Apercebo-me que estou perto. Um arrepio atravessa-me. Há muitos anos não estou tão próximo deste lugar incerto. Saí de casa um menino, procurando a lucidez entre o sábio e o divino, encontrando na viagem, nitidez. Ali está ela, a casa do canto, com a mesma porta... e à volta dela o mesmo encanto, do perdido Pátio Gaivota... Nos vasos, outras flores, no ar, já sem o veneno das passadas dores, transpira um trapo mais sereno...
A porta abre-se, revela uma criança de sorriso ardente, o mesmo sorriso ingénuo agora de mim tão ausente! É filha de alguém feliz! Refugio a vergonha por detrás de um cigarro, e quando de lá dentro alguém diz "Cuidado com algum carro!"... a criança sonha! O infante brinca indiferente, alheio à minha tortura, infligida pela lembrança da negrura desse Pátio Gaivota do meu tempo de criança! E este olhar pungente o meu saber não enxota! A criança passa correndo e sou eu que vou lá, brincando, ardendo, sonhando, perdendo, fumando, esquecendo... que a criança sofrendo, afinal, já lá não está.