00:00Hoje com o pesquisador da Embrapa Agroindústria, vamos Marlen, Marlen tá fazendo as férias
00:10aqui do Tuiu, ficou lento também, da Embrapa Agroindústria Tropical, o Marlos Bezerra
00:16pode falar com a gente aqui sobre o cajueiro anão.
00:20Olá Marlos, tudo bem?
00:21Bom dia.
00:23Bom dia, tudo bem?
00:25Tudo bem.
00:26Prazer estar contigo.
00:27É bom estar com você também.
00:28O nosso conversa aqui se chama conversa franca, mas aquilo que eu falei sobre o javali ali
00:32também é conversa franca e a minha opinião sobre essas coisas erradas.
00:38Coisas que a Embrapa não faz, porque a Embrapa só faz coisas certas, inclusive criando o
00:43cajueiro anão.
00:45Quem é esse cajueiro anão, Marlos?
00:49O cajueiro anão é uma planta de cajueiro, logicamente o próprio nome já diz, de um
00:56porte mais baixo e uma capacidade produtiva muito maior do que o cajueiro comum, esse
01:03que a gente chama cajueiro gigante.
01:05E é uma planta que te permite manejo e te permite colher o fruto, coisa que no cajueiro
01:12gigante não acontece e a fruta cai no chão e só então é colhido a castanha.
01:18Já no cajueiro anão te permite você colher a fruta no pé, assim chamado, para o aproveitamento
01:27tanto do pé duplo como da castanha.
01:29E dá um caju mais bonito também, olha a cor dele, ele é um caju mais volumoso também.
01:35Sim, é um material melhorado, vem do melhoramento genético, então ele foi trabalhado para ter
01:45característica de uniformidade de castanha, você tem um maior rendimento industrial da
01:50castanha e do pé duplo então nem se fala, você tem um pé duplo de qualidade para consumo
01:56e natura e também para as indústrias de processamento.
02:00Então, vocês domesticaram o cajueiro grande, todo mundo fala daquele maior pé de caju
02:07que tem ali próximo a Natal, ali numa cidadezinha, que ele ocupa um quarteirão inteiro, até
02:13tinha uma briga entre duas cidades lá do Nordeste, que é essa aí e uma outra, para ver quem tinha
02:18o maior cajueiro, porque na verdade ele não é, não são várias plantas, ele é uma planta
02:22que depois ele baixa o galho, aí quando o galho encosta na terra, ele cria uma nova raiz,
02:28dali ele sobe, depois com o peso ele desce, vai fazendo isso, fica inviável comercialmente,
02:32teve que domesticar, então daí veio o cajueiro anão.
02:37Perfeito, é exatamente isso, é esta facilidade de manejo que te permite você tratar como
02:46uma fruticultura, uma fruticultura tecnificada, então no cajueiro anão, apesar dele ter um
02:52porte menor, se você deixar indefinidamente ele vai crescer, ele vai se desenvolver
02:57vegetativamente e a gente tem prática de manejo de fazer podas como se faz em qualquer
03:03fruteira, então a gente mantém a planta num tamanho adequado para que você tenha
03:09possibilidade de fazer os tratos culturais e possibilidade de colheta também com facilidade.
03:15E esse rendimento que você falou, maior na castanha ou então também na parte para
03:22obter suco ou comer a fruta in natura, ele é de quantos por cento maior do que num
03:28cajueiro comum?
03:28Porque se é uma espécie trabalhada, você vai ter um rendimento maior.
03:34Assim, você tem, como na natureza, você vai ter planta desse cajueiro comum produzindo,
03:40bem, planta individual, quando você coloca isso numa área por hectare, você vai ter
03:46uma desuniformidade, então você tem plantas que às vezes produz bem, às vezes a grande
03:51maioria não produz satisfatoriamente, enquanto a do cajueiro anão, por ser plantas clonais,
03:58a gente tem os clones e faz a propagação vegetativa, nós temos uma uniformidade de produção.
04:05Então, se você pegar a média do cajueiro comum hoje no Brasil, ela está em torno
04:12de 150, 200 quilos de castanha por hectare.
04:16E o cajueiro anão, hoje no Brasil, está em torno de 500 quilos por hectare.
04:22Mas os nossos materiais genéticos, a gente tem, quase todos eles, com capacidade produtiva
04:30de 1.500, 1.800 quilos por hectare.
04:33Então, assim, você sai aí de uma produtividade de em torno de 200 para 1.500, tranquilamente.
04:41No manejo.
04:42É, no manejo.
04:43Essa é a vantagem de você usar a tecnologia e trabalhar.
04:47Você tem um, olha, no mínimo, três vezes maior.
04:50Você falou algo em torno de 500 quilos para 150 de um cajueiro normal, seriam 450.
04:54No mínimo, mas vocês têm plantas que chegam até 1.500 quilos.
04:59Quer dizer, é possível aumentar ainda mais essa produtividade?
05:04Exato.
05:05Porque, assim, a grande...
05:07Assim, como a cultura do cajueiro aqui no Nordeste tinha uma característica semistrativista,
05:14então, aquilo que eu te falei, o cara espera plantar o fruto cair para colher a castanha
05:19no chão, então, tem pouco manejo, quando se começou também a plantar o cajueiro anão,
05:25parte desses produtores ainda tem a mentalidade de semistrativismo, né?
05:31Então, assim, essa produtividade que aumentou para 500, ela ainda não reflete o potencial
05:37da planta, né?
05:39Porque ainda grande parte dos produtores não usam a tecnologia adequada.
05:43Então, se usar a tecnologia adequada, certamente um patamar de mil quilos de castanha é facilmente
05:49atingido.
05:50É, a atividade extrativista, ela tem a sua função, ela tem o seu papel social, mas
05:56a partir do momento em que você começa a domesticar espécies, não precisa mais fazer
06:00a atividade extrativista.
06:02Pode ir para a atividade comercial, que é muito mais lucrativo.
06:05A renda é muito maior.
06:06Vou dar um exemplo aqui, por exemplo, estamos falando do caju.
06:09A seringueira, que é nativa da floresta amazônica, né?
06:14Que é o trabalho extrativista de antigamente, para retirar o látex para fazer borracha,
06:20o seringueiro tinha que andar, às vezes, 500 metros no meio da mata, de uma árvore
06:25para outra para poder pegar.
06:26Hoje, com os clones, as árvores são perfiladas em um adensamento muito maior e aí uma pessoa
06:32só consegue ir coletando, ou poucas pessoas ir coletando o material, o látex.
06:39E aí, você multiplica por mil a atividade de renda e também facilita o trabalho, o
06:46que é muito bom também, né, Marcos?
06:49Perfeito, perfeito.
06:51A gente só para ter uma ideia, assim, em termos de média, aqui no estado do Ceará,
06:57o IBGE, ele faz a colheita de informações separando o cajueiro comum do cajueiro anão.
07:07Infelizmente, é o único estado que faz assim separado, os demais consideram caju, né?
07:13Mas aqui no estado do Ceará, hoje, em 2024, o cajueiro anão, ele está chegando aí,
07:19em termos de área, 38%, 39% da área plantada com caju do Ceará.
07:25E esses 39% respondem hoje por 60%, 62% da produção de castanha do estado do Ceará.
07:34Mesmo, né, vou repetir, ainda com o baixo nível tecnológico que é utilizado,
07:40mesmo o pessoal que já está plantando o cajueiro anão.
07:43Então, assim, o nosso grande trabalho aqui na Embrapa, né,
07:46além de desenvolver novas tecnologias, é fazer com que essas tecnologias
07:52sejam utilizadas, cheguem no campo,
07:54para que o cajueiro anão realmente expressa o seu potencial produtivo.
07:59Se essa é a radiografia ou o cenário no estado do Ceará
08:03que faz esse mapeamento separado da atividade estrativista
08:09com a produção da atividade comercial,
08:12fatalmente, esse é o resultado também em outros estados,
08:15mesmo não fazendo a pesquisa, né?
08:17respondendo aí por 70%.
08:19Enfim, a gente vai domesticando e vai melhorando a produção
08:25e a qualidade dos produtos.
08:27Uma última questão.
08:28O caju é uma fruta típica da região árida do Nordeste brasileiro.
08:33E na forma nativa, ele vai muito bem,
08:36que é a condição estrativista.
08:38Esse caju anão, ele é mais resistente à estiagem,
08:42ao rigor hídrico, por isso que ele produz mais,
08:45como é que foi esse aperfeiçoamento genético?
08:51A gente pode dizer que ele tem uma certa semelhança
08:55em termos de ruricidade com o cajueiro comum.
08:59O melhoramento, né, também,
09:01grande parte, especialmente no início,
09:03ele foi feito com seleção, seleção de materiais.
09:06E esses materiais estavam aqui, na região Nordeste,
09:10com essa característica de tolerância
09:12às vicissitudes climáticas,
09:15especialmente à questão de falta de água, né?
09:18Então, assim, o melhoramento por ter selecionado essas plantas,
09:23ela trouxe essas características do cajueiro comum.
09:26Então, o cajueiro anão também tem essa resistência, né,
09:29essa tolerância, né, ou essa adaptabilidade
09:31para as nossas condições aqui do Nordeste
09:35de baixa precipitação e, principalmente, né,
09:39com a irregularidade de precipitações.
09:41Então, a gente tem um material tolerante também,
09:45vamos chamar assim, semelhante ao cajueiro comum,
09:48mas com características desejáveis,
09:50que foi trazida pelo melhoramento,
09:53de você poder fazer manejo, né?
09:55E, assim, essas plantas respondem muito bem ao manejo,
09:59especialmente ao manejo nutricional, né?
10:01Então, mesmo em condições de sequeiro,
10:04e aí 99% do nosso cajueiro é condição de sequeiro, né,
10:08sem irrigação,
10:10elas respondem muito bem ao manejo nutricional.
10:14Bom, como em tudo no agronegócio, né?
10:17Você pega a rusticidade e vai aliar,
10:19quando você vai buscar novas espécies,
10:21seja no reino animal ou no reino vegetal,
10:24você vai buscar aquilo que é característica necessária
10:27para determinada situação.
10:29Então, tem uma raça que tem fragilidade,
10:31mas se precisa implantar a rusticidade,
10:33porque ela tem grande produtividade.
10:35Então, você vai fazendo as adaptações.
10:38E, no caso da embrapa aí com as plantas,
10:40todas as embrapas têm excelentes bancos de germoplasma,
10:44que são as plantas mais antigas,
10:46que vão ficando e sendo preservadas,
10:48porque quando você queira melhorar alguma espécie,
10:51você vai lá buscar.
10:52Poxa, mas aqui ele produzia pouquinho,
10:55mas na seca de 1900 e não sei quanto,
10:58foi o único que resistiu.
10:59Opa, vamos pegar lá um gene dele e vamos analisar e estudar.
11:02É assim que trabalha a ciência.
11:07Perfeito.
11:08E assim, colaborando com o que você está falando aqui,
11:11em Pacajus, nós temos o nosso campo experimental
11:13com o nosso banco de germoplasma de cajueiro,
11:16o maior banco de germoplasma de caju do mundo.
11:18A gente tem, sim, esse material aqui sendo preservado
11:25e continua sendo coletado,
11:27que permite, visto que você falou,
11:29a gente ir buscar esses materiais com características desejadas.
11:33Legal, Marlos Bezerra.
11:34Muito obrigado pela participação
11:36e falando de mais um projeto vitorioso da Embrapa.
11:40Aliás, a Embrapa só tem projetos vitoriosos.
11:42Não conheço nenhuma história da Embrapa que não deu certo.
11:45Vocês cientistas da Embrapa são ferrenhos.
11:49Vocês vão buscar mesmo o resultado positivo.
11:51Eu sou muito fã de vocês e de todos os pesquisadores
11:54do agronegócio brasileiro,
11:56das mais diversas instituições.
11:58Marlos, deixa, por favor,
11:59o endereço de internet de vocês aí,
12:02da Embrapa Agroindústria Tropical,
12:04que fica no Ceará,
12:05para quem quiser mais informações sobre o nosso assunto aqui.
12:07Pois não, assim, você pode acessar pelo site da Embrapa,
12:13que é o www.embrapa.br
12:15e lá você busca a nossa unidade,
12:17Embrapa Agroindústria Tropical,
12:19que tem todas as informações sobre o que nós falamos.
12:23E para aqueles que têm dúvidas ou procuram informações,
12:26podem acessar o nosso site,
12:28que também é www.embrapa.br
12:32barra fale trace conosco.
12:35É isso aí.
12:36Então, assim, você vai encontrar também
12:38no YouTube, Instagram, enfim,
12:39todas as mídias sociais aí.
12:41É só procurar Embrapa Agroindústria Tropical.
12:44Ou digita lá, Caju Anão,
12:46que já vai sair um monte de itens.
12:48Também, também.
12:50Um abraço, Marlos.
12:50Uma disposição aqui.
12:51Um abraço para você e para todos aí
12:54da Embrapa Agropecuária Tropical.
12:56Abração.
12:57Obrigado.