua ou está em casa.
13:41Pois é, veja bem, para terminar, eu gostaria de lembrar o seguinte,
13:46eu não vejo também muita gente na rua, multidões na rua, fazendo movimentação,
13:53mostrando sua indignação. Por quê?
13:55Por conta da equação que eu chamo de Bobacoca.
13:58Bobacoca, bo de bolso, ba de barriga, co de coração e ca de cabeça.
14:06Bolso cheio, barriga satisfeita, coração agradecido, cabeça aprova a geladeira cheia, o bolso cheio,
14:16então a cabeça acaba aprovando.
14:18Porque eu vejo que o Brasil começa a engatinhar firme na área da economia.
14:24Os primeiros sinais de recuperação já estão acontecendo.
14:27E eu vejo lá para 2018 uma economia mais forte.
14:31Portanto, eu estou identificando um bolso mais forte das margens,
14:34um bolso mais cheio nas margens sociais.
14:37Porque eu não vejo essa possibilidade de revolução, de indignação.
14:40Vejo movimentos pontuais, curto, vão com todos os movimentos pontuais aqui e ali,
14:44particularmente em relação a algumas temáticas, como a reforma da Previdência, por exemplo.
14:49Esse é o professor Galdeiro Sitor Quarto, que eu agradeço muito ter vindo aqui visitar a gente na TV Antagonista.
14:56Valeu, viu, professor? Muito obrigada.
14:58Obrigado, querida.
14:59E obrigado a todos os nossos internautas, aos nossos telespectadores da TV Antagonista.
15:06Antagonista e parabéns pelo trabalho que estou fazendo aqui.
15:08Muito bem.
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