No Direto ao Ponto, o infectologista Dr. Ricardo Sobhie Diaz afirma que buscar a cura do HIV é uma obrigação da ciência. Ele alerta para o “cansaço do tratamento”, comum em terapias de longo prazo, e destaca que abandonar os medicamentos pode gerar resistência viral e inflamação grave. Diaz defende novas terapias, como medicamentos injetáveis, e lembra que o HIV ainda é imprevisível a longo prazo.
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00:00Eu queria, aproveitando que a gente tá falando de tratamento, queria fazer uma pergunta sobre a adesão aos tratamentos, né?
00:05Como é um coquetel, ainda hoje, que tem que ser tomado todos os dias, né?
00:10E como o Moura falou, tem estudos que estão diminuindo isso pra cada seis meses.
00:14Agora pode ser que a gente tenha essa injeção, como a sua equipe tá estudando.
00:20Eu queria saber como que é a adesão dos pacientes e o que dificulta essa continuidade, já que é um tratamento pro resto da vida, né?
00:27É, e o resto da vida é muito tempo.
00:28O que acontece, pra algumas pessoas, é muito tempo.
00:33E o que acontece, tem um fenômeno que é muito conhecido em medicina, né?
00:40Que tem um nome em inglês, que chama pill fatigue.
00:42As pessoas se cansam do tratamento.
00:46Então, o que que acontece?
00:47As pessoas têm que tomar um tratamento pra vida inteira, e num determinado momento, elas não percebem que elas estão cansadas, mas elas se cansam.
00:56Elas não percebem que estão deixando de tomar os medicamentos, mas elas estão deixando de tomar o medicamento.
01:02Isso acontece com muita gente, acontece com frequência em várias doenças, mas olha, se você tiver esse cansaço com remédio pra pressão, provavelmente você não vai morrer.
01:14Ou pra diabetes, ou pra reumatologia.
01:18Você ajusta isso daí.
01:20Com o HIV, o vírus pode ficar resistente.
01:22Ou ele pode voltar e inflamar muito o teu corpo.
01:26Então, a gente não quer esse tipo de cansaço.
01:29E acontece que aí a gente tem que inovar, e você mesmo apontou como.
01:35A gente tem que melhorar os medicamentos.
01:37Imagina que quando a gente tem dificuldade de dar medicamento pras pessoas, como acontece em psiquiatria, a gente injeta medicamentos.
01:47E é o que a gente tá fazendo com o HIV também, tá inventando medicamento injetável, né?
01:51E a gente tem que vencer isso daí.
01:53Agora, tem muita coisa que é desconhecida, né?
01:57O HIV é relativamente novo.
01:59O tratamento pro HIV é relativamente novo.
02:02Então, a gente não sabe o que vai acontecer.
02:05Se você perguntar pra mim o que acontece se a pessoa tomar 40 anos de remédio pra pressão, eu sei.
02:10Pra diabetes, eu sei.
02:12Pra reumatismo, eu sei.
02:14Pro HIV, não sei.
02:15Não chegou.
02:16Então, a gente ainda tem que aprender o que vai ser de toxicidade de longo prazo.
02:24E a gente fica olhando isso daí pra tentar reduzir todo esse tipo de desgaste que a pessoa tem, né?
02:32E a gente quer tratar as pessoas cada vez mais cedo.
02:36Isso é bom.
02:37A gente tem vários motivos pra fazer isso daí.
02:40Mas quanto mais cedo a gente trata, mais tempo ela vai ficar tendo que tomar o medicamento.
02:48Então, esse é um dos desafios que a gente tem de fato.
02:53Vai lá, Mônica.
02:54Doutor Ricardo, quando você está falando de tratamento, na verdade você está falando de um tratamento que é feito pra controlar o vírus que está dentro do corpo
03:02e pra esse vírus não se tornar uma doença que mata.
03:06E pra eliminar o vírus, pra acabar com ele, não é cura, né?
03:10É remissão.
03:11Existe a transplante de medula, você citou, que é extremamente complexo.
03:16É um procedimento arriscadíssimo, com risco de rejeição, com custo altíssimo, tanto pra pessoa quanto em termos financeiros.
03:23E aí vocês foram os únicos que tiveram um caso de cura ou de eliminar o vírus por via medicamentosa.
03:29Sem precisar de um transplante que não é viável pensar em transplantar em larga escala todos os, hoje, contaminados com HIV.
03:37Qual é a possibilidade desse tratamento que vocês desenvolveram se tornar algo comum, de uso frequente pra todo mundo, acessível pra todo mundo
03:45e que a gente possa pensar num mundo sem HIV?
03:47Primeiro, a gente deu sorte, né?
03:49Eu acho que a gente deu muita sorte de achar um caminho e ter dado muito certo.
03:55e a gente ter todos os, as evidências de que a gente conseguiu eliminar o HIV do corpo de uma pessoa, né?
04:03E aí, a grande pergunta é, ele tava num grupo de cinco, quatro, não tiveram a mesma sorte, esse mesmo sucesso, né?
04:14E por quê?
04:15Bom, é claro que a gente vai descobrir por quê.
04:19E vai ajustar isso daí pra tentar melhorar esse desempenho.
04:25Você sabe o que vai acontecer?
04:26Isso acontece com várias doenças.
04:29Na hora que a cura chegar pro HIV, né?
04:32Essa remissão sustentada, ela não chega pra todo mundo de uma vez.
04:36Ela vai chegar pra uma parcela de pessoas.
04:38Aquelas que estão mais próximas, aquelas que têm um perfil próprio pra isso daí.
04:45E aí a gente vai entendendo e vai ajustando e vai tentando aumentar essa...
04:51Essa possibilidade de incluir mais gente que possa ser beneficiado disso daí, né?
04:58Então, é esse que é o nosso papel.
05:01Hoje em dia, a gente tem uma linha da medicina que se chama Medicina de Precisão.
05:06O que a Medicina de Precisão faz?
05:07Ela entende que o tratamento não é igual pra todo mundo, pra algumas doenças muito complexas, né?
05:13Por exemplo, pra oncologia, pra câncer, né?
05:16Tem gente que o remédio não vai funcionar.
05:19E aquilo ali tá no perfil da pessoa, no perfil do câncer da pessoa,
05:24que vai ter predisposição ou não a responder os medicamentos.
05:29A gente vai fazer Medicina de Precisão nesses casos.
05:31Vai entender por quê que algumas pessoas podem se beneficiar de um tratamento efetivo.
05:37Sabendo que talvez não seja no início pra todo mundo, mas a gente vai ampliando e vai entendendo como é que a gente pode otimizar isso daí.
05:44É cada vez mais fica claro que o HIV nessas pessoas funciona como se elas tivessem um câncerzinho.
05:59O corpo delas funciona num ambiente como se fosse um ambiente de um câncer, né?
06:03E a gente tenta aprender na oncologia como lidar com isso daí.
06:08Como melhorar a imunidade das pessoas, como o oncologista faz.
06:12Como fazer com que você elimine as células que a gente quer, como o oncologista faz.
06:16A gente tem que aprender muito com eles.
06:18E não é à toa que as pessoas curadas foram curadas com tratamento oncológico, que foi o transplante de medula.
06:25Puxa vida.
06:25Camila.
06:26É exatamente isso que eu queria perguntar, doutor.
06:29Com relação ao tratamento oncológico, já que o senhor citou até os próprios medicamentos com o objetivo de matar as células que tem ali o HIV,
06:38o tratamento do câncer, esse é o objetivo, né?
06:40Com os quimioterápicos.
06:42O tratamento que cura, né?
06:44Assim a gente pode dizer, através do transplante de medula.
06:47Daria pra tratar o HIV com quimioterápicos, então?
06:51Por que que não daria?
06:53A primeira coisa que a gente precisa, na hora que a pessoa tem a manifestação do HIV, é tentar controlar o vírus, né?
07:02Porque é o vírus que leva a todo esse ambiente ruim do corpo.
07:07E isso a gente faz bem.
07:08A gente já tem medicamentos.
07:10Então, na hora que a gente fala que a gente tá usando o coquetel, a gente tá controlando o vírus.
07:13A gente tá matando o vírus.
07:14É errado falar que matar o vírus, porque o vírus não tem vida, mas eu gosto.
07:18A gente tá matando o vírus.
07:19E aí, o que sobra é o resto que tá lá dentro.
07:24É aquele vírus que tá dentro da célula da pessoa e que não consegue sair e fica produzindo
07:30algumas coisas muito estranhas, algumas proteínas estranhas.
07:34É aquele vírus que vai acordando e vai fazendo mal pra pessoa.
07:37Então, esse é o próximo passo.
07:40O corpo da pessoa funciona como se ele tivesse bobeado na hora que ele vai precisar da imunidade pra controlar o vírus, né?
07:52Ele fica meio tolerante.
07:53Que é uma coisa que acontece com o câncer.
07:56Com o câncer, a gente tem algumas...
07:58Normalmente, a gente tem algumas travas que diminuem a nossa imunidade pra gente modular a nossa imunidade.
08:04Só que se a gente errar, a gente pode desenvolver um câncer assim que a gente trata o câncer.
08:09Porque a gente destrava o que tá errado.
08:12E no HIV parece que as travas são semelhantes.
08:15Então, a gente vai ter essa possibilidade também de usar esse tipo de abordagem.
08:20No final, tudo tem que se conversar.
08:24Então, a gente tenta fazer um grupo grande de pesquisa, um centro de cura do HIV.
08:30E aí, a gente tá trazendo engenheiro, tá trazendo físico, tá trazendo bioquímico
08:35pra tentar usar todo esse conhecimento que a gente não tem, mas que as pessoas têm.
08:43E a gente tem que trazer junto.
08:44E o que que falta, professor, em termos de investimentos, de questões financeiras
08:49pra que isso se concretize da maneira como vocês entendem que seria o ideal?
08:55A gente, pra montar o centro que a gente quer, a gente precisa ter recurso.
09:00Esse recurso a gente tá buscando.
09:02Tá buscando de agências de fomento, parcerias privadas.
09:09Tem várias parcerias em andamento.
09:11Porque a gente já identificou os jogadores, as pessoas que têm que fazer parte disso daí.
09:19E eles estão interessados?
09:20Estão muito interessados, né?
09:22Então, a gente tá trazendo gente pra fazer engenharia genética,
09:25gente pra usar nanotecnologia, fotoimunoterapia,
09:29várias coisas inovadoras.
09:30Pra gente juntar tudo, a gente não vai conseguir curar o HIV com um caminho único.
09:34A gente vai ter que ter várias coisas diferentes pra, juntando e até pra otimizar isso daí
09:42pra cada perfil de pessoa.
09:44Então, a gente precisa ter esse centro.
09:45Não existe esse centro no mundo exclusivo, né?
09:48E na hora que a gente tiver ele começar a funcionar pro HIV,
09:51a gente abre uma perspectiva de que isso possa ser usado pra outras doenças também.
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