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Sem medo de chocar e sem nunca fugir das respostas, o cantor e compositor Lobão abre o jogo e fala sobre tudo e todos sem medo. Do começo da carreira ao lado de Lulu Santos e Richie, ao seu mais novo trabalho, a conversa toca em assuntos polêmicos como drogas, megaoperação no Rio de Janeiro, posição política, perda do pai, mãe e irmã pelo mesmo motivo e até mesmo revela que ele chegou a ser considerado o mascote do Comando Vermelho.

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😹
Diversão
Transcrição
00:00:00Sabe aquelas conversas que só acontecem nos bastidores?
00:00:03Aquelas opiniões que todo mundo tem, mas ninguém fala na cara e muito menos no ar.
00:00:08Aqui a gente não tem medo de desconforto.
00:00:10O papo é direto, sem filtro e sem enfeite.
00:00:13E se doer, talvez seja porque às vezes a verdade dói mesmo.
00:00:17Então se você gosta de entrevista com resposta ensaiada e discurso pronto,
00:00:21pode mudar de canal agora.
00:00:22Eu sou Mari Cantarelli e nós estamos em off.
00:00:26Daqui a pouco vi aquela senhora que era igual o Lulu, só que de batom, né?
00:00:28Ela se levantava no meio assim, saiu daqui, ó!
00:00:38Tem paciência pra quem tá começando?
00:00:41Tá funcionando? Quer que eu cante uma música?
00:00:45Ah não, vou pedir pro Lobão cantar.
00:00:47Fala uma música aí, vai.
00:00:48Pra gente cantar, vamos ver.
00:00:48Eu sou muito tímido.
00:00:49Eu sou muito tímido?
00:00:50Eu sou mesmo.
00:00:51Você é muito tímido?
00:00:53Sou.
00:00:54Passa 30 anos com ele.
00:00:55Peraí, Lobão, que eu tô...
00:00:57Fala de novo aqui, Deus, que o microfone dele tá mudo?
00:01:03Aê!
00:01:03Muito bom!
00:01:04Cara, é muita história, é muito bom!
00:01:07É divertido ser eu, sabe?
00:01:09O que passou, passou e quanta coisa passou nessa vida louca?
00:01:21Ou seria a vida bandida?
00:01:23Dizem que ele vive eternamente no vale da estranheza, mas ele nunca ficou chorando no campo.
00:01:29Hoje no em off comigo, Lobão!
00:01:32Seja muito bem-vindo!
00:01:34Tudo bem?
00:01:35Obrigada!
00:01:36Eu te agradeço.
00:01:37Por estar aqui no meu sofá, que honra!
00:01:39Eu que fico muito confortável aqui, aboletado nesse sofá.
00:01:42Antes de começar, você já tava me falando o seguinte, eu sou muito tímido.
00:01:46É.
00:01:46Por que que você é tímido?
00:01:49Eu sou terrivelmente tímido, desde criancinha.
00:01:51Como é que alguém tímido se apresenta pra tanta gente há tantos anos e vive de arte?
00:01:55Foi um erro de cálculo da minha parte.
00:01:58Eu não tinha a menor intenção de ser...
00:02:01Eu gostava de tocar bateria, mas eu nunca pensei em ser cantor, front singer, essas coisas.
00:02:07Eu nunca achei legal.
00:02:09Passei muitos anos, pelo menos uns 15, 20 anos, pra tentar entender o que que tava acontecendo com a minha vida, né?
00:02:17Como é que era na infância?
00:02:18Você já era tímido desde criança?
00:02:20Como é que foi a sua infância?
00:02:21Eu sempre fui muito introspectivo.
00:02:24Eu não era introvertido, não.
00:02:27Eu sempre fui meio palhaço.
00:02:29Mas eu sempre tive uma vida interior muito intensa e muito...
00:02:34Tudo assim dentro do...
00:02:35Não sei se minha mãe me deixava muito de castigo, porque eu tive uma doença lá quando eu era muito pequeno.
00:02:41E só tive alta com 12 anos.
00:02:43Então, podia morrer a qualquer momento, pelo menos na cabeça dela.
00:02:47Então, eu não podia fazer absolutamente nada.
00:02:49Então, eu ficava dentro do meu quarto, aí eu me adaptei, né?
00:02:53Aí eu fiquei com muitos livros e tinha lá minhas músicas, meus livros, meu violão, minha bateria.
00:03:00Então, eu fui crescendo.
00:03:03Até hoje, tudo isso, minha vida se resume nesse lugar.
00:03:07É um catre com livros e instrumento musical e um aparelho que possa reproduzir música, né?
00:03:13Basicamente, é isso até hoje.
00:03:15Eu vi na sua autobiografia que você teve essa doença quando era criança, nefrose?
00:03:21Nefrose.
00:03:22O que é essa doença exatamente?
00:03:24Eu não me lembro, assim...
00:03:26Eu só sei que eu acho que é uma inflamação nos rins.
00:03:28Nos rins.
00:03:29O fechamento dos rins.
00:03:30É uma doença rara.
00:03:32E eu acho que eu fui primeiro a garota a ser curado aqui na América Latina pelo doutor...
00:03:37Então, o grande pediatra brasileiro, o doutor Rinaldo Delamari.
00:03:41Então, foi um case, tá entendendo?
00:03:43Então, eu virei um case médico.
00:03:45Mas em que sentido te limitava?
00:03:47Eu tinha meu retrato na clínica lá, assim, sabe?
00:03:50Eu mesmo?
00:03:50De barinhezinho, assim.
00:03:53Mas em que sentido te limitava a doença?
00:03:55Ou era a sua mãe que te proteja?
00:03:56Porque, pelo que eu entendo, assim, do seu relato, ela também era um pouco superprotetora em função da doença.
00:04:01Era completamente superprotetora.
00:04:02E eu não sei o que veio antes, só a nefrose ou a superproteção dela.
00:04:06Mas o fato é que eu fui com um ano e dez meses, dois anos, eu fiquei...
00:04:12Eu me lembro muito pouco.
00:04:14Eu me lembro que eu tinha que tirar sangue para o exame.
00:04:19Eu ficava muito inchado, porque eu tomava cortisona com doses de cavalares.
00:04:23Eu ficava todo inchado.
00:04:24Nascia cabelo na minha testa.
00:04:26E eu ainda tenho aí uma lembrança vaga disso.
00:04:30Mas o fato, o que me deixou muito atado a essa doença é que eu passei...
00:04:34Todo ano eu tinha que fazer, nas férias de junho, julho, passar o mês inteiro sem começar a fazer contagem,
00:04:41chamada contagem de Hades, uma coisa assim.
00:04:43Aí minha mãe ficava vendo se estava inchado nos olhos.
00:04:47Todo dia ela ficava me apalpando.
00:04:49Eu ficava...
00:04:50Ai, meu Deus do céu.
00:04:50E aí eu só ganhei alta mesmo, tipo assim, ah, você não vai ter...
00:04:57Você está curado com doze anos.
00:04:59Então eu passei dez anos da minha vida com ela assim, ah, socorro, não sei o quê.
00:05:03Então eu tive, como era um caso muito grave, né, eu fiquei sob os cuidados e olhares médicos durante todo esse tempo.
00:05:14E aí você deixou de ter convívio com outras crianças?
00:05:17Talvez isso tenha impactado um pouco na sua...
00:05:19Eu também não...
00:05:20Não, eu tinha, mas naturalmente, eu era, assim, eu era muito...
00:05:25Por exemplo, eu não sabia falar fessora.
00:05:27Eu nunca levantava o dedo assim, eu tinha vergonha.
00:05:30Todo mundo fala fessora ou tia, né.
00:05:32Eu nunca, eu ficava, eu não sabia como...
00:05:35Eu só comecei a falar fessora, né, com treze, quatorze anos.
00:05:40Eu passei o tempo todo se escondido, apavorado.
00:05:42Eu ia para o colégio e dizia, meu Deus, as pessoas vão falar comigo.
00:05:46Eu tinha um pavor, um pavor, um pavor muito grande.
00:05:50Você, de onde vem esse nome Lobão?
00:05:53Você já era o Lobinho quando você era pequeno?
00:05:56Não, não, não.
00:05:57Isso aconteceu já quando eu era adolescente, já.
00:06:00Quase quando estava entrando, já.
00:06:02Eu, às vezes, ligo essa...
00:06:05Eu ter sedimentado esse apelido por justamente eu ter o link com a banda que eu entrei, que foi o Vimana, né.
00:06:10Porque eu estava recém repetindo um ano, porque eu comecei a repetir um ano, porque eu nunca colei na minha vida.
00:06:16Então eu repetia um ano.
00:06:18Maravilhoso.
00:06:18Eu repeti um ano porque eu não colava.
00:06:20Eu não colava.
00:06:21Não é que você não estudava, não.
00:06:23É porque não colava.
00:06:23Não, eu não colava, eu não te interesse.
00:06:25Outro dia eu encontrei uma amiga minha, uma colega de colégio, a Virgínia.
00:06:29Trezentos anos depois, ela estava atravessando a rua, ela ainda morava no Rio ainda.
00:06:33Ela falou assim, peraí, olha só o que eu tenho na minha bolsa.
00:06:35Ela pegou, ela tinha uma bolsa, uma prova de química minha, que eu tirei zero.
00:06:39Aí ela pergunta assim, olha só o que você respondeu.
00:06:42Eu falei, o que foi?
00:06:43Aí a pergunta assim, como se comportam os gases?
00:06:47Aí eu respondi, os gases se comportam muito mal, são maus elementos, elementos desagregadores.
00:06:52Aí eu escrevia, escrevia um romance.
00:06:55Um romance sobre...
00:06:56Zero.
00:06:56E levava zero.
00:06:57Aí eu repeti um ano, aí eu fui para outro colégio, o São Vicente de Paula.
00:07:01Aí eu cheguei lá e eu usava o macacão, que minha avó, eu tinha o quê?
00:07:06Uns 15, 16 anos.
00:07:07E minha avó, muito prática, quando eu chegava, quando a Vigo estava crescendo muito, com 9,
00:07:1110 anos, eu falei assim, quero, tu vai ficar um varapau, não sei o quê.
00:07:14Ela, muito prática, comprou calça ali, calças todas de 20 anos já.
00:07:20E aí fez a bainha e ia usando aquelas calças.
00:07:24E a cada três, seis meses ela esticava a bainha.
00:07:28E ia dar um remendo aqui.
00:07:30Aconteceu uma coisa com essa jardineira, com esse macacão, né?
00:07:33Quando chegou, porra, eu estava usando já 10 anos, aquele macacão, todo dia estava
00:07:38todo assim.
00:07:39Só tinha uma alça.
00:07:41E eu tinha o cabelo grande, não sei o quê.
00:07:43E a primeira semana, os caras me olharam assim.
00:07:46Porra, como isso que...
00:07:47Você ali, nígida no lugar, né?
00:07:49O cara queria dar o apelido para você.
00:07:51Aí, primeiro apelido, assim, né?
00:07:53Primeiro dia de aula, você...
00:07:55Todo mundo já meio enturmado, porque era uma...
00:07:57Já vinha do...
00:07:58E eu não, eu estava chegando de outro colégio.
00:08:01Todo mundo me olhando assim.
00:08:03Aí, quem você vai ser quando crescer?
00:08:05Eu falei, ah, não sei.
00:08:06Eu estava, acho que música.
00:08:07Ah, Beethoven.
00:08:08Aí me chamaram de Beethoven.
00:08:09Falei, ah, meu Deus do céu, vou virar Beethoven.
00:08:11Fiquei segurando.
00:08:12Passou uma semana, não tem problema.
00:08:14Aí, viram eu chupando Mentex.
00:08:17Eu adorava Mentex.
00:08:18Aqueles caras chupando Mentex na hora do recreio.
00:08:20Ah, Mentex.
00:08:21Aí me chamaram de Mentex.
00:08:23Falei, ah, meu Deus do céu.
00:08:23Os caras estavam afim de me dar um apelido.
00:08:26E aí eu tinha uma outra coisa.
00:08:27Além dessa difícil socialização, eu detestava.
00:08:30Eu tinha nojo das pessoas.
00:08:31Me dá um pedaço, um tasco.
00:08:33Era um tasco na época.
00:08:34E eu ficava com nojo da saliva.
00:08:36Então, como eu comia, eu gastava na minha mesada
00:08:39dois queijos quentes e botava na mesa de ping-pong.
00:08:41Falei, ah, então, mãe, come aí.
00:08:44Saliva aqui, né?
00:08:45Tinha essas coisas.
00:08:46Aí os caras achavam que eu estava comendo.
00:08:48Pô, o cara come muito.
00:08:49Tem esse bocão que parece um lobo mau.
00:08:50Aí o lobo mau, começaram a me chamar.
00:08:52Falei, ah, caramba.
00:08:53Vai virar isso, vai virar.
00:08:54Mas é lobo mau.
00:08:55Aí eu fiquei quieto.
00:08:56Aí um amigo meu me sequestrou a minha bateria
00:08:58e levou a bateria para essa banda.
00:09:01Que era a banda do Lulu Rich,
00:09:03que eram muito mais velhos do que eu.
00:09:05E ele tinha me convidado para ver essa banda,
00:09:08que era o Vimana, num cinema lá.
00:09:10Porque antigamente se fazia shows em cinema,
00:09:12em sessão maldita.
00:09:14E eu não estava afim de rock.
00:09:16Eu estava de saco cheio, estava tocando violão clássico.
00:09:18Eu não queria saber de rock.
00:09:19Aí o cara me chamava, oh, é muito legal a banda.
00:09:22E a banda era legal mesmo.
00:09:23E os outros caras eram do Módulo 1000,
00:09:25que era uma banda que eu conhecia.
00:09:28Candinho bateria do Módulo 1000.
00:09:30Pô, achei legal.
00:09:30Mas eu fiquei quieto, não queria dar muita força para o rock.
00:09:33Legal, bacana.
00:09:34Aí tinha uma loja,
00:09:37na verdade, naquela mesma galeria de cinema,
00:09:40tinha uma loja chamada Modern Sound.
00:09:42E esse meu amigo do colégio
00:09:43foi lá comprar um disco, duas semanas depois,
00:09:46e encontrou com o Lulu Santos,
00:09:48que estava lá vendo o livro.
00:09:50Aí, pô, é o barato.
00:09:51Sua banda é muito legal.
00:09:53E o Lulu, sim, muito obrigado.
00:09:55Qual é o próximo show aí, não sei o que.
00:09:57Ele falou, agora nós estamos em recesso,
00:09:58porque o baterista saiu,
00:10:01e está entrando o vocalista, que era o Rich.
00:10:04Ah, o baterista saiu,
00:10:05nós temos um baterista muito legal lá na escola.
00:10:08Aí ele falou, ô, garoto,
00:10:09porra, isso aqui é uma banda de profissionais,
00:10:11nós temos já...
00:10:12O cara já tinha 25 anos,
00:10:1310 anos mais que...
00:10:15Não, mas o cara toca legal.
00:10:17E não estavam tocando mais bateria.
00:10:18Não queria tocar bateria,
00:10:19queria tocar violão clássico.
00:10:21E aí tinha desmontado a bateria.
00:10:23Aí ele falou, não.
00:10:24Não, o garoto, quantos anos o cara...
00:10:27Ah, o cara tem a minha idade, tem 16 anos.
00:10:29Imagina se eu vou botar o cara de 16 anos
00:10:31Não, de jeito nenhum.
00:10:33Aí o cara continuou insistindo.
00:10:35Aí ele...
00:10:36Tá, mas qual é o nome do cara?
00:10:37Ele falou, ah, o nome dele é Lobão.
00:10:39Pô, gostei desse nome, hein?
00:10:41Foi esse nome que ganhou no Luçano?
00:10:43Então faz o seguinte,
00:10:44aí ele estava no teatro, Casa Grande,
00:10:46que eles estavam começando a fazer uma turna
00:10:47com a Marília Pera,
00:10:49numa peça da Marília Pera.
00:10:51Faz o seguinte, vai lá,
00:10:52manda o cara ir lá no teatro
00:10:54para fazer um som com a gente,
00:10:56Teatro Casa Grande.
00:10:56E o cara, meu amigo,
00:10:59a revelia,
00:10:59botou tudo no táxi,
00:11:00que eu não sabia,
00:11:01e levou a minha bateria
00:11:03para o Teatro Casa Grande
00:11:05e falou,
00:11:06ó, aconteceu, contou a história.
00:11:07Eu falei, eu não vou,
00:11:08eu não vou, cara,
00:11:08eu não vou.
00:11:09Estou afim de ir.
00:11:10Mas está lá,
00:11:11eu montei a bateria.
00:11:11Eu falei, pô,
00:11:12mas que loucura, cara,
00:11:13a bateria já estava desmontada.
00:11:15Ah, mas eu não podia perder essa...
00:11:16Os caras são muito bons,
00:11:18etc e tal.
00:11:18Aí eu falei assim,
00:11:19sabe de uma coisa?
00:11:20Eu vou tocar um samba
00:11:21para eles,
00:11:22porque eu pensava que eles eram
00:11:23roqueiros e eles não iam gostar.
00:11:25Aí eu fui lá e toquei um samba,
00:11:26baixo,
00:11:26os caras acharam o máximo,
00:11:28aí eu fui admitido.
00:11:30Mas quando eu cheguei lá,
00:11:32já estava o Sérgio Dias dos Mutantes,
00:11:34tinha um monte de gente
00:11:35do cenário de rock,
00:11:37aí eu queria saber
00:11:38quem era o Lobão.
00:11:39Aí eu cheguei lá de macacão,
00:11:40porque eu não tirava o macacão.
00:11:42Ah, o Lobão,
00:11:42o cara parecia um Lobão,
00:11:43pronto,
00:11:44aí colou o apelido.
00:11:46Eu fiquei Lobão.
00:11:47E você resolveu tocar um samba,
00:11:49você sempre gostou de causar
00:11:51essa estranheza,
00:11:51essa estranheza,
00:11:52essa coisa de,
00:11:53é o quê?
00:11:53É um pouco de querer chocar?
00:11:55É uma forma de existir?
00:11:57É só o sujeito de ser?
00:11:58Talvez seja timidez histérica,
00:12:00talvez,
00:12:01tão tímido que eu acabo,
00:12:03sei lá.
00:12:04Mas não era ali,
00:12:04no caso não era não.
00:12:05Ali era uma questão de que
00:12:06eu não queria,
00:12:08eu não sabia dizer não,
00:12:09assim,
00:12:09o cara levou a bateria,
00:12:11não ia tocar mal,
00:12:12porque também,
00:12:13pô,
00:12:14para que eu vou tocar mal?
00:12:14Eu ia tocar uma coisa
00:12:15que eu considerava
00:12:16que era antagônica a eles
00:12:18e eu ia me sair
00:12:19confortavelmente,
00:12:20ah, tá bom,
00:12:21não é bem o seu estilo,
00:12:22tudo bem,
00:12:22muito obrigado,
00:12:23obrigado.
00:12:24Mas aí os caras acharam
00:12:25o máximo a parada do samba.
00:12:28E aí,
00:12:28também eu estava repetindo o ano,
00:12:31não tinha assunto no colégio.
00:12:33E aí,
00:12:34a minha mãe ficou maluca
00:12:35com o negócio.
00:12:36Gente,
00:12:37maconheiros,
00:12:38maconheiros.
00:12:39Eu falei,
00:12:39pô,
00:12:39o que é isso,
00:12:40mãe?
00:12:40Pô,
00:12:40Marília Pera,
00:12:41uma atriz,
00:12:43Nelsinho Mota.
00:12:44Ah,
00:12:44então você vai ter que
00:12:45para os desais menores.
00:12:47Aí o Nelsinho Mota
00:12:48foi meu tutor.
00:12:49Eu virei como tutor.
00:12:51Aí eu fui,
00:12:53acabou que eles fizeram,
00:12:55nem fiz teste,
00:12:57não tinha teste.
00:12:58O Pascoal Meirelles
00:12:58é baterista,
00:13:00uma puta banda,
00:13:00ele deu o miro,
00:13:01o Pascoal Meirelles.
00:13:02E aí,
00:13:03o Pascoal Meirelles
00:13:04foi para a Berkeley,
00:13:05uma coisa assim,
00:13:05foi para fora.
00:13:07E aí,
00:13:07eu assumi aqui,
00:13:08no Teatro Aliança Francesa,
00:13:11Marília Pera morrendo de medo,
00:13:13porque começou,
00:13:14eu não sabia.
00:13:15Por que morrendo de medo?
00:13:15Porque eu não tinha ensaiado,
00:13:16eu não sabia do que se tratava,
00:13:18liguei para o Loto Automático.
00:13:19O que esse maluco ia fazer?
00:13:20Aí ela tinha um trapézio,
00:13:22ela tinha uma tule,
00:13:24a gente ficava atrás da tule,
00:13:25o Guto Graçamelo
00:13:26era o nosso maestro.
00:13:28Fala assim,
00:13:28Loupa Rosilho,
00:13:30assim,
00:13:30tipo,
00:13:30não vai fazer cagada.
00:13:33E eu toquei,
00:13:33me dei bem,
00:13:34me dei super bem,
00:13:35aí ficamos em cartaz.
00:13:36A peça não foi muito bem,
00:13:37não foi um sucesso,
00:13:39ficamos uns três meses em cartaz.
00:13:41Foi suficiente
00:13:42para eu me enturmar,
00:13:42ficar em São Paulo,
00:13:44conhecer todo o meio,
00:13:46conheci o Tutti Frutti,
00:13:47Mutantes,
00:13:48conheci todo mundo.
00:13:49Aí comecei a ficar achando legal
00:13:50aquele negócio.
00:13:52Conheci o Sérgio Carline,
00:13:54o Carline,
00:13:54meu ídolo,
00:13:56estava na época
00:13:56da Ovelha Negra,
00:13:57né?
00:13:58Pô,
00:13:59parecia que eu tinha conhecido
00:14:00o Keith Richards,
00:14:01foi no Piolim,
00:14:02o cara,
00:14:02pô,
00:14:03sou amigo dele até hoje.
00:14:04Então,
00:14:05comecei a achar legal.
00:14:06O Lulu começou a me levar
00:14:08para cinema,
00:14:09comecei a ver Pasolini,
00:14:10Rock Horror Show,
00:14:12Betty Boop,
00:14:12Groucho Marx.
00:14:14Eles estudavam,
00:14:15eu pensava que era um antro
00:14:16de perdição,
00:14:17nada.
00:14:18O Lulu estudava sânscrito,
00:14:21o Luiz Paulo Simas,
00:14:22ele estudava síntese
00:14:24de eletrônica,
00:14:26lia em alemão
00:14:28e dava...
00:14:29O que você achava
00:14:30que era um antro da perdição?
00:14:31O meio artístico?
00:14:32O meio do rock?
00:14:33O Richie tinha acabado
00:14:36de estudar literatura
00:14:36em Oxford,
00:14:37então era uma banda
00:14:38muito de nerds,
00:14:39entendeu?
00:14:40Então era um clima
00:14:41de monastério.
00:14:42Qual era a sua nerdice?
00:14:44Eu estudava violão,
00:14:46aí eu tive a sorte
00:14:48do Fernando Gamas,
00:14:49o baixista,
00:14:49o maior baixista
00:14:50que eu já conheci
00:14:51e toquei.
00:14:51Ele era um tremendo
00:14:52violonista clássico também.
00:14:54Então nós fizemos
00:14:55um subgrupo
00:14:56dentro do grupo
00:14:56chamado um duo,
00:14:57né?
00:14:58Era o Duodeno.
00:14:59Então a gente tinha...
00:15:01A gente tocava
00:15:02Vila Lobos,
00:15:03aí era legal
00:15:03porque só tinha
00:15:04maluco naquela época,
00:15:05então a gente fazia
00:15:05uns shows enormes,
00:15:07né?
00:15:07Aí tinha aqueles
00:15:08solos de bateria
00:15:08de meia hora,
00:15:09aí de repente
00:15:10a gente largava
00:15:11a baqueta,
00:15:11largava os baixos,
00:15:12a gente sentava
00:15:13numa cadeira,
00:15:14só eu e o Fernando
00:15:15no show,
00:15:15no mesmo show,
00:15:16começava a tocar
00:15:17Choro,
00:15:18Vila Lobos,
00:15:19assim,
00:15:19pô,
00:15:20era um nível musical
00:15:21muito alto,
00:15:22muito alto,
00:15:23né?
00:15:24Então foi uma escola,
00:15:26aí o Richie
00:15:26virou o meu tutor,
00:15:28porque o Richie
00:15:28era casado com a Leda,
00:15:30que tá casado até hoje,
00:15:31então o Fernando
00:15:33tá casado com a Bettina
00:15:34até hoje,
00:15:34você pensa bem,
00:15:35isso foi 75,
00:15:3875, 70,
00:15:39há 50 anos atrás,
00:15:41e aí eu fui criado
00:15:42nessa rapaziada,
00:15:45e eu tive um upgrade,
00:15:47porque era...
00:15:50Todo mundo estudava muito,
00:15:51eu aprendi como lidar
00:15:52com sintetizador,
00:15:53o cara era pioneiro
00:15:54em síntese de voltagem,
00:15:56biriri, biriri,
00:15:57e aí eu tinha um cara
00:15:58que era meu companheiro,
00:15:59ao invés de eu ter
00:16:00abandonado o violão,
00:16:01eu tive muito mais acesso,
00:16:03porque eu tinha um cara
00:16:04que tocava muito mais
00:16:05que eu, inclusive,
00:16:06mais velho,
00:16:08muito mais experiente,
00:16:10muito musical,
00:16:11pô,
00:16:11incrível,
00:16:12então,
00:16:13aí comecei a fazer música
00:16:14com eles,
00:16:16e eu era o xodó
00:16:17dos caras,
00:16:17assim,
00:16:18aí que eu tive a CT
00:16:18de fã-clube,
00:16:20eu era o único cara
00:16:21da banda
00:16:21que tinha um fã-clube,
00:16:23porque eu me vestia...
00:16:23Porque você era o mais jovem,
00:16:24o mais novo.
00:16:24Eu me vestia de aqua louco,
00:16:26aí as pessoas achavam
00:16:27muito interessante,
00:16:27aquele cara maluco
00:16:28botava os óculos
00:16:29da minha mãe
00:16:29que parecia uma formiga,
00:16:30assim,
00:16:31aí as pessoas achavam
00:16:32interessante,
00:16:33eu tinha uma bateria enorme
00:16:34também,
00:16:34você falou que a sua mãe
00:16:36em algum momento
00:16:36ficou louca,
00:16:38assim,
00:16:38ela apoiou,
00:16:39quando é que ela comeu?
00:16:40Não,
00:16:40ela ficou com tanto,
00:16:41ela e meu pai
00:16:42eles ficaram com ódio,
00:16:43me expulsaram,
00:16:44me deserdaram,
00:16:45eu virei homeless,
00:16:46virei um mendigo,
00:16:47eu tinha que passar pela rua.
00:16:47É verdade que você foi expulso
00:16:48de casa?
00:16:49Como é que foi essa história?
00:16:50e meu pai me desertou,
00:16:52eu perdi toda,
00:16:53ainda bem,
00:16:54graças a Deus,
00:16:54eu perdi todos,
00:16:56qualquer tipo de casa,
00:16:58eu saí de casa,
00:16:59fui expulso,
00:17:00perdi tudo.
00:17:00Por que você foi expulso?
00:17:01Também taquei um violão
00:17:02na cabeça dele,
00:17:02quebrei um violão,
00:17:03eu tinha dois,
00:17:04então eu deixei um.
00:17:06Você escolheu
00:17:06qual que você ia quebrar?
00:17:07Escolhi.
00:17:08Uma dor foi dolorosa,
00:17:10porque os dois
00:17:10eram muito importantes para mim,
00:17:12mas eu tive que bater
00:17:13o munidor.
00:17:13Mas por que você agrediu
00:17:15o seu pai?
00:17:15Porque ele foi inconveniente,
00:17:18tá entendendo?
00:17:18Porque ele falou
00:17:20você vai sair de casa,
00:17:21não sei o que,
00:17:22e ele tinha uma oficina mecânica
00:17:23que era muito próxima
00:17:24da casa que a gente morava.
00:17:26Falei,
00:17:26tudo bem,
00:17:27eu vou sair,
00:17:28eu já tava procurando,
00:17:29pegando minhas trouxinhas,
00:17:30tava botando,
00:17:31botei os dois violões
00:17:33na minha cama,
00:17:35peguei a minha mala,
00:17:36fui botando lá,
00:17:36tava resignado
00:17:38que eu ia sair,
00:17:39tá entendendo?
00:17:40Mas isso por que?
00:17:40Porque você queria
00:17:41seguir a carreira de música
00:17:42e ele não...
00:17:43Música,
00:17:44eles queriam que eu fosse
00:17:45funcionário público,
00:17:46então houve uma colisão
00:17:47de interesse,
00:17:48porque eu não ia ser nunca
00:17:49funcionário público.
00:17:50Aí começou um cara limpinho
00:17:52e fui tomar um banho,
00:17:53porque todo mundo pensava
00:17:54que hippie é fedoreto,
00:17:54não,
00:17:55era super cheiroso
00:17:56e asseado.
00:17:57Asseado,
00:17:58aí eu tava de toalha,
00:17:59né,
00:18:00pan,
00:18:00saindo do banho,
00:18:02não sei o que,
00:18:02de repente ele ia tocar,
00:18:04saiu do trabalho dele,
00:18:05ficou me atocaindo
00:18:06na porta do meu quarto,
00:18:10você ainda está aqui?
00:18:11Eu falei,
00:18:11porra,
00:18:11cara,
00:18:12tô saindo,
00:18:14sai daí,
00:18:15cara,
00:18:15agora,
00:18:15deixa eu...
00:18:16eu sou um cara também,
00:18:17eu não queria ficar pelado,
00:18:19ó,
00:18:19você quer fazer o favor
00:18:20de sair do meu quarto,
00:18:20que eu vou tirar minha roupa?
00:18:21Ah,
00:18:22não,
00:18:22não sai não.
00:18:23Falei,
00:18:23olha,
00:18:23melhor você sair,
00:18:24cara,
00:18:24porque eu preciso trocar
00:18:26minha roupa.
00:18:27Mas quando já se viu o negócio,
00:18:29cara,
00:18:29o seguinte,
00:18:29você me expulsou de casa,
00:18:30eu tô saindo de casa,
00:18:31você quer fazer o favor
00:18:32de me facilitar a situação?
00:18:34Aí ele ficou lá,
00:18:35e aí,
00:18:35vai peitar,
00:18:36falei assim,
00:18:36que negócio é esse,
00:18:37cara?
00:18:38Eu já tava com raiva,
00:18:39né,
00:18:40e ele tava me provocando,
00:18:41falei assim,
00:18:41ó,
00:18:42se você não sair em 10 segundos,
00:18:44eu vou te enfiar um violão
00:18:46na cabeça,
00:18:47cara.
00:18:47Falei,
00:18:47ai meu Deus,
00:18:48pra que eu vou falar isso
00:18:49pro violão tão bom?
00:18:50Ameaçou.
00:18:51Ameaçou.
00:18:51Dez,
00:18:52nove,
00:18:53oito,
00:18:53sete,
00:18:53seis,
00:18:53cinco,
00:18:53quatro,
00:18:54três,
00:18:54dois,
00:18:54blá,
00:18:54blá,
00:18:54blá,
00:18:55parecia um pepe legal,
00:18:56tachei o violão na cabeça do cara,
00:18:58parecia um chicote.
00:19:02Aí eu comecei a bater,
00:19:03eu falei,
00:19:03aquela sanha assassina,
00:19:05né,
00:19:06aí comecei a bater no meu pai,
00:19:09ele começou a rolar a escada,
00:19:10eu fui batendo,
00:19:11fui batendo,
00:19:11batendo,
00:19:12caiu minha,
00:19:12quando caiu minha toalha,
00:19:13eu fiquei pela,
00:19:14falei,
00:19:14com licença,
00:19:14peguei a toalha,
00:19:15voltei novamente,
00:19:17rapidamente me troquei.
00:19:18Foi a toalha que fez você parar de bater
00:19:21porque senão você ia continuar.
00:19:23O homem podia,
00:19:24claro,
00:19:24exato.
00:19:24Não tinha mais também tanta madeira.
00:19:25Batessem agora ficar,
00:19:26ficar pela verdade.
00:19:27O material do violão já tinha se dispersado,
00:19:31a madeira já tinha se espatifado,
00:19:33eu não tinha muito o que bater,
00:19:34eu já sabia,
00:19:34não tinha mais assunto.
00:19:36Eu levantei,
00:19:37ele ficou lá no chão,
00:19:39eu saí rapidamente,
00:19:40troquei,
00:19:41botei meu tênis,
00:19:42botei meu sapato,
00:19:43pum,
00:19:43botei meu violão,
00:19:44aí fui descendo,
00:19:45ele tava lá,
00:19:46falei,
00:19:46ó,
00:19:46vou ganhar a vinda com isso,
00:19:47seu panaca.
00:19:48Porque ele,
00:19:49ele todo domingo,
00:19:51esse de 13 anos até aquela,
00:19:53todo domingo ele me levava até a praça Tiradentes,
00:19:56dizia,
00:19:56olha,
00:19:56você vai acabar assim,
00:19:57porque lá no Chafariz ficavam os músicos desempregados,
00:20:01aqueles caras com a cara.
00:20:02Ficando dinheiro.
00:20:02Aí fica aquele terror,
00:20:04assim,
00:20:04olha,
00:20:04cuidado,
00:20:05você vai acabar assim,
00:20:06e biriri.
00:20:07Então era uma pressão,
00:20:09assim,
00:20:09eu já tinha sido convidado pra tocar com o Raul Seixas,
00:20:12quando tinha 13 anos.
00:20:14Que isso?
00:20:14Aí eu não consegui.
00:20:15Com 15,
00:20:16com 14,
00:20:18eu fui convidado pra sair na turnê do Secos de Molhar,
00:20:20porque eu tocava bem em bateria.
00:20:22Os caras achavam que era um,
00:20:24pô,
00:20:24um garoto de 14,
00:20:25eu tocava bem direitinho.
00:20:27E aí,
00:20:28os caras queriam que eu tocasse,
00:20:29eu também,
00:20:29mas aí eu ficava com medo,
00:20:30também eu tinha medo de maconheiro.
00:20:32Ai,
00:20:32maconheiro,
00:20:32minha mãe me curtia esse medo,
00:20:34né?
00:20:34Ai,
00:20:34maconheiro.
00:20:36Sabe o que é?
00:20:37Naquela época,
00:20:38foi aquele assassinato da Sharon Tate,
00:20:40você lembra,
00:20:41né?
00:20:41Do Manson.
00:20:43E aí,
00:20:43minha mãe falou assim,
00:20:44isso é maconha,
00:20:45isso é maconha.
00:20:46E aí,
00:20:47quando eu vi os caras fumando maconha,
00:20:48eu falei,
00:20:48vinha os caras me esfaquear,
00:20:50eu ficava achando tudo isso,
00:20:52cara.
00:20:52Mas era uma loucura,
00:20:54porque,
00:20:54trocando em miúdos,
00:20:57a minha vida musical era tudo,
00:21:01era uma secação de pimenteira,
00:21:02porque não tinha nenhum tipo de apoio
00:21:05para que eu fizesse.
00:21:07Eu só consegui negociar,
00:21:09porque,
00:21:09defrose,
00:21:10não sei o quê.
00:21:11Então,
00:21:12aí,
00:21:12minha avó paterna
00:21:13me deu uma bateria.
00:21:15E aí,
00:21:15minha mãe
00:21:16não queria que eu jogasse bola,
00:21:18que eu não fosse pegar surf.
00:21:20Eu tinha meus amigos que foram,
00:21:21pô,
00:21:21PP,
00:21:21foi campeão mundial de surf.
00:21:22Eu nunca peguei,
00:21:23botei um pé numa prancha.
00:21:25Todo mundo ia para a praia,
00:21:26todo mundo para a praia.
00:21:27Eu ficava lá,
00:21:27tuc, tuc, tuc, tuc, tuc, tuc, tuc, tuc, tuc, tuc, tuc, tuc, tuc.
00:21:29Não tinha nada do que fazer,
00:21:30tocava seis,
00:21:30sete,
00:21:31oito horas de bateria por dia.
00:21:32Aí,
00:21:33minha mãe deixava,
00:21:33tolerava,
00:21:34mas assim,
00:21:34é hobby,
00:21:41Entendendo, fui pegando a manha, fui pegando o traqueiro.
00:21:44E quando é que cai a ficha que você fala assim, agora eu tô famoso, agora cheguei...
00:21:49Eu sempre fui famoso, apesar de não querer.
00:21:51Não, sinceramente, eu só tive medo.
00:21:52Não, mas quando é que você pode virar pro seu pai, pra sua mãe e falar assim,
00:21:56vocês estavam errados?
00:21:57Eu nunca falei isso, nem tive tempo.
00:21:59Ah, mas você não precisa falar, né?
00:22:00Não, não, pior, pior, pior.
00:22:04Não, minha mãe morreu bem antes.
00:22:06Ela chegou a ver um show que eu fiz, cena de cinema.
00:22:11Ela parecia, eu falei assim, uma mãe, por favor, porque ela era muito presepeira.
00:22:14Eu falei assim, muito exibicionista.
00:22:16Eu falei assim, olha, por favor, você fica discreta, tá entendendo?
00:22:21A gente fez, a Maria Jussac, do Circo Vador, ela era a produtora do show.
00:22:27Pô, o show super legal, com o Claudinho Infante da batera, o Tartuzinho Baia no baixo,
00:22:32Luiz Paulo do Vimano.
00:22:34E aí, eu tremendo, porque eu nunca fui...
00:22:37Guitarrista não sabia tocar guitarra, nem que sabia cantar.
00:22:40Então, aí eu falei, mãe, pelo amor de Deus, fica tranquilo, porque ela...
00:22:44Porque o que ela fazia?
00:22:45Ah, não, não é que ela cantava...
00:22:47Por exemplo, a mãe do Lulu também, que era outra pessoa extravagante,
00:22:51ela, quando a gente fazia shows no Museu de Arte Moderna,
00:22:54eu ficava pensando, imagina se minha mãe vem aqui.
00:22:57Ela chegava no final do show, um monte de maluca, caindo assim,
00:23:01daqui a pouco via aquela senhora que era igual o Lulu, só que de batom, né?
00:23:03Ela se levantava no meio assim, saiu daqui, ó!
00:23:07Gritando, falei, cara, isso é a cara da minha mãe.
00:23:09Ai, mas era tipo um orgulho, assim.
00:23:11Mas era um orgulho, assim.
00:23:11É, mas meu filho...
00:23:12Não, isso era a mãe do Lulu.
00:23:14Aí, quando eu pensei assim, pô, mas minha mãe pode chegar e dar uma dessa lá.
00:23:17E eu falei, ó, por favor, seja...
00:23:19Ela ficou ofendidíssima, aquela pessoa que ficou ofendida.
00:23:21Tá bom, deixa comigo, assim, tipo, né?
00:23:24Aí, tá, eu tô lá, tô tocando, aí daqui a pouco eu falei,
00:23:27cadê minha mãe? Não tava na primeira fila.
00:23:29Falei, porra...
00:23:29Daqui a pouco, lá na última vez, eu pensei que tivesse um abajur,
00:23:34uma coisa assim de...
00:23:35Ela botou um aplique naquela cabeça, que parecia um pavão, né?
00:23:40Parecia que tinha pisca-pisca, parecia uma árvore de Natal na cabeça.
00:23:45Falei, ai, cacete, ela foi discreta porque ela ficou lá no fundo, né?
00:23:49Mas ficou parecendo uma coisa feérica.
00:23:52Falei, fiquei bem quieto.
00:23:53Falei, bom, tomara que ela não se manifeste, né?
00:23:56Aí não se manifestou.
00:23:57Aí, no final, bem ofendida ainda, porque botei ela no lugar dela, né?
00:24:01Agora eu posso morrer.
00:24:02Aí morreu, logo em seguida.
00:24:04Como é que foi a morte dela?
00:24:05Você matou.
00:24:07Matou por minha causa, inclusive.
00:24:09Meu pai também se matou.
00:24:10É...
00:24:11Mas aí não foi por minha causa.
00:24:12Não sei exatamente do que que era.
00:24:14Mas vocês têm essa mania de se matar.
00:24:16Minha mãe também se matou.
00:24:17Você conta que...
00:24:19Você conta que a sua mãe, ela teve alguns episódios de avisar que se mataria.
00:24:26Não, ela tinha.
00:24:27Te chamava, né?
00:24:28Ela tinha uma discussão.
00:24:29Antigamente se chamava...
00:24:31Maníaco, depressivo, uma coisa...
00:24:35Hoje é bipolar.
00:24:37Ela tinha um distúrbio.
00:24:38Que ela ficava eufórica.
00:24:41Ela ficava super deprimida.
00:24:42Ela era muito inteligente.
00:24:44Ela era muito exagerada.
00:24:45Eu devo muito à minha mãe.
00:24:47Tanto que também eu devo ao meu pai.
00:24:48A gente teve uma...
00:24:49A gente teve uma relação muito, muito esquisita.
00:24:53Mas eu era muito próximo da minha mãe.
00:24:54Eu cuidava.
00:24:55Eu dava passe.
00:24:55Fui espírita.
00:24:56Porque era médium.
00:24:57Eu dava passe porque ela...
00:24:59Ela tinha uma situação...
00:25:00Aí minha avó materna morreu.
00:25:02Ela não se dava com a minha avó.
00:25:04Aí ela incorporou a minha avó.
00:25:05Aí ela ficou com 70 e tanto trevada.
00:25:08Ela está aqui.
00:25:10Aí eu ia lá.
00:25:11Dava uns passes com batata.
00:25:13Você disse que foi espírita.
00:25:14Você não é mais?
00:25:16Naquela época eu era um espírita praticante.
00:25:19Eu fazia...
00:25:20Psicografava.
00:25:21Eu era Allan Kardec com total.
00:25:23Agora não.
00:25:24Eu sou mais...
00:25:25Eu não tenho mais...
00:25:28Eu não sou espírita, né?
00:25:29Mas eu tenho uma relação transcendental com as coisas.
00:25:33Você se considera médium?
00:25:34Mas eu cuidei muito...
00:25:35Você se considera médium?
00:25:37Eu não sei.
00:25:37Porque, por exemplo,
00:25:38eu tive uma epilepsia meio espiritual.
00:25:41Porque é o seguinte...
00:25:44Quando eu fiquei...
00:25:44Quando eu ganhei a alta lá da nefrose...
00:25:47Eu falei...
00:25:47Oba!
00:25:47Agora eu estava na puberdade.
00:25:48Já começaram a nascer um buço, né?
00:25:51Estava com 12 anos.
00:25:52Eu falei...
00:25:52Pô, estou livre, hein?
00:25:53É, é.
00:25:54Que legal.
00:25:54Aí eu comecei...
00:25:55Eu estava lendo um livro...
00:25:56Eu estava lendo uns livros.
00:25:57Eu estava lendo um monte de livros.
00:25:59Eu estava lendo um livro do cara...
00:26:00Um dos caras que descobriram o DNA,
00:26:02que era o Jacques Monod,
00:26:03que era o Acaso e a Necessidade.
00:26:04E estava lendo um livro do Nietzsche,
00:26:06que era Além do Bem e do Mal.
00:26:08E era cambono de um centro de Macumba,
00:26:12lá na Marquês de Olinda.
00:26:15Eu era uma cambono do Exu, Tranca Rua.
00:26:17Sei.
00:26:18Eu ficava lá...
00:26:19Isso aqui é cambono, né?
00:26:21Sei.
00:26:21O cambono ficava lá...
00:26:22É o translator.
00:26:23Isso.
00:26:23Translator Tabajara.
00:26:25Eu quero ficar...
00:26:25É para explicar para quem não segue aqui.
00:26:28Aí o cara...
00:26:28Marafo, não.
00:26:29O cara quer uma cachaça,
00:26:30um copo de...
00:26:31Isso.
00:26:31É quem faz assistência, né?
00:26:33É aquela entidade que está atendendo...
00:26:34Ele quer o charuto.
00:26:35Aí você vai lá...
00:26:36E dá o charuto.
00:26:37Aí faz a tradução...
00:26:38Quando ele fala coisa que não dá para entender.
00:26:40É.
00:26:41Eu fazia ponte, né?
00:26:43Eu era um homem cambono.
00:26:45Eu adorava fazer aquilo.
00:26:46Eu fazia um monte de coisa.
00:26:48Naquela sexta-feira,
00:26:49eu ia para a Marquês de Olinda.
00:26:49Nas terças,
00:26:51tinha o centro Ramatiz.
00:26:53Era o centro oriental.
00:26:54E aí tinha um outro de materialização,
00:26:56que era lá no Engenho de Dentro,
00:26:58que era o centro do Walt Disney.
00:26:59Tinha a sala do Walt Disney.
00:27:00Eu adorava Walt Disney.
00:27:01E aí o cara recebeu o Walt Disney.
00:27:03O povo ficava todo...
00:27:05Assim, desgraçado, né?
00:27:07Mas nessa daí que eu era cambono,
00:27:10tranca a rua, né?
00:27:10Tranca a rua, brother, tranca a rua...
00:27:12Aí, de repente,
00:27:13num dia daquela gira,
00:27:15baixou, não o tranca a rua,
00:27:17baixou uma entidade que eu fiquei fascinado
00:27:19e meio amedrontado.
00:27:20Porque a mulher era uma mulher.
00:27:22Se virou toda assim.
00:27:24Aí, eu pedi uma arafa,
00:27:26aí eu dei para ela.
00:27:27Ela bem jogou a garrafa no...
00:27:30Quebrou, né?
00:27:32Aí pegou assim,
00:27:32começou a moer na mão.
00:27:34Eu falei, porra...
00:27:35Aí com o meu ouvido.
00:27:36Eu falei, ih, rapaz.
00:27:38Aí eu falei, e aí, ó?
00:27:39Como é que é?
00:27:40Quem é?
00:27:40Aí a pessoa falou,
00:27:41não fala, não, é o Caveira.
00:27:43Ele não fala.
00:27:45Aí ele...
00:27:45Falei, porra, mas você conta.
00:27:49Com raiva, né?
00:27:52Aí o cara estava lá.
00:27:54Não, esse é o dono do cemitério.
00:27:56Esse é o dono, não sei o quê.
00:27:57Eu fiquei com aquela fascinação pelo Caveira.
00:28:00E eu fiquei com aquela coisa.
00:28:01Toda semana agora ele baixava lá.
00:28:04E eu fiquei com uma ligação com esse Caveira.
00:28:06Eu pensei assim,
00:28:07esse rapaz, ele precisa de um carinho.
00:28:09Porque as pessoas ficam usufruindo,
00:28:12utilizando ele.
00:28:15Ah, quero um serviço.
00:28:16Quero matar fulano.
00:28:17Quero...
00:28:18E eu falei assim,
00:28:19como eu estava lendo o bem do mal,
00:28:21eu falei assim,
00:28:22vou albergá-lo no meu quarto.
00:28:25Aí eu transformei o meu ar-condicionado
00:28:28West House no púlpito.
00:28:31Botei umas velhinhas.
00:28:33E eu via muito o cassete.
00:28:36E eu gravava no cassete
00:28:37umas fitas do Pink Floyd
00:28:40que eu tinha medo.
00:28:41Promovia o meu próprio trem fantasma.
00:28:43Eu fazia uns fantasmas.
00:28:44Eu botava umas caveiras.
00:28:46E eu ficava...
00:28:47Fingia que não tinha visto
00:28:48para levar susto.
00:28:48Ah, que susto.
00:28:50Eu ficava assim.
00:28:51E ia ficar...
00:28:53Aí eu botei aquilo
00:28:54para fazer um medo, né?
00:28:56O Pink Floyd.
00:28:58Ficou lá aquilo.
00:28:59E eu fiquei lá ajoelhado,
00:29:01invocando o Caveira.
00:29:02Pô, Caveira, você pode vir aqui.
00:29:04Você é meu brother.
00:29:05Não vou te encher o saco.
00:29:07Você podia ficar descansando aqui
00:29:08porque você...
00:29:09Você gira atribulado.
00:29:10Você bebe muito.
00:29:11Come muito vidro.
00:29:13Você pode ficar aqui.
00:29:14Eu vou ser seu amigo.
00:29:15Eu vou te tratar com amor,
00:29:16com carinho.
00:29:17Por favor, fica aqui.
00:29:18Não, eu comecei.
00:29:19E ele veio?
00:29:20Você começou a incorporar?
00:29:21Eu tive...
00:29:21Não, não sei se eu incorporar.
00:29:22Essa que é a grande dúvida.
00:29:25Eu tive um piripaque.
00:29:26Vamos e vermos.
00:29:27Um piripaque que,
00:29:28tecnicamente,
00:29:29ninguém sabia o que era.
00:29:30Aí eu caí e me estrebuchei.
00:29:32Quando eu acordei,
00:29:34estava tudo despedaçado no meu quarto.
00:29:37As cortinas estavam rasgadas.
00:29:39A cadeira estava despedaçada.
00:29:41Tinha um álcool pringue.
00:29:42Ele estava rasgado.
00:29:44Todas as cavetas estavam jogadas.
00:29:47Eu falei,
00:29:48pô, eu não caí apenas.
00:29:50O meu Pink Floyd virou uma passaroca.
00:29:53A fita saiu do cassete.
00:29:57O cassete jogado no chão.
00:30:00Destruição total.
00:30:02E eu acordei enjoado.
00:30:04Eu falei assim, porra.
00:30:04Aí eu falei,
00:30:06com vontade de vomitar.
00:30:08Aí eu abri a porta.
00:30:10Falei, pô, mãe, aí.
00:30:12Pô, mãe, pô.
00:30:13Aí ela falou, o que foi?
00:30:14Eu falei, você não ouviu nada.
00:30:16Ela falou, eu ouviu um barulhão.
00:30:17Eu falei, por que você não foi ver?
00:30:18Pô, porque você faz barulho o tempo todo.
00:30:20Aí eu falei, tá bom.
00:30:21Aí ela, quando viu,
00:30:23ela ficou assustadíssima, né.
00:30:25Aí me levou para um neurologista.
00:30:27Fui fazer um eletrocefalogram.
00:30:29Aí deu um monte de coisa
00:30:30que ninguém sabia.
00:30:31Aí o cara falou, esse cara parece um avestruz.
00:30:34Ele cresceu muito.
00:30:35O cérebro ficou pequenininho.
00:30:36Ele começou a ter digitimia, disfunção.
00:30:39Ninguém sabia se era crescimento.
00:30:41Outro falava que era digitimia.
00:30:42Outro falava que era epilepsia.
00:30:43Outro falava...
00:30:44Só sei de uma coisa.
00:30:45Quando eu falava no caveira...
00:30:47Eu achou o caveira.
00:30:47Pum.
00:30:48Aí eu caía e...
00:30:49Quando acordava, estava tudo quieto.
00:30:51Aí eu estava no meu sítio tomando um café.
00:30:53A minha mãe, não fale caveira.
00:30:54Eu estava com...
00:30:55Aí eu falei, caveira.
00:30:56Pum.
00:30:56Caiu quase que meu saco.
00:30:58Aí eu falei, ai, caralho.
00:31:00Pum, caveira ficou com o caveira.
00:31:02Aí eu fiquei muito amigo do caveira.
00:31:04Olha só que loucura.
00:31:06Eu tinha 12 anos, né?
00:31:08Fiquei com essa onda, não sei o quê.
00:31:09Pô, passou esse tempo.
00:31:10Eu já estava com 24 anos, 12 anos depois.
00:31:13É que eu fiquei pensando assim.
00:31:14Eu continuei tendo essas crises até 35 anos.
00:31:17Depois eu ganhei alta.
00:31:19Um médico me curou com uma lanterna, assim,
00:31:21fazendo lanternoterapia.
00:31:24Mas as crises eram só quando você estava invocando as entidades?
00:31:27Não, depois não, depois não.
00:31:29Realmente um diagnóstico clínico de...
00:31:31Não, ninguém tinha.
00:31:32O diagnóstico nunca foi explicado.
00:31:35Nunca houve um diagnóstico claro.
00:31:36Mas eu comecei a tomar Comital L, Rivotril.
00:31:39Tomo um monte de remédios.
00:31:41Mas, às vezes, eu ficava me testando.
00:31:43Ah, eu não vou tomar, não.
00:31:45Aí eu passava dois, três dias.
00:31:47Tinha uma crise, né?
00:31:49Bom, tudo bem.
00:31:50Quando chegou, com 24 anos, eu estava prestes a lançar Me Chama.
00:31:56Pois bem.
00:31:57Aí eu fui numa mulher que jogava búzios.
00:32:01Aí ela chegou e mandou assim.
00:32:02Ih, rapaz.
00:32:03Eu tinha acabado um relacionamento muito conturbado.
00:32:06Aí ela jogou búzios e falou assim.
00:32:08Ih, aí, ó.
00:32:10Fizeram um ebó pra você pesado aí.
00:32:14Fizeram um ebó pra você morrer, rapaz.
00:32:16Aí eu falei, puxa, que loucura.
00:32:18É, mas você tem um cara muito forte ali no cemitério
00:32:22que não permitiu entrar.
00:32:23Eu falei, o Caveira disse que é teu amigo.
00:32:26Doze anos depois, com outra pessoa.
00:32:30Aí ele falou assim, ó.
00:32:31Ele está negociando que era o Zé Pilintra.
00:32:33O Pilintra que foi mandado pra te matar,
00:32:36mas o Caveira não deixou.
00:32:38Só que você tem que matar 32 galinhas, 2 bólios.
00:32:40Eu tive que matar pessoalmente, né?
00:32:44Mas eu me desculpa.
00:32:45Sim.
00:32:46Resolveu?
00:32:47Bom, estou aqui, né?
00:32:49Estou aqui.
00:32:49Mas aí, eu convivo com o Caveira.
00:32:53Vira e mexe.
00:32:54Inclusive, tem as minhas guias.
00:32:56As minhas guias estão aí.
00:32:57E eu...
00:32:58Vira e mexe, eu tenho um sinal do Caveira.
00:33:00Alguém vem me dizer.
00:33:01Alguma pessoa que vem do desconhecido.
00:33:03Então, é um vínculo que se formou
00:33:05e que eu prezo muito.
00:33:08E aí chegaram...
00:33:09Chegou com 35 anos,
00:33:13apareceu o doutor Federico Navarro,
00:33:15italiano, médico.
00:33:17Eu fui...
00:33:17Aí ele falou, olha, você tem isso?
00:33:19Eu contei todo o caso.
00:33:20Ele falou, eu dou seis meses,
00:33:22eu vou fazer uma vegetoterapia,
00:33:26que é uma coisa com lanterna pra corrigir.
00:33:28Como se fosse alinhamento de ereção,
00:33:30é um alinhamento de córnea.
00:33:31E você tem um desalinhamento de córnea,
00:33:34porque ele vinculava o alinhamento de córnea
00:33:36com o seio materno.
00:33:37Quando você é bem amamentado,
00:33:38você não tem...
00:33:39Você não foi muito bem amamentado,
00:33:41tinha uns olhos assim.
00:33:42Aí ele deu uma alinhada nos meus olhos.
00:33:44E nunca mais eu tive...
00:33:46A partir de então, nunca mais eu tive
00:33:48de reduzir o gemério,
00:33:49tirou tudo.
00:33:50Desde então, nunca mais tive nada.
00:33:52Eu tava falando pra você
00:33:53que eu ficaria aqui seis horas
00:33:55conversando com vocês
00:33:55de tanta história boa.
00:33:57Mas eu quero vir...
00:33:58Da onde a gente vinha?
00:33:59A gente começou falando da sua mãe.
00:34:00E entramos no assunto espiritualidade.
00:34:03E eu queria só dividir os dois assuntos
00:34:06e voltar na história da sua mãe.
00:34:08Então, o que aconteceu?
00:34:11E eu te perguntei, né?
00:34:12Você conta que ela recorria a você
00:34:15em alguns momentos,
00:34:16quando ela tava em crise.
00:34:17E que em algum dos chamados
00:34:19onde ela disse,
00:34:19ah, vou me matar,
00:34:21quando você não foi,
00:34:21de fato, ela se matou.
00:34:24É essa a história?
00:34:25É mais ou menos.
00:34:27Olha, a família da minha mãe
00:34:29era uma família muito histriônica.
00:34:31E todos eram...
00:34:32Eram muito exagerados
00:34:34e não sei o quê.
00:34:35Minha mãe era uma pessoa
00:34:36muito especial.
00:34:38E ela foi uma pessoa
00:34:40muito decisiva na minha vida.
00:34:43Tanto...
00:34:44Ela era uma excelente professora
00:34:46e ela era uma pessoa
00:34:47que falava um monte de línguas
00:34:50e ela me ensinou etibologia,
00:34:53a escrever,
00:34:54os livros que ela tinha,
00:34:56fui eu que herdei.
00:34:58E ela...
00:34:58Você é filho único?
00:34:59Não.
00:34:59Ela tinha minha irmã.
00:35:01Depois, quando...
00:35:02Agora, eu acabei tendo
00:35:04uns cinco irmãos extras,
00:35:05plus.
00:35:06Depois foram aparecendo.
00:35:08Inclusive, tinha uma irmã
00:35:09bem mais velha do que eu,
00:35:10que eu só fui conhecer
00:35:11há uns três anos atrás.
00:35:14Filhos do seu pai?
00:35:15Uma filha do meu pai
00:35:16que era primogênita
00:35:17que eu não sabia.
00:35:18Imagina só.
00:35:19Depois, ele teve um outro filho,
00:35:20mas dois filhos
00:35:21depois do casamento.
00:35:22Mas essa minha irmã,
00:35:24ela foi criada comigo.
00:35:26A gente era muito próximo.
00:35:27Muito assim, tipo...
00:35:28Teve uma época
00:35:29que a gente parecia irmão gêmeo
00:35:30porque a diferença
00:35:31de um ano e dez meses
00:35:32é muito pouco.
00:35:33Então, a gente era muito ligado,
00:35:35eu e minha irmã.
00:35:36Mas minha irmã...
00:35:37Minha mãe era...
00:35:38Ela era...
00:35:39Quando a minha irmã
00:35:40ficou mocinha,
00:35:42ela começou a competir
00:35:43com a minha irmã
00:35:44foi uma coisa horrível,
00:35:45uma situação...
00:35:46A sua mãe e a sua irmã
00:35:47começaram a competir?
00:35:48Minha irmã foi meio vítima
00:35:49da minha mãe
00:35:50que começou a...
00:35:54Tirava o shampoo,
00:35:55não deixava ela se depilar,
00:35:58era uma loucura,
00:35:59uma loucura mesmo.
00:36:00Aí ela teve que sair de casa,
00:36:01ela foi morar com a minha avó,
00:36:03foi morar com a minha tia,
00:36:04ficou de casa em casa
00:36:06e ela foi tendo
00:36:07muitos problemas sérios
00:36:10e foi acumulando
00:36:11esse problema sério
00:36:12e se tornou uma pessoa
00:36:12muito, muito problemática
00:36:14por causa disso,
00:36:15minha irmã.
00:36:16E depois ela desapareceu,
00:36:19foi morar na Holanda
00:36:21e nunca mais voltou.
00:36:23E a sua mãe chegou
00:36:23a fazer algum tratamento
00:36:25psiquiátrico
00:36:26ou ter algum acompanhamento
00:36:27para cuidar da saúde mental?
00:36:29Não, não.
00:36:29Porque naquela época...
00:36:30Na época nem se falava, né?
00:36:31A pessoa era de veneta,
00:36:33assim,
00:36:33pô, essa bala
00:36:33também é malucão,
00:36:34não tinha isso, sabe?
00:36:35Mas depois é que a gente
00:36:38foi averiguar
00:36:39que ela tinha
00:36:40surtos, assim,
00:36:43de euforia
00:36:44e depois depressão
00:36:45e ela era muito...
00:36:48Tinha um vínculo emocional
00:36:50terrível com a mãe.
00:36:52Ela nutria sentimentos
00:36:54muito fortes,
00:36:55ela era muito intensa, né?
00:36:57E depois com essa coisa
00:36:59de ser super protetora,
00:37:00ela pegou um vínculo
00:37:01ou a dependência emocional
00:37:03de mim
00:37:04e depois quando se separou
00:37:06do meu pai,
00:37:06ela ficou muito vulnerável,
00:37:08ela virou uma professora,
00:37:09excelente professora
00:37:10de inglês
00:37:10no curso do Brasas,
00:37:13mas aí ficou
00:37:14namorando um,
00:37:14namorou do outro,
00:37:15aí ela se rejuvenesceu
00:37:17e começou a malhar,
00:37:19ficou bonitona.
00:37:21Ela falou,
00:37:21não quero passar dos 40...
00:37:22Eu não queria passar
00:37:23dos 50 anos
00:37:24e tinha isso na cabeça,
00:37:25não sei o quê.
00:37:26E o fato é que
00:37:27depois que
00:37:28eles se separaram,
00:37:30toda hora
00:37:31ela tentou
00:37:32umas 16 vezes
00:37:33se matar
00:37:34e eu
00:37:34é que chamava ambulância,
00:37:37lavar estomacal,
00:37:38piriri, piriri,
00:37:38e aí eu...
00:37:40E virou aquilo,
00:37:40virou uma moeda,
00:37:42virou uma moeda
00:37:43de negociação
00:37:44mórbida, né?
00:37:45E eu comecei a ficar
00:37:46falando,
00:37:46olha, cara,
00:37:47você não pode fazer
00:37:48isso comigo,
00:37:48porque
00:37:48cada vez que isso acontece
00:37:51o mundo vai cair,
00:37:52cara,
00:37:52e aí era uma moeda,
00:37:53viu,
00:37:54você me deixa aqui
00:37:55sozinho,
00:37:55e aí aquilo
00:37:57foi me deixando...
00:37:59Ela se aprisionava
00:38:00de alguma forma
00:38:01com essa doença.
00:38:02Não,
00:38:02era uma negociação,
00:38:03assim,
00:38:03olha,
00:38:03eu falei pra ela,
00:38:04esse tipo de relação
00:38:05é inconcebível,
00:38:06cara,
00:38:07você não pode fazer isso,
00:38:08você não pode fazer isso
00:38:09com ninguém,
00:38:10né?
00:38:11E aí chegou um dia
00:38:13que eu não aguentei mais,
00:38:14eu falei assim,
00:38:14olha, cara,
00:38:15você vai morrer,
00:38:16você não vai fazer isso,
00:38:17ela deixou uma carta,
00:38:18olha,
00:38:18você não tem vindo,
00:38:19eu não tava indo
00:38:20lá na casa dela,
00:38:21porque eu não podia,
00:38:21eu tava soberbado
00:38:22com alguma coisa
00:38:23pra fazer,
00:38:23porque eu sempre
00:38:24tratava dela,
00:38:25cuidava dela,
00:38:26eu sabia que ela
00:38:26tava numa situação
00:38:27difícil, sabe?
00:38:28Eu era amigo dela,
00:38:29eu era confidente dela,
00:38:31eu sabia dos problemas
00:38:32que ela tinha,
00:38:33mas chegou um dia
00:38:34que eu não aguentei,
00:38:35eu falei assim,
00:38:35olha, cara,
00:38:36você não vai fazer
00:38:36mais isso,
00:38:38eu não vou deixar
00:38:38você fazer isso,
00:38:39porque a energia
00:38:40não pode perpetuar
00:38:41uma relação desse tipo,
00:38:42ou você toma jeito,
00:38:43ou você vai morrer,
00:38:44cara,
00:38:45porque eu não vou
00:38:45fazer mais isso,
00:38:46não porque eu não queira
00:38:48te cuidar,
00:38:50mas você tem que saber
00:38:51que isso não pode
00:38:52acontecer,
00:38:53cara.
00:38:53Ela se ofendeu,
00:38:55ela era extremamente
00:38:56cardíaca,
00:38:57deixou de tomar,
00:38:58exordiu,
00:38:58uma coisa assim,
00:38:59e no mesmo dia
00:39:00ela foi dar uma aula
00:39:01e à noite,
00:39:03e às dez da noite,
00:39:05dez da noite
00:39:06ela no meio
00:39:07da aula morreu,
00:39:08mas ela tinha escrito
00:39:09uma carta,
00:39:10já tinha feito
00:39:11todo o circo,
00:39:12todo pronto,
00:39:13né?
00:39:14Você hoje
00:39:15vive em paz
00:39:17com essa história?
00:39:18Já está...
00:39:19E foi muito duro
00:39:20durante um tempo
00:39:22como eu,
00:39:23poxa,
00:39:24quando eu fui no interno,
00:39:24a sala toda me olhando,
00:39:26ah,
00:39:26e eu fui,
00:39:28eu tive que procurar
00:39:29muito auxílio
00:39:31psiquiátrico,
00:39:32psicanalítico,
00:39:34e muita...
00:39:34Faz terapia?
00:39:35Já fiz,
00:39:36já ganhei alta,
00:39:37né?
00:39:37Já estou...
00:39:38A alta da terapia?
00:39:39Ganhei alta,
00:39:40como é que faz
00:39:40para ter alta da terapia?
00:39:42Você se tornar
00:39:42um espírito iluminado.
00:39:44Você se tornou
00:39:44um espírito iluminado,
00:39:45você e a Chu Caveira
00:39:47estão ali já
00:39:48numa falange
00:39:48evoluidíssima.
00:39:50Isso,
00:39:50exatamente,
00:39:51mas é verdade.
00:39:51É verdade mesmo?
00:39:52É alta mesmo.
00:39:54Muito bom.
00:39:54Acabou o assunto,
00:39:55sabe assim,
00:39:56tipo,
00:39:56bom,
00:39:57vamos então,
00:39:58vamos inventar o quê?
00:40:00Mas é verdade,
00:40:01porque eu também,
00:40:02eu sou um cara
00:40:03que eu aprendi,
00:40:04eu sou muito obsessivo
00:40:06nas minhas coisas
00:40:07e eu sei de uma forma
00:40:09ou de outra
00:40:09que eu sou razoável
00:40:11dentro de tudo,
00:40:13dentro dos paroxismos
00:40:14da minha vida
00:40:15e eu aprendi
00:40:16aos trancos
00:40:18e barrancos
00:40:19a prosperar
00:40:21nas adversidades.
00:40:21então toda vez
00:40:23que eu pinto um barraco
00:40:24eu saio melhor.
00:40:25Por exemplo?
00:40:26Morreu minha mãe,
00:40:27eu passei uns 10 anos
00:40:29tentando me matar,
00:40:31mas quando eu resolvi
00:40:33a equação
00:40:33eu virei uma pessoa
00:40:35bem melhor.
00:40:36Como?
00:40:38É,
00:40:39entendendo mais a vida,
00:40:40entendendo mais
00:40:41como as coisas funcionam,
00:40:43me tornando uma pessoa
00:40:44mais calma,
00:40:46mais feliz.
00:40:49Eu fui ficando
00:40:49muito feliz.
00:40:50a idade
00:40:52e a aproximação
00:40:53de animais,
00:40:54evidentemente.
00:40:55Os animais são
00:40:55as coisas que mais
00:40:56me fizeram,
00:40:59principalmente
00:40:59a última etapa agora
00:41:01que foram os gatos
00:41:02a partir de 2000.
00:41:04Em 2004
00:41:04a gente começou
00:41:05a ter o gato
00:41:07a Maria Bonita
00:41:08e Lampião.
00:41:10Foi justamente
00:41:10nesse momento
00:41:12que eu acho
00:41:12que eu adquiri
00:41:13uma iluminação
00:41:14búdica,
00:41:15por quê?
00:41:16Foi ali que eu percebi
00:41:17que a felicidade
00:41:19não é
00:41:20uma coisa
00:41:20que está
00:41:21além
00:41:21ou fora
00:41:22de você.
00:41:23A felicidade
00:41:24é uma coisa
00:41:24que você
00:41:25ou você
00:41:25vive aquilo
00:41:26ou é um
00:41:26aqui e agora.
00:41:28E
00:41:28eu comecei
00:41:31a ter
00:41:32uma relação
00:41:32tão profunda
00:41:34com ela.
00:41:35Aí depois
00:41:35veio a Dalila,
00:41:36uma gata preta
00:41:37que ia virar tamborim
00:41:38no carnaval.
00:41:39Está aí até hoje,
00:41:40está com 22 anos.
00:41:42E a gente,
00:41:43ela veio por causa
00:41:43de...
00:41:44Agora,
00:41:44a Maria morreu
00:41:45em abril
00:41:46de 2022
00:41:48e o Lampião
00:41:50morreu em agosto
00:41:51de 2016,
00:41:53mas com 16 anos.
00:41:54Todos viveram
00:41:55muito tempo
00:41:55e agora
00:41:56o outro
00:41:57leva de gatos
00:41:57e eu sempre
00:41:59tive galinhas.
00:42:00Eu,
00:42:01quando era criança,
00:42:01tinha um planeta
00:42:02de galinhas,
00:42:03eu tinha bichos,
00:42:04eu sempre tinha
00:42:06uma comunicação.
00:42:08Tudo que eu não
00:42:09conseguia me comunicar
00:42:10com as pessoas,
00:42:10eu tinha um...
00:42:11Eu cacarejava,
00:42:12as cerdinhas vinham,
00:42:13todas ficavam
00:42:14em cima de mim.
00:42:15Galinhas
00:42:16eram apaixonadas
00:42:17por mim,
00:42:17os cachorros também.
00:42:19Então,
00:42:19eu tinha uma relação
00:42:20muito grande
00:42:20com animais.
00:42:21E foi justamente
00:42:22através de dois gatos
00:42:23que eu tive
00:42:25o sentido da vida,
00:42:26vamos dizer assim,
00:42:27né?
00:42:27Porque eu comecei
00:42:29a entender
00:42:30como é que
00:42:31as coisas simples
00:42:32da vida
00:42:33são as coisas
00:42:34que te preenchem,
00:42:36entendeu?
00:42:37E aí...
00:42:37As coisas simples
00:42:39da vida,
00:42:39por exemplo,
00:42:40eu acordo de manhã,
00:42:41minha mulher fala assim,
00:42:43a mulher sempre acorda
00:42:44um pouco mais mal-humorada,
00:42:45eu acordo eufórico
00:42:47todo santo dia,
00:42:48tralá lá,
00:42:49ela fala,
00:42:49sua felicidade
00:42:50é insuportável,
00:42:51você tem uma felicidade
00:42:52insuportável.
00:42:52Você agora
00:42:53entrou para o time
00:42:54da felicidade tóxica?
00:42:56Não,
00:42:56porque eu sempre
00:42:57fui assim,
00:42:59sempre fui assim,
00:43:00por quê?
00:43:00Porque eu sou o Cicerone
00:43:02do meu parque
00:43:03de diversões
00:43:03interior.
00:43:06Por quê?
00:43:07Porque durante a noite
00:43:08eu falo assim,
00:43:09amanhã,
00:43:10amanhã eu vou fazer o seguinte,
00:43:11amanhã eu vou caminhar,
00:43:12depois eu vou fazer
00:43:13uma música,
00:43:14eu vou juntar
00:43:14uma coisa com a outra.
00:43:15Aí quando eu acordo de manhã
00:43:16parece que é Natal
00:43:17para mim,
00:43:18porque eu tenho um monte
00:43:19de coisas que eu
00:43:19me programei para fazer.
00:43:21Aí eu falo,
00:43:21oba,
00:43:22aí eu acordo,
00:43:23aí a Regina fica,
00:43:24como você está?
00:43:26Eu saio,
00:43:27eba,
00:43:28eu não consigo dormir
00:43:29muito tempo,
00:43:29porque eu fico
00:43:30muito com vontade
00:43:31de acordar,
00:43:32porque eu tenho
00:43:32coisas incríveis
00:43:34para fazer,
00:43:34entendeu?
00:43:35As coisas que eu faço
00:43:36são muito exageradas.
00:43:38Eu falei,
00:43:38pô,
00:43:39eu adoro o que eu faço,
00:43:40sabe?
00:43:41Eu adoro as coisas
00:43:41que eu faço.
00:43:42Adora viver.
00:43:42Aí eu vou lá
00:43:43e limpo a caixa
00:43:44dos meus gatos,
00:43:45aí dou comida
00:43:46para eles,
00:43:46aí às vezes acendo,
00:43:47agora estou acendo a lareira,
00:43:48está mais frio,
00:43:49e vou acendo a lareira,
00:43:50tudo muito meticulosamente,
00:43:51aí vou para o meu jardim,
00:43:54aí dou beijoca
00:43:55nas minhas árvores,
00:43:56nas minhas plantas,
00:43:57aí eu tenho um estado
00:43:58de epifania total,
00:44:00entendeu?
00:44:01Então,
00:44:01eu sou uma pessoa,
00:44:02às vezes,
00:44:02desagradavelmente chata,
00:44:04porque eu sou muito feliz,
00:44:07eu sou muito feliz.
00:44:08Lobão,
00:44:09quando você começou
00:44:11a ficar famoso,
00:44:12o contexto da fama
00:44:13era muito diferente
00:44:13do que é hoje,
00:44:14hoje a gente tem internet,
00:44:15rede social,
00:44:17você,
00:44:18como é que é a sua interação
00:44:19com esse mundo
00:44:20e com esse feedback
00:44:22agora tão próximo
00:44:23de fãs,
00:44:24pessoas que acompanham
00:44:25a carreira
00:44:26e haters,
00:44:27que o tempo todo
00:44:28a gente está tendo
00:44:29que lidar,
00:44:29você com a sua felicidade toda,
00:44:31como é que é a sua relação
00:44:33com a internet?
00:44:33Essa relação é humana,
00:44:37tá entendendo?
00:44:38Eu fui um dos pioneiros
00:44:39da internet,
00:44:40eu fui o primeiro
00:44:40a ter site,
00:44:41fui o primeiro
00:44:41a fazer todas as coisas
00:44:42da internet,
00:44:43eu conheço bem a internet,
00:44:46mas eu acho,
00:44:47sabe,
00:44:47que eu recebia muito bullying
00:44:50quando era criança,
00:44:51era muito esquisito,
00:44:52né?
00:44:52Então,
00:44:53esses caras me davam
00:44:54nescau,
00:44:54me davam cascudo,
00:44:56porra,
00:44:57as meninas me odiavam,
00:44:58as meninas me desprezavam,
00:45:00sabe aqueles,
00:45:01eu tinha uma festinha,
00:45:02aí eu sabia que ninguém,
00:45:04eu não conseguia dançar
00:45:05com ninguém,
00:45:06eu levava a minha bateria
00:45:06com uma barricada,
00:45:07ficava do lado da vitrola,
00:45:08aí tinha no final das festas,
00:45:12tinha pera, uva,
00:45:12maçã, salada mista,
00:45:13que não sei se tem aqui
00:45:14em São Paulo,
00:45:15que é um beijinho,
00:45:17ou um aperto de mão,
00:45:18aí fica uma filhinha
00:45:19dos garotos,
00:45:20aí as meninas,
00:45:20salada mista comigo,
00:45:22eu não queria nem um salada,
00:45:23nada,
00:45:24eu não conseguia
00:45:24nem uma maçã,
00:45:26nem uma casca de banana,
00:45:30então era assim,
00:45:31essa coisa do hater,
00:45:34para fazer um paralelo,
00:45:36eu tenho uma coisa
00:45:37que desperta
00:45:37uma ojeriza nas pessoas,
00:45:41que eu acho muito engraçado,
00:45:42hoje em dia eu me divirto,
00:45:43eu comecei a adquirir anticorpos
00:45:46em relação a essa expectativa negativa.
00:45:48Vamos testar esses anticorpos,
00:45:50eu vou chamar o meu quadro
00:45:51Toma que o Hater é seu,
00:45:53e nesse quadro,
00:45:54a gente separou alguns Hates,
00:45:56eu vou ler eles para você,
00:45:57você tem a oportunidade
00:45:58de dar risada,
00:45:59responder,
00:46:00a gente vê o que a gente
00:46:01quer fazer com isso,
00:46:02tem ali,
00:46:03vamos lá,
00:46:05aspas,
00:46:06se não for polêmico,
00:46:08cai no ostracismo,
00:46:09produziu muita coisa boa
00:46:10nos anos 80,
00:46:11e agora é zero criatividade.
00:46:13Eu só posso agradecer
00:46:15por achar que eu ainda
00:46:16produziu alguma coisa
00:46:17boa nos anos 80,
00:46:19porque justamente
00:46:20os anos que eu estava ensaiando,
00:46:23ensaiando para ser alguma coisa,
00:46:26eu não sabia fazer nada
00:46:27naquela época.
00:46:28Agora essa coisa
00:46:29de achar
00:46:30que eu faço coisas,
00:46:32marquete,
00:46:34por exemplo,
00:46:34quando eu fui preso,
00:46:36tinham pessoas
00:46:37que achavam
00:46:38que eu comprei a polícia
00:46:39para poder fazer,
00:46:42porque eu não tinha
00:46:42condição nenhuma
00:46:43de chamar atenção.
00:46:45O problema
00:46:45é que eu chamo atenção
00:46:48de qualquer jeito.
00:46:49Como é que faz?
00:46:49Eu não promovo nada, não.
00:46:51Eu sempre chamo atenção,
00:46:54e não é,
00:46:54não gosto disso, não,
00:46:57mas é que eu sou
00:46:58uma pessoa magnética.
00:47:00O que eu posso fazer
00:47:01se eu sou maravilhoso?
00:47:02Eu sou maravilhoso.
00:47:03É isso mesmo.
00:47:04E as pessoas ficam achando
00:47:05que eu compro,
00:47:06que eu faço,
00:47:07é que eu sou brilhante mesmo.
00:47:09Rubão, como é que foi
00:47:10essa sua experiência na cadeia?
00:47:11Você foi preso
00:47:12por porte de drogas?
00:47:13Eu virei o xerife da cadeia,
00:47:15virei o síndico da cadeia,
00:47:17virei mascote
00:47:17do Comando Vermelho.
00:47:18É verdade que você
00:47:19virou o mascote
00:47:20do Comando Vermelho?
00:47:21Sim.
00:47:21Por quê?
00:47:21E dava aulas
00:47:22de estrutura,
00:47:24estratégia,
00:47:25ia para os morros,
00:47:26explicar,
00:47:27inclusive tem um morro
00:47:28que é da Operação Mosaico,
00:47:30porque eles estavam
00:47:30com ciúmes,
00:47:31porque eu morava
00:47:32em São Corrado,
00:47:33e geralmente eu ia
00:47:34para a Barreira do Vasco,
00:47:35para o Tuiuti,
00:47:36ia para a Mangueira,
00:47:37lá para a Zona Norte
00:47:38do Rio de Janeiro.
00:47:40Ia fazer sambadinho.
00:47:41De mão,
00:47:42foi mó barato.
00:47:43Aí, rapaz,
00:47:45um cara da Mangueira,
00:47:46que eram os garotos,
00:47:47eram tudo muito garotos,
00:47:48o Naldo,
00:47:49tinha uns traficantes
00:47:50da Mangueira,
00:47:50era o Naldo e o Buzunga.
00:47:52E aí o cara falou,
00:47:53porra, cara,
00:47:54aí você mora aqui do lado,
00:47:56você não pode visitar a gente,
00:47:57eu sempre ia visitar
00:47:58as pessoas.
00:47:59Aí eu fui visitar
00:48:00o Naldo e o Buzunga
00:48:00uma semana antes
00:48:02de ocorrer um massacre
00:48:03que houve chamada
00:48:03Operação Mosaico.
00:48:05Eu cheguei lá,
00:48:06eu cheguei lá
00:48:07na Rocinha,
00:48:09aí o cara estava
00:48:10com a submetralhadora
00:48:11usa, assim,
00:48:12aí começou,
00:48:14aí essa é minha
00:48:16guitarra elétrica.
00:48:17Eu falei,
00:48:17você escuta aqui,
00:48:19saiba do seguinte,
00:48:21a sua profissão
00:48:22exige mais
00:48:23circunspecção e discreção,
00:48:24a minha não.
00:48:25A diferença é essa,
00:48:26eu tenho que fazer
00:48:27alarde,
00:48:27você não,
00:48:28você tem que ficar
00:48:28na sua, rapaz.
00:48:30Você é procurado
00:48:30pela polícia.
00:48:31Aí eu comecei a dar,
00:48:32escuta aqui,
00:48:34nós estamos aqui
00:48:34no meio de um vale,
00:48:36você está aqui
00:48:37no beco sem saída,
00:48:38você tem uma entrada
00:48:39aqui e outra entrada
00:48:40lá.
00:48:40Comecei até o general
00:48:41vão se fuder,
00:48:42vai ser,
00:48:42olha aqui,
00:48:43você pode ser
00:48:44encurralado aqui,
00:48:46se for um comando
00:48:46policial entrar aqui,
00:48:47aqui,
00:48:48você vai aqui,
00:48:48vai entrar lá,
00:48:49você vai ser dizimado,
00:48:50meu amigo.
00:48:51Foi exatamente
00:48:53o que ocorreu
00:48:53uma semana seguinte.
00:48:55Foram todos
00:48:56massacrados
00:48:57exatamente pela falha
00:48:58logística
00:48:59em que eles se localizavam.
00:49:01e eu,
00:49:02eu tinha aula de tiro,
00:49:04pô,
00:49:04a hora de tiro,
00:49:04o Tenente Paulinho
00:49:05que era da polícia militar
00:49:07contratado pelo Comando Vermelho
00:49:09para me dar aula de tiro.
00:49:10Dentro da cadeia?
00:49:11Todas as...
00:49:11Não,
00:49:12fora,
00:49:12depois.
00:49:13Eu já era,
00:49:14já fazia parte do...
00:49:15Ganhei carteirinha
00:49:17do Detran,
00:49:19eu comprei uma Mercedes Benz,
00:49:21daí mostrei para os caras,
00:49:23escolhi uma Mercedes,
00:49:25falou,
00:49:25pô,
00:49:25e aí você tem carteira?
00:49:26Eu falei,
00:49:26não,
00:49:27nunca tinha tirado carteira.
00:49:29Aí falou,
00:49:30peraí,
00:49:30vamos ver.
00:49:30Uma semana depois
00:49:32o cara me trouxe
00:49:32uma carteira do Detran,
00:49:34eu dirigi até caminhão,
00:49:35jamanta,
00:49:36tudo.
00:49:37Que loucura.
00:49:37Falei,
00:49:37pô,
00:49:38mas que legal essa carteira,
00:49:39eu pensei que era fria,
00:49:40né?
00:49:41Dez anos depois,
00:49:42eu pensei,
00:49:42pô,
00:49:42acho que está na hora
00:49:43de eu tirar a carteira.
00:49:45Eu fui para Los Angeles,
00:49:46botei a carteira lá em Los Angeles,
00:49:48está tudo certo,
00:49:49morei lá,
00:49:49oito meses com a carteira,
00:49:51tudo certo.
00:49:52Falei,
00:49:52essa carteira bem feita,
00:49:54né?
00:49:55Quando eu fui no Detran
00:49:56fazer um psicotécnico,
00:49:57se eu for me inscrever resignadamente,
00:49:59não é para fazer a tal da carteira,
00:50:01aí o cara,
00:50:01eu falei,
00:50:02olha,
00:50:03qual é o seu nome?
00:50:04Eu falei,
00:50:04olha,
00:50:05estou com essa carteira aqui,
00:50:07essa carteira,
00:50:07ele olhou,
00:50:08a carteira é válida,
00:50:09você não precisa fazer
00:50:10essa nenhuma carteira quente.
00:50:12Lobão,
00:50:14vou,
00:50:15não tem como
00:50:15eu não te perguntar
00:50:17qual é a tua posição
00:50:20em relação ao que está acontecendo
00:50:21no Rio de Janeiro agora.
00:50:24Bom,
00:50:24eu fiz uma música
00:50:25chamada
00:50:25do Samba da Caixa Preta,
00:50:27que,
00:50:28quando o Tom Jobim morreu,
00:50:29que eu fiz o Samba do Avião,
00:50:31eu falei,
00:50:31só sobrou a Caixa Preta do Avião,
00:50:33eu fiz o Samba da Caixa Preta.
00:50:34Então,
00:50:35eu acho o seguinte,
00:50:35como eu convivi lá dentro,
00:50:37perfeito,
00:50:37eu conheço
00:50:38todas aquelas entranhas
00:50:40e
00:50:41tive a intimidade
00:50:43de contra-argumentar
00:50:45com um monte de gente,
00:50:46porque a gente sabe,
00:50:47cara,
00:50:47as pessoas têm que entender
00:50:48que quando você entra
00:50:50num morro,
00:50:51num morro,
00:50:51quando eu digo assim,
00:50:52na zona de comando
00:50:53de facção,
00:50:55você está numa outra zona
00:50:57cultural,
00:50:59é outro código.
00:51:01Por exemplo,
00:51:02você vai cheirar cocaína
00:51:03com todo mundo,
00:51:04aí você está com um prato,
00:51:05com um papel lá,
00:51:06você só pode,
00:51:08a sua namorada
00:51:09quiser cheirar só você
00:51:10que dá para namorar,
00:51:11porque ninguém pode
00:51:12dar para namorar,
00:51:12porque é um código,
00:51:13é um código social
00:51:15de conduta.
00:51:17E isso se espraia
00:51:18para todos os tipos
00:51:20de moralidade
00:51:21que você não vai entender,
00:51:24é outro código moral
00:51:25do que é ser homossexual,
00:51:28o que não é ser homossexual,
00:51:29o que é sexo,
00:51:30tudo é diferente,
00:51:32tudo é muito diferente.
00:51:34O que é homem é homem,
00:51:35mulher,
00:51:36tudo é uma outra
00:51:37universo.
00:51:39E,
00:51:40ao mesmo tempo,
00:51:41eu cheguei assim,
00:51:42eu vi que muita gente,
00:51:44bandido,
00:51:45porria mais
00:51:45dando batida
00:51:49de carro,
00:51:50porque ninguém
00:51:50ficava doidão,
00:51:51pega o carro,
00:51:52e eu falei,
00:51:52se escuta aqui,
00:51:54os caras da polícia,
00:51:56você sobrevive a um tiroteio,
00:51:57aí toma uma,
00:51:58cheira a outra,
00:51:59dá um catranco no carro,
00:52:02morre,
00:52:03morria um monte de gente assim.
00:52:04E eu então consegui
00:52:05contemporizar e contra-argumentar
00:52:08muita coisa com eles,
00:52:10né,
00:52:10tipo assim,
00:52:11cara,
00:52:11isso não é legal,
00:52:12você acha que pode,
00:52:13porque o cara acha que pode
00:52:14uma série de coisas,
00:52:15e a outra coisa,
00:52:17você vai ficando mal,
00:52:19porque a maldade,
00:52:22toda maldade
00:52:23é filha da desatenção,
00:52:25e a desatenção
00:52:26é justamente você começar
00:52:27a não relevar
00:52:28determinadas coisas,
00:52:29ah,
00:52:29mas isso aqui não,
00:52:30mas isso aqui daqui a pouco
00:52:31você está mal pra caramba,
00:52:32você não sabe porquê,
00:52:33né,
00:52:34então essas coisas,
00:52:35que ocorrem,
00:52:37por exemplo,
00:52:38pô,
00:52:38eu já vi,
00:52:39cara,
00:52:39eu vi o cara cortando
00:52:40uma pessoa em pedaços,
00:52:41deslacerando uma pessoa
00:52:43na minha frente,
00:52:44com o cara na minha metralhadora
00:52:45cortando o cara ao meio,
00:52:47eu vi o cara sendo jogado
00:52:48dentro de uma trituradora
00:52:49de lixo ao vivo,
00:52:52eu vi coisas muito graves,
00:52:54tá entendendo,
00:52:55e aí eu falava assim,
00:52:56cara,
00:52:56você é mal,
00:52:57falar pro cara,
00:52:59sabe,
00:52:59isso não é bacana,
00:53:00mas não adianta,
00:53:01não adianta,
00:53:02né,
00:53:03então a pessoa vai ficando mal,
00:53:05aí a pessoa acha que tem uma,
00:53:07um salvo conduto divino,
00:53:08porque se eu sou,
00:53:09pô,
00:53:10o mundo é muito ruim lá fora,
00:53:11não,
00:53:12um erro não justifica o outro,
00:53:13entendeu,
00:53:14então o que acontece,
00:53:16o Rio de Janeiro,
00:53:18talvez é o maior centro,
00:53:20historicamente falando,
00:53:21escravocrata do planeta,
00:53:24o Laurentino Gomes tem uma série
00:53:26de livros sobre escravidão,
00:53:28que todos deveriam ler,
00:53:30e você,
00:53:31o porto do Rio de Janeiro,
00:53:31foi o porto que mais traficou
00:53:33escravos em toda a história
00:53:34da humanidade,
00:53:35foram mais de milhões de escravos,
00:53:37foram os que morreram
00:53:39durante o trajeto,
00:53:41então o que acontece no Rio,
00:53:42é fruto ainda,
00:53:45de uma sociedade impregnada,
00:53:46talvez mais do que Minas,
00:53:49mais do que a Bahia,
00:53:50mais do que São Paulo,
00:53:52por quê?
00:53:52Lá foi a capital do reino,
00:53:55do Brasil,
00:53:55o reino do Brasil império,
00:53:57e o centro de toda a triagem de escravos,
00:54:01que entrava no Brasil através do porto,
00:54:02talvez em Salvador também,
00:54:04mas no Rio,
00:54:05e isso cristalizou toda uma sociedade,
00:54:10todo um jeito de ser,
00:54:12também a corte,
00:54:14a invasão francesa,
00:54:16tudo isso deu a característica ao carioca,
00:54:19determinados traços de caráter,
00:54:22e também geograficamente,
00:54:27você tem os morros,
00:54:28e que você fica com uma convivência
00:54:32absolutamente surreal
00:54:35entre o asfalto
00:54:38e a pobreza extrema do morro,
00:54:42e agora um contraste,
00:54:43porque aí você tem os grandes traficantes
00:54:45que você vai no morro,
00:54:46o cara tem moto,
00:54:47tem jaguar,
00:54:49você vai na casa do cara,
00:54:52parece um motel de cinco estrelas,
00:54:54então os contrastes são muito grandes,
00:54:56e aí o que acontece,
00:54:58você tem uma sociedade
00:54:59culpada com a coisa da escravatura,
00:55:03aí você tem uma dicotomia
00:55:05dentro da sociedade que é o seguinte,
00:55:07ah, mas eles merecem piedade,
00:55:11aí você tem uma indulgência
00:55:14num setor que não deveria ter,
00:55:18e você em vez de ter uma aproximação real
00:55:21de toda a sociedade
00:55:22se tornar uma coisa só,
00:55:24e não tornar um outro universo,
00:55:25no universo esquizofrênico da cidade,
00:55:28de você ter um senso de urbanização,
00:55:30de inclusão,
00:55:31de vamos urbanizar a cidade,
00:55:33porque assim,
00:55:34ah não,
00:55:34aí transformam a favela,
00:55:37a comunidade,
00:55:39que não tem esgoto,
00:55:40que não tem,
00:55:41que tem um monte de gato,
00:55:42como se fosse uma atração turística,
00:55:44aí você tem uma coisa humilhante lá no Rio,
00:55:46que tem os caminhões de safári,
00:55:48sabe safári lá da África,
00:55:50para ver elefante,
00:55:52hipopótamo,
00:55:53e vão um monte de gringo,
00:55:54para as comunidades assistir,
00:55:57a beleza,
00:55:59a beleza,
00:56:01o exotique,
00:56:03das comunidades carentes,
00:56:07então isso é uma deformação,
00:56:09isso vai...
00:56:10sobre essa situação agora...
00:56:13Mas isso explodiu por causa de tudo isso.
00:56:15Exato,
00:56:15concordo com você e entendo o contexto,
00:56:18mas como é que você vê
00:56:20a forma como o governo do Rio de Janeiro
00:56:23está tentando sanar aí,
00:56:26eventualmente,
00:56:27esse problema do Comando Vermelho
00:56:29ser um poder paralelo,
00:56:30que ameaça a soberania do Estado,
00:56:35no momento em que,
00:56:37enfim,
00:56:37está lá,
00:56:38é eles que cuidam da distribuição de água,
00:56:42de luz...
00:56:43Não,
00:56:43não cuida nada,
00:56:44não cuida nada,
00:56:46é tudo mentira,
00:56:47tem um traficante aqui que paga um fogão,
00:56:50mas não é nada disso,
00:56:51é tudo mentira,
00:56:52sabe,
00:56:52é caô,
00:56:53como diria lá mesmo.
00:56:54Eu conheço a parada,
00:56:55o negócio é o seguinte,
00:56:57pelo que me consta,
00:56:58os caras conseguiram fazer uma estratégia,
00:57:01tipo assim,
00:57:01o cara vai entrar,
00:57:03os caras vão ter que matar os caras,
00:57:05está entendendo?
00:57:05porque é matar ou morrer,
00:57:08e pelo que me consta,
00:57:09só conseguiram pegar os traficantes,
00:57:12não pensei que tivesse criança,
00:57:15não,
00:57:15pelo visto a operação nesse caso,
00:57:18entre aspas,
00:57:20na medida do possível,
00:57:21eles conseguiram só,
00:57:23eles pegaram,
00:57:24encurralaram a bandidagem toda
00:57:26e mataram um monte de gente,
00:57:27agora,
00:57:28como mataram,
00:57:28executaram,
00:57:29tem gente que foi decapitada,
00:57:30eu não sei,
00:57:31cara,
00:57:31sabe,
00:57:32agora a violência é tamanha,
00:57:33porque é o seguinte,
00:57:34a violência é de ambos os lados,
00:57:37a gente fala,
00:57:37porque aí a gente não pode chegar e dizer,
00:57:38ah, tadinho,
00:57:39porque o traficante é mal pra caralho,
00:57:41tem gente que bota a gente no ácido,
00:57:42queima os caras no pneu,
00:57:44sabe,
00:57:44decapita também,
00:57:45capa ou bota o peru na boca dos caras,
00:57:47pô,
00:57:47é uma loucura,
00:57:49eu já vi isso,
00:57:50né,
00:57:50então você não pode dizer
00:57:51quem é mais bonitinho,
00:57:53quem é mais bonzinho,
00:57:54e quem está certo,
00:57:54quem está errado,
00:57:55é uma cumplicidade,
00:57:57de que,
00:57:59na verdade,
00:57:59na verdade,
00:58:00é o seguinte,
00:58:01se você pega um táxi no Rio de Janeiro,
00:58:0399% do cara,
00:58:06ele vai dizer assim,
00:58:06cara,
00:58:07pô,
00:58:08olha só,
00:58:08está cheio de bala aqui,
00:58:09ó,
00:58:09e o cara todo orgulhoso,
00:58:11pô,
00:58:11para ali na Vire,
00:58:12só pra quem é bicho homem,
00:58:14rapá,
00:58:15porque aí eu para,
00:58:16e pô,
00:58:16aí todo mundo tem que se esconder,
00:58:18leva o tiro,
00:58:19pô,
00:58:19inclusive,
00:58:20ó,
00:58:21se fosse pra votar no fulano de tal do Comando Vermelho,
00:58:24eu vou votar lá pro presidente,
00:58:25porque o cara sabe,
00:58:26isso é um papo recorrente,
00:58:28é um papo recorrente no Rio,
00:58:31eu morei num lugar,
00:58:32morei em vários lugares no Rio de Janeiro,
00:58:34e um tinha milícia,
00:58:36né,
00:58:36o outro tinha,
00:58:37na Barão da Torre,
00:58:38em Paneba,
00:58:39era no supermercado,
00:58:40os caras vinham com um rajado,
00:58:42e as pessoas sabem o que faziam,
00:58:44abaixavam candidamente,
00:58:46e depois levantavam e continuavam,
00:58:47então existe uma cumplicidade,
00:58:49não uma cumplicidade somente,
00:58:51um envaidecimento,
00:58:53dessa coisa absurda,
00:58:55que é essa guerra civil,
00:58:58que já existe e perpetua por muitos anos,
00:59:02eu saí de lá por isso,
00:59:03saí de lá em 2008,
00:59:04falei, ó,
00:59:04chega,
00:59:05isso não tem solução,
00:59:06entendeu?
00:59:07Porque é uma cumplicidade,
00:59:08todo mundo gosta daquilo.
00:59:11Só pra gente não se perder no quadro,
00:59:13eu vou ler mais um,
00:59:14mais um hit aqui pra você.
00:59:16Aspas,
00:59:16se tivesse cérebro ainda,
00:59:18mas as drogas consumiram todos os neurônios.
00:59:22Pois é,
00:59:23o que eu vou fazer, né,
00:59:24isso foi o que sobrou de mim,
00:59:26mas eu,
00:59:27mesmo sem neurônio nenhum,
00:59:28eu consigo ainda,
00:59:30é,
00:59:31ter um bom check-up,
00:59:33né,
00:59:34eu tô,
00:59:34não tenho uma cárie,
00:59:36é,
00:59:36acabei de fazer um check-up,
00:59:37eu estou com o meu testosterona em dia.
00:59:39Você tá ótimo.
00:59:39Estou totalmente em dia.
00:59:41Você ainda usa droga?
00:59:42Não,
00:59:43não uso desde 91.
00:59:45Eu parei de,
00:59:46de,
00:59:46de,
00:59:47de,
00:59:47de qualquer tipo de droga ilícita,
00:59:49né,
00:59:50em 1991.
00:59:51É verdade essa história
00:59:52de que você usava droga
00:59:53em cima de caixão
00:59:54de alguns parentes?
00:59:55Não, não, não.
00:59:55Peraí.
00:59:56Não.
00:59:57Olha só.
00:59:57Eu começo o livro,
00:59:59eu decidi,
01:00:00no enterro do Júlio Barroso,
01:00:02que ele estava,
01:00:04por circunstâncias da própria morte dele,
01:00:06com o caixão,
01:00:07tinha um vidro,
01:00:08porque ele tava,
01:00:09teve que tapar o caixão,
01:00:11ele já tava enfadado,
01:00:12eu e Cazuza,
01:00:13né,
01:00:13não tinha mais ninguém,
01:00:15tá entendendo?
01:00:16Começa o meu livro,
01:00:17comece o meu livro assim.
01:00:18Não tinha mais ninguém,
01:00:19tava conversando cinco horas,
01:00:20conversando,
01:00:20pior coisa,
01:00:22para quem tá virado,
01:00:23é o pio de um passagem,
01:00:24parinho,
01:00:24né,
01:00:24você tá ali,
01:00:25pio, pio, pio,
01:00:25eu falei,
01:00:25puta que pariu,
01:00:26vai começar o dia,
01:00:28é horrível, né,
01:00:29aí eu falei,
01:00:30pô, Cazuza,
01:00:30cacete aí,
01:00:32aí o Ezequiel Neves,
01:00:33nosso filho Ezequiel,
01:00:34ele tava chorando,
01:00:35ai,
01:00:35foi pro banheiro,
01:00:36não tinha mais ninguém,
01:00:37no velório,
01:00:38só tava uns nós lá,
01:00:39eu falei,
01:00:39você sabe de uma coisa,
01:00:40Cazuza,
01:00:41pô, cara,
01:00:42eu tenho que precisar acordar,
01:00:43vamos fazer uma homenagem ao Júlio aqui,
01:00:46aí bati uma lagarta aqui,
01:00:47bati uma assim,
01:00:48aí cheirei uma assim,
01:00:49aí cheirei pra ele,
01:00:49a gente ficava lá chorando,
01:00:51cheirando,
01:00:51cheirando,
01:00:51porque foi uma despedida,
01:00:54coisa de maluco, né,
01:00:55eu achei interessante,
01:00:56cinematográfico,
01:00:57eu achei interessante começar o livro
01:00:59com essa cena,
01:01:00mas só foi isso,
01:01:01eu não tenho essa mania
01:01:02de ficar cheirando no caixão das pessoas,
01:01:05ainda não peguei essa mania.
01:01:07Lobão,
01:01:07você fala,
01:01:10fez uma brincadeira,
01:01:11que você,
01:01:12por ser baterista,
01:01:13é ambidestro,
01:01:14é,
01:01:15e isso você falou dentro de um contexto político,
01:01:18e a gente sabe que você já teve momentos,
01:01:22né,
01:01:23onde você esteve mais orientado à esquerda e à direita,
01:01:25como é que você se posiciona politicamente atualmente?
01:01:28Eu,
01:01:28pra começar,
01:01:29eu detesto,
01:01:30sempre detestei política,
01:01:32sempre,
01:01:33pra você ter uma ideia,
01:01:35em 1984,
01:01:3685,
01:01:37eu me lembro,
01:01:37eu tava tancafiado no quarto,
01:01:40eu ficava lá,
01:01:41não tava exatamente lendo livros,
01:01:43mas eu tava numa situação bem bukovsica,
01:01:44assim,
01:01:45né,
01:01:45tava lá,
01:01:46paraná,
01:01:46pipipi,
01:01:46popopó,
01:01:47e aí,
01:01:48cara,
01:01:49eu tava namorando a neta do Tancredo Neves,
01:01:51eu não sabia,
01:01:52e aí eu soube da morte do Tancredo,
01:01:55pelo jornal Planeta Diário,
01:01:56Cacete do Planeta,
01:01:57porque aí tinha uma chata assim,
01:01:59Dona Risoleta parte para a carreira solo,
01:02:03aí eu falei,
01:02:03quem é a Risoleta?
01:02:04Era a mulher do Tancredo,
01:02:07aí entendeu a piada,
01:02:08que legal,
01:02:09a Dona Risoleta,
01:02:10eu falei,
01:02:10quem é a Risoleta?
01:02:11Aí ela falou,
01:02:11é minha avó,
01:02:13falei,
01:02:13e você?
01:02:14Tancredo,
01:02:15quem é o Tancredo?
01:02:16Eu não sabia quem era o Tancredo,
01:02:18I never heard,
01:02:19então era assim,
01:02:20então o que acontece,
01:02:21quando,
01:02:23no final de 89,
01:02:25vieram me perguntar,
01:02:27eu tava falando com o Chico Anísio,
01:02:28eu tava fugindo do Brasil,
01:02:30eu tinha que fugir do Brasil,
01:02:30porque eu fui condenado,
01:02:31eu tinha que fugir e fugir,
01:02:33e tive que passar,
01:02:34passei uns oito meses fora,
01:02:35e eu fiz o último programa com o Chico Anísio,
01:02:37e o Chico Anísio,
01:02:39ficou muito meu amigo,
01:02:40brother,
01:02:41e aí ele falou,
01:02:41não,
01:02:41ele era Collor,
01:02:43aí ele me apresentou o Collor,
01:02:45eu achei o Collor,
01:02:45o cocô do cavalo do bandido,
01:02:47ele me apresentou,
01:02:48por quê?
01:02:48Porque ele,
01:02:49não sei,
01:02:49eu achei,
01:02:50não me simpatizei,
01:02:51não conhecia,
01:02:51não bateu o santo,
01:02:52não bateu o santo,
01:02:53ele falou,
01:02:53olha,
01:02:53tudo bem,
01:02:54isso aqui é o caçador de Marajás,
01:02:56ele me falou,
01:02:57eu ia embora,
01:02:58gostando do Chico,
01:02:59eu era sempre desconfiado com o político,
01:03:00eu não gostei de político,
01:03:01falei,
01:03:02eu fui embora,
01:03:03mas eu fiquei com aquele cara na cabeça,
01:03:04que eu não,
01:03:05quando eu voltei,
01:03:08muito engraçado,
01:03:09eu voltei dos Estados Unidos,
01:03:10está no meio da eleição,
01:03:12pá,
01:03:12campanha eleitoral,
01:03:13eu dei um mogafe,
01:03:14cara,
01:03:15comecei assim,
01:03:17aí,
01:03:18uma mulher do Brasil me telefonou,
01:03:20eu estava vendo assim,
01:03:21aí vinha um cara,
01:03:22Roberto Freire,
01:03:23eu tinha um cara que eu lia muito,
01:03:25Roberto Freire,
01:03:26sem tesão na solução,
01:03:27psicanalista,
01:03:29olha só,
01:03:30aí o cara,
01:03:30ela telefonou,
01:03:31eu falei,
01:03:31não sei quem é,
01:03:33eu não conheço,
01:03:34não sei quem eu vou botar,
01:03:35não sei o que,
01:03:36mas dá o nome,
01:03:38eu falei assim,
01:03:38me dá aí a lista,
01:03:39o cardápio de gente,
01:03:40quando ela falou Roberto Freire,
01:03:41eu falei assim,
01:03:42pô,
01:03:42Roberto Freire vai ser,
01:03:44vai se candidatar,
01:03:45vou votar no Roberto Freire,
01:03:47aí ela falou pro Roberto Freire,
01:03:49que eu era fã do Roberto Freire,
01:03:51que eu queria encontrar com o Roberto Freire,
01:03:53aí elas promoveram o encontro com o Roberto,
01:03:55era outro Roberto,
01:03:56claro,
01:03:57era outro Roberto,
01:03:58aí eu fiquei muito amigo desse Roberto Freire,
01:04:00e ele era do Partido Comunista,
01:04:03e aí eu fiquei amigo dele,
01:04:05do João Amazonas,
01:04:06fiquei amigo,
01:04:07o outro,
01:04:07como é que era o nome dele,
01:04:08ele foi combatente de guerra,
01:04:10foi amigo do meu tio,
01:04:11que era herói de guerra,
01:04:12aí eu peguei avião,
01:04:13jatinho,
01:04:14aí fui passear com ele,
01:04:15fazia todos aqueles péripos pelo Brasil inteiro,
01:04:18fiquei muito amigo do Roberto Freire,
01:04:21ele não ganhou as eleições,
01:04:22evidentemente,
01:04:23quando eu fui pro segundo turno,
01:04:25o pessoal do PT veio falar comigo,
01:04:27eu não tinha a menor simpatia pro Lula,
01:04:28mas eu me lembrei daquele cara,
01:04:30que era o Collor,
01:04:31aí eu falei,
01:04:33porra,
01:04:33então tá bom,
01:04:34vou,
01:04:35mas eu sou aquele cara assim,
01:04:37apesar de não ter a menor ligação,
01:04:39quando eu visto a camisa,
01:04:40eu visto,
01:04:40então tá,
01:04:41eu vou feito um bode cego,
01:04:43eu vou direto,
01:04:45assim,
01:04:45tá bom,
01:04:45vou vestir isso,
01:04:46vamos nessa,
01:04:47até eu cometei um crime eleitoral,
01:04:49na Rede Globo e Televisão,
01:04:50no dia da eleição,
01:04:51parecia aquele tarado da capa,
01:04:54né,
01:04:54só eu abri,
01:04:57no meio do dia da eleição,
01:04:58abri assim,
01:04:58Lula,
01:04:59aí o Fausto,
01:05:01que é meu amigo pessoal,
01:05:03ele foi chegando pro,
01:05:05o Lobo,
01:05:07vai sair do ar,
01:05:09vai sair do ar,
01:05:10eu falei,
01:05:10foda-se,
01:05:12aí assim,
01:05:12não sei o que,
01:05:13e meu pai trabalhava,
01:05:15ele consertava os carros do Roberto Marinho,
01:05:17disse meu pai depois,
01:05:19que o doutor Roberto Marinho,
01:05:20telefona pra ele,
01:05:21João Luiz,
01:05:22uma fleuga,
01:05:23uma incrível,
01:05:23escuta aqui,
01:05:26seu filho,
01:05:27quase me fechou a emissora,
01:05:30deu um prejuízo de não sei quantos milhões,
01:05:33eu quero só avisar o seguinte,
01:05:36continuo muito amigo de você,
01:05:38mas eu quero avisar que seu filho,
01:05:40não entra na minha emissora,
01:05:41nem do lado do Paul Macar,
01:05:43aí eu fiquei 11 anos indexado na Globo,
01:05:47até voltar pro Faustão,
01:05:49e vender,
01:05:49foi em 99,
01:05:50e vender 100 mil cópias,
01:05:52em banca de jornal,
01:05:53com meu disco numerado.
01:05:54Mas de Lula no peito,
01:05:55você teve super bolsonarista,
01:05:57e eu ainda quero saber como é que você se posiciona hoje.
01:06:00Mas da mesma forma que aconteceu com o Lula,
01:06:03aí o que aconteceu?
01:06:04Em 2002,
01:06:05eu voltei a subscrever,
01:06:07fui até lá o comitê do PT,
01:06:10a vibração tava tão louca,
01:06:11quando apertei a mão do Lula,
01:06:14acabou a luz.
01:06:16Aí a primeira coisa que eu perguntei,
01:06:18eu falei,
01:06:18escuta aqui,
01:06:19eu tenho ouvido que a Coreia do Sul
01:06:20tá batendo um bolão em cientista,
01:06:23eu não quero nada pra músico não,
01:06:24o que você vai fazer de educação?
01:06:26Vai transformar o brasileiro em cientista
01:06:28pra ganhar prêmio Nobel?
01:06:29Vai ser isso, companheiro?
01:06:30Não, não, não, não, não sei o que.
01:06:31Falei,
01:06:32então eu vou votar em você
01:06:33por essa bandeira da educação.
01:06:35Tá.
01:06:36Aí vai,
01:06:37começou o governo dele,
01:06:39aí começaram a vir
01:06:42expulcar as coisas,
01:06:43esses escândalos,
01:06:44barulá barulá barulá.
01:06:45Você se frustrou?
01:06:47Eu fui ficando pau da vida.
01:06:49Passaram dois anos,
01:06:50mas eu fui ficando,
01:06:50porque eu fiquei muito amigo das pessoas,
01:06:53do Greenhalgh,
01:06:53do Genuíno,
01:06:54eu era amigo da gente sair.
01:06:56O Greenhalgh era meu advogado pessoal,
01:06:58eu era amigo do núcleo duro do PT,
01:06:59entendeu?
01:07:00E do MST,
01:07:01eu fazia campanhas
01:07:03com o pessoal do MST,
01:07:05e fiquei amigo deles também.
01:07:06Então,
01:07:08eu me envolvi,
01:07:09assim,
01:07:09diretamente com eles.
01:07:11Aí comecei a falar,
01:07:12não, não, não,
01:07:13assim, não, não.
01:07:13Aí chegou um dia,
01:07:14o aniversário do Genuíno.
01:07:16A minha querida amiga Heloísa Helena,
01:07:18que também sou signatário do PSOL,
01:07:19assim,
01:07:20aí,
01:07:21sabe o que eu fiz?
01:07:22Eu falei assim,
01:07:23eu vou fazer um rito
01:07:25de ruptura com o PT,
01:07:28mas quero fazer numa nice,
01:07:30uma legal.
01:07:30Aí eu peguei,
01:07:31eu fui numa pate-pabelaria,
01:07:33comprei umas tintinhas
01:07:34brilhosas,
01:07:36aí fiz uma camiseta,
01:07:39botei,
01:07:40tinha 100% rara sapura,
01:07:41você lembra como tinha isso?
01:07:42Eu botei 100% friendly fire,
01:07:46100% fogo amigo.
01:07:47Aí eu botei a camisa
01:07:48e fui junto com a Heloísa Helena,
01:07:50eu falei,
01:07:50vamos lá,
01:07:51porque a Heloísa Helena
01:07:52também estava saindo do PT.
01:07:54Aí fui lá,
01:07:56falei pro Genuíno,
01:07:57falei,
01:07:57ó,
01:07:57tô saindo,
01:07:58isso tá vindo numa bagunça,
01:08:00sabe,
01:08:00vocês estão fazendo
01:08:01uma coisa que eu não consigo botar,
01:08:04a coisa da Lei Rouanet,
01:08:06pô,
01:08:07tava uma festa,
01:08:08artistas consagrados
01:08:09tirando dinheiro
01:08:10dos artistas
01:08:11que estavam precisando.
01:08:12Sabe de uma coisa?
01:08:13Eu falei,
01:08:13sabe de uma coisa?
01:08:14Tá uma bagunça,
01:08:15eu não tô aí,
01:08:16fechei.
01:08:17Mas assim,
01:08:17o Genuíno é um cara
01:08:18que sempre foi um cara democrata,
01:08:20somos,
01:08:21meu cordial adversário,
01:08:23aquela coisa.
01:08:24Cara,
01:08:24eles começaram a me perseguir,
01:08:26perseguir,
01:08:27e perseguir.
01:08:28Quando eu lancei meu livro,
01:08:30eles contrataram um psiquiatra
01:08:31pra mostrar que eu era demente,
01:08:33que eu era maluco,
01:08:34não sei o quê.
01:08:35Eu falei,
01:08:35pô,
01:08:35esses caras começaram a me cutucar,
01:08:37começaram a ficar pau da vida.
01:08:39E aí,
01:08:40cara,
01:08:41eu me decidi,
01:08:41falei assim,
01:08:41eu vou derrubar esses caras,
01:08:43vou derrubar esses caras,
01:08:44vou derrubar.
01:08:46E aí,
01:08:46pronto,
01:08:47ideia fixa,
01:08:49derrubar esses caras
01:08:49até derrubar,
01:08:50derrubei.
01:08:51Aí,
01:08:51quando veio o Bolsonaro,
01:08:52eu falei,
01:08:53vou virar Bolsonaro,
01:08:53porque,
01:08:54pô,
01:08:54vou derrubar os caras,
01:08:55vou pegar essa carona.
01:08:57E fui lá,
01:08:57e pim,
01:08:57pim,
01:08:58pim,
01:08:58uma semana depois que ele estava eleito,
01:09:00eu estava atacando o Bolsonaro.
01:09:03Porque eu,
01:09:03eu sou,
01:09:04eu não estou nem aí,
01:09:05porque eu não tenho time de futebol,
01:09:07eu não tenho partido político,
01:09:09eu não me atenho a nada,
01:09:11eu não tenho turma,
01:09:13eu não tenho bloco,
01:09:14eu não tenho pátria,
01:09:16eu não tenho,
01:09:17eu sou completamente desterritorializado.
01:09:19O que você tem?
01:09:20Eu tenho a mim,
01:09:21eu tenho o meu eixo,
01:09:22a minha essência,
01:09:23meu compromisso comigo.
01:09:24Então,
01:09:25quando eu vi que a folga altrua,
01:09:26e outra coisa,
01:09:27quando eu vi que,
01:09:27e é legal,
01:09:28que foi muito legal,
01:09:29porque eu sou totalmente amoral nesse sentido.
01:09:31Aí eu entrei e comecei a conhecer todas as,
01:09:34assim como eu conheci as luminárias da esquerda,
01:09:36eu comecei a conhecer todos os intelectuais da direita,
01:09:40frequentei todos,
01:09:41Olavo de Carvalho,
01:09:43na maior tranquilidade,
01:09:44as pessoas da esquerda são carolas,
01:09:46você,
01:09:46você conviveu,
01:09:47eu falei,
01:09:47convivei,
01:09:48inclusive,
01:09:49ganhei muitos benefícios,
01:09:50porque com Olavo,
01:09:52apesar de ser maluco,
01:09:53e ter coisas que acham execráveis,
01:09:55ele tinha uma bibliografia incrível,
01:09:58eu peguei um monte de autores que eu jamais conseguiria ter acesso,
01:10:03e li,
01:10:04e aumentei muito o meu conhecimento.
01:10:06Então,
01:10:07eu saí dali ganhando,
01:10:08porque eu conheci profundamente um lado,
01:10:12e conheci profundamente o outro,
01:10:13por justamente não ter envolvimento com nenhum deles.
01:10:15E agora?
01:10:16E outra coisa,
01:10:17só para concluir,
01:10:18percebi uma coisa incrível,
01:10:20numa esquina,
01:10:21quando eu estava já amaldiçoado por ambos os lados,
01:10:25eu estava num estúdio,
01:10:27fazendo um ensaio,
01:10:30numa esquina,
01:10:31e na outra esquina aconteceu uma coisa incrível,
01:10:33eu estava com vários amigos que presenciaram,
01:10:35e viram como é que são todos iguais.
01:10:37Eu passei por uma primeira esquina,
01:10:39até chegar no botiquinho da outra,
01:10:41aí apareceu um petista falando,
01:10:42se é o fascista,
01:10:44aí começou assim,
01:10:44drogado,
01:10:46decadente,
01:10:47roqueiro,
01:10:48fascista.
01:10:50Ok, ok, ok.
01:10:51Aí,
01:10:5250 metros depois,
01:10:54apareceu um bolsonarista,
01:10:56não,
01:10:56falou a mesma coisa,
01:10:57roqueiro,
01:10:58drogado,
01:11:00decadente,
01:11:01petista,
01:11:02comunista,
01:11:03comunista.
01:11:03Comunista.
01:11:04Então,
01:11:05eu,
01:11:06agora,
01:11:06uma coisa,
01:11:07eu tenho uma felicidade
01:11:08muito grande,
01:11:11que eu tenho o condão
01:11:12de provocar a fúria
01:11:15em qualquer imbecil.
01:11:17O cara,
01:11:17quando é imbecil,
01:11:18ele,
01:11:19ele,
01:11:19ele tem esse tipo de eugeniza,
01:11:22é o meu imbecilômetro colado no 11,
01:11:24tá entendendo?
01:11:25Porque as pessoas,
01:11:26quando,
01:11:26elas têm uma identificação mórbida
01:11:28com,
01:11:29com a minha verdade,
01:11:30que causa um,
01:11:32muito mal-estar nessas pessoas.
01:11:33E eu,
01:11:34eu me regozijo disso.
01:11:36Porque eles merecem,
01:11:36porque quem,
01:11:37meu pai me dizia,
01:11:38quem é burra que peça a Deus
01:11:39que o mate,
01:11:39que o diabo que o carregue,
01:11:40na verdade.
01:11:41É a mesma coisa que eu faço
01:11:42com essas pessoas,
01:11:43eu tô cagando balde
01:11:44pra essas pessoas.
01:11:45Porque eles merecem
01:11:46a desonestidade
01:11:47em que eles vivem,
01:11:48porque sempre o outro
01:11:49é que é o culpado.
01:11:50Aí vira um flaflu,
01:11:51por isso que eu parei de política.
01:11:53Por quê?
01:11:54O estoico fala uma coisa,
01:11:56um ditado estoico
01:11:57que deveria caber
01:11:58pra todo mundo.
01:11:59por favor,
01:12:01na medida em que você verifica
01:12:03que alguma situação
01:12:05que está diante de você,
01:12:08ela não tem mais,
01:12:10você não tem mais ingerência
01:12:12sobre aquilo,
01:12:13ou seja,
01:12:14você não vai conseguir mudar
01:12:15de forma alguma
01:12:16aquela situação,
01:12:17é de bom ao vitre
01:12:18que você se vire
01:12:19para outro tipo de ação.
01:12:21É a mesma coisa
01:12:21com a política.
01:12:22Quando eu vejo
01:12:22que é uma desonestidade endêmica
01:12:24entre as pessoas,
01:12:25uns acusando os outros,
01:12:26são dois bicudos
01:12:27que não se beijam,
01:12:28mas são dois bicudos
01:12:29que são iguais.
01:12:30Tem os mesmos tipos
01:12:31de desonestidade,
01:12:32tem o mesmo tipo
01:12:33de recalque,
01:12:34e são todos
01:12:35sub...
01:12:37São homúnculos,
01:12:39aqueles homúnculos
01:12:39do Dostoiévski,
01:12:41são pessoas que são
01:12:41sub-homens,
01:12:43são pessoas bobas,
01:12:44que têm espírito
01:12:45de rebanho,
01:12:46que se sentem
01:12:47protegidas,
01:12:48ao contrário
01:12:50da minha sublime solidão,
01:12:51todo mundo vai
01:12:52para a torcida,
01:12:53aquela multidão,
01:12:54que se fodam,
01:12:56não estou entendendo,
01:12:56eu não estou nem aí,
01:12:57eu não estou nem aí
01:12:58para esse tipo de pessoa,
01:12:59e sou muito seletivo também,
01:13:01aí o cara,
01:13:01eu não vou no seu chupro,
01:13:02seria horrível
01:13:03se você fosse,
01:13:05né?
01:13:05Lobão,
01:13:06antes da gente terminar,
01:13:06eu quero saber
01:13:07de futuro,
01:13:08seus projetos,
01:13:09o que você vai fazer
01:13:09daqui para frente?
01:13:11Sim,
01:13:11eu tenho agora
01:13:12uma opereta rock,
01:13:14o Vale da Estranheza,
01:13:16Vale da Estranheza
01:13:16que significa,
01:13:17você sabe que o Vale da Estranheza
01:13:18é um jargão tecnológico
01:13:20que um cara que inventou
01:13:22o robô igual a ele
01:13:22em 2005,
01:13:25um japonês,
01:13:25que ele,
01:13:26é uma síndrome
01:13:27que o ser humano tem
01:13:28quando está se aproximando
01:13:29de algo tão próximo,
01:13:31por exemplo,
01:13:31a inteligência artificial
01:13:32é um Vale da Estranheza
01:13:33porque você,
01:13:34você olha,
01:13:34se põe igual,
01:13:35mas você sabe
01:13:35que tem alguma coisa
01:13:36esquecida,
01:13:37então quando tem um robô,
01:13:38então assim,
01:13:39igualzinho a você,
01:13:40você sabe que,
01:13:41estruturalmente,
01:13:43ele é totalmente diferente,
01:13:44então isso causa
01:13:44o Vale da Estranheza.
01:13:45eu achei esse nome poético,
01:13:47eu achei que ele pode
01:13:48se estender mais
01:13:49para vários tipos
01:13:50de estranheza,
01:13:52a minha primeira,
01:13:53eu,
01:13:53eu sendo a Estranheza
01:13:55personificada,
01:13:56a Estranheza
01:13:56de você se estranhar
01:13:57como se conhecer,
01:14:00conhece-te a ti mesmo,
01:14:01então eu fiz uma música
01:14:02chamada O Estranho,
01:14:03que nós somos estranhos
01:14:04a nós mesmos,
01:14:05quando você está
01:14:05em relação
01:14:06com outras pessoas,
01:14:07você está namorando
01:14:08uma pessoa,
01:14:08depois você briga,
01:14:09daqui a pouco você,
01:14:10uma pessoa que você ama,
01:14:11daqui a pouco vira
01:14:11um estranho,
01:14:13então o segundo estranho,
01:14:14aí você tem
01:14:15um estranho robô,
01:14:16aí você tem
01:14:17um estranho,
01:14:18o Lobo Terrível
01:14:19é um estranho também,
01:14:20porque foi,
01:14:21é a última música
01:14:22do disco,
01:14:22é o Lobo Terrível,
01:14:24que foram,
01:14:25os geneticistas agora
01:14:26reinventaram um lobo
01:14:29chamado Direwolf,
01:14:30que é um lobo
01:14:31do Game of Thrones,
01:14:33o Romulo e o Remo,
01:14:34aí quando eu vi os lobinhos
01:14:35eu já fiquei apaixonado,
01:14:36Lobo Terrível,
01:14:37estranheza,
01:14:38pô, estranho,
01:14:38eu sou lobo,
01:14:39já fiquei na conexão,
01:14:41aí eu fiz o Lobo Terrível
01:14:42para fechar o disco,
01:14:43então o disco,
01:14:44na verdade,
01:14:45ele é um filme,
01:14:47você tem que entrar,
01:14:48não tem playlist,
01:14:49você tem que entrar
01:14:49e ficar viajando
01:14:50dentro do conceito,
01:14:52né,
01:14:52e eu quero ver
01:14:53se eu lanço ele
01:14:55até o final do ano que vem,
01:14:58e já está saindo,
01:14:59na verdade,
01:14:59já saiu há duas semanas atrás
01:15:00a primeira single,
01:15:01que é o Canções do Novo Show,
01:15:03que é a única música
01:15:04que eu fiz de parceria
01:15:05com alguém,
01:15:05que é com o Bernardo,
01:15:06que na verdade
01:15:06é o meu parceiro
01:15:07de 30 anos,
01:15:08não,
01:15:08mais de 30 anos,
01:15:09há 30 anos
01:15:09que a gente não estava
01:15:11fazendo música,
01:15:12a gente estava brigado,
01:15:13por isso que tem
01:15:14o que passou,
01:15:15passou,
01:15:15ele escreveu isso para mim,
01:15:17o que passou,
01:15:17passou,
01:15:18não sei,
01:15:18a gente briga,
01:15:19a gente sempre briga,
01:15:21o ser humano é assim,
01:15:22está exposto a interpéries
01:15:24sociológicas,
01:15:25mas eu amo ele,
01:15:27ele me ama,
01:15:28e eu tenho como irmão,
01:15:29e não sou um irmão,
01:15:30ele tem uma figura paterna,
01:15:31o Bernardo é uma pessoa
01:15:32que eu tenho maior admiração,
01:15:34maior gratidão,
01:15:35e é isso,
01:15:36estou cheio de coisa para fazer,
01:15:37tem a turnê,
01:15:38porque os haters também
01:15:39me beneficiam muito,
01:15:41aí esses caras,
01:15:42assim,
01:15:42drogados,
01:15:43aí começa a cantor
01:15:45de uma música só,
01:15:46agora,
01:15:47eu falei,
01:15:48puxa,
01:15:49eu falei,
01:15:50tem uma ideia,
01:15:50porque tem uns contratantes
01:15:52de shows,
01:15:52que eu disse,
01:15:53pô,
01:15:53o Lobão,
01:15:53acho que não está fazendo
01:15:54os hits dele,
01:15:55eu falei,
01:15:56eu sou cantor de uma música,
01:15:57como é que eu vou fazer?
01:15:58Aí eu fiz um anúncio,
01:16:00no internet,
01:16:00que foi o maior hit,
01:16:01no momento,
01:16:01que eu falei assim,
01:16:02atenção,
01:16:03senhoras e senhores,
01:16:04vocês,
01:16:04de toda a sociedade brasileira,
01:16:05vão sair em turnê,
01:16:06agora,
01:16:07eu vou fazer em turnê,
01:16:09com todos os meus fracassos,
01:16:10radiofone,
01:16:11porque eu não tenho um hit sequer,
01:16:12quer dizer,
01:16:12devo ter um só,
01:16:13segundo algumas,
01:16:15algumas estão dizendo aí,
01:16:16então,
01:16:16eu vou tocar aqueles fracassos
01:16:17que vocês não conhecem,
01:16:19é Corações Psicodélicos,
01:16:20Me Chama,
01:16:21Rádio Oblá,
01:16:22Revanche,
01:16:24Vida Badida,
01:16:25Vida Louca Vida,
01:16:25e aí,
01:16:27isso,
01:16:28o segundo meu book,
01:16:29eu rogassei,
01:16:30às sete horas da noite,
01:16:31eu falei assim,
01:16:31cara,
01:16:31está todo o Brasil inteiro,
01:16:32aí eu falei assim,
01:16:33vou ganhar rios de dinheiro,
01:16:34graças aos meus haters,
01:16:37aí,
01:16:37mas eu pensei,
01:16:37eu sou muito bonito,
01:16:38né,
01:16:38minha alma é muito bonita,
01:16:40eu pensei assim,
01:16:40eu vou ganhar rios de dinheiro,
01:16:42vou pedir a Deus,
01:16:43que o meu karma,
01:16:44maravilhoso,
01:16:45se irradie,
01:16:47aos meus haters,
01:16:48e que eles,
01:16:49pergou pelo menos,
01:16:5030 segundos de inferno,
01:16:51com as minhas benesses,
01:16:53pessoais,
01:16:53maravilhoso,
01:16:55Lobão,
01:16:56como eu te falei,
01:16:57ficaria aqui,
01:16:57temos que ter parte 2,
01:16:593 e 4,
01:16:59eu adorei,
01:17:00eu sou o Majanete Clera,
01:17:01Bulatina,
01:17:01obrigada,
01:17:03obrigada,
01:17:04querida,
01:17:04foi muito bom,
01:17:05Marinho,
01:17:06esse foi o meu papo com o Lobão,
01:17:08na semana que vem,
01:17:09eu estou com mais um convidado,
01:17:10não perca o próximo em off,
01:17:11até lá.
01:17:12A opinião dos nossos comentaristas,
01:17:26não reflete necessariamente,
01:17:27a opinião do Grupo Jovem Pan,
01:17:29de comunicação,
01:17:30Realização Jovem Pan.
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