No Papo Antagonista desta segunda-feira (13), Claudio Dantas e Diogo Mainardi comentaram os erros de Sergio Moro em sua pré-campanha eleitoral na disputa presidencial de 2022. O ex-juiz precisa entender que a era dos marqueteiros já acabou, como se vê com João Santana. -- Cadastre-se para receber nossa newsletter: https://bit.ly/2Gl9AdL
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00:00Diogo, me permita, eu gostaria de a gente abordar essa questão agora, porque assim, eu tive lá na semana passada em São Paulo, participei, fiz a apresentação do livro do Sérgio Moro, tive a oportunidade de conversar com várias pessoas do entorno, de entender ali algumas coisas que a gente ficava na dúvida, etc.
00:23E eu cheguei à seguinte conclusão, posso ser injusto, mas assim, a gente aqui tem a liberdade para dizer aquilo que a gente entende, aquilo que a gente tem de apuração e aquilo que a gente entende que é certo.
00:39Eu acho que o Moro, se ele não provocar uma revolução interna na sua própria campanha, nas próximas três semanas, no próximo mês, se ele não conseguir resolver isso em janeiro, esta campanha não chegará a termo.
01:00O que eu quero dizer com isso? Não é possível você achar, pensar que vai entrar numa campanha em 2021 com duas máquinas de guerrilha digital, que é como se faz campanha hoje.
01:18Você tem o Lula de um lado, o Bolsonaro de outro, com uma expertise, com uma rede, com militância, com um poder enorme de comunicação, uma capilaridade fulminante, e você pensar que vai entrar em cima do salto alto, dando uma tweetada de vez em quando, gravando um videozinho de vez em quando, e ainda recorrendo a marqueteiro.
01:47Na semana passada, me surpreendeu o Moro indo ao encontro do Nizam, que é um grande publicitário, ninguém tira isso dele, mas obviamente levou um não do Nizam.
01:59Mas o Moro não entendeu que a era dos marqueteiros acabou. Basta ver o João Santana fazendo a campanha do Ciro Gomes, sem conseguir tirar o Ciro Gomes dos 6%.
02:09O João Santana não conseguiu fazer o Ciro Gomes sair do lugar. Então, assim, não vai ser com o marqueteiro o maior... E olha que o João Santana, tirando toda a questão dos caixadores, dos pagamentos de propina por fora, tudo o que aconteceu na Lava Jato...
02:29Já aprendeu a fazer, sem dúvida.
02:31Ele, como profissional, é um dos maiores marqueteiros que já tivemos. Então, assim, e esse cara hoje não consegue mexer isso aqui.
02:41Ele mexeu, né? Ele mexeu...
02:42Ele mexeu pra baixo.
02:45Ele entrou quando o Ciro tinha 9 e agora tem 6.
02:48Então, é...
02:49Pior, né?
02:51Pior.
02:52Então, você imaginar que uma campanha que não tem comunicação... A campanha do Moro não tem comunicação.
02:58Os jornalistas, nós não somos informados das agendas. Nós temos que ficar atrás de saber, pedindo informação daqui e dali pra poder saber com quem ele vai se encontrar, que tipo de reunião que ele vai ter, qual é a agenda, que visita que vai fazer.
03:11Porque, imagina, nós estamos falando de um pré-candidato presidencial. O sujeito teve, na semana passada, em Paraisópolis, que é uma agenda política pra ele fazer durante a campanha.
03:21E ele está fazendo na pré-campanha. Não tinha... A imprensa nem foi avisada. Quer dizer, está fazendo campanha errada, fora de hora.
03:29Isso é um problema de coordenação política. E está fazendo sem divulgação. Isso é um problema de comunicação.
03:35Então, assim, você pensar que nós estamos em dezembro, acabou dezembro, já estamos nas festas de fim de ano e você não tem um mínimo de organização nessa campanha, eu poderia te dizer agora, você vai ficar chateado comigo, mas eu estou chegando à conclusão que essa campanha não é séria, Diogo.
03:52Bom, ele vai ter que se profissionalizar. Não tenho a menor dúvida disso. Acho que contar com o apoio espontâneo da população é importantíssimo. Acho que isso conta nas redes sociais, vai contar ainda mais nas urnas, porque você tem que ganhar voto por voto.
04:10Mas sem profissionalizar esse negócio, a campanha é impossível. E sem oferecer ao país um projeto claro de governo, aí também não é sério.
04:26Então, ele vai ter que correr nas duas direções. Montar um projeto, um programa pro país e montar uma estrutura de campanha eficiente.
04:39Quando você publicou na sexta-feira que a União Brasil e o Moro já estão mais ou menos engatilhados, é evidente que eles vão esperar até fevereiro, março, sei lá eu, até quando, para ver o que acontece com a própria candidatura do Moro.
04:57Mas ele tem chance de embarcar a gente com mais experiência do que ele nessa área e que pode tornar a campanha uma coisa mais organizada.
05:13É fundamental ter uma campanha organizada. Não é o suficiente.
05:17Você vê o Dória. O Dória tem a máquina. Ele também tem uma campanha organizada. O Dória é o contrário. Ele enche a paciência, mandando 300 mensagens por dia, dizendo onde ele está, o que ele está fazendo, vídeo, frase, declaração.
05:35Então, ele vai no extremo oposto. E ele também não sai dos 2%. Pior do que o Ciro, dos dois.
05:43Então, a campanha profissional também não é o suficiente. Mas você tem que ter uma junção.
05:49Eu acho que o Carluxo vai levar, já levou e vai levar o Bolsonaro a despencar mais ainda. Também não é o caminho.
06:00Tem de haver uma estrutura suficientemente profissional que saiba trabalhar um conteúdo de qualidade e que consiga espalhar esse conteúdo de maneira científica.
06:15O Brasil tem uma certa experiência nessa área, não é? Eu sou filho de publicidade. Eu sei que a publicidade funciona e sei que o Brasil tem gente capaz nessa área.
06:31Que consegue levar a mensagem de um determinado produto, no caso de uma pessoa, para o público.
06:40Isso existe, isso funciona. Mas você precisa ter uma... Tem que ter uma estratégia.
06:48Tem que ter. Tem que ter organização. Tem detalhes de uma campanha que você não pode desprezar.
06:58Então, assim, vai desde você montar uma estratégia para lidar com fake news, para rebater a fake news.
07:05Passa justamente pela divulgação sistemática, incessante das suas ideias, dos seus projetos para o país, como você mencionou.
07:15Passa por questões de detalhes.
07:18Eu estive lá com ele, lá no Renaissance, lá no Teatro Renaissance.
07:24Um público a ar. Você está falando com um público a ar.
07:28Eu fui todo paramentado, fui com costume completo, já aqui com colete, com camisa de abotoadura.
07:39Fui para um evento, que eu entendo que seja um evento, como profissional que sou, fui apresentar um evento, fui paramentado, fui pronto para aquele evento, para aquele público.
07:49Então, assim, o Moro chegou de blazer surrado, porque passou o dia inteiro na rua, em agenda, esteve em Paraisópolis, chegou com tênis, com sapato surrado, calça suja, camisa amarrotada e foi com essa roupa para fazer a apresentação.
08:07Não existe isso.
08:08Nem o Bolsonaro, na campanha dele, fazia esse tipo de coisa.
08:13Ele ia, trocava. Tem que ter um assistente, um assistente com uma, duas mudas de roupa.
08:18O cara vai para Paraisópolis, bota calçadinhas, a camisa branca, o tênis.
08:22Vai para um jantar à noite com o empresário, bota o terno limpo.
08:27Isso é o mínimo que se espera de uma campanha.
08:30Aqui é uma crítica que eu estou fazendo ao Podemos, à estrutura que é entregue a ele.
08:35A gente tem batido nisso desde o início, a gente sabia que estava faltando.
08:40Então, assim, isso está muito claro, nunca esteve tão evidente.
08:42Se não somos nós a rebater essa fake news, a campanha não o faz e não o fez.
08:49Saiu essa fake news ontem e a campanha está calada.
08:53Saiu fake news do negócio da Veja lá, dizendo que ele está multimilionário e a campanha calada.
08:58Então, no fim das contas, a gente se pergunta, espera aí, o que está acontecendo?
09:02Ele está sozinho, não tem dúvida.
09:04O Deltan Dallagnol lançou a filiação dele, fez a filiação dele lá.
09:11Parecia, estava pior que o nosso estúdio aqui.
09:14Tinha um backdrop com um pano, entendeu?
09:17Umas mesinhas de escola e o cara num púlpito ali com microfone e o partido fazendo uma transmissão
09:26num tripé que toda hora a câmera mexia, a conexão falhava.
09:31Então, me desculpe.
09:32Essa gente está achando que vai chegar aonde com isso?
09:36Nós temos a Luísa Trajano quase entrando nesse sistema aí e já com tudo pronto.
09:41Eu escrevi de manhã, você conhece, você sabe quem é a pessoa.
09:45Ela esteve na sexta-feira com as ministras, fez um discurso.
09:49Não vou ser vice de ninguém.
09:51O que ela vai ser?
09:51Ela vai ser candidata.
09:52Ela só precisa de um partido com estrutura ferramental que tope o projeto dela,
09:58porque ela já tem um grupo com 100 mil mulheres.
10:01Ela tem uma imagem...
10:02Tem dinheiro.
10:03Tem dinheiro, é bilionária.
10:05Tem uma imagem que ela consegue falar com a Faria Lima, consegue falar com Brasília,
10:10consegue falar com o Nordestino, classe C e D, que compra na Magalu.
10:15Então, é o seguinte, amigo.
10:17Essa é a realidade.
10:19Não querer encarar essa realidade...
10:21Então, assim, o Moro hoje devia estar já treinadíssimo para falar no celular e não está.
10:26Ele vai lá, grava um celular, ainda está meio toto, não consegue falar, não consegue expressar.
10:31Esses eventos do livro, eles fizeram cinco eventos.
10:34Eu estou puto porque eles fizeram cinco eventos e não gravaram os eventos.
10:38E eu posso dizer, pela experiência que eu tive, o Moro no palco se expressa muito bem,
10:42porque ele é acostumado a dar aula.
10:44É o professor.
10:44Então, ele se expressa muito bem.
10:46A gente conversou duas horas com a plateia, Diogo, e foi uma conversa leve, profunda e leve ao mesmo tempo,
10:53porque tinha hora que ele fazia piada, eu fazia.
10:55Então, assim, era para você ter um acervo disso, uma campanha profissional,
10:59e aí estamos falando como profissionais de comunicação que somos, né?
11:02Uma campanha profissional tinha que gravar isso tudo para ter um acervo.
11:06E não tem uma gravação, não tem nada.
11:11Então, me desculpe, desse jeito aí, não chega a fevereiro.
11:17Estamos ferrados, então.
11:20Vai ter que votar na Magazine Luiza.
11:26Amigão.
11:27Bom, espero que ele ouça o teu recado aqui, entenda que não é só o coitado do Moro, né?
11:39Que está sozinho.
11:40O Moro, o problema é o entorno do Moro, não é o Moro.
11:44O Moro é o candidato, ele é o produto, você falou.
11:47Você tem o produto, você tem que saber vender o produto.
11:50É disso que se trata uma campanha, você tem que criar o engajamento emocional.
11:54Evidente.
11:54O Moro tem tudo para ganhar, ele só pode perder essa eleição.
12:00E se fizer tudo errado, vai perder, evidente.
12:03Mas ele tem tudo para ganhar, ele tem tudo na mão para ganhar.
12:07Inclusive opositores que são absolutamente invotáveis.
12:12Então, ele está com tudo do lado dele, a não ser que entre a dona juíza.