O mestre em ciências militares Paulo Filho comenta o anúncio do governo do presidente Donald Trump sobre uma nova operação militar de combate ao narcotráfico, com foco em rotas marítimas no Caribe e no Pacífico. Paulo Filho analisa que, embora a operação seja justificada pelo combate aos cartéis de drogas, ela possui um forte componente político-militar e geopolítico.
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00:00Nos falando sobre o governo americano, a tensão aumenta nas Américas com o anúncio de uma operação pelos Estados Unidos de combate ao narcotráfico.
00:09O nosso entrevistado agora é o coronel da Reserva e mestre em Ciências Militares, Paulo Filho.
00:15Como vai, coronel? Muito obrigado mais uma vez por atender a Jovem Pan. Muito bem-vindo.
00:20Boa noite, Thiago. Um prazer estar com vocês todos aqui na Jovem Pan.
00:23Bom, simbolicamente, hoje o governo americano divulgou uma foto do maior porta-aviões do mundo chegando àquela região.
00:31E a leitura que vem se fazendo já há semanas é em relação à Venezuela.
00:37Eu pergunto para o senhor o seguinte, o senhor acha que ainda é ou ainda se trata de uma intimidação àquela região, principalmente à Venezuela,
00:46ou tem esse foco de combate ao narcotráfico ou às duas coisas ao mesmo tempo?
00:53Bem, Thiago, toda ação militar está subordinada a um objetivo político.
01:00Então, as forças armadas de um país só são empregadas para atender a um anseio do governo daquele país.
01:08O presidente Trump tem dito que o país está numa guerra ao terror, ele já declarou isso,
01:13que os Estados Unidos estão em guerra contra os narcotraficantes, que ele equiparou a terroristas,
01:20então ele chamou de narcoterroristas, designou determinados cartéis de droga oficialmente como entidades terroristas,
01:28e disse que o governo venezuelano, o governo do presidente Maduro,
01:32o presidente Maduro e seus mais próximos assessores, os ministros do governo,
01:38são líderes de cartéis narcoterroristas.
01:41Muito bem, nós estamos acompanhando já há algumas semanas essas ações das Forças Armadas Americanas
01:48para a eliminação de traficantes que estão em barcos, alegadamente traficantes,
01:55ditos pelo governo norte-americano dessa forma,
01:58estão sendo sumariamente eliminados nas águas do Caribe,
02:02mas também nas águas do Pacífico, na costa da Colômbia,
02:05e essa ação é justificada justamente pelo fato de eles terem declarado uma guerra ao terror.
02:12Só que a aproximação dos meios no Caribe, a quantidade de meios militares no Caribe,
02:18ela é muito maior do que a necessária para essas ações de eliminação desses pequenos barcos.
02:25Então nós já temos aí cerca de 10 navios no Caribe,
02:30uma força de assalto anfíbio, liderada pelo navio Ivojima,
02:35que carrega 2.200 fuzileiros navais,
02:38que são tropas especializadas em assalto anfíbio,
02:41ou seja, em desembarque em terra, lançado do mar para a terra,
02:46e agora com a aproximação do porta-aviões Gerald Ford,
02:50acompanhado pelos seus navios de escolta.
02:52O avião Gerald Ford é uma máquina de guerra poderosíssima,
02:57carrega com ele cerca de 75 aeronaves,
03:02navios lançadores de mísseis Tomahawk,
03:05há um submarino de produção nuclear na área.
03:08Então toda essa quantidade de meios indica para nós
03:11que o objetivo político deve ser maior do que simplesmente um combate
03:17a esses grupos traficantes pela eliminação dos barcos,
03:22para fazer eliminação de barcos, não precisaria de todo esse poder naval.
03:25O que faz a gente imaginar que possa sim estar em andamento
03:29uma aproximação de meios militares para ações em terra na Venezuela.
03:36Que ações seriam essas?
03:38Poderiam ser ataques pontuais contra instalações de narcotraficantes,
03:44locais de reunião ou ataques a alguma liderança,
03:50ou também se especula que pode ser uma ação que esteja dando uma certa cobertura
03:57a eventuais grupos no interior da Venezuela
04:00que possam estar planejando derrubar o governo Maduro.
04:05Então essa aproximação de meios daria respaldo militar para uma ação desse tipo.
04:10Mas nós estamos aqui fazendo uma especulação, né?
04:13A gente não sabe exatamente qual é o objetivo do governo americano.
04:17Coronel, trago agora os nossos comentaristas.
04:20O Cristiano Vilela faz a próxima pergunta.
04:22Vilela.
04:24Coronel, boa noite.
04:26É viável na sua avaliação a gente imaginar realmente
04:29uma invasão americana no território venezuelano?
04:33Ou na sua leitura o mais provável é talvez uma guerra psicológica,
04:39talvez essa ocupação de espaços e força
04:41para eventualmente subsidiar algum tipo de atuação interna
04:45por parte da oposição venezuelana?
04:48Vilela, eu acabei de mencionar que esse poderio militar
04:52é muito superior ao necessário a essas ações de eliminação
04:56dos traficantes nesses barcos de transporte de drogas.
04:59Porém, ela é muito insuficiente para um desembarque anfíbio,
05:05para uma operação de ataque à Venezuela nos moldes,
05:10como nós vimos, por exemplo, na Guerra do Iraque, né?
05:13Em que a tropa americana desembarca no país
05:15e faz uma campanha militar para a derrubada do governo Maduro.
05:20A Venezuela é um país muito grande,
05:22é um país que contém uma geografia favorável à defesa,
05:26há espaço para a selva, há espaço para a montanha,
05:30a entrada de tropas para uma operação militar dessa
05:33exigiria uma força militar muito superior a essa,
05:37que já é poderosa, mas teria que ser muito maior
05:40para um eventual ataque.
05:43Mas, como eu disse, né?
05:44Não acredito que seja só para amedrontar o regime venezuelano.
05:50Por que, Vilela?
05:52Porque isso afetaria a dissuasão dos Estados Unidos.
05:56A dissuasão, quando a gente fala na doutrina militar,
05:59ela é composta de dois elementos,
06:01a capacidade militar e a segunda muito importante,
06:05a credibilidade.
06:06Então, se os Estados Unidos trazem toda essa força
06:09para as proximidades da Venezuela,
06:11e nada acontece, né?
06:13E passam-se os meses e o Maduro continua no poder, né?
06:18Essa credibilidade, ela é abalada, né?
06:21Outros países podem imaginar que os Estados Unidos
06:24está se transformando, por hipótese,
06:27numa espécie de leão sem dentes, né?
06:29Que aproxima os seus meios, mas não atua militarmente.
06:32Então, eu acho que o Rubicão já foi cruzado,
06:35essa quantidade de forças militares,
06:37alguma ação vai fazer.
06:39Mas eu acredito que sejam ações pontuais
06:41e não um desembarque nos moldes,
06:44como você perguntou, né?
06:45Um ataque em larga escala à Venezuela.
06:48A não ser que novos meios
06:49sejam aproximados da Venezuela.
06:52Coronel, agora a pergunta de Deise Siocari.
06:55Deise.
06:56Oi, coronel. Boa noite.
06:58Coronel, eu queria tirar algumas dúvidas
07:00diante disso que o senhor falou.
07:01A gente poderia dizer que esse ataque dos Estados Unidos
07:05ele é mais político do que militar?
07:07O senhor falou em algumas interferências militares aí,
07:10mas eu queria entender até onde vai
07:12o ataque político e o militar.
07:15E num outro ponto,
07:18o senhor vê uma reação da Venezuela?
07:21E como que seria essa reação?
07:22A gente consegue ter uma pré-determinação
07:26de quanto tempo pode durar esse conflito?
07:28E aí eu acho que vai muito ao encontro disso,
07:29se é mais político, se é mais militar.
07:31Tem como dar um panorama geral de tudo isso?
07:34Deise, toda ação militar está subordinada
07:39a um objetivo político.
07:40O instrumento militar é um dos instrumentos
07:43à disposição do Estado
07:44para a obtenção dos seus objetivos.
07:47Tem instrumentos econômicos,
07:48tem instrumentos militares,
07:49tem instrumentos psíquicos sociais,
07:51tem instrumentos políticos.
07:52Então nós vemos, por exemplo,
07:54o presidente Trump utilizando com muita força
07:57o instrumento econômico,
07:59impondo tarifas,
08:00de modo a obter ganhos para o seu país
08:03utilizando o instrumento econômico.
08:05Quando um país decide pelo instrumento militar,
08:08é sempre para atingir um objetivo político.
08:12Então o uso do instrumento militar
08:15é para atingir o objetivo político.
08:17Qual o objetivo político?
08:18Me parece, isso não foi dito,
08:21mas me parece que o objetivo político dos Estados Unidos
08:23é retirar o presidente Maduro do poder.
08:26Eu estou imaginando isso.
08:27Como que os venezuelanos poderiam reagir?
08:31Bem, Deise, a Venezuela é um país
08:34que tem forças armadas importantes,
08:36são mais de 200 mil militares,
08:39tem uma reserva importante,
08:41também passa de 100 mil reservistas,
08:46tem equipamentos razoáveis,
08:48embora esses equipamentos de origem russa,
08:51origem chinesa,
08:52já estejam antigos,
08:54precisando de manutenção.
08:55Então a disponibilidade do material não é muito boa,
08:59eles têm problema de manutenção,
09:01têm problema de suprimento
09:02e têm problema de treinamento também.
09:05Havendo um ataque,
09:07nós podemos esperar que aconteçam duas coisas.
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