- 16/06/2025
Israel e Irã chegam ao quarto dia de conflitos. Nesta segunda-feira (16), a sede de uma TV estatal do Irã foi bombardeada por Israel. O correspondente internacional Luca Bassani traz detalhes do assunto. A bancada do Linha de Frente, coordenada por Fernando Capez, com comentários de Priscila Silveira, Guilherme Mendes, Manuel Furriela e Henrique Krigner, analisa os desdobramentos do caso.
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NotíciasTranscrição
00:00Vamos começar já que é quente, vamos subir a temperatura e falar de guerra.
00:04Israel e Irã chegam ao quarto dia de conflitos.
00:10Agora há pouco, a sede de uma TV estatal do Irã foi bombardeada por Israel.
00:16Luca Bassani chega ao Linha de Frente com todas as informações.
00:21Muito boa noite, Luca, aí 19 horas e 3 minutos na Bela Munique.
00:26O que você conta pra nós sobre mais um dia de míssil pra cá?
00:30Míssil pra lá.
00:32É uma troca intensa de hostilidades, Capês.
00:35Boa tarde a você e a todos que nos acompanham em mais um dia de cobertura histórica desta guerra entre Israel e Irã.
00:41De acordo com o próprio regime iraniano, durante os últimos minutos, a TV estatal iraniana, a Iranin, perdão,
00:51foi atacada por um bombardeio israelense com imagens muito fortes.
00:55Nós vemos a apresentadora fazendo uma espécie de discurso quando alguns escombros caem,
01:01uma forte explosão é escutada e ela logo sai de cena.
01:05Ao mesmo tempo que a imagem continua sendo televisionada e muitas falas em farce,
01:10mas que no aspecto religioso acabam seguindo o árabe falando,
01:14Deus é grande, Allah o Akbar.
01:16Realmente imagens que vão entrar para a história e mostram que as operações israelenses,
01:21sobretudo o controle dos céus de Teherã, estão dominados pela aeronáutica de Israel.
01:27É uma superioridade militar nesta questão da aeronáutica,
01:30mas uma guerra bem equilibrada no que diz respeito aos mísseis balísticos e aos drones,
01:35a exemplo da grande destruição também causada pelo Irã em cidades israelenses,
01:40como Raifa, na costa, também a cidade de Tel Aviv, uma das mais importantes,
01:44e alguns bairros de Jerusalém, além de localidades próximas às colinas de Golã.
01:49Tudo indica que este momento de intensificação do conflito continuará acontecendo,
01:55já que ambos os líderes, ambos os países se mostram irredutíveis,
01:59apesar do apelo de grande parte da comunidade internacional,
02:03principalmente de aliados de ambos os lados, para uma desescalada.
02:07Tudo indica que Netanyahu continuará com as suas operações militares
02:11para destruir tanto as instalações nucleares quanto a produção bélica iraniana,
02:16enquanto o Irã continuará respondendo, atingindo sobretudo as principais cidades israelenses
02:22para também utilizar essas imagens como uma própria forma de promover o seu regime
02:27naquelas regiões dentro e fora do Irã que não gostam nem um pouco de Israel.
02:32Obviamente que os impactos geopolíticos de tudo isso podem ser imensos,
02:38principalmente humanitários e econômicos, e acredito que com a nossa competente bancada de hoje
02:43vamos poder falar um pouco mais sobre isso e como eventualmente pode afetar também o Brasil.
02:49Sani, nós estamos aqui com especialistas, como você mesmo disse, aqui hoje na bancada.
02:53Eu quero fazer primeiro uma pergunta para você.
02:55A gente sabe que todo o sistema de defesa aérea do Irã foi danificado e comprometido.
03:03O Irã está à mercê dos bombardeios da Força Aérea Israelense.
03:07Israel tem concentrado esses ataques em alvos militares e instalações nucleares.
03:12Por outro lado, embora Israel tenha destruído um terço da capacidade do Irã de lançar mísseis balísticos,
03:20tem dois terços ainda e estão caindo em áreas civis.
03:22Você acredita, quero a sua opinião nesse momento, que no momento em que Israel terminar de atingir os seus objetivos militares,
03:33o Irã vai parar também de retalhar?
03:35Essa é uma guerra que pode terminar num curto prazo?
03:39Ou você acredita no risco enorme dela se estender para um conflito regional e talvez mundial?
03:45Olha, Capês, eu acho que é uma guerra de médio prazo.
03:49Falando na minha opinião pessoal, inclusive nós vemos que ambos os lados estão irredutíveis,
03:54mas o Irã já deu algum tipo de sinalização, tanto nas Nações Unidas,
03:58quanto também com o seu corpo diplomático, que não revidaria caso Israel parasse com os ataques intensos.
04:05E da mesma forma aumentaria a intensidade caso Israel continuasse aumentando a intensidade.
04:10Então o Irã quer partir para o princípio da proporcionalidade, pelo menos na visão deles.
04:15Nós vemos que essa questão dos ataques concentrados de Israel, eles tendem a aumentar,
04:20porque uma vez que você eliminou um terço da capacidade ofensiva do seu inimigo,
04:25você vai tendo maiores chances de eliminar mais outras capacidades,
04:31considerando que o tempo de reação, a forma como ele vai reagir, também vai proporcionalmente sendo menor.
04:39Acho que é importante a gente trazer para a nossa audiência o porquê que Israel está conseguindo
04:43transitar livremente nos céus iranianos.
04:46O Irã é muito bom na sua fabricação de drones, os drones kamikazes,
04:51shahid, utilizados inclusive pela Rússia na Ucrânia, são muito bons.
04:54Os mísseis balísticos, inclusive mísseis balísticos intercontinentais também têm alta tecnologia,
04:59mas a aeronáutica em si, os caças, os aviões do Irã, são extremamente antigos.
05:05Uma aeronáutica muito defasada.
05:07Grande parte da sua frota, inclusive, é da época do regime de Shah Reza Pahlavi, da década de 70.
05:15São caças F-14, Tomcat, americanos, muitos deles, alguns MIG soviéticos antigos da década de 80.
05:21Então, se a gente for comparar a capacidade que eles têm de dominar o seu espaço aéreo,
05:26comparado com Israel, que tem os F-35, tem muitos F-15, tem centenas de aeronaves das mais tecnológicas nas suas mãos,
05:34aí há uma grande disparidade e explica como que as forças israelenses estão conseguindo atingir locais muito importantes
05:43para o exército iraniano, para a Guarda Revolucionária Islâmica e também para o regime dos Ayatollahs.
05:49Eu acho que este ponto vai ser explorado ainda mais por Netanyahu durante os próximos dias,
05:53porque com a eliminação das suas capacidades militares de resposta, o espaço fica cada vez mais livre para Israel atacar,
06:00mas sem esquecer que os artefatos bélicos iranianos, como eu disse, os mísseis e drones,
06:05podem ainda causar grande estrago em Israel, a exemplo das imagens que temos observado durante os últimos quatro dias.
06:11Bom, uma coisa é certa, a popularidade do Netanyahu explodiu.
06:15Agora nós estamos aqui com o professor da Direita Internacional, o professor Manuel Furriella,
06:19ele vai em direção à pergunta, Luca.
06:21Olá, Luca.
06:22Sobre a sua presença, aproveitando a tua presença aí na Europa,
06:26a gente já sabe que a França, ela se propôs também a ajudar a articular um acordo de paz,
06:32há uma proposição sempre mais assertiva no sentido do governo francês em relação a esse assunto em específico.
06:41Outros estados da Europa, há algum outro tipo de movimento que você tem observado no sentido também de participar dessa questão,
06:50ajudar no encaminhamento de paz, no encaminhamento de negociação aos moldes,
06:56inclusive do que fez a Europa na gestão Obama,
06:59onde houve aquele primeiro acordo para a tentativa de suspender o desenvolvimento dos artefatos nucleares por parte do Irã.
07:08Olá, professor Furriella, também muito bom sempre encontrá-lo por aqui.
07:13É bom dizer que todas essas falas dos líderes europeus estão ressoando mais uma vez
07:19através da própria presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen,
07:22que já está no Canadá para a reunião do G7 e hoje deu uma declaração curta,
07:27mas bastante clara a respeito disso.
07:29Ela pede, assim como todos os líderes europeus,
07:31para que haja um processo de desescalada e essa guerra momentânea seja resolvida através das vias diplomáticas.
07:39Todavia, ela deixou claro que Israel pode se defender e que, em hipótese alguma,
07:43os europeus podem aceitar o Irã desenvolver uma arma nuclear,
07:47porque teria capacidade de atingir também o continente europeu,
07:50dada que a distância entre o Irã e a Europa não é tão grande quanto o Irã e Estados Unidos
07:54ou até mesmo a América do Sul.
07:57Então, a gente vê que é uma posição que busca mediação,
08:00mas que pende mais ao lado de Israel neste momento da guerra contra o Estado iraniano.
08:06Na questão de Gaza, dos palestinos, todavia, e a postura europeia, ela é diferente.
08:11A gente sabe que muitos líderes europeus têm criticado a postura do governo Netanyahu
08:15nas suas operações militares em Gaza, sobretudo aquelas que destroem a infraestrutura civil,
08:20que colocam bloqueios à população de Gaza, que fica sem acesso à comida,
08:24uma crise humanitária generalizada para milhões de pessoas,
08:27inclusive com a França liderando iniciativas para que na ONU seja discutida
08:31a criação oficial do Estado palestino aos moldes que a ONU tantas vezes propôs.
08:37Então, é bom a gente saber que no conflito israelo-palestino,
08:41os europeus têm uma postura que busca os dois estados.
08:44No conflito israelo-iraniano ou israelo-persa,
08:48nós vemos que é uma postura muito mais pró-Israel,
08:50porque os europeus se sentem diretamente ameaçados pelas capacidades bélicas do Irã
08:56e também vê no Irã um ponto de grande instabilidade,
08:59já que financia com as suas próxis o terrorismo internacional,
09:02que atinge também a Europa com vários atentados durante os últimos anos.
09:06É como dizia o Dadá Maravilha, né?
09:09Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
09:11Vamos focando no Irã, acho que há um consenso unânime de que o ataque tinha que ser feito.
09:16Mas eu quero ouvir aqui, o Henrique Kriegner tem uma pergunta para fazer a você.
09:20Luca, boa tarde, bom te ver aqui novamente.
09:23A minha pergunta é sobre o Conselho de Segurança da ONU, Luca.
09:26A gente não está vendo uma mobilização efetiva e enfática justamente pelo impasse
09:32entre Rússia e China versus Estados Unidos, né?
09:35Tem lados bastante opostos a essa situação.
09:38Dá para ter uma esperança de que o Conselho de Segurança vai conseguir ser efetivo
09:42em talvez desescalar esse conflito e trazer um pouco mais de estabilidade
09:47ou mesmo tecnicidade para esse debate ou não?
09:52Olha, Kriegner, também muito bom revê-lo.
09:54É uma questão que é muito delicada e que mais uma vez se mostra ineficaz.
09:59A gente sabe que a ONU passa por uma grande crise institucional.
10:01Os outros dois conflitos grandes que nós tivemos durante os últimos anos,
10:06Rússia e Ucrânia, Israel e Hamas, nunca encontrou-se um consenso
10:11e nunca uma resolução passou no Conselho de Segurança.
10:14Estamos falando de Rússia, um país com fortes aliados, como a China,
10:18como alguns países também na Ásia Central, e da Ucrânia apoiada pelo Ocidente.
10:22Ou seja, países com vários apoiadores.
10:24A mesma coisa causa a Palestina defendida por todos os países árabes sunitas,
10:28por alguns países na América Latina e Israel apoiado pelo Ocidente.
10:32Ou seja, a gente tem dois lados claros.
10:34Em relação ao Irã, ele é um párea regional e internacional.
10:37Por mais que comercialize, eventualmente, com a China, com outros países,
10:41não tem alianças formais para defesa com nenhuma nação.
10:44Dentro do mundo árabe sunita, o Irã é visto como um dos principais agentes
10:50desestabilizantes daquela região, financiando os seus grupos terroristas
10:55por procuração, o Hezbollah, o Hamas, a jihad islâmica, os Hutis.
11:01Então, a Arábia Saudita não liga para a política externa iraniana
11:05no que diz respeito a querer protegê-lo.
11:07A mesma coisa vale para o Egito, Argélia, Jordânia, Emirados Árabes Unidos.
11:11Então, a gente vê que a posição do Irã de isolamento faz com que
11:14essas resoluções se tornem ainda mais difíceis de serem aprovadas
11:20por conta de Rússia e China fazerem o seu papel costumeiro de oposição ao Ocidente,
11:26mas não estarem dispostos a comprar uma briga, principalmente militar,
11:29com qualquer país que seja para proteger a República Islâmica do Irã,
11:33que é um país que carece de credibilidade dentro da comunidade internacional.
11:38Luca Bassani, você que está aí no seu bosque particular em Munique, meus parabéns.
11:44Agora, nós vamos partir para o debate.
11:45Mas, espera um pouquinho, Guilherme Mendes, tinha que ter alguém,
11:49tinha que ter a nota destoante.
11:51Falei que é um consenso unânime no ataque, mas nunca é unânime, não é?
11:56Então, o Guilherme Mendes, provando que é polêmico,
12:00quer dirigir uma pergunta a você.
12:03Luca, até para fazer valer o jargão de que toda unanimidade é burra,
12:08eu quero fazer uma questão sobre justamente o momento.
12:13Há, assim, unanimidade acerca do uso das armas,
12:16do potencial uso do armamento nuclear pelo Estado iraniano.
12:21Agora, a minha pergunta para você é a seguinte,
12:23o quão iminente seria um risco de, eventualmente,
12:29o Irã vir a utilizar esses equipamentos que nem estão prontos, não é?
12:33O quanto isso realmente era um risco real,
12:37o quanto é uma narrativa do governo Netanyahu em se intensificar e alastrar um conflito
12:45que, sobretudo do ponto de vista interno,
12:47atende aos desejos, aos anseios e às necessidades do primeiro-ministro
12:52em manter esse estado de instabilidade na região.
12:55Porque, se por um lado, ter armas nucleares não é bom para a Europa,
12:59não é bom para todo o Oriente Médio, o Estado iraniano,
13:02por outro, será que esse era o momento de deflagrar uma nova frente de combate
13:06e gerar ainda mais estabilidade numa região que já vem mostrando
13:10uma série de riscos e de acirramentos, como atualmente a gente está verificando?
13:18Oi, Guilherme, acho muito boa a sua questão
13:20e é importante dizer que duas coisas podem ser verdade ao mesmo tempo.
13:24O governo Netanyahu pode, sim, estar utilizando esse momento
13:27como uma cartada política para se manter no poder,
13:29como muitos analistas dentro de Israel mesmo dizem,
13:32mas também ele pode estar agindo para a defesa de Israel,
13:36já que havia uma iminência, segundo a própria Agência Internacional de Energia Atômica,
13:40do enriquecimento de urânio no Irã chegar acima dos 90%.
13:45Alguns órgãos europeus falavam que esse enriquecimento estava na faixa de 80%, 83%,
13:50outros falam em 60%, de qualquer maneira é muito acima dos níveis de utilização civil
13:56da energia nuclear, que tem que ficar entre 13% e 5%,
13:59então estamos falando aí de 12, 15, 20 vezes acima do patamar aceito
14:04para o uso de instalações energéticas propriamente dito.
14:08Em relação ao tempo, a gente vê que Israel por muitos e muitos anos,
14:13muitas décadas, o próprio Netanyahu se colocam em antagonismo com o Irã.
14:17Desde 1999, o então premier Benjamin Netanyahu, naquele momento,
14:21já colocava o Irã como o principal inimigo de Israel no ponto de vista regional
14:26e colocando também o regime iraniano como um inimigo global à paz em todo o mundo.
14:31Nesse momento, a gente vê que todos os tentáculos que o Irã tinha pelo Oriente Médio,
14:35através das suas próxis, estão cortados ou enfraquecidos.
14:39O Hezbollah teve grande parte da sua infraestrutura militar danificada ou destruída por Israel na última guerra.
14:45O Hamas, concentrado na sua própria guerra e também com muitas destruições.
14:50Os Hutis ainda têm algum tipo de poder de fogo,
14:53mas pela distância também não conseguem fazer muito impacto em Israel.
14:57O regime de Bashar al-Assad, que dava sustentação como Estado constituído,
15:02caiu no final do ano passado.
15:03Ou seja, o Irã nunca esteve, durante os últimos 50 anos,
15:06tão isolado como está agora.
15:08E do aspecto militar fazia sentido um ataque agora,
15:12assim como esse ataque já estava previsto.
15:14Não é uma coisa que foi pensada da noite para o dia,
15:16mas se mostrou mais favorável para os israelenses.
15:21Por enquanto, é a versão que nós escutamos.
15:23Obviamente que a história é dinâmica,
15:25muitas informações nós não temos acesso agora,
15:27talvez só daqui a alguns anos,
15:29mas acho que as duas coisas são verdades.
15:31Tanto havia o risco do Irã se nuclearizar,
15:34como também Netanyahu sabe que seu prestígio está lá embaixo
15:38e com uma nova guerra ele consegue reverter esse processo político interno
15:42e vai acabar lucrando politicamente com isso,
15:44pelo menos até o ponto em que continuar no poder.
15:48É, Luke.
15:48Enquanto isso, a ONU vai reconfirmando a sua vocação de um local
15:53para conversas longas, enfadonhas, inúteis, regadas a chá e bolacha.
15:58Nós vamos debater agora um pouco aqui,
16:00você continua conosco, muito obrigado.
16:02A qualquer momento chamamos você novamente.
16:04Eu vou começar aqui com o professor Manuel Furriella.
16:08Essa é uma guerra que pouco importa se o Netanyahu fez
16:11para melhorar a popularidade dele
16:13ou porque havia necessidade de eliminar a capacidade nuclear do Irã,
16:17mas é uma guerra que pode, Furriella,
16:20alterar todo o xadrez da região,
16:24já que o Irã é a principal peça de desestabilização
16:28via Hamas, via Hezbollah e outros proxies.
16:32Qual pode ser o futuro desta região com o Irã,
16:36com a sua capacidade militar e de influência bastante reduzidas após esse ataque?
16:40Bom, primeiramente, falando o que é o Irã na região,
16:43a gente está aqui à distância, conhece pouco, sabe pouco do que se trata,
16:47o seu poder regional.
16:49O Irã, ele é uma potência regional,
16:52então, no Oriente Médio, ele rivaliza com a Arábia Saudita,
16:56com quem, surpreendentemente, até melhorou recentemente,
17:00suas relações, mas sempre foram muito azedas, e com Israel.
17:03É que Israel tem um projeto próprio,
17:06o seu projeto é consolidação do seu território,
17:10eventualmente expansão,
17:11é uma agenda muito peculiar, a de Israel, na região.
17:16Agora, os outros estados com os quais a Arábia Saudita faz parte,
17:21ou outros fazem parte, que eles rivalizam,
17:23é uma questão de domínio da região,
17:25que vale, inclusive, para questões religiosas,
17:28já que a gente sabe que todos ali pregam o islamismo,
17:30com algumas grandes divisões, né, sunitas, xitas e etc.
17:34Então, é o que você tem ali,
17:36em termos daquilo que é o Irã naquela região.
17:39É um dos maiores estados,
17:41é aquele que possui a tecnologia mais avançada
17:44para a produção de mísseis, principalmente balísticos,
17:48é também um que tem o maior contingente militar,
17:51e aquele que tem a tecnologia nuclear,
17:54tirando Israel, mais avançada,
17:57ou mais perto de chegar numa bomba,
17:59apesar de alegar que não é esse seu propósito.
18:01Então, é isso que ele é ali naquela região toda.
18:05E como que começou a configuração que nós temos ali,
18:09contra do Irã,
18:10contra a presença, ou a continuidade,
18:14ou a existência de Israel?
18:15Em 1979.
18:17Até 1979, havia um governo monárquico,
18:20o Shah Rezaparlev, que era pro-Ocidente.
18:23Aliás, muitos elogiam aquele momento,
18:25porque no Irã havia muito mais liberdade,
18:27então você tem uma série de grupos com restrição
18:30dos seus direitos humanos ali,
18:32as mulheres notadamente,
18:34por conta do que é o regime iraniano.
18:37Mas ali, em 1979,
18:39caiu o governo monárquico,
18:41e o governo que assumiu,
18:43construiu um estado,
18:46onde você tem presidente da república,
18:48você tem parlamento,
18:49todo mundo eleito.
18:50Só que você tem uma figura maior,
18:52que dá a palavra final sobre tudo,
18:54que é o Ayatollah.
18:56O Ayatollah é um líder religioso,
18:59e ao mesmo tempo líder político do Irã.
19:02E ele entende, também,
19:04no seu caráter religioso,
19:06que ele protege todo o islamismo.
19:08Então, imagine só ali,
19:09o expansionismo religioso,
19:11que o Ayatollah entende que é a sua figura.
19:15E como Israel e Estados Unidos
19:17eram aliados do governo anterior,
19:20do Shah Reza Parlevi,
19:21que eu mencionei,
19:22criou-se ali um regime de ódio total ao Ocidente,
19:25que servia também para alimentar
19:28os preceitos religiosos,
19:30que servia também para alimentar
19:32causas nobres até em relação aos palestinos
19:35e outras questões a serem resolvidas.
19:37Mas o Irã,
19:38ele se tornou um grande inimigo de Israel
19:40por conta de não entender
19:42que tem que existir o Estado de Israel,
19:44até porque reivaliza,
19:46como eu falei,
19:47politicamente na região consigo próprio,
19:50em termos de potência regional,
19:53e também por conta de representar
19:56o que havia no governo derrubado.
19:59Então, é esse o cenário
20:00que você tem ali de disputas.
20:02E é por isso que o Irã
20:04teve três etapas
20:05do seu conflito com Israel.
20:07Primeiro, era a mera retórica.
20:10Depois, o Irã começou a armar grupos
20:12para atacar em Israel,
20:14grupos para-estatais,
20:17grupos terroristas, como queiram.
20:19Hezbollah, que é o mais organizado deles,
20:21que se aloca ali dentro do território do Líbano.
20:24O Hamas, que é famoso agora
20:26por conta da faixa de Gaza.
20:28E os Tutsis e vários outros grupos
20:30que você encontra no Iêmen,
20:32que é um Estado totalmente desorganizado,
20:36que está passando por vários tipos de problemas
20:38e que é campo fértil para surgirem grupos terroristas.
20:42Então, o Irã começou a armar esses grupos
20:44para eles atacarem Israel.
20:46Só que agora a gente está numa outra modalidade.
20:49A partir do ano passado,
20:50como Israel decidiu atacar diretamente
20:52dentro do território iraniano,
20:54o Irã começou a revidar.
20:55Então, agora você tem conflito direto entre os dois.
20:58E agora, na última semana,
21:01com os ataques de Israel muito mais intensos,
21:04como a gente acompanhou,
21:06e o Irã também respondendo de forma mais intensa,
21:09qual é o risco que nós temos agora
21:10de uma grande guerra,
21:12de um grande conflito entre esses dois Estados?
21:14Isso é o principal agora,
21:17evitar esse grande conflito.
21:19É verdade, professor.
21:21E lembrando que, em 1953,
21:24mediante a chamada Operação Ajax,
21:29o MI6, que é o Serviço Secreto Britânico,
21:33juntamente com a CIA,
21:34comandada pelo Alan Dolst,
21:36deram um golpe de Estado no Irã
21:38e derrubaram o presidente iraniano
21:41democraticamente eleito,
21:43Mohamed Mossadegh,
21:44porque ele havia nacionalizado
21:47o petróleo iraniano.
21:49De lá para cá, entrou o Shah Reza Pahlavi,
21:51e depois sucedeu-se a Revolução Islâmica.
21:54Sempre as grandes potências
21:56atuando para perturbar a região
21:58de acordo com seus próprios interesses.
22:01Meu querido Henrique Kriegner,
22:04como você vê agora,
22:05claro que o Hamas,
22:07sem o apoio do Irã,
22:08não teria condições de perpetrar
22:10aquele ataque hediondo
22:13que ocorreu em 7 de outubro de 2023.
22:17E da mesma maneira,
22:18o Hezbollah não lançaria foguetes
22:21permanentemente sobre Israel.
22:23você acha que talvez haja uma esperança
22:26de maior tranquilidade na região?
22:28Porque até então,
22:29quem tem pagado o pato
22:30tem sido o Líbano e a Síria.
22:33E o Irã nunca foi atacado,
22:35sendo ele o principal responsável.
22:36Como você vê essa alteração no xadrez
22:39após essa ação militar de Israel?
22:42Capês, olha,
22:42eu vejo que não é necessariamente
22:45uma garantia de que nós vamos ter
22:46maior tranquilidade,
22:47mas que essas organizações terroristas,
22:49que são comprovadamente suportadas
22:52pelo regime iraniano,
22:54vão sofrer uma baixa
22:56e até no alcance dos seus ataques
22:59e das suas atividades,
23:00isso com certeza.
23:01Agora, isso pode se reverter
23:02para um outro lado,
23:03porque essas organizações terroristas
23:05não têm nada a perder.
23:06O Hamas já declarou isso,
23:07o Hezbollah já declarou isso também,
23:09e o próprio regime iraniano,
23:11o regime agora dos Ayatollahs,
23:14ele desde o início,
23:15com o Ayatollah Khomeini
23:17e agora com o Khamenei também,
23:19todos já declararam,
23:20nosso inimigo número um
23:21é o Estado de Israel
23:22e nós precisamos lutar
23:24pela eliminação do Estado de Israel.
23:26Eles declaram,
23:27quando falam sobre a Palestina,
23:29do rio ao mar,
23:30a Palestina será livre.
23:31Na verdade,
23:32o canto original aí,
23:33que foi repetido pelo mundo todo,
23:35especialmente nas universidades americanas,
23:37recentemente a gente ouviu
23:38esse canto sendo proclamado,
23:40ele dizia que a Palestina será árabe,
23:42ou seja,
23:42não só o Estado de Israel
23:44vai ser destruído,
23:45mas também ali o povo israelense
23:46seria destruído.
23:47A palavra está contigo,
23:48mas lembrando que muitos que gritam
23:50do rio ao mar,
23:51pensam que é o rio Nilo
23:52até o mar vermelho,
23:53e não do rio Jordão
23:54até o mar Mediterrâneo,
23:55não sabem nem o que estão falando.
23:56Exato,
23:57não conhecem nem a geografia do local,
23:58mas querem defender ali a causa.
24:00Então,
24:00acho que esse é um ponto importante
24:02da gente considerar,
24:03um dos maiores,
24:04se não o maior,
24:05apoiador,
24:06foi desestabilizado.
24:08E querendo ou não,
24:09vai demorar muito
24:10para que o governo iraniano
24:12consiga recuperar o ritmo
24:13de aceleração de urânio,
24:15também de desenvolvimento
24:17de tecnologias,
24:18já que os principais cabeças
24:19foram mortos
24:20ou estão até ameaçados
24:22e muitos já deixaram o Irã.
24:24Foram vários os vídeos
24:25que eles fizeram
24:26de horas após o ataque
24:28de aeroportos,
24:29na verdade,
24:30no aeroporto de Teherã,
24:31de aviões privados
24:32deixando o Irã,
24:33carregando pessoas ali
24:34da alta cúpula do governo,
24:36indo para localidades
24:37que ainda não foram
24:38necessariamente publicadas.
24:40E também a gente
24:41precisa considerar
24:42a denúncia feita
24:43pelo primeiro-ministro
24:44Netanyahu
24:45de que, sim,
24:46uma nação,
24:47ele não disse qual,
24:49forneceu de forma
24:50ilegal urânio
24:51para que o Irã
24:52pudesse dar sequência
24:53e acelerasse
24:55o seu programa
24:55de enriquecimento
24:56para a formação
24:56e criação de armas.
24:58Que nação vai ser essa?
24:59Eu acho que esse...
25:00Quando é que vai ser revelado?
25:01E aí a gente vai ver,
25:03talvez,
25:03se tem alguma outra nação
25:05aí considerando um apoio
25:07a essas organizações
25:07terroristas também, Capês.
25:08Agora, vamos dar uma esquentada
25:10nisso aqui,
25:10pedir licença um pouquinho
25:11à Priscila Silveira,
25:12porque o Guilherme Mendes,
25:14o tempo todo
25:15que o Henrique Krikner falava,
25:17se movimentava na mesa,
25:19balançava a cabeça.
25:20Eu sei o que você está falando,
25:21Guilherme,
25:21quero te ouvir.
25:22Quer dizer que o Netanyahu
25:23está se aproveitando
25:25da situação
25:25para, evidentemente,
25:27aumentar a sua popularidade.
25:29Agora,
25:30meu querido,
25:30até 7 de outubro,
25:32até 6 de outubro
25:33de 2023,
25:34Gaza estava ali quietinha.
25:36depois que houve
25:37o ataque terrorista
25:38é que está acontecendo
25:40tudo o que ocorreu.
25:41O Hezbollah também,
25:42Israel não estava
25:43atacando o Hezbollah.
25:45O Hezbollah começou
25:45a se envolver na guerra
25:46e jogar foguetes.
25:47Então, eu te pergunto,
25:49a culpa é do Netanyahu
25:51ou será que o Irã,
25:52o Hamas e o Hezbollah
25:54deram de mão beijada a ele
25:55fazendo esses ataques terroristas
25:57e essas ações insanas
25:59de desestabilização
26:01da região?
26:03Quero te ouvir.
26:03Não, sem dúvida,
26:05capês,
26:05que a culpa,
26:06se a gente for tratar
26:07de um sentimento católico
26:11e querer se atribuir aí,
26:14a palavra mais adequada
26:15seria responsabilidade,
26:16não é?
26:16Não é,
26:17primeiramente,
26:18do primeiro-ministro
26:20Netanyahu,
26:22já que,
26:22como você bem colocou,
26:23Israel foi covardemente
26:25agredido
26:27e, de fato,
26:28algum tipo de retaliação,
26:30algum tipo de resposta
26:30tinha que acontecer.
26:31O que ele tem apresentado,
26:33no meu entender,
26:34no entanto,
26:35é um grande senso
26:36de oportunidade,
26:37um grande senso
26:38de oportunismo,
26:39para usar uma palavra
26:40talvez mais adequada,
26:42já que,
26:43a partir dessa agressão
26:44injustificada,
26:46cruel,
26:47faltam aqui adjetivos
26:50para a gente qualificar
26:51aquilo que o Hamas
26:52fez em outubro,
26:55mas,
26:56depois disso,
26:56ele percebeu
26:57que a situação política
26:58interna dele
26:59era muito pouco favorável.
27:01Aliás,
27:01como a gente já
27:02debateu aqui
27:03em outras oportunidades,
27:04ele estava à beira
27:05da prisão.
27:06Então,
27:07aí,
27:07valendo-se,
27:08óbvio,
27:08desse sentimento nacionalista
27:10e dessa união
27:11que,
27:12potencialmente,
27:13um povo apresenta
27:14quando se tem
27:15um inimigo externo,
27:16ele conseguiu dissipar
27:18as tensões políticas
27:19internas
27:19para ter um pouco
27:20mais de paz,
27:21primeiro,
27:21evitando a sua prisão
27:22e, segundo,
27:23estabelecendo
27:24uma determinada unidade
27:25no país.
27:26Agora,
27:27nós caminhávamos,
27:29inclusive,
27:29depois da eleição
27:30do presidente Trump
27:31para muito próximo
27:33o fim desse conflito,
27:34não é?
27:35O conflito
27:35que o Israel
27:36ramassa,
27:37até porque o Hamas
27:38foi praticamente
27:39destroçado.
27:40Mas,
27:41no entanto,
27:41agora ele vem,
27:42então,
27:42e começa um novo capítulo,
27:44só que agora
27:44com potencial
27:45e um risco
27:46muito maior.
27:47Porque nós não estamos
27:47falando do grupo terrorista,
27:49nós estamos falando
27:49do Estado Nacional
27:50estabelecido
27:51com um grande
27:52poderio militar
27:53e que,
27:55de muito ali,
27:57é aquele,
27:58como vocês bem colocaram,
27:59o grande fomentador
28:00da estabilidade
28:02da região.
28:03Então,
28:03esse ataque direto,
28:05se por um lado,
28:07sem dúvida,
28:08serve para dar
28:08uma certa tranquilidade
28:10no que diz respeito
28:10à consecução
28:12do objetivo
28:13do enriquecimento
28:14do urânio
28:14e depois,
28:15consequentemente,
28:16da produção
28:17do armamento nuclear,
28:18por outro,
28:20acaba por colocar
28:22o conflito
28:23ali no Oriente Médio
28:24em um outro patamar.
28:25Nós estamos falando
28:25agora
28:26de um combate
28:29direto
28:30entre dois
28:31dos maiores
28:32Estados da região.
28:33Então,
28:34eu fico muito
28:35preocupado só
28:36em, primeiro,
28:37saber até que ponto
28:38essa preocupação
28:40durante a RNA,
28:41o pessoal
28:42em se manter
28:43no poder
28:43e se legitimar
28:44dado
28:45o momento
28:46de guerra,
28:47vai, de fato,
28:48terminar
28:49com a proposta
28:51de uma solução
28:51pacífica e negociada.
28:53Ou se, então,
28:53para se manter,
28:54ele vai estar
28:55deflagrando conflitos
28:56porque inimigos
28:57ali no entorno
28:58de Israel
28:59não faltam, não é?
29:00Mas eu acho
29:01que qualquer que fosse
29:02o primeiro-ministro
29:02de Israel
29:03teria que retalhar
29:04o Irã
29:04porque o Hamas
29:05não atacaria
29:06Israel
29:07se não tivesse
29:08o apoio do Irã.
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