Em nova declaração, o governo russo voltou a advertir os Estados Unidos contra uma intervenção direta no conflito entre Israel e Irã, alertando para o risco de desestabilização global. José Maria Trindade e Marcus Vinícius de Freitas comentaram. Reportagem: Fabrizio Neitzke Comentaristas: José Maria Trindade e Marcus Vinícius de Freitas
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00:00Voltamos a falar aqui do conflito propriamente dito, a Rússia voltou a alertar os Estados Unidos que é contra a entrada dos americanos na guerra entre Israel e Irã
00:09e ao longo dessa última semana os russos têm repetido essa advertência ao país liderado por Donald Trump.
00:15Fabrício Naitsk, nosso editor de Internacional, está aqui junto com a gente para trazer mais detalhes e informações a respeito disso.
00:21A gente comentava há pouco, Fabrício, sobre a importância de China e Rússia nesse cenário como um todo e agora os russos dizendo que são contrários.
00:29A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zarakova, afirmou que uma entrada militar dos Estados Unidos nesse conflito
00:37traria consequências imprevisíveis para o mundo. Foi isso que disse o Kremlin agora há pouco.
00:44A Rússia sabe bem das consequências de entrar num conflito armado, não à toa ela está presa numa guerra com a Ucrânia há três anos,
00:50uma guerra que ela própria começou e que sabe que uma saída negociada desde o começo teria sido muito mais fácil,
00:58muito mais simples para todas as partes. Então, a Rússia fala com conhecimento de causa.
01:04Pode falar sem muita moral, mas definitivamente com conhecimento de causa envolvendo um conflito como esses.
01:11Alertando contra uma possível entrada dos Estados Unidos, porque se isso acontecer,
01:15muito possivelmente o Irã também vai querer procurar os seus parceiros,
01:19ou aqueles países que eram mais próximos, para tentar uma reação.
01:23Essa deve ser a expectativa, além, claro, do Irã tornar bases americanas que estão na Síria, no Kuwait, no Iraque,
01:32também as fragatas posicionadas ali na frente do Bahrein, alvos de uma possível retaliação iraniana.
01:39Isso seria um problema muito grande.
01:41Os Estados Unidos dificilmente serão atacados no seu próprio território, na parte continental.
01:46Mas representações americanas que estejam ali no Oriente Médio definitivamente se tornariam alvos dessa ofensiva.
01:56A gente tem acompanhado uma série de manifestações, inclusive agora há pouco o Ayatollah Ali Khamenei fez um tweet.
02:03A gente não fala mais tweet, né?
02:04Fez um post pelo Exo, um antigo Twitter, pedindo para que o povo iraniano mantenha o mesmo comportamento que eles têm tido nos últimos dias.
02:12Que eles mantenham o comportamento com força.
02:16O grande problema disso tudo é que essa mensagem de Ali Khamenei dificilmente vai chegar nos iranianos,
02:21porque eles não têm acesso ao Twitter.
02:22Então, uma situação um pouco difícil por lá.
02:25Professor Marcos Vinícius, estamos diante de uma reconfiguração das alianças globais por causa dessa guerra no Oriente Médio?
02:34Sim, é um fator muito importante, viu, Paula?
02:37Que o Irã, na região, não tem bases norte-americanas.
02:41Então, basicamente, o que você observaria é se os Estados Unidos entram no Irã, junto com Israel,
02:49haverá necessariamente a permanência dos Estados Unidos na região.
02:54E isso não interessa nem a Rússia, nem a China, porque você vai alterando o balanço de poder naquela parte do mundo
03:03e você precisa, assim como Israel desempenha um papel muito importante já previsto pelos ingleses de criar algum tipo de controle sobre a região
03:12e depois mantido pelos norte-americanos, a mesma coisa é o Irã hoje em dia nesse sentido.
03:18Então, é por essa razão que Vladimir Putin alega justamente este fator.
03:23Qualquer alteração no balanço regional de poder é um balanço a favor dos Estados Unidos
03:29e isto não é interessante, particularmente numa região que congrega 50% das reservas mundiais de petróleo
03:36e que ainda tem um papel muito importante.
03:39Claro que novas tecnologias vão reduzindo a relevância do petróleo na questão de combustíveis,
03:45mas, por outro lado, ainda é essencial e é por essa razão que o interessaria é que esta região
03:51permanecesse também sob controle total dos norte-americanos.
03:57Zé Maria Trindade, agora o alerta aí da Zakharova, aí a gente teve a fala da Ursula von der Leyen também,
04:03falando que o mundo está num momento perigoso, com possibilidade de um conflito mais amplo.
04:08Aí tem essa advertência da Rússia e a gente sabe que os Estados Unidos também já enviaram outros aviões
04:13para as suas bases ali no entorno do Irã.
04:16É um momento que, para quem está distante, para quem não está tomando decisão, como nós aqui,
04:22dá um certo receio, né, Zé?
04:25Sim.
04:26Olha, Yuval Harari, que é um grande pensador de futuro e avalia toda a história da humanidade,
04:32ele diz que existem três ameaças contra a humanidade.
04:37O primeiro é que o planeta entrou num processo deficitário,
04:41ou seja, não recupera o que gasta em natureza.
04:45Segundo é a inatividade.
04:48A tecnologia e a vai criar tantas máquinas automáticas que vai criar uma horda de pessoas que são inativas,
04:55que não servem para nada, isso ameaça a humanidade.
04:58E o terceiro ponto que ele fala é o desenvolvimento das armas de destruição em massa.
05:05Estão cada vez mais letais, mais baratas, e isso propicia a guerra.
05:11Então, este é um perigo real.
05:14O mundo entrou num processo de globalização muito intenso.
05:18Aí, em seguida, se pensava em globalizar o ser humano,
05:21porque todos os produtos já estavam globalizados.
05:26Nenhum produto hoje é 100% nacional de algum país.
05:29Tem um componente que vem da China, da Índia, dos Estados Unidos, do Brasil.
05:33Enfim, aí houve agora um momento de ruptura,
05:36ou seja, os países estão colocando entraves e colocando dificuldades e se protegendo.
05:42E aparece aí a possibilidade de uma guerra globalizada.
05:46Esta guerra aí entre Israel e Irã está preocupando o mundo pela possibilidade,
05:55inclusive, de uso de armas nucleares, o que é muito perigoso.
06:00Mas, mais do que isso, existe essa reorganização geopolítica.
06:05Eu não vejo assim, não consigo analisar uma guerra mundial,
06:09uma terceira guerra mundial,
06:11porque não há um choque de duas grandes ideologias.
06:14São interesses nacionais de cada país que estão em jogo.
06:19E, para se ter uma ideia, encarece a gasolina aqui no Brasil.
06:23Então, não há a possibilidade de uma terceira guerra mundial,
06:26pelo menos por enquanto,
06:27porque não existem dois grandes blocos,
06:29dois grandes grupos que estão se agredindo.
06:36Mas a guerra está mesmo preocupando o mundo inteiro.
06:40Falta o Brasil oficialmente entrar com sua posição.
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