O estado do Paraná enfrenta o maior tornado em anos, com seis mortos e mais de 430 feridos. A especialista Sheila Paz, gerente de Meteorologia do Simepar, explica como a formação de um ciclone criou as condições para este tornado de categoria 3 e alerta para a importância da comunicação eficaz e do preparo da Defesa Civil diante de eventos climáticos extremos.
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NotíciasTranscrição
00:00E agora a gente volta a falar sobre a situação do clima, nós vamos conversar, receber aqui no Fast News a Sheila Paz,
00:06que é gerente de meteorologia do Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná.
00:13Sheila, boa tarde, bem-vinda. Conta pra gente qual é o balanço dos fortes ventos que já atingiram o estado.
00:21Olá Nelson, bom dia. Bom, realmente nós estamos trabalhando aí no rescaldo dessa situação.
00:28Então, infelizmente, trouxe o tornado de forte intensidade para o município de Rio Bonito do Iguaçu.
00:35Esse tornado, ele está sendo investigado desde ontem à noite, no primeiro momento, o CIMEPAR classificou esse tornado com a categoria 2 da escala Fujita.
00:45Hoje cedo, através das imagens que a gente conseguiu identificar do local, nós elevamos a categoria para a intensidade 3.
00:54O CIMEPAR possui radares meteorológicos aqui no Paraná, eles nos dão suporte para a identificação desses sistemas em tempo real,
01:03mas é através deles, da análise desses dados, que a gente começa a identificar questões mais técnicas relacionadas a essas imagens,
01:11como, por exemplo, quando a gente consegue identificar uma torção, um giro dentro da própria imagem do radar.
01:18Isso significa que a gente consegue ver uma massa de ar se afastando e outra se aproximando do radar.
01:25Essa torção consegue fazer com que a gente identifique esse movimento circular presente no tornado.
01:33E pelo radar meteorológico, a gente estimava inicialmente a intensidade da ordem de 200 km por hora.
01:39E hoje, através das análises subsequentes, a gente conseguiu, então, elevar a intensidade para a ordem de 250 km por hora,
01:49o que deixa, então, o tornado dentro da categoria 3.
01:53Neste momento, os nossos especialistas aqui do CIMEPAR, junto com a Defesa Civil do Estado,
01:58estão iniciando uma operação de sobrevoo das imagens, para a gente validar o rastro, a destruição,
02:04e até mesmo outros tempestrados que derivaram dessa mesma supercélula,
02:10e muito provavelmente foram responsáveis pela ocorrência de outros tornados ali por volta das 19h30 na região de Guaracuava.
02:19Então, ao que tudo indica, a gente não teve apenas de Rio Bonito, embora tenha sido o mais intenso,
02:25a gente tenha também a ocorrência de outros tornados mais próximos a Guaracuava.
02:29E só para complementar a minha fala, esse foi, sem dúvida, o tornado mais intenso da história recente aqui do Paraná,
02:40que está até da região sul do Brasil.
02:42Sheila, e a possibilidade de novas rajadas, novos eventos como esses que a gente já está acompanhando?
02:50Bom, o tornado, ele estava relacionado, a ocorrência dele estava relacionada à formação de um ciclone,
02:58que é uma área de baixa pressão que se organiza, que começou a se organizar entre o Rio Grande do Sul e o Oceano Atlântico.
03:05Essa área de baixa pressão se aprofundou e conseguiu também fazer com que uma frente fria mais organizada
03:11avançasse pela região sul do Brasil.
03:13Isso tudo foi muito rápido, sexta-feira foi a ocorrência inteira desse evento aqui na região sul do Brasil.
03:22E quando, no momento que essa frente fria chegou no Paraná, que quando a gente olha numa imagem de satélite,
03:27a frente fria é uma grande área de nebulosidade.
03:30A gente pode perceber, através das imagens do satélite e dos radares do CIMEPAR,
03:34que alguns focos, algumas pequenas células de tempestade se formaram à frente do eixo principal dessa frente fria.
03:42Nessas células é que estavam contidos esses tornados.
03:47A frente fria, até a madrugada desse sábado, ela saiu do Paraná.
03:52Então, foi para São Paulo, onde outros problemas estiveram também relacionados à ocorrência de tempestades.
03:58Então, hoje pela manhã, a gente já não tinha mais a atuação dessa frente fria aqui no Paraná.
04:03O que nós estamos observando agora, que até Curitiba, onde eu falo, está com uma situação de céu claro,
04:09e o sol está aparecendo, a gente tem ocorrência de vento.
04:12Essa ocorrência, ela se dá principalmente na faixa leste do estado, que é a área mais próxima ao oceano.
04:18E, principalmente lá no litoral, é que a gente observa a presença de rajadas de vento bastante intensas.
04:24Isso está relacionado a esse ciclone, que está lá no mar, mas muito pertinho aqui da costa,
04:30e por isso há esses ventos mais pertinentes.
04:32Porém, a gente não está mais falando de chuva, não há mais uma situação aí de uma organização de tempestade,
04:39muito, e nem tampouco qualquer situação semelhante ao que aconteceu nessas últimas 24 horas aqui no Paraná.
04:48A gente deve ter uns 3, 5 dias aí de estabilidade, onde o sol predomina, as temperaturas conseguem ficar um pouco mais amigas.
04:55Ô Sheila, e só para a gente entender, o público leigo, a gente que não é da área de meteorologia,
05:02que a gente tem visto esses termos todos, né?
05:04Ciclone, tornado, o que é cada uma dessas coisas?
05:08Elas se confundem e não? Uma é decorrente da outra?
05:10Você pode fazer essa explicação geral para a gente?
05:14Bom, uma grande...
05:15As instabilidades, elas geralmente são embebidas dentro de uma área de baixa pressão.
05:20Salvo as tempestades, as chuvas de verão, que são aquelas organizaçõezinhas, as formações que se dão na parte da tarde,
05:28onde a gente tem umidade, calor, encontrando principalmente uma forçante como presença de regiões mais montanhosas,
05:36a gente tem as formaçõezinhas de chuvas de verão, que elas são muito comuns agora nessa época do ano.
05:41Mas, no caso de frentes frias, elas acontecem quando a gente tem a formação de uma área de baixa pressão.
05:50Então, uma situação onde ali a gente tem uma... a pressão, ela começa a baixar,
05:55e existe um giro sentido horário nessas formações, e ali, aos poucos, a gente começa, então, a ter um movimento do ar.
06:05Quando a gente fala de frente fria, significa que, à frente da frente fria, a gente tem um ar quente e úmido,
06:12e atrás a gente tem um ar mais seco e também mais frio.
06:17À medida que esse ar frio e seco começa a avançar, força lá na frente o ar quente e úmido a subir,
06:23e no momento que ele sobe, condensa, formam as nuvens, e ali a gente tem todo o ambiente favorável,
06:29a formação de chuva, a presença de ventos intensos, e quanto maior for o contraste entre essas duas massas de ar,
06:37mais a situação instável é favorável.
06:41E aí, se a gente tem uma umidade que acontece, que chega para provocar ainda mais instabilidade,
06:47a gente tem uma forçante, uma condição a mais.
06:50Então, a gente tem, desse eixo principal da frente fria, uma situação de chuva.
06:54Frente fria são eventos extremamente comuns aqui na nossa região, aqui na região sul,
06:59a cada cinco, sete dias a gente tem a passagem de uma frente fria,
07:02só que, em alguns dos casos, a gente consegue ver que também supercélulas conseguem se formar dentro do eixo dessa frente fria.
07:11As supercélulas são as células que originam o tornado.
07:14Nem toda supercélula tem um tornado, mas todo tornado precisa de uma supercélula.
07:19E foi justamente uma dessas que ontem provocou esse desastre lá em Rio Bonito.
07:26E o tornado em si, ele tem poucas dezenas de quilômetros.
07:30É uma organização muito pequena, diferente, por exemplo, de um ciclone ou de um furacão,
07:35que tem centenas de quilômetros.
07:37Então, o tornado, como as imagens auxiliares aqui estão nos indicando,
07:41realmente são estruturas pequenas, por muitas vezes tem atuação de poucos minutos,
07:46deixam um rastro de distribuição, esse rastro que a gente consegue,
07:50quando a gente vai identificar como sobrevoo que nós vamos fazer daqui a pouco,
07:54ele não tem um sentido, porque o vento vai girando e a distribuição acontece em todos os sentidos.
07:59Isso é uma característica bem marcante de um tornado.
08:02Por exemplo, outro sistema bastante intenso que a gente observa na evolução dessas supercélulas
08:09seriam rajadas de vento que saem de dentro da nuvem e, no momento que elas tocam o solo,
08:17elas jogam tudo para frente.
08:18Então, são downbursts que surgem nessas tempestades e que deixam um rastro em que todos os alvos
08:27caem num sentido só.
08:29Então, o tornado é bem característico desse caso, foi realmente muito intenso.
08:32É o tornado mais devastador que aconteceu aqui no Paraná.
08:36Estou trabalhando há 20 anos aqui no Cinepare.
08:39A gente jamais viu qualquer coisa parecida.
08:43Infelizmente, outras tempestades se organizaram nessa linha de estabilidade,
08:47muito provavelmente trazendo também o tornado na região de Guarapuado.
08:51Sheila, eu vou trazer para a nossa conversa o nosso analista dessa edição do Fast News,
08:55o Eduardo Maurício.
08:56Ele vai te fazer a próxima pergunta.
08:59Olá, Eduardo.
08:59Olá, boa tarde.
09:01Boa tarde.
09:01Eu gostaria da sua opinião de quais as condutas preventivas podem ser tomadas
09:08para evitar maiores prejuízos e impactos para a população de outros futuros tornados
09:16e eventos da natureza?
09:20Bom, tudo se dá pela comunicação e o nível de preparo e também, o principal, a educação
09:26da nossa população.
09:27O Cinepare, ele atua em conjunto com a Defesa Civil do Estado.
09:33Esse tipo de estrutura pertence a quase todos os estados no Brasil.
09:38Nós somos o centro de referência em meteorologia aqui do Paraná e a nossa atuação será junto
09:43à Defesa Civil.
09:44Na segunda-feira foram passados os primeiros alertas, avistos meteorológicos aqui do Paraná
09:49com a categorização já de eventos estimados para esse evento de sexta-feira.
09:55E o Cinepare, ele tem um meteorologista dentro da Defesa Civil do Estado.
10:01Então, ele faz esse link entre como deve-se dar os avisos meteorológicos e aí, então,
10:09para estruturar os alertas meteorológicos que quem dá é Defesa Civil.
10:13Essa comunicação de aviso, com antecedência do que vai acontecer, ela parte dos próprios
10:21institutos de meteorologia, como o Cinepare, como o Instituto Nacional de Meteorologia,
10:26que é o órgão oficial do governo e o governo que dá suporte em todo o Brasil.
10:33E a gente, então, ali, através dessas comunicações oficiais, a gente vai lançando nas páginas
10:39dedicadas e também nas redes sociais o estado de atenção que tem que se dar a determinado
10:44evento.
10:46Muito se ouviu agora, a gente observou aqui, que algumas pessoas se disseram, assim, foram
10:55pegas de surpresa em relação aos eventos.
10:58Mas onde essas pessoas estão procurando a informação?
11:01E as pessoas que tiveram a informação, como elas entendem o preparo?
11:07Então, eu acho que é um bom momento para a gente repensar como se dá a educação,
11:12diante a eventos, o que cabe a cada um fazer.
11:17E aos institutos de meteorologia, que a gente tenha cada vez mais a atenção e o cuidado
11:22em relação ao dado.
11:23O Cinepare tem uma rede de três radares meteorológicos e estamos investindo em cinco radares.
11:28Esses são instrumentos imprescindíveis para que a gente monitore esse tipo de informação
11:33em tempo real.
11:34Eu consigo ver onde está a tempestade, onde ela está ganhando força e para onde ela está
11:37indo.
11:38Existem estados que, infelizmente, não têm a mesma estrutura como o Paraná.
11:42E a gente precisa, então, ter a operação acontecendo, a defesa civil de mãos dadas a essa operação
11:49e a população do outro lado lá sendo avisada.
11:52Hoje, existem ferramentas muito importantes que são destinadas exclusivamente ao recebimento
11:59de mensagens pelo celular.
12:02Então, são tanto avisos em relação às próximas horas, como o próprio CELPROATFEST,
12:06que é uma ação nova que tem hoje, que a gente recebe a mensagem no celular e ele trava.
12:11A gente tem que interagir com aquela mensagem.
12:14Eu não tenho como ignorar.
12:16E isso está sendo cada vez mais aderido.
12:19Então, as pessoas estão cada vez mais não conseguindo fugir de ter a informação.
12:24E aí, levar essa informação a sério.
12:26Se existe qualquer risco, realmente, evite sair na rua, de circular, dentro da sua própria
12:32casa.
12:32Identifique quais são os pontos de maior segurança que a gente pode ter.
12:38Nem sempre isso é possível, mas a gente precisa ter toda essa tríade funcionando, que é
12:45a gente ter investimento no dado, trabalhar fortemente na comunicação e, sobretudo, uma
12:52educação à população que inicia dentro das escolas e que continua depois com ações
12:58junto ao governo, defesa civil e também aos órgãos de meteorologia.
13:02O que ela é.
13:03Pois bem, quero agradecer demais a Sheila Paz, que é gerente de meteorologia do Sistema
13:09de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná.
13:12Simepar falou conosco aqui na Jovem Pan.
13:14Sheila, muito obrigado pelas suas informações.
13:16Sempre um prazer te receber aqui.
13:17A gente deseja que tudo seja cuidado de perto, que a situação se resolva e que não haja
13:24mais vítimas.
13:24Muito obrigado.
13:26Obrigada pela oportunidade de me esclarecer alguns conceitos, também a situação.
13:30Então, se minha parte se coloca à disposição.
13:32Até a próxima.
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