00:00E agora a gente vai falar mais sobre esse assunto, mas do lado da proteção das crianças.
00:06Vamos receber agora ao vivo Larissa Fonseca, que é psicóloga e clínica, aliás, perdão, psicóloga clínica.
00:14Vamos lá, deixa eu receber aqui a doutora Larissa, vamos lá.
00:21Olá, boa noite, doutora Larissa, seja muito bem-vinda ao Olhar Digital News.
00:26Boa noite, Marissa, fico muito feliz com o convite e fiquei lisonjeada para falar sobre esse tema que realmente pegou até dentro da minha casa, tá? Confesso.
00:38Pois é, é um assunto bastante sério e muito atual, não é, doutora Larissa?
00:42Porque o vídeo, ele mostra que crianças e adolescentes são expostas e até incentivadas a repetir essa tal adultização pelas redes sociais.
00:54Como isso pode impactar o psicológico dos jovens no curto e no longo prazo, doutora Larissa?
01:02Olha, sabe Marissa, eu falo para você, eu tenho um filho de 9 anos e ele já acompanhava o Felca e eu acompanhei o Felca durante um bom período,
01:13desde a época que ele fez aquela maquiagem.
01:16Só que o termo adultização não é um termo muito comum na nossa linguagem e aí eu fui buscar melhor, né, para compreender o que se tratava isso.
01:26E aí quando a gente olha, a gente fala, a criança é exposta, incentivada e ensinada a adotar comportamentos, linguagens e roupas e atitudes próprias do universo adulto.
01:36E ela não tem maturidade emocional para lidar com isso.
01:38E aí eu comecei a olhar os vídeos do meu filho de 9 anos e eu comecei a perceber que isso é extremamente comum, né?
01:45A gente percebe em vários perfis de irmãos, trazendo crianças mais novas e trazendo comportamentos empresários, comportamentos, assim, de linguagem, de roupa,
01:57que seria parte do universo adulto.
01:59E a criança, quando ela está consumindo esse tipo de conteúdo, que faz parte do universo adulto,
02:05ela perde muito mais do que a infância, porque ela perde o tempo interno que ela tem de se descobrir.
02:12Quando a criança é colocada nesse contexto, ela passa a receber alguns estímulos que não faz parte do repertório cognitivo,
02:18nem o repertório emocional que ela tem.
02:20Isso traz ansiedade, traz uma confusão de identidade, traz uma distorção da própria autoimagem que ela tem,
02:27porque o cérebro dela está em formação e ela não consegue entender que aquilo não faz parte,
02:31que aquilo é uma encenação, ela sente uma pressão acreditando que ela deveria fazer parte daquilo,
02:37deveria ser dessa forma e aquilo se torna um valor para ela, se torna alguém que ela deve seguir,
02:43que é uma pessoa como se ela tivesse que experimentar e ser daquela outra forma.
02:49Então, no lugar do brincar, do conviver, de fazer amizade, ela aprende que o valor está na aparência,
02:55está no quanto que ela agrada as outras pessoas, o quanto que aquela pessoa é curtida.
03:00Então, adultizar é acelerar o processo de criança que precisa de cuidado,
03:06mas não deveria ter pressa para crescer, ela passa a ter mais pressa do que ela já teria habitualmente.
03:12Pois é, e é perceptível no comportamento da criança já, que consome esse tipo de conteúdo,
03:20no dia a dia dela, é perceptível para os pais que algo está acontecendo no desenvolvimento daquela criança, doutora?
03:26Ela começa a se comparar constantemente, ela sente muita ansiedade em ficar longe daquele conteúdo,
03:33ela sente como se aquela pessoa, aquele vídeo, aquele influenciador fizesse parte da vida dela,
03:40ela sente pressão para corresponder aos padrões, ela perde um pouco da espontaneidade como se tudo fosse um vídeo.
03:46É, a longo prazo isso gera uma baixa autoestima, uma dificuldade em estabelecer limite,
03:52uma maior vulnerabilidade a relações abusivas, porque ela consegue ter dificuldade para colocar.
03:59E aí, como que ela vai ter momentos offline?
04:02Então, a imagem da criança, ela não pode ser tratada como um produto,
04:05e sim como uma parte integrante do seu desenvolvimento emocional,
04:09fazer parte da vida dela como se fosse um brincar.
04:12O ponto é, o quanto que ela vai, como criadora de conteúdo,
04:16não pensar em criar conteúdo e viver a infância, viver o brincar.
04:20Ela vai ficar o tempo inteiro, constantemente, nessa fantasia de produzir.
04:25Agora, Larissa, existe alguma idade certa, digamos, para começar a ter um tempo de tela?
04:31Ou seja, o que há de consenso no uso da internet em cada faixa etária?
04:36Ou seja, tanto quem usa quanto esses influenciadores, digamos, mirins?
04:41Então, aí a gente tem uma questão muito delicada que eu aposto que pega na ferida de muitos pais,
04:47e eu me coloco nesse sentido.
04:50E depois do vídeo do Felca, eu estabeleci alguns outros limites
04:54que acho que pode ser muito interessante para os pais.
04:56O consenso da associação pediátrica é que assim,
04:59criança de dois anos não tem exposição de tela.
05:02Ela não tem exposição de telas a não ser videochamada com familiar.
05:05Por quê? Porque ele tira o risco e ele coloca em risco o brincar,
05:12o desenvolvimento, a coordenação, o desenvolvimento da linguagem.
05:16Já quando a gente fala de dois a cinco anos, no máximo uma hora,
05:20com supervisão e uma escolha bem delicada dos pais em relação ao conteúdo.
05:25Porque a criança está formando a identidade dela,
05:27começa a não diferenciar muito bem o que é realidade do que é fantasia.
05:32Então, quando ela vê aquilo, ela acha que aquilo é a realidade mesmo.
05:35Então, a criança, a partir da repetição, ela vai tentar comparar
05:39e vai tentar se fazer igual àquele vídeo, buscando uma aprovação externa contínua.
05:45Quando a gente vai dos seis aos dez anos,
05:48a gente entra num limite de duas horas diária,
05:51que precisa existir o lazer offline.
05:56Precisa existir atividades e brincar.
05:58E, claro, as amizades, porque nesse momento,
06:02o desenvolvimento emocional depende muito das interações.
06:06E aí, a partir disso que a gente entende regras e entende limites.
06:09Então, quando a gente fica preso no digital, a gente não tem esse limite.
06:13A gente não desenvolve esse limite fora a questão da dopamina
06:16e tudo que faz de alteração cerebral nesse desenvolvimento que a gente já sabe.
06:20Então, a criança já entende mais o que ela vê,
06:23mas ela não tem maturidade para filtrar as mensagens que acabam vindo
06:27e que influenciam ela.
06:30Então, tem uma pressão estética,
06:32a comparação com influenciadores ganha mais força.
06:36E aí, dos 11 aos 14 anos,
06:37a gente está falando de três horas digital,
06:40que eu acho que é muito mais difícil os pais controlarem,
06:43porque os amigos utilizam,
06:46e aí acaba havendo um senso de pertencimento de fazer parte.
06:49E aí, entra o risco do cyberbullying,
06:51aqueles padrões irreais de corpo,
06:53porque a criança, o adolescente, o pré-adolescente de 11 a 14 anos
06:57está com a formação corporal,
06:59então ainda está diferente, está esquisito,
07:01não está se sentindo bem,
07:02tem parte que cresce mais, tem parte que cresce menos.
07:05E aí, ele vai se comparar
07:06e pode acabar fazendo com que essa exposição seja muito mais arriscada,
07:11porque a comparação e a influência da figura pública,
07:14nesse momento, é muito importante,
07:16é muito forte na vida dela.
07:18Acaba sendo um padrão para ela seguir.
07:21E aí, a partir dos 15 anos,
07:22ela pode ter uma autonomia maior,
07:24mas claro que os pais devem entender,
07:26explicar limites,
07:28explicar o porquê que pode existir um grande risco
07:31em relação aos relacionamentos
07:33e as relações que elas têm com outras pessoas.
07:36Agora, Larissa, como mostrou a denúncia,
07:39até mesmo postagens aparentemente inocentes
07:42podem abastecer redes criminosas.
07:45Então, diante desse cenário,
07:47como que os pais podem proteger os seus filhos?
07:50Olha, eu já iria para o extremo nesse momento, sabe?
07:54Porque a gente percebeu, por esse vídeo,
07:58que qualquer conteúdo é conteúdo
08:00para ser utilizado de exploração infantil
08:04para redes criminosas.
08:06E enquanto a gente não tem o estabelecimento de leis
08:09que consigam proteger essas crianças
08:11e consigam proteger o conteúdo de alguma forma,
08:14eu diria, para que a necessidade de postar o seu filho
08:16para todas as pessoas que te seguem?
08:18Será que você não tem um grupo seleto de amigos
08:21que você pode mostrar
08:23e talvez restringir esse tipo de contato?
08:26Porque, por exemplo, você viu nos vídeos,
08:28eram meninas fazendo apresentação de ginástica olímpica,
08:32meninas dançando balé,
08:33meninas mergulhando numa piscina aos olhos de pais.
08:39E isso é motivo de orgulho,
08:40é motivo de compartilhar com os amigos.
08:43Você percebe?
08:44Mas o quanto que os criminosos estão utilizando disso
08:47para fazer com que esse conteúdo
08:50seja uma violência, uma maldade
08:52em relação às próprias crianças.
08:54Então, isso está trazendo para eles
08:57uma visibilidade e um alimentar de conteúdo
09:00através de uma visão distorcida do que deveria estar sendo.
09:03Então, como que você sabe o que você vai postar
09:06se não vai ser mal utilizado?
09:08A lei que vai existir, muito provavelmente,
09:11vai auxiliar a fazer com que esses conteúdos
09:15sejam filtrados e que essas pessoas sejam caçadas,
09:20sejam presas, sejam, de alguma forma,
09:23punidas pelo que deveria estar acontecendo.
09:26Então, na verdade, até para a gente encerrar
09:30até esse raciocínio,
09:32precisa sim, além de ter uma regulação,
09:35a consciência dos próprios pais também,
09:38não é, Larissa?
09:39Com relação a essa exposição extrema,
09:42porque tem muita gente que expõe absolutamente tudo
09:44o tempo todo, né?
09:45Sim, tem gente que expõe tudo o tempo todo,
09:47tem gente que expõe de uma forma consciente,
09:50mas que a gente nunca tinha pensado
09:52que poderia ser utilizado dessa maneira.
09:54como que a gente faz para parar para pensar
09:58no que a gente está postando
10:00e quais os olhos que vão ser vistos
10:03àquele conteúdo, né?
10:04Eu acho que o principal, a infância,
10:07é aprender a fazer amigos reais.
10:10A gente não estabelece essas relações
10:13através do digital.
10:14Então, a gente não vai achar que a vida
10:17de um influencer é real e que ele é seu amigo.
10:20Essas amizades da infância,
10:22elas não têm preço, elas não voltam mais.
10:25Então, é um momento de vida
10:26que a gente pode ser mais sincero,
10:28mais verdadeiro, e a partir delas
10:30que a gente constrói a nossa identidade.
10:32Então, o digital, ele está trazendo
10:35uma distorção para a nossa vida.
10:37Então, é um momento de atenção.
10:39Tá certo, tá aí.
10:41Recado dado, Larissa Fonseca,
10:43que é psicóloga clínica,
10:45participando aqui do Olhar Digital News.
10:47Muitíssimo obrigada, Larissa.
10:49Espero poder contar com você em outras edições.
10:52Com certeza, Marissa.
10:53Fico muito feliz de estar por aqui.
10:55Conte comigo, estou por aqui.
10:57Obrigada, boa noite para você.
10:58Boa semana.
10:59Boa noite, obrigada.
11:00Tchau.
11:02Tá aí, pessoal, tema importantíssimo.
11:04Espero que vocês tenham gostado
11:06da nossa entrevista aqui com Larissa Fonseca.
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