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“Temos que nos planejar para um El Niño forte”, alerta Carlos Nobre
O Antagonista
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há 5 meses
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00:00
Olá, eu sou Murilo Pavini e começa agora mais um Cruzoé Entrevista.
00:12
Recentemente, a Administração Nacional de Atmosferas e Oceanos, ligada ao governo americano,
00:18
lançou um alerta dizendo que o fenômeno El Ninho está oficialmente formado,
00:23
com a previsão de ser um dos mais intensos das últimas décadas.
00:26
Sobre esse assunto, nós vamos conversar agora com o climatologista Carlos Nobre,
00:31
pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados da USP e co-presidente do Painel Científico para a Amazônia.
00:38
Olá, Carlos, tudo bom?
00:40
Olá, Murilo, tudo bem?
00:42
Carlos, prazer recebê-lo aqui no Cruzoé Entrevista.
00:45
Queria começar perguntando que consequências esse El Ninho trará para o nosso país.
00:49
Olha, El Ninhos fortes, eles trazem uma consequência muito grave para o nosso país,
00:56
porque eles aumentam muito a intensidade dos eventos climáticos extremos.
01:02
Quais são esses eventos?
01:04
Por exemplo, em 2015-16, nós tivemos o El Ninho mais forte do registro histórico.
01:11
O registro histórico tem uns 120 anos.
01:13
E esse El Ninho causou o recorde de secas na Amazônia, a seca também mais forte do registro histórico.
01:20
E também induziu uma seca muito forte no semiárido.
01:25
Então, o El Ninho, o primeiro efeito extremo que ele causa é a seca extrema na Amazônia,
01:32
centro-leste da Amazônia, indo até o semiárido, o nordeste do Brasil.
01:38
E também, em sentido oposto, ele aumenta muito as chuvas no extremo sul do Brasil,
01:47
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul também, Paraguai, Uruguai, o centro-leste da Argentina.
01:53
Ali ela cria um fenômeno meteorológico que aumenta muito as chuvas,
01:57
até com inundações e com desastres causados por essa chuva excessiva.
02:03
Então, esses são, para o Brasil, os dois impactos principais do El Ninho.
02:08
E também, muitas vezes, ele segura um pouco as chuvas lá no sul do Brasil e as frentes frias.
02:16
E aqui no sudeste do Brasil, as temperaturas aumentam.
02:20
E como que ele deve afetar o agronegócio?
02:22
Olha, é muito difícil prever com antecedência o que pode acontecer no Cerrado, no sudeste,
02:35
porque o El Ninho não tem um impacto direto igual,
02:40
como, por exemplo, secas na Amazônia e no Nordeste, chuvas excessivas no sul.
02:44
No meio do Brasil, às vezes, pode ir para um lado e pode ir para o outro.
02:47
Mas, por exemplo, as secas que acontecem na Amazônia e também no Nordeste, na Caatinga,
02:56
têm um impacto no agronegócio.
02:58
E chuvas excessivas no sul, às vezes, também têm um impacto negativo,
03:02
quebrando safras, isso também pode acontecer.
03:06
Mas é lógico, o fenômeno oposto do El Ninho Laninha
03:09
foi o que causou três anos de secas consecutivas no sul do Brasil,
03:14
tendo um enorme impacto na produtividade agrícola.
03:16
Havendo chuvas que o El Ninho traz, não necessariamente você tem uma enorme queda
03:22
na produtividade agrícola, mas é lógico, quando há inundações imensas,
03:27
como já houve em vários dos El Ninhos no passado,
03:30
aí sim pode ter um impacto também na agricultura no sul do Brasil.
03:35
Agora, como que os governos, em diferentes níveis,
03:38
podem fazer para reduzir esses danos?
03:41
É importante já saber desses riscos.
03:45
Então, por exemplo, o El Ninho está previsto com mais de 56% de probabilidade
03:57
do que a agência dos Estados Unidos, a NOA, declarou.
04:01
São cálculos muito precisos, porque o El Ninho já está em formação.
04:07
Se você já vê, as águas mais quentes se formando,
04:11
começaram na costa do Pacífico ali, da Colômbia, do Peru,
04:15
e elas estão já caminhando, e quando elas chegarem lá no oeste,
04:19
lá perto da Indonésia, pronto, o El Ninho se formou.
04:22
Com águas mais quentes ali no centro, principalmente no centro e no leste do Oceano Pacífico.
04:28
E isso deve ser setembro, outubro, ele deve efetivamente estar formado,
04:34
e com acima de 56% de probabilidade de ser muito forte.
04:39
Tem acima de 80% de probabilidade de ser de moderado a forte.
04:44
Então, nós temos que nos planejar para um El Ninho forte.
04:47
Pode, eventualmente, não acontecer muito forte como 2015, 2016,
04:51
mas essa probabilidade não está desaparecida.
04:55
Então, nós temos que nos preparar.
04:56
Por exemplo, na questão de saúde humana, é muito importante ver
05:00
que como o Nordeste e a Amazônia vão estar mais secos e mais quentes,
05:06
também tem impactos na saúde humana.
05:08
Por exemplo, em anos de El Ninho, com 2015 e 2016,
05:12
em anos de muita seca, aumenta muito o fogo, os incêndios na Amazônia,
05:18
e no Cerrado também, incêndios levam uma grande quantidade de material particulado
05:25
que entra no nosso pulmão, causam doenças cardiovasculares e doenças pulmonares.
05:30
Então, temos que já estar preparados para essa questão de saúde.
05:33
E também a agricultura tem que estar muito preparada.
05:37
Tem que estar muito preparada, de olhar muito, sabendo que vai ocorrer um El Ninho desses
05:41
na Amazônia e na Caatinga, no Nordeste,
05:47
qual é buscando soluções de sustentabilidade aí.
05:51
Lógico, queda de safra tem que se esperar, mas buscar uma sustentabilidade maior.
05:55
E também a agricultura do sul do Brasil,
05:58
imaginando como também combater o risco das inundações excessivas.
06:04
E, para a gente encerrar, o Ministério do Meio Ambiente,
06:10
que agora se chama Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas,
06:14
o senhor entende que ele está preparado para esse El Ninho,
06:18
que vem mais forte do que nos outros anos?
06:23
Olha, o Ministério do Meio Ambiente detecta, vai ver o impacto que isso tem no meio ambiente,
06:29
mas o impacto do El Ninho não é só no Ministério do Meio Ambiente.
06:33
Como eu falei, o Ministério da Agricultura tem que já lançar uma série de políticas aí
06:39
de combate a esses extremos climáticos que o El Ninho vai trazer em toda a agricultura nacional.
06:47
O Ministério da Saúde tem que estar muito preparado,
06:50
vai haver um aumento muito grande de incêndios florestais na Amazônia e no Cerrado,
06:55
também parte do Cerrado, pelo menos, que vai gerar muito mais poluição e também ondas de calor.
07:02
Então, são vários ministérios que têm que ser preparados.
07:06
Por exemplo, o Ministério que cuida de toda a infraestrutura e também os governos estaduais.
07:14
Por exemplo, no sul do Brasil, com esses eventos de chuvas muito intensas,
07:18
podem ter impacto muito grande nas rodovias.
07:21
Então, o El Ninho impacta o país como um todo, em todos os setores.
07:27
Perfeito. Eu quero agradecer ao pesquisador Carlos Nobre,
07:31
que gentilmente nos atendeu aqui nesse Cruzoé Entrevista.
07:35
Carlos, muito obrigado. Até a próxima.
07:38
Muito obrigado a você. Até a próxima.
07:51
Legenda Adriana Zanotto
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