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  • há 2 dias
István Wessel relembra uma das histórias mais marcantes da sua família, durante a Segunda Guerra Mundial, seu pai levantou a mão dizendo que sabia cozinhar mesmo sem saber.

Esse simples gesto mudou o destino dele. Entre campos de prisioneiros, frio e fome, a cozinha virou abrigo, sobrevivência e herança.

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Transcrição
00:00O que o Brasil? Como que acontece a história de vocês?
00:02Não, é que aí tem um pedaço, tem um gap, porque a guerra acabou em 45, nós saímos de lá em 56.
00:10Nós saímos em 56 com a... é, porque quando... tudo isso está no livro, você já pode pular essa parte aí.
00:18Quando minha mãe, ela viu que os russos tomaram conta, falou, beleza, os alemães acabou e tal,
00:27e eles começaram a fechar o cerco em cima dos capitalistas.
00:35E meu pai, que tinha um açougue no mercado, era capitalista.
00:40Aí minha mãe falou, em 48, ainda dá para sair, vamos embora daqui.
00:47E meu pai...
00:49Meu pai falou, você está louca, nós temos um filho de um ano.
00:54Era eu, não vamos sair.
00:57Naquela época, era época de patriarcado, né?
00:59Quando o marido falava que não...
01:01Acabou com a mulher.
01:03Era não.
01:05E aí, o negócio fechou e não dava mais para sair.
01:11Em 49, ninguém mais saiu.
01:12Saiu até 48.
01:16Aí veio o comunismo, meu pai foi trabalhar no açougue do governo,
01:19salário de fome, ele complementava a falta de renda com o relógio que ele tinha,
01:32vendia relógio, vendia não sei o que e tal.
01:34Joia da minha mãe e tal.
01:37Em 56, tem a revolução na Hungria para se libertar dos comunistas.
01:45E essa revolução, por uma semana, foi bem sucedida.
01:50Mas aí vieram as tropas russas, que nem o Brasil invade o Uruguai também, né?
01:54Então, Hungria do tamanho do Uruguai, talvez um pouquinho, mais ou menos.
01:59Imagina o Brasil descendo para o Uruguai, não sobra ninguém, né?
02:02E aí, com essa confusão da revolução,
02:08soldados da fronteira foram chamados para lutar na cidade.
02:13Nessa primeira semana que os revolucionários jovens e tal estavam vencendo.
02:20Aí surgiu um produto para vender.
02:28Várias pessoas que conheciam a saída
02:31vendiam essa informação e o transporte até um ponto da fronteira
02:37que era só em frente que dava para sair.
02:41Então, minha mãe falou, agora nós vamos.
02:45Meu pai falou, você está louca?
02:47Nós temos um filho de quatro meses, que era meu irmão.
02:52Só que aí ela subiu nas tamancas.
02:54Falou, não, nós vamos agora.
02:56E por força da pressão dela, a gente acabou saindo.
03:03Eu estou indo para a Hungria agora, daqui a poucas semanas.
03:06E vou ficar no hotel exatamente na frente da ópera, em Budapeste.
03:12E a ópera, para nós, é um lugar simbólico.
03:15Porque o caminhão que nós subimos para fugir,
03:18o ponto de encontro era na frente da ópera.
03:21Nós morávamos a três quadras da ópera.
03:26E aí nós fomos, minha mãe empurrando meu irmão num carrinho e tal, passeando, né?
03:35A Revolução já tinha, isso já era um mês e meio depois da Revolução,
03:40então já não tinha mais luta.
03:41Fomos pegar um caminhão, era um caminhão fechado com lona e tinha um carregamento de botas.
03:48E a gente ficou embaixo das botas e o caminhão foi indo para a fronteira.
03:55Chegou num certo lugar, às seis da tarde, era inverno, dia oito de dezembro,
04:00frio do cão, a Europa Central é frio.
04:03E o cara falou, chegamos.
04:05Meu irmão tinha quatro meses.
04:07Então minha mãe deu a mamada para ele, trocou a fralda,
04:13deu um calmante que um amigo dela que era médico sugeriu, autorizou dar,
04:19para o meu irmão dormir.
04:22E o cara falou, olha, agora vocês vão em frente, é que vão chegar na Áustria.
04:26A pé?
04:27Sim.
04:28Aí nós chegamos, minha avó com setenta e dois na época,
04:32meus pais, meu irmão Moisés, na cestinha,
04:35eu, e aí tinha o irmão do meu pai com a esposa e a filha.
04:39Nosso grupo era esse grupo de oito, né?
04:43E aí chegamos em Viena,
04:46e chegamos na Áustria, numa cidadezinha pequena,
04:49eles já estavam preparados para recolher refugiados,
04:52que chegavam todos os dias, todas as noites, né?
04:56E nós fugimos no meio de um milharal, que é uma planta alta.
05:00Então você não vê as pessoas se movimentando durante a noite no meio do milharal.
05:04E aí o cara falou, vocês vão em frente, que aqui chega na Áustria.
05:09E assim nós chegamos no sétimo ano, na Áustria,
05:12onde já tinha uma casinha perto da fronteira, com telefone.
05:17Olha, chegaram mais oito aqui, aí vinha um trator com esteira,
05:21com uma carretinha, né?
05:24Subia todo mundo no trator e levava até a cidadezinha,
05:27que tem um pequeno ginásio de esportes fechado.
05:30E já era inverno, né?
05:31E lá tinha comida, tinha leite para as crianças, etc e tal.
05:38E lá nós fomos para Viena.
05:40E em Viena, meu pai falou assim,
05:43eu não quero mais ficar na Europa, já chega para mim de Europa.
05:47E minha mãe falou, eu também não quero mais saber de frio,
05:50porque ela passou mal na Hungria.
05:52Ela trabalhava de caixa no empório.
05:54E o caixa sempre fica com costas para a rua.
05:57E lá fora estava 15 a base zero, não tinha porta, não tinha nada, né?
06:01Era um empório, né?
06:03E ela pegou a pneumonia e a várias vezes,
06:04eu não quero mais saber de frio.
06:06Meu pai não queria saber da Europa,
06:08minha mãe não queria saber de frio.
06:09Quando nós vamos para a Austrália,
06:13porque lá nós tínhamos parentes também.
06:15Aí meu pai chegou com o irmão dele na Embaixada Australiana, em Viena,
06:18e meu pai preencheu todos os papéis, os trâmites lá,
06:22e próximo da filha era o irmão dele.
06:24Na hora que meu tio foi entrar,
06:26ele falou, é, mas nós só tínhamos cota para 500 pessoas, famílias.
06:30E o senhor é o 500.
06:32Ai, não acredito.
06:33Aí, não, mas meu único irmão,
06:35aí o cara da Embaixada não estava nem aí, né?
06:39Aí meu pai falou, bom, então eu também não quero.
06:42Não vou me separar do meu irmão.
06:43Era a única pessoa viva que sobrou, né?
06:45Já tinha, porque já tinha sido a família dizimada primeiro pelo nazismo.
06:51É.
06:51Depois pelo comunismo.
06:53Aí consegue fugir, aí vai separar.
06:56Aí meu pai falou, não, então tá bom,
06:58então nós não vamos para a Austrália,
06:59pode liberar a vaga para outra família.
07:01Aí saiu na calçada, ela falou, mãe, e agora?
07:03Onde é que nós vamos, hein?
07:05Ah, minha mulher tem uns parentes no Brasil.
07:07Falou, beleza, vamos para o Brasil.
07:10Chegaram na Embaixada Brasileira,
07:12não tinha cota, não tinha nada,
07:14todo mundo, braço aberto, bem-vindo e tal.
07:17E assim nós chegamos aqui.
07:19E eles conseguiram guardar algum dinheiro,
07:22alguma coisa para vir?
07:23Não.
07:24Porque o comunismo espoliou tudo, né?
07:26Não, ele foi, ele foi,
07:27o que ele tinha de dinheiro,
07:30de relógio, de não sei o que, de anel,
07:33ele foi vendendo ao longo desses oito anos
07:36que nós viemos lá,
07:37e não sobrou nada.
07:38Vendendo para comer?
07:39Não, é.
07:40Meu pai trabalhava no açougue,
07:43então ele conseguia trazer um frango,
07:45alguma coisa para casa,
07:48roubando na balança para poder,
07:50porque ele era muito controlado aquilo lá.
07:52Então se ele roubasse, sei lá,
07:5450 gramas em cada cliente no açougue,
07:58no final do dia ele tinha um quilo,
08:00e esse um quilo leva para casa.
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