A inflação oficial do Brasil, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), registrou alta de 0,43% em abril de 2025, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Embora o índice tenha desacelerado em relação a março, quando foi de 0,56%, o acumulado dos últimos 12 meses subiu para 5,53%.
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00:00Os preços medidos pelo IPCA sobem 0,43% em abril, puxados por alimentação e medicamentos.
00:08O consumidor está voltando do supermercado com menos produtos e isso já faz tempo.
00:14O nosso entrevistado agora aqui no Jornal Jovem Pan é o coordenador de índice de preços do FGV Hibri, o economista André Brás.
00:21Mais uma vez, André, obrigado por estar aqui conosco na Jovem Pan. Bem-vindo, boa noite.
00:26Ótima noite, obrigado pelo convite.
00:28Nós que agradecemos.
00:29Ô André, o índice pode até ter perdido um pouco de força, mas é aquela história, a sensação que o consumidor tem de que os preços continuam pressionados,
00:38principalmente alimentos e medicamentos, são os dois pontos que essa pesquisa traz, essa pesquisa do IBGE.
00:45De que forma é possível esperar?
00:47Tem alguns analistas que falam que a partir de maio, junho, isso vai começar a ser um pouco mais notado pela população, talvez uma pressão menor.
00:56Mas aí na FGV vocês acreditam nisso?
00:59Uma pressão menor pode até ser, mas provável no início do segundo semestre.
01:05Mas pressão menor não significa que os preços vão cair, significa que a inflação vai subir mais lentamente.
01:12E depois de tudo que ela já acumulou de alta nos últimos cinco anos, principalmente, qualquer dose a mais de inflação só vai comprometer mais o orçamento das famílias.
01:23Isso porque a despesa que compromete mais o orçamento, que são os alimentos, subiram bem mais do que a inflação nos últimos cinco anos.
01:33A alimentação, por exemplo, subiu mais de 50% de 2020 para cá, enquanto o IPCA médio subiu em torno de 33%, 34%.
01:43Então a alimentação ganhou muito da inflação média e é a inflação média que corrige os salários.
01:49Então uma despesa importante, que sobe mais do que a média de correção salarial dos salários, acaba comprometendo cada vez mais o orçamento familiar.
01:58Bom, André, a semana foi marcada por uma nova alta da Selic, uma alta menor na comparação com as outras elevações.
02:04E a pergunta que eu faço para você é a seguinte, eu lembro muito lá no fim dos anos 90, nos anos 2000, em que o remédio amargo, como os economistas falavam, alta dos juros para combater a inflação.
02:16Essa receita não dá mais tanto resultado, as bases da economia são outras, ou isso pode ainda dar algum tipo de resultado e talvez o Banco Central rever essa estratégia de fazer uma alta um pouco mais controlada, se é que a gente pode dizer assim.
02:32Dá resultado sim, a taxa de juros, a taxa Selic é um principal instrumento de política monetária, só que ela não é um remédio para qualquer tipo de inflação, a gente tem uma inflação de oferta, muitos alimentos subiram de preço em função dos choques de oferta, você não tem o produto para vender e pela lei da oferta e da procura, quanto mais escasso, mais caro é o produto.
02:55Então a gente vê isso pelo exemplo do café, as safras de café não foram bem sucedidas e o preço do café não para de subir.
03:02Independente de onde esteja a taxa básica de juros.
03:06E isso acaba complicando um pouco a política monetária.
03:09Mas a gente vê que uma parte importante da inflação está muito concentrada em serviços.
03:14Os serviços sobem, estão acumulando alta em 12 meses, bem superior ao limite do teto da meta, que é 4,5%.
03:22Os bens duráveis também, em função da desvalorização cambial, ameaçaram alta de preços e para esse tipo de inflação a taxa básica de juros é a ideal, é a que se deve usar mesmo.
03:34E ela reforça o comprometimento da autoridade monetária com a meta de inflação.
03:40E era um ponto importante que precisava ser reforçado porque nós começávamos a ver uma expectativa de inflação crescente para os anos à frente.
03:49E isso é um indício de desancoragem das expectativas.
03:52Então, mostrando o seu comprometimento, fazendo o melhor possível da política monetária, é uma forma também de ancorar as expectativas.
04:01André Brás, eu vou chamar os nossos comentaristas Dora Kramer e Cristiano Villela.
04:06Ô Dora, o André falou aí do café, o café subiu 80% em um ano.
04:11Tá caro o cafezinho, não é Dora?
04:14Caramba, esse café é moído, né?
04:16Eu não gosto nem de pensar qual foi a inflação do café de cápsula.
04:20Qualquer que eu gosto nem me fala, porque aí eu vou ter que parar de tomar café e não vai acontecer.
04:26Boa noite, André.
04:28Olha só.
04:28Boa noite.
04:30O ministro Fernando Haddad falou agora há pouco, a gente, em algumas matérias atrás,
04:36que ele considera razoável, normal essa inflação, 5,53%,
04:43sendo que a meta é 3% e o teto da meta é 4,5%.
04:47E aí, nessa mesma entrevista, ele disse que tem confiança de que a inflação vai baixar.
04:55Claro que ele tem que dizer isso, não pode dizer o contrário.
04:58Mas você, como analista, acha que é realista essa confiança?
05:02É, eu acho que é uma confiança que a gente tem que recuperar e ganhar com o tempo.
05:10Nós tivemos vários desafios nos últimos anos e um deles foi o câmbio, né?
05:15Nós tivemos aí uma desvalorização cambial de 25% no ano passado,
05:18que responde para uma parte importante dessa inflação que nos desafia no momento.
05:23E essa parte aí do câmbio tem um pouco a ver com a política fiscal.
05:27Então, assim, para o governo acertar a mão e ajudar, de fato,
05:31a gente ter essa inflação na meta o mais rápido possível,
05:35é importante não largar o objetivo da política fiscal, né?
05:39E, às vezes, não é só cumprindo meta, né?
05:42Às vezes, é reforçando o seu comprometimento.
05:44Assim como a autoridade monetária reforça o comprometimento com a meta,
05:48subindo os juros, que é o que pode ser feito nesse momento,
05:51o governo também tem que mostrar que está comprometido
05:55através do seu próprio discurso, né?
05:58E eu acho que isso ajudaria muito a gente a ter uma estabilidade cambial
06:02importante, sem considerar os desafios externos, né?
06:06Só considerando os domésticos,
06:08para que a gente tivesse, no menor prazo possível, uma estabilidade maior.
06:13Porque me parece que a autoridade monetária, ela carrega o piano sozinha, né?
06:18E se a política fiscal, por exemplo, não vai na direção certa,
06:24ela sobrecarrega a política monetária.
06:26E aí fica muito difícil da gente ter essa inflação na meta
06:28no menor horizonte de tempo.
06:30Então, acho que o comprometimento com a política fiscal
06:33seria uma boa sinalização do governo
06:36com seu comprometimento em também ver essa inflação na meta
06:40no menor tempo possível.
06:42Para você que chega agora, estamos falando sobre inflação,
06:46a divulgação de hoje do IBGE,
06:48uma alta da inflação no mês de abril,
06:50com o economista André Brás, aqui na Joempa.
06:53Quem faz a próxima pergunta?
06:55Cristiano Villela.
06:57André, boa noite.
06:58Na linha dessa última colocação que você fez agora,
07:02falas como essa do ministro da Fazenda,
07:05relativizando as preocupações com os índices de inflação,
07:08de alguma forma elas não passam um sinal oposto
07:12a essa preocupação que o governo deveria externar
07:15de cumprimento da meta fiscal, de rigor,
07:19de medidas que pudessem colocar realmente
07:21o índice inflacionário nos trilhos?
07:23Não dá talvez uma demonstração para o mercado
07:26e para a sociedade de um certo desapego
07:29à questão, à necessidade do cumprimento das metas?
07:34É, exatamente isso.
07:35Eu acho que o alinhamento do governo,
07:38o discurso do governo,
07:39ele tem que ajudar a própria política monetária.
07:43Então, não dá para a gente fechar os olhos
07:46para o desafio que a inflação tem posto
07:49à nossa economia.
07:51E se a gente aumenta juros infinitamente,
07:55a gente começa a achar normal
07:57uma taxa básica de juros em 14,75,
08:01isso vai, de fato, esfriar a nossa atividade econômica
08:05e comprometer uma parte que tem sido vista
08:08como vitória, que é a taxa de desemprego
08:10que anda muito baixa.
08:11Então, se você impõe um desafio maior
08:14à atividade econômica, com um juro muito alto
08:16durante muito tempo,
08:18a gente desaquece a atividade,
08:20compromete o PIB,
08:21compromete a geração de emprego e renda,
08:23e isso acaba sendo mais uma derrota
08:25para o governo.
08:27André, e uma última questão de forma breve.
08:30Talvez muita gente se pergunte,
08:31a gente falou agora do café,
08:33e alguns economistas já falaram
08:35algumas vezes aqui na JoinPan
08:37que o preço sobe de elevador
08:39e desce de escada, se é que desce.
08:42Em algum momento esses preços
08:43voltam a se acomodar,
08:44mas nunca serão mais do que eram
08:46alguns anos, alguns meses, talvez?
08:48Como é que isso funciona na prática?
08:51Olha, no caso do café,
08:53a gente precisa de uma safra robusta,
08:54mas existem outros custos
08:56que avançam ao longo do tempo
08:57e que impedem que o café, por exemplo,
09:00volte ao seu preço de dois, três anos atrás.
09:03A questão tem a ver com o nosso câmbio
09:05e como isso impacta na compra de insumos,
09:08como adubos, fertilizantes,
09:10como isso impacta na parte da mão de obra,
09:13nos custos de escoamento da produção.
09:16Então, é claro que a gente precisa
09:19de uma safra boa para ter um preço mais baixo,
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