A bancada do Direto Ao Ponto questiona: Benjamin Netanyahu se beneficia de uma guerra entre Israel e Irã? A análise aprofunda as possíveis vantagens políticas internas e externas que o Primeiro-Ministro poderia obter com a escalada do conflito.
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00:00Como é que o senhor avalia o posicionamento político, professor Alexandre Pires de Benjamin Netanyahu,
00:05desde então? Há um desgaste muito forte, há um movimento muito intenso que ele faz para tentar segurar as rédeas e os poderes ali
00:15e o quanto as figuras dos reféns que ainda estão nas mãos do Hamas são um ponto crítico e permanente de pressão popular sobre essa liderança?
00:28Quando nós olhamos o 7 de outubro, Evandro, o que a gente percebe é um ponto de inflexão.
00:33O mundo era outro ali. Israel estava negociando com a Arábia Saudita, havia uma perspectiva do Netanyahu logo mais à frente
00:42ter uma dura disputa nas eleições gerais, ele poderia perder o governo, tanto é que a semana passada ele consegue se manter com a maioria de um voto.
00:51Ele vinha já com a popularidade em baixa, né?
00:53Mas a emergência daquela situação recoloca ele no jogo e há uma coincidência, uma grande oportunidade,
01:02que naquele momento ele tem o Biden, que não é um grande apoiador do Estado de Israel e também não era um simpatizante ali do Netanyahu.
01:11Então ele está numa situação bastante desconfortável.
01:14Com o 7 de outubro e depois da eleição do Donald Trump, há uma inversão completa.
01:17Mas nós temos que lembrar o seguinte, existe uma questão da própria dinâmica política dentro de Israel.
01:24O ataque do Hamas é um ataque no território de Israel com grande precisão, grande velocidade.
01:32Nós comentávamos lá no primeiro programa que eles demoraram para responder, ou seja, aquilo pegou Israel de uma maneira que a população também ficou temorosa.
01:40Nós falamos, depois de tudo isso, nós não conseguimos responder, a gente demorou 48 horas para começar a debelar os focos de invasão.
01:48Então a atmosfera política de Israel muda, né?
01:52Eu acho que tem algo muito sentimental nessa história, que é o fato do sequestro acontecer, da invasão com o sequestro das pessoas, com a violência contra essas pessoas.
02:02Tudo isso parece tornar a situação muito mais grave do que se houvesse apenas ataques conduzidos à distância, de território para território.
02:12Nós comentávamos, inclusive, naquele programa, uma posição que eu coloquei era que a solução de dois estados, até o que o comandante tinha colocado, ela morre ali.
02:22Porque a capacidade de um grupo com tecnologia rudimentar e fazer um ataque tão preciso muda completamente a política.
02:35O que nós estamos assistindo não é uma situação que acabou, é uma dinâmica, né?
02:39Talvez outra liderança apareça, mas nesse momento o Netanyahu é o Churchill de Israel.
02:44É o único que pode responder e que estava há 40 anos falando que o Irã era uma ameaça, que o Hamas era uma ameaça, que a política de desengajamento de 2005, que foi a saída de Israel da faixa de Gaza, não ia dar certo.
02:59Eu comentava, inclusive, que a Cisjordânia seria o caso de sucesso, ou seja, mantivemos uma ocupação, é isso que eles estão fazendo agora.
03:05Então o cenário político de Israel mudou completamente no 7 de outubro e o Netanyahu sobrevive graças a isso.
03:12Qual que é a sua análise, professor Estevam?
03:14Mas de acordo, novamente, o que a gente tem aqui é um processo de desgaste que estava acontecendo nas últimas semanas, como foi salientado, inclusive, dentro do próprio parlamento israelense, no Kineset.
03:28O Netanyahu, ele vê esse desgaste acontecendo, inclusive depois dos ataques do Hamas.
03:33Existe essa perspectiva de, inclusive, serem chamadas novas eleições durante a própria guerra que está acontecendo.
03:41E ao que foi duramente criticado pelos ministros, especialmente pelo ministro da Defesa de Israel.
03:47Então havia essa possibilidade de um desgaste.
03:49Novamente, a gente volta para a questão dos interesses.
03:51Existe um interesse, por um lado, do ponto de vista político interno.
03:54Então, esses ataques ao Irã, eles também respondem a esse interesse do primeiro-ministro israelense,
04:02de conseguir ter uma maior capitalização política nesse momento de tensão, até de possibilidade também de mudança de governo.
04:10Lembrando também que Netanyahu, ele sofre também investigações sobre fraude, sobre corrupção, enfim, dentro do próprio governo israelense.
04:20E também é um governo que vinha tendo um certo desgaste, vinha observando um certo desgaste do ponto de vista internacional.
04:29Vários países, que historicamente se colocavam, pelo menos, se não era mais neutra com relação a Israel,
04:35vinham criticando duramente a posição israelense.
04:39O próprio Netanyahu também tinha sido já colocado como um criminoso de guerra.
04:55Então havia esse desgaste também internacional.
04:58Na medida em que ele desenvolve, então, essa nova frente, que já vinha começando a se desenvolver,
05:03já com alguns alvos sendo atacados na Síria, já com alguns alvos sendo atacados no Libro.
05:10Então começa esse processo de regionalização da guerra, isso tende a capitalizar ainda mais sendo o Irã,
05:19que é historicamente o inimigo, desde a Revolução Iraniana, é o inimigo, por excelência, do governo, do regime, do Estado, da sociedade israelense.
05:29Então existe uma perspectiva de capitalização política, por parte do Netanyahu,
05:34tanto do ponto de vista interno, quanto do ponto de vista internacional.
05:38Até porque, é importante lembrar, esses ataques vêm depois de um processo também de deslegitiminação do regime iraniano
05:47com a declaração da Agência Internacional de Energia Atômica,
05:50de que teria havido uma série de irregularidades no programa nuclear iraniano,
05:58que não vem desde agora, já vem desde 2018, pelo menos.
06:03Então existe também essa tentativa de orquestrar a posição em seu favor, também do ponto de vista externo.
06:10Novamente, aquele jogo de dois níveis, que a gente pode falar.
06:13O que foi, Pires?
06:13Dez anos atrás, mais ou menos, 2013, 2014, o Netanyahu era mais forte, propôs um ataque contra o Irã,
06:22o gabinete vetou e o alto comando militar também vetou.
06:25Então olha como a situação mudou.
06:27Mesmo com toda essa tensão hoje, com o fato dele ser visto como enfraquecido,
06:32ele consegue o apoio do gabinete, o apoio do parlamento, o apoio do alto comando militar e faz o ataque.
06:38Felberg, você chegou a ter contato com essa avaliação doméstica da gestão do Benjamin Netanyahu?
06:44Num primeiro momento, eu estava até hoje relembrando, vindo para cá, com o Alexandre Pires,
06:48acho que o comandante também, que a gente teve aqui juntos,
06:51lá no começo de outubro.
06:54Tinha havido, primeiro, uma reação de muita insegurança,
06:58de não saber o que estava para acontecer, a dimensão que tudo aquilo iria tomar.
07:03Mas depois houve uma coalizão de...
07:06A sensação que nós tivemos, as notícias de lá, o Alexandre pode dizer também,
07:10é de que havia uma união em torno de enfrentar algo maior.
07:15Que aquilo, é isso que nós temos?
07:16A gente tem uma...
07:17Sim, o momento da crise do estresse.
07:18Uma grande operação para tocar, não dá para mexer com uma...
07:21Não dá para mudar agora o líder principal do Estado, né?
07:25Até a forma de ataque iraniana é com base no estresse, é no volume,
07:28para que possa ultrapassar o domo.
07:30Então, quando você está numa situação de estresse, você está no modo sobrevivência,
07:33você costuma unir forças.
07:34Numa comunidade que já é bastante unida também.
07:37Exatamente.
07:38Agora, óbvio que há os dois lados lá.
07:42Como há vários matizes políticos, todas que você pode imaginar.
07:46É uma política muito plural.
07:48Mas a sensação que eu tive e a notícia que eu tive de lá é que estava havendo essa união
07:51no modo sobrevivência, para poder superar o momento de estresse.
07:54O Alexandre pode complementar.
07:55Como qualquer democracia, tem muita discussão.
07:59Porém, se tem um tema em Israel que é unanimidade, unanimidade é o tema do Irã.
08:06O Yair Lapid saiu para falar disso, o Naftani Bennett saiu para falar disso.
08:09Os grandes líderes da oposição, todos eles saíram a público e falaram assim,
08:13olha, em termos de Irã, nós somos todos unidos, nós temos a mesma cabeça.
08:19Nós não podemos, em hipótese alguma, deixar o Irã ter bomba atômica.
08:22Não podemos.
08:23Então, Israel está inteiro unido em torno desse objetivo.
08:27E nesses últimos meses, a gente viu realmente o tabuleiro, como o professor Alonso falou, mudar bastante.
08:33Há 12 anos atrás, você tinha basicamente uma ambiguidade maior,
08:37não tinha tanta informação sobre o programa nuclear, ele não estava tão avançado,
08:41então não tinha essa urgência tão grande.
08:43E mais, o Irã, ele estava protegido por uma camada de aliados e proxies
08:48que estavam com a arma apontada em Israel.
08:50O Hezbollah no Líbano, com mais de 20 mil foguetes,
08:54a Síria, um regime muito sólido na mão deles, milícias no Iraque, os Houths, etc., Hamas e Hezbollah.
09:00Ou seja, muita gente com a arma apontada para Israel,
09:03fazendo com que se Israel fizesse um ataque naquele momento, o preço seria muito maior.
09:07Porém, Israel foi atacado no dia 7 de outubro, como a gente viu,
09:11a partir da faixa de Gaza, faixa essa que Israel tinha desocupado completamente.
09:16Então, vamos só lembrar que em 2005, Israel sai da faixa de Gaza,
09:20não ocupa mais um milímetro da faixa de Gaza e fala o seguinte,
09:23olha, palestinos de Gaza, cara, está aqui o território de vocês, vocês não querem se governar?
09:28Faz aqui uma Singapura, constrói um Dubai do Oriente Médio, vamos agora fazer a paz.
09:34O que os palestinos fazem?
09:35Eles elegem o Hamas, o Hamas depois toma o poder absoluto, não tem mais eleição nenhuma,
09:42instaura uma ditadura e começa a transformar a Gaza numa gigantesca base militar
09:46e começa a mandar foguetes em Israel.
09:49Então, Israel tem desde 2005 tomado na cabeça foguete, dia sim, dia não.
09:53Ao mesmo tempo, Ostroviek Israel também é criticado por continuar uma invasão
09:58ou ocupação de espaços que não pertenceriam àquele estado.
10:01na Jordânia ou em parte da faixa de Gaza?
10:04Como é que você avalia essas críticas?
10:06Não, na Jordânia não tem nenhuma ocupação, não existe ocupação da Jordânia.
10:09Na Cisjordânia, perdão.
10:11Na Cisjordânia.
10:11Então, a Cisjordânia é uma situação jurídica complexa, porque é o seguinte,
10:18se você falar que Israel está ocupando a Cisjordânia, tudo bem,
10:21então a Cisjordânia pertence a qual país?
10:25Ela pertence à Jordânia, pertence ao Líbano, pertence ao Líbano?
10:27Não, não pertence a nenhum país.
10:28Aquele território era o mandato britânico da Palestina,
10:33esse era o território todo, e ele compunha todo o território de Israel hoje,
10:37mais a Jordânia.
10:39Quando os britânicos separam em dois, eles criam o Estado Palestino,
10:43que hoje chama-se Jordânia, Jordânia, na época chamava Transjordânia,
10:47hoje chama-se só Jordânia, e o território de Israel.
10:50Vem a partilha da ONU, a ONU vai, tem árabes lá, judeus, não estão se entendendo,
10:57e a ONU decide dividir em dois Estados.
10:59Israel e os judeus aceitam a partilha e falam, ok, vamos viver em paz aqui, aceitamos,
11:05e o lado árabe, isso é um fato histórico, na opinião, rejeita,
11:08e fala que se houver declaração de independência de Israel, vai entrar em guerra.
11:12Israel declara sua independência, os árabes da Palestina, bem como os países vizinhos,
11:16entram em guerra para a destruição de Israel.
11:20E de lá para cá, é uma história muito longa de Israel tentando sobreviver e ser aceito,
11:26e uma série de atores não aceitando a existência de Israel.
11:30Então, esse dilema entre árabes moderados, que acreditam que é possível viver com Israel lado a lado,
11:34e árabes que não acreditam nisso.
11:37E só para completar, a gente fala do Hezbollah, né, o Hezbollah no Líbano,
11:41apesar do Líbano não ser território ocupado israelense,
11:43não ter presença israelense nesse momento,
11:47no dia 7 de outubro tem o ataque do Hamas,
11:50no dia 8 de outubro, no dia seguinte, sem nenhuma provocação,
11:53o Hezbollah começa a mandar missão a Israel.
11:56E depois, agora Israel revidou e conseguiu desabilitar uma parte do Hezbollah,
12:01e no ano passado, quando a gente fala de Irã, parece que foi um negócio não provocado, etc.
12:05Vamos lembrar que entre Irã e Israel nunca houve confronto direto,
12:09sempre foi indireto.
12:10Porém, isso foi rompido em abril do ano passado pelo Irã.
12:14Sim, eu estava ao vivo aqui, eles enviaram vários drones, centenas de drones.
12:17O Irã fez um ataque pela primeira vez direto do território iraniano para o território de Israel.
12:22E depois, em outubro, fez um novo ataque com missos balísticos.
12:25Então, assim, se alguém rompeu esse status quo de não ataque direto,