O pós-doutor em relações internacionais Danilo Porfírio, do Instituto Santiago Dantas, analisa o real risco de guerra entre Europa e Rússia, o papel dos Estados Unidos, o rearmamento europeu e a influência da guerra da Ucrânia na economia global. Ele avalia se a tensão é ameaça real ou estratégia política.
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00:00E muitos europeus acreditam que existe, sim, um alto risco de guerra com a Rússia,
00:04segundo uma pesquisa realizada em nove países da União Europeia
00:07e publicada nesta quinta-feira pela revista francesa Le Grand Continent.
00:11Para falar sobre esse assunto e quais seriam as consequências para a economia global,
00:15se isso realmente vier a acontecer, eu converso com o Danilo Porfírio,
00:18que é pós-doutor em Relações Internacionais pelo Instituto Santiago Dantas.
00:22Danilo, obrigado, Felipe, por sua presença aqui.
00:24Danilo, o que tem de verdade, o que tem de possibilidade,
00:31o que tem de risco real nesse confronto entre Europa e Rússia?
00:34De forma pontual, real, não existe uma perspectiva concreta
00:39de um confronto direto entre Rússia e Europa.
00:45Nós temos que lembrar que a Europa necessita, diante da ausência, Felipe,
00:52do guarda-chuva norte-americano, em função desse afastamento dos Estados Unidos
01:00das ações de Trump, a Europa necessita de uma o quê?
01:05De uma reestruturação no financiamento da sua política de rearmamento.
01:13De rearmamento.
01:14E o que acontece?
01:15Nós temos que observar que, no início da guerra,
01:19existia toda uma guerra de informação onde tentava se mostrar
01:22que a Ucrânia tinha controle da situação ou que resistia bravamente.
01:28O que nós percebemos agora?
01:31A guerra de informação externaliza que a Ucrânia realmente não consegue
01:36sustentar uma resistência contra a invasão russa.
01:40E para ter o apoio da opinião pública europeia,
01:47os governos da União Europeia criam todo esse sistema,
01:51toda essa retórica, toda essa falácia de insegurança e ameaça potencial
01:58de uma invasão, de uma ação russa contra a Europa,
02:03para justificar financiamento em suas forças armadas.
02:08Numa democracia, qualquer ação é sustentada pelo apoio da opinião pública.
02:15E a melhor forma de termos aqui a opinião pública é pelo medo.
02:19Disseminar o medo.
02:21Com certeza.
02:22A gente lembra, por exemplo, que o presidente Donald Trump, Danilo,
02:25ele pressionou a Europa para que aumentasse seus investimentos em armamentos.
02:29Ele estava exigindo 5%.
02:30A Europa colocou numa conta ali 5%, mas isso inclui gastos em infraestrutura.
02:35Então, na verdade, não seria 5%.
02:36Mas, mesmo assim, teve um aumento nesses investimentos.
02:40E isso tem um lado também, de certa forma, positivo para a economia europeia,
02:44porque pode aquecer a Europa, que está numa economia um pouco morna, vamos dizer assim.
02:49Agora, isso pode ter também um lado inflacionário.
02:51Como é que isso pode impactar na economia europeia?
02:54Isso é positivo ou negativo?
02:56Nós vemos uma perspectiva positiva, Felipe, mas de uma forma muito pontual.
03:03Claro que, historicamente, a indústria bélica foi sempre o quê?
03:08Um foco de desenvolvimento tecnológico.
03:13Vamos dizer também que é um foco de propulsão de uma indústria pesada,
03:19que também fomenta áreas do setor civil.
03:22Mas essa ação, ela é muito pontual.
03:26E, vamos dizer, entre prós e contra, Felipe, eu insisto.
03:32A população europeia, mesmo tendo temor do conflito, ela não quer o conflito.
03:40Nós estamos vendo sérios problemas de convocação, ou de, vamos dizer, de promoção,
03:49para que jovens entrem no serviço militar na Alemanha e na França.
03:56A Alemanha, hoje, sofre uma dificuldade o quê?
03:59Em ter a captação de cidadãos alemães nas forças armadas alemãs.
04:04Ou seja, essa situação econômica, ela não se sustenta.
04:09E, além de tudo, está vinculada também a uma ojeriza da opinião pública
04:14em financiar, vamos dizer, a economia com base em potencial sangue derramado.
04:22Inclusive, em atender as demandas do presidente Donald Trump,
04:25que os europeus têm ojeriza.
04:28Também.
04:28Agora, Danilo, uma coisa assim, como é que você explica essa mudança
04:33de posicionamento dos Estados Unidos?
04:36Quer dizer, a gente sabe que o presidente Donald Trump é muito...
04:39Não dá para saber muito o que passa na cabeça dele.
04:41Mas os Estados Unidos, historicamente, sempre foi um aliado da União Europeia.
04:44Tem a NATO, a OTAN, que nos comprova essa aliança depois da Segunda Guerra e tudo mais.
04:50Como é que você vê essa mudança?
04:52Agora, parece que o presidente Trump é mais aliado da Rússia do que da Europa.
04:56Ótimo.
04:56Felipe, Trump, principalmente o governo Trump 2.
05:00Quando a gente fala de Trump, não é só o Trump, mas de todo um estabilismo em torno dele.
05:04Eles enxergam que uma nova ordem política está sendo estabelecida.
05:15Estabelecida.
05:15O governo Trump enxergam que, basicamente, o mundo estará disposto com base nos destinos
05:26de três agentes nacionais de três grandes potências, que são os Estados Unidos, a China e a Rússia.
05:35E a Europa ficou um pouco esquecida.
05:37A Europa, Felipe, infelizmente, se apequenou.
05:44A era europeia está virando história.
05:49E, diante disso, o Trump deixa muito claro.
05:53A Europa vai ter que, agora, começar a cuidar do seu próprio destino.
05:57Como eu disse no início, o guarda-chuva norte-americano, que está legitimado na OTAN, ela o quê?
06:05Ela recua.
06:07A ação de Trump agora é uma composição.
06:09Os olhos de Trump é um confronto potencial econômico, quizá militar, com a China.
06:16E ele enxerga a Rússia, nesse contexto, como um agente indispensável num processo de composição.
06:25E, claro, Putin também enxerga da mesma forma, valorizando também a composição com países de um novo palco político, que são os Brits.
06:37Os autocratas se entendem, se aproximam.
06:40Eles se aproximam, né?
06:40Exatamente.
06:41Agora, Danilo, eu não posso deixar você ir embora sem você falar de um país que é básico em toda essa história, que é a própria Ucrânia.
06:47Como é que você vê o desenvolvimento dessa guerra?
06:49Como é que você vê essa possível negociação de paz promovida pelo presidente Trump?
06:53A negociação de paz é inesorável.
06:56Acontecerá.
06:57E também o quê?
06:58É inevitável que a grande perdedora nesse processo seja a própria Ucrânia.
07:05A motivação desse conflito é uma motivação muito clara.
07:11A Rússia não aceita a expansão ocidental em territórios historicamente ligados à Rússia.
07:21Observaremos, sim, conforme a proposta norte-americana, a perda de territórios ucranianos.
07:26Dombás, Donetsk, Lugansk, regiões ao sul mais próximos da Crimeia, ratificação da possessão europeia.
07:36A Crimeia já é a fava contada.
07:38Mas a ratificação agora, né?
07:40E entender que a região do Mar Negro é de alto interesse estratégico russo.
07:51Confrontando-se a interesses europeus, em especial britânicos, que têm olhos ambiciosos na região.
07:58Moral da história.
08:00O que restar da Ucrânia será o quê?
08:02Uma grande zona tampão, uma zona neutra, uma zona de tensionamento entre Europa e Rússia.
08:09Exatamente.
08:10Agora, Danilo, então agora prometo que a próxima é a última pergunta mesmo.
08:14Como é que fica a Europa no sentido de essa demanda, essa dependência que ela ainda tem, de certa forma, do petróleo russo, do gás russo?
08:24Como é que fica a economia de um continente que está se armando para se defender de um inimigo, mas que depende desse inimigo do ponto de vista econômico?
08:33É por isso que eu também observo a necessidade do quê?
08:36De uma composição de passos.
08:37Não existe nenhuma alternativa, pelo menos de rápida substituição, a essa matriz energética em favor do quê?
08:46Da Europa.
08:48Podemos contar futuramente com uma linha estratégica, que poderemos chamar também um apêndice da chamada Rota da Seda Europeia,
08:59que passa pelo Oriente Médio, mas isso é um investimento de médio e longo prazo, Felipe.
09:05Então, é necessário também uma composição com a Rússia, inclusive, para responder a problemas de ordem inflacionária dentro da Europa.
09:17Então, a paz é inevitável.
09:19E a economia da Rússia, não é essa?
09:21Então, a economia da Rússia, esse é o grande ponto.
09:24Nós falamos muito de congelamento de ativos, falamos também da questão de uma promessa de colapso russo,
09:32mas o que nós observamos?
09:34Que a Rússia, primeiro, transfere o seu potencial de fornecimento de hidrocarbonetos
09:42para a grande consumidora mundial, competindo com os americanos, que é a China.
09:48E, consequentemente, também busca alternativas de mercados, como nós estamos vendo agora.
09:54Índia, África, até mesmo Brasil.
09:58Ou seja, a situação econômica russa é bem melhor do que, propriamente, a guerra midiática busca nos oferecer ou nos convencer.
10:11Danilo, o Putin tem falado, ao longo dessa semana, inclusive, ele falou que se a Europa quiser guerra, ele está pronto.
10:18Usou um vocabulário até um pouco mais bélico nesse sentido.
10:21A Rússia estaria pronta para uma guerra contra a Europa?
10:24A questão é a seguinte, essa retórica é de mera dissuasão.
10:28É mera dissuasão.
10:30Putin sabe muito bem que não é interessante para ele, para a Rússia ou para o mundo, um confronto com a Europa.
10:38Um confronto com a Europa pressupõe a entrada dos americanos também no conflito.
10:44E estamos falando de potências nucleares.
10:47Não estou só falando de Estados Unidos, estou falando de França.
10:51Estou falando de Reino Unido.
10:52Então, voltamos à lógica da Guerra Fria, a certeza da aniquilação recíproca e certa.
11:01Então, isso não é interessante para o Putin.
11:03Putin quer mostrar virilidade.
11:05Quer mostrar força.
11:07Quer, pela retórica, dissuadir.
11:09Não vejo conflito e destruição em massa, pelo menos a médio prazo.
11:17Mas isso ele faz muito bem, né, Danilo?
11:18Sim, convence.
11:19Obrigado, Danilo.
11:20Porfírio, pós-doutor em Relações Internacionais pelo Instituto Santiago Dantas.
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