O Brasil tem sido apresentado ao mundo como uma “potência verde”, mas será que isso resiste ao teste da realidade? A bancada do Linha de Frente analisou os bastidores da política ambiental brasileira, os desafios de gestão do Fundo Amazônia, o papel do IBAMA e os dilemas entre discurso e prática no governo Lula.
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NotíciasTranscrição
00:00O governo Lula é um governo que tem muito a cara desse presidencialismo de coalizão.
00:07Você tem na base do governo ministros que são menos alinhados com a pauta ambiental,
00:12mas tem também ministros que são mais alinhados.
00:15Então, essa dificuldade que a gente nota, às vezes um discurso que parece greenwashing
00:20e ações que são, às vezes, dadas aos solavancos,
00:24ela é muito resultado de uma consertação política que, para o governo,
00:28da maneira como a política se estrutura no Brasil, é muito difícil.
00:33Então, independente disso, é um gesto importante, mostra um compromisso,
00:39talvez o compromisso possível dentro de um cenário político tão difícil,
00:43tão complexo, tão intrincado, de articulações muito sutis
00:49para garantir viabilidade política para o governo,
00:53mas, mesmo diante de tudo isso, se tem uma iniciativa como essa,
00:57que dá uma sinalização talvez tímida, talvez insuficiente,
01:02mas, ao mesmo tempo, também seja a sinalização possível
01:05num contexto político tão complexo.
01:08Laura, economicamente falando, como que esses sinais, às vezes, diferentes,
01:13são entendidos para investidores, para quem entra nessa área ambiental?
01:20No caso da pós-aprovação do pacote?
01:24No caso de investimentos como o Ibama, por exemplo, pacotes entrando agora, sim.
01:30Perfeito.
01:30Bom, eu acho até isso também polêmico, porque toda vez que é anunciado um pacote,
01:36claro que a gente tende a olhar, nossa, que bom que foi anunciado esse pacote,
01:41mas o que a gente precisa entender é que a gente tem que celebrar por cinco minutos.
01:47Os próximos têm que ser o como que isso vai acontecer
01:50e de que forma que vai ser feita a gestão desses recursos,
01:53como que vai ser feita a gestão dessa questão desses helicópteros, desses drones,
01:56quem que vai pilotar, o que que vai ser feito
01:59e como que se vai acompanhar os impactos efetivos dessa iniciativa.
02:05Então, eu vejo, assim, ao anunciar uma medida como essa,
02:11a gente sempre olha de forma positiva,
02:12mas a gente tem que celebrar por um curto espaço de tempo,
02:15porque os tempos subsequentes é, e aí, como que vai ser esse projeto,
02:19quais que são os resultados esperados desse projeto
02:23e quais que são os indicadores de impacto que eu preciso estar olhando
02:27para que, de fato, a gente veja, opa, isso aqui está indo por um caminho legal.
02:31Porque quando a gente olha para o olhar do investidor,
02:34o investidor, ele tem um olhar muito frio diante dos números.
02:38Então, quando ele olha para um país como o Brasil,
02:41ele olha assim, ah, como é que está as contas públicas brasileiras?
02:44Hum, eu acho que não está indo muito bem.
02:46Tchau, eu vou investir em outro lugar.
02:48É um pouco assim que o investidor, ele olha para o mercado,
02:52olhando de uma forma muito fria.
02:55Então, da questão da iniciativa pública de investir nesse segmento,
03:00a gente precisa ter mais, eu vejo que uma preocupação,
03:05talvez um olhar muito mais clínico de entender quais são os impactos esperados,
03:10se eles de fato serão atendidos.
03:12E sim, colocar, quando esses impactos são positivos,
03:15coloca no megafone e tentar atrair investimento.
03:18Porque eu vejo que o Brasil, ele, por natureza, é uma potência.
03:22Mas a gente vê que a história está contando uma narrativa muito diferente.
03:28Patrícia, a gente tem aqui esse aporte, então, para o IBAMA,
03:31as áreas de conservação, outras medidas como estratégia nacional
03:34para a conservação de recifes de coral.
03:37Enfim, uma série de medidas.
03:41O temas mais importantes existiam para serem anunciados nesse momento
03:45ou o que foi priorizado faz sentido?
03:48É, eu acho que o Brasil, ele tem uma meta que foi firmada dentro do Acordo de Paris
03:52e outras conferências, de outras COPs, que é reduzir o desmatamento.
03:57Então, ele investir no IBAMA, na fiscalização, no mapeamento,
04:01em drones, em tecnologia, claro, números e investimentos
04:05sempre são bem-vindos, mas é o que a Laura diz.
04:07O que eu ia dizer também é essa questão da transparência,
04:11porque o Fundo Amazônia, ele recebe recursos do mundo inteiro,
04:14é um fundo que recebe recursos internacionais.
04:16Mas, às vezes, apesar de você entrar lá no site, tem as auditorias, tem tudo ali,
04:21a gente não consegue depois mensurar, na prática, como esse dinheiro foi investido,
04:25de que jeito ele está sendo colocado, se essa gestão dele está sendo planejada
04:31da forma correta e transparente da maneira que se dá.
04:35Porque, por exemplo, de nada adianta, eu participei do primeiro lote
04:40de conservação ambiental do Brasil, que entrou na B3 como fundo,
04:44que foi ali colocado para uma parte lá da Amazônia.
04:49Então, assim, eles vão lá, vou colocar um QR Code na árvore,
04:52e aí ele vai falar, olha, nessa região aqui você pode tirar essa árvore,
04:55aí a gente vai plantar uma outra e só daqui a 10 anos você pode voltar aqui
04:58para fazer esse manejo sustentável na utilização da derrubada
05:03e também na utilização dessa madeira.
05:05Então, assim, precisa desse controle, mas será que a gente tem um funcionário treinado
05:10para ler os dados que chegam ali pelo drone?
05:12Que fiscalização que a gente vai ter?
05:13A gente vai ter a viatura que vai até lá conferir quando há um desmatamento
05:16que é monitorado por um satélite?
05:18O que a gente percebe é o que aconteceu no ano passado, por exemplo,
05:22que os incêndios tomaram conta de todos os biomas brasileiros praticamente,
05:26é que se viu muito pouco, apesar deles terem aumentado a pena
05:29contra esses crimes ambientais, fazendas que foram comprovadas
05:33que tiver desmatamento ou incêndio e que mesmo que ela esteja
05:37sobre propriedade privada, ela pode sair da mão da propriedade privada
05:42e voltar para o governo, mesmo que ela esteja sendo produtiva,
05:45tem muitos meios, uma legislação muito potente, como vocês disseram aqui.
05:50Mas na prática o que a gente percebe é que os números chamam a atenção,
05:54lógico, principalmente na Semana do Meio Ambiente,
05:56é importante a gente refletir sobre esses dados, sobre os biomas como um todo,
06:00mas tudo que a gente tem mensurado, começou a ter um crescimento,
06:05um leve crescimento novamente do desmatamento.
06:08Aí a gente mostra toda a maquiagem que está sendo feita em Belém
06:11que não tem saneamento básico.
06:13Então, assim, 5% da população de Belém que vai receber a cópia
06:17não tem saneamento básico.
06:19Existem pessoas que ainda tomam banho de caneca naquela região.
06:23Então, assim, como é que a gente vai vender essa potência verde
06:26com tantas fragilidades ao nosso redor, investimentos grandiosos na Amazônia,
06:31no Ibama, são importantes, mas existe também investimento de base
06:35que estão faltando principalmente para a gente mostrar essa potência ambiental
06:39que o país pode liderar, sim, a transição energética.
06:41Inclusive, tem algumas delegações já que falaram sobre falta de infraestrutura na cópia.
06:46A questão dos hotéis, dos leitos, aí já é um assunto à parte,
06:50que foge da questão ambiental, mas também...
06:52Que é uma questão econômica.
06:53Que é uma questão econômica, mas também atrai um olhar negativo.
06:57Eu acho que antes de colocar, antes dessa escolha, tinham outros estados.
07:01Lógico, e trazer essa discussão para a Amazônia
07:03e as pessoas chegarem até lá e ver a grandiosidade daquela floresta,
07:06e tem muito se falado agora, principalmente relacionado à economia,
07:10do potencial que a floresta Amazônia tem em pé,
07:12dessa biodiversidade para as farmácias, para a elaboração de remédios.
07:17Então, às vezes, uma região, você pode extrair o que ela tem de melhor
07:22sem danificar o meio ambiente e justamente aquelas pesquisas que ocorrem ali
07:27trazer muito mais dinheiro, muito mais recurso e gerar muito mais emprego
07:33naquela região do que você concentrar, por exemplo, na mão de uma pessoa
07:36que vai desmatar para criar gado, que só ela, uma cadeia pequena,
07:40que só ela vai lucrar realmente, efetivamente, com isso.
07:44Inclusive, a gente estava falando do Ibama, eu estava procurando um dado
07:47sobre os investimentos e o aporte do ano passado.
07:50Aí eu vou pedir para você comentar, Marcelo, olha só.
07:53No ano passado, o fundo Amazônia, ele recebeu ali o financiamento
07:58de R$ 643 milhões e investiu apenas 11% desses R$ 643 milhões, o equivalente
08:06a R$ 73 milhões investidos.
08:08Então, o aporte, por exemplo, do fundo Amazônia para o Ibama é significativo,
08:13é bacana, mas o dinheiro precisa realmente ser empregado, né?
08:16Sim, com certeza.
08:19A gente entra também no tema do financiamento climático, que é um tema super atual.
08:23A gente está falando aqui de R$ 825 milhões agora, que, enfim, deve ser utilizado,
08:28ao que parece, para a compra de helicópteros, drones, helicópteros blindados,
08:33que, como a gente falava aqui, é uma medida importante, ela é uma medida positiva,
08:37mas ela não é suficiente, ela não basta.
08:40Na discussão global, a gente fala, por exemplo, em 1,3 trilhão de dólares por ano
08:46até 2035 para a gente fazer frente a essas questões.
08:49Aqui no Brasil, nesse ponto de agora, a gente está falando no ponto de desmatamento
08:53e melhorar a questão do Ibama, ponto positivo.
08:56Mas a gente tem que falar em cidades resilientes, a gente tem que falar em adaptação climática,
09:00a gente tem que falar em tantos assuntos, como que a gente vai lidar só com os projetos
09:06para fazer a mitigação, o sequestro de carbono, como é que a gente faz para ser resiliente
09:11às questões climáticas que já acontecem, adaptar as cidades.
09:14Então, é muito dinheiro e aí a gente cai nessa necessidade de fazer uma boa gestão
09:20desse recurso e conseguir as fontes de captação.
09:23Então, assim, o Fundo Amazônia, ele é basicamente composto por essas doações
09:27de países internacionais que têm essa obrigação de fazer esse investimento
09:30e o Brasil precisa prestar conta e precisa ter projetos aprovados pelo BNDES
09:35para liberar esses recursos.
09:36No ano passado, com essa notícia, a gente vê que esse tema não estava tão importante,
09:40não estava tão quente e isso acabou não sendo um dinheiro, acabou sendo utilizado
09:46a despeito de estar ali disponível dentro de um projeto de uma aprovação
09:50para uma utilização devidamente aprovada.
09:53Mas o governo precisa prestar conta internacional, precisa fazer esses movimentos,
09:57é um movimento positivo, mas ele não é suficiente.
10:00E a questão do financiamento climático, para mim, é o principal tema que nós temos hoje.
10:05Quem paga essa conta para os países subdesenvolvidos poderem ter os seus programas,
10:11os seus projetos?
10:12E mais, perdas e danos, acidentes que acontecem,
10:17vi de Rio Grande do Sul, enfim, vi de várias histórias em vários locais.
10:21Como é que se recupera esse prejuízo?
10:22Quem paga essa conta no final do dia de um problema que hoje ele é global,
10:26porque ele vem de uma história, enfim, climática com essas modificações todas.
10:31Bom, eu acho legal o investimento, muito bom, mas tem muito que ser feito.