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  • há 1 dia
István Wessel relembra uma das histórias mais marcantes da sua família, durante a Segunda Guerra Mundial, seu pai levantou a mão dizendo que sabia cozinhar mesmo sem saber.

Esse simples gesto mudou o destino dele. Entre campos de prisioneiros, frio e fome, a cozinha virou abrigo, sobrevivência e herança.

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Transcrição
00:00Nome, Wessel, virou sinônimo de carne.
00:03É um império.
00:04Como é que ele veio do nada?
00:08Ele saiu com nada, sem falar a língua.
00:11Criança, tiracolo.
00:13Bebê, a sogra de 72, que equivale a 90 de hoje, né?
00:18É verdade, é verdade.
00:2072 nos anos 50 é 90 de hoje, né?
00:24Sim.
00:24E a danada foi a pé junto e tal.
00:28E aí chega aqui.
00:30O que é o primeiro negócio que ele estabelece?
00:32Quando é que ele vê que ele pode normalmente, novamente, voltar a ter um comércio que é o que ele tinha antes?
00:38Ele trabalhou num frigorífico que não trouxe nenhuma grande novidade pra ele.
00:45Daí ele foi trabalhar de balconista num açougue, na rua Frey Caneca, aqui no Bixiga.
00:51Começou a ter um pequeno contato com o cliente do Bixiga, mas era...
00:58E aí alguém falou, vou te arrumar um negócio maravilhoso.
01:04Vou te arrumar um emprego de açougueiro, de balconista na Vilex.
01:08A Vilex é a casa de Santa Luzia daquela época.
01:11Era, sim, o lugar mais bacana de produtos importados naquela época, importado, né?
01:16E bebidas e whisky.
01:19Era um lugar, uma loja que ficava na Rua Augusta.
01:23Lá embaixo, perto dos Estados Unidos.
01:25É um terreno enorme, tem um banco hoje que vai da Rua Augusta até a do Aquilobo.
01:30E lá nessa loja, na Vilex, que meu pai começou a conhecer o consumidor classe A de São Paulo,
01:39que aí era o coração dos jardins.
01:42Então, o que ele aprendeu de cara?
01:45Que o consumidor europeu, até hoje isso mudou nada,
01:50Ele é, ó, mão fechada, se você pedir meio quilo de carne,
01:56e o pedaço que você cortou, deu 600 gramas, vai ter que tirar os 100 gramas.
02:01Sim.
02:02Aqui no Brasil, ninguém compra 500, ninguém comprava meio quilo, comprava um quilo.
02:08Aí o açougueiro lá na Vilex, do lado dele, cortava um quilo e duzentos.
02:13E a pessoa, ah, deu um quilo, ah, tudo bem.
02:15O pai falou, o que quer dizer tudo bem?
02:17Ele falou, ah, tudo bem aqui, não tem problema lá.
02:20Ele falou, ah, quer dizer que 20% a mais do que ele pediu, não tem problema.
02:24Porque eu estou começando a gostar dessa clientela.
02:27E ele começou a entender como é que é a comunicação com o consumidor aqui, né?
02:33E aí teve um banco da Colônia, era uma cooperativa de crédito,
02:42no Bom Retiro, que não tinha inflação.
02:45Nos anos 50, não tinha inflação.
02:49E que um jurinho baixinho, num país sem inflação,
02:53ele conseguiu, com a aval de uns húngaros que chegaram numa leva 8,
02:59que vieram em 48, quando minha mãe já queria vir.
03:03Então eles assinaram com a aval,
03:05e meu pai pegou um dinheiro emprestado e comprou um açougue.
03:07Um açougue no bexiga.
03:10E aí, esse açougue, meu pai era muito trabalhador e tal,
03:16ele teve a sorte de estar aqui no momento que começou a indústria automobilística no Brasil.
03:241960, Volkswagen, então, 1960, né?
03:29E aí, esses expatriados todos precisavam de um lugar para comprar carne.
03:37Para comprar carne era um problema.
03:39Os colos eram diferentes, eles não falavam a língua e tal.
03:43E alguém descobriu meu pai.
03:47Tem um húngaro lá no bexiga que fala alemão.
03:49Aí começou a ouvir, presidente da Volkswagen, e tal.
03:54E num certo momento, meu pai tinha no açougue do bexiga dois públicos.
04:00O classe média baixa, que era o habitante do bexiga,
04:04era a classe média baixa de italianos.
04:08Que eram italianos do mercado e tal,
04:11muitos semi-analfabetos, muitos, nos anos 50,
04:15tem muito italiano para cá, aqui do sul da Itália e tal.
04:19Então, a classe média baixa.
04:22E no mesmo dia, tinha também a clientela,
04:25que era diretor da Volkswagen.
04:27Então, meu pai viu aqueles dois tipos de clientes na loja,
04:30e falou, esse negócio não vai dar certo.
04:34Então, em 1960, ele comprou uma casa do lado,
04:39derrubou,
04:41e construiu um açougue lindo,
04:43com quatro metros de pé direito,
04:45azulejado até o teto,
04:46que naquela época, assim,
04:47sem mosca, que naquela época era o comum,
04:51sem cheiro, sem nada, né?
04:53E ele, quando ele mudou para lá,
04:56ele mudou e falou,
04:58não, agora eu só vou trabalhar com produtos top,
05:03preços adequados,
05:05e com isso ele perdeu a clientela do bairro,
05:09mas ele trouxe uma clientela,
05:11que um fala com o outro, fala com o outro,
05:12aí veio os franceses da Renault,
05:14veio os americanos da Ford,
05:16e tal, aí foram,
05:17veio os franceses da
05:19Sangoban, lá de Campinas,
05:22como é que chama?
05:23Uma de vidro, de temperados.
05:26E tal, aí vieram os franceses,
05:28indicaram os franceses,
05:29o alemão indicava o alemão,
05:30o americano indicava,
05:31e passou a ter uma clientela,
05:32eu cheguei a fazer,
05:33aí comecei a trabalhar com meu pai,
05:35oficialmente com 20 anos.
05:36e eu fiz um glossário dos nomes em português,
05:42em alemão, em inglês, em francês,
05:45a pessoa chegava lá,
05:46pegava aquele glossário classificado,
05:49não era classificado,
05:50que não tinha naquela época,
05:51mas eram envelopes plásticos,
05:54ele olhava,
05:55e falava,
05:55ah, tá,
05:56alcatra,
05:58ah, tal,
05:59e ele ia pedindo,
06:00e a gente tinha essa clientela de estrangeiros,
06:02que buscavam coisas diferentes,
06:04muita vitela,
06:06cordeiro,
06:07pato,
06:09e as carnes bovinhas,
06:10e assim,
06:12que meu pai começou a fazer a picanha,
06:14que não tinha o corte picanha aqui,
06:16a picanha fazia parte da peça de alcatra,
06:18fazia não,
06:19parece que é hoje que o boi não mudou nada,
06:21tinha a peça de alcatra,
06:23e aquilo assim,
06:23o açougueiro cortava,
06:25cada bife era assim,
06:26meio metro,
06:27que vinha a maminha,
06:29o miolo de alcatra,
06:30e a picanha era um bifão só,
06:32e as donas de casa,
06:33espertas,
06:34elas esperavam um pouquinho,
06:36para pegar o final da peça,
06:38e no final da peça,
06:39não tinha mais a maminha,
06:40que a maminha,
06:41ela tem um formato,
06:42e a hora que acabou,
06:43era a parte mais dura,
06:45então,
06:46esperavam chegar no final da peça,
06:48e um dia,
06:48um desses alemães,
06:49falou para o meu pai,
06:50você não corta a tafferspitz?
06:52Eu corto,
06:53ele pegou o alcatra,
06:54tirou a picanha,
06:55que era o tafferspitz em alemão,
06:57e ele começou,
06:58então,
06:59a separar,
07:00para o consumidor,
07:01local,
07:03não mudou nada,
07:04porque aquilo,
07:05ia cortando o bifo de alcatra,
07:07e aí,
07:08ele começou a fazer a picanha,
07:11isso foi,
07:11no começo dos anos 60,
07:13e que hoje é,
07:14não,
07:15mas é que hoje é churrasco,
07:16ele não tinha ideia,
07:17os alemães fazem um cozido com a picanha,
07:19é um prato,
07:20não sabia disso,
07:21é um baita prato,
07:22na Áustria,
07:23na Alemanha,
07:24é um cozido,
07:24que é uma delícia,
07:25por sinal,
07:26com raiz forte e tal,
07:28então,
07:28eles cozinham a peça,
07:30fazem um caldo maravilhoso de carne,
07:32depois cortam aquela carne,
07:33com raiz forte,
07:34mostarda,
07:35mas não era churrasco,
07:36era,
07:37e aí,
07:37depois,
07:38começou a virar churrasco,
07:40e aí,
07:40hoje é essa loucura,
07:41né?
07:41Hoje é o corte do Brasil.
07:45Hoje,
07:45Amada,
07:46é,
07:47muitos,
07:48eu,
07:48eu passei a chamar do novo churrasco,
07:51como a qualidade do boi,
07:54da carne,
07:55melhorou muito,
07:56nos últimos,
07:58pouco tempo,
07:58cinco a dez anos,
08:00mas melhorou muito.
08:11O que é o corte do Brasil?
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