Suzy Rêgo relembra os tempos de ouro da televisão brasileira, quando as novelas eram verdadeiros fenômenos culturais e uniam famílias em frente à TV.
Ela compartilha histórias sobre a rotina intensa de gravações, a importância dos profissionais de bastidores e ainda comenta a revolução da publicidade com o icônico bordão “Incomodada ficava sua avó”, que marcou gerações.
Suzy Rêgo está em cartaz com a peça 'Cá entre nós'. Mais informações:
Teatro União Cultural - 269 lugares. Rua Mário Amaral, 209 - Paraíso - São Paulo (SP). Estação Metrô Brigadeiro. Tel: (11) 3885-2242.
Temporada: de 22 de agosto a 28 de setembro. Sexta às 21h, sábados, às 20h, domingos, às 19h.
Ingressos: R$ 100 inteira | R$ 50 meia. Bilheteria: abre 1h30 antes do espetáculo.
00:00Vocês três vêm da TV, da TV Altíssima Exposição, você é dos maiores sucessos de novela, quando novela era novela, porque acho que a gente fala novela hoje para o jovem, eles não tem noção do que era uma novela de sucesso.
00:20Entendi.
00:20Eles não tem noção, porque você fala novela, eles acham que a novela não é, era outro mundo. Então era novela de Altíssima Exposição e o Martini no Chico Anísio Show, que também não adianta tentar falar para eles, porque eles vão falando assim, não, mas era que nem o show de humor do fulano, não, as pessoas não tem noção do que era aquilo.
00:42É, porque a televisão sempre foi aquele elo de união da família.
00:48Isso.
00:49Então eu lembro, por exemplo, meu pai, Velho Lobo do Mar, Max Rego, meu pai está com 88 anos, meu pai é da reserva da Marinha, e meu pai tinha uma coisa que era, escute, ele é nordestino, escute, porque era o Jornal Nacional.
01:05Então, aquele momento não era para ficar conversando, gritando, criança rindo, cantando, porque era, e aí eu me habituei, eu me habituei, eu, meu irmão, minha irmã, minha mãe, ao Jornal Nacional, porque aquilo assim, era, meu Deus, isso é muito importante.
01:25Aí depois vinha a novela.
01:28A novela também, algumas eles deixavam, outras não, por causa da faixa etária, uma coisa assim, né, às vezes era uma temática um pouquinho mais picante, não sei, mas enfim.
01:37Mas pelo menos a novela das seis ou das sete, nós assistíamos juntos, né, aquela...
01:42É, a das oito dependia da novela, podia ou não.
01:45Dependia. E era isso, era esse aglutinador das famílias. As famílias estariam na vizinhança assistindo às novelas.
01:56As novelas das seis, muitas vezes de época, grandes produções, como até hoje tem.
02:01E a das sete, com mais humor.
02:03Sim.
02:04Com Silvio de Abreu, né, com as modas, as modas.
02:09Mas a novela das sete era, é que era assim, o nível, lembra Cambalá?
02:12Como é lógico, meu Deus do céu.
02:14Era outro nível, era um humor outro nível.
02:18Os textos também.
02:19É, então era exatamente aproximando muito da identificação da sociedade.
02:25Sim.
02:26Classe média, né, ou classe, né, sei lá, menos favorecida, digamos assim, não quero ser ofensiva de jeito nenhum.
02:33Ou exatamente tirando o humor das adversidades, né, e sempre a questão de alta sociedade.
02:42Ou quem era cambalacheiro.
02:45Sim.
02:46Né, mequetrefe, trambiqueiro.
02:49Então tinha muito essa coisa, eu acho que encantava muito sobre o cidadão comum.
02:56A cidadã comum, o trabalhador brasileiro, né, quem é que sustenta, quem é o PIB dessa nação.
03:04Não é isso?
03:05Eu até citei Gonzaguinho há pouco tempo, que era isso mesmo, né, eu acredito na rapaziada.
03:09E acho que a novela trazia muito isso com, lógico, com promessas, com romances, e com aquele nosso sonho de um final feliz, que eu acredito que seja isso.
03:21Mesmo que seja simplório, eu sou, eu sou.
03:24Eu sou cafona, eu sou tacanha, eu sou.
03:27Eu gosto de final feliz, eu sou uma pessoa muito grata à vida sempre.
03:33Às vezes eu tô lavando um turbilhão, assim, uma montanha de louça, e aí a minha questão polianesca, o meu lado fala assim,
03:43eu só tenho que agradecer porque eu tenho água.
03:46Porque se eu tô lavando tudo isso é porque tem alimento.
03:48Olha, eu sou...
03:51Agora, você raciocina, assim, tendo vivido uma boa parte da sua vida na altíssima exposição do seu trabalho.
04:03Tá ali, porque o trabalho de novela era altíssima exposição, exaustivo.
04:09É hercúleo, é um trabalho hercúleo.
04:11É uma coisa que mentalmente, cognitivamente, porque o tanto de texto que tem...
04:18E aí depende do autor também, porque tem autores que te entrega no seu tempo de decorar,
04:24tem autor que não te entrega no seu tempo de decorar, e você tem que fazer.
04:27Principalmente com protagonista, com personagem.
04:29Isso.
04:30Como que você lidou com isso sem sucumbir àquilo de, ah, eu sou demais?
04:38Porque nós somos trabalhadores incansáveis, todos nós, né?
04:43Quando você vê uma cena bonita, pode tranquilamente ficar ciente de que tem 100 profissionais envolvidos.
04:54Pelo menos.
04:55Às vezes uma cena de um carro parando na frente de uma loja.
05:01Você pode saber que o número de profissionais comprometidos naquilo é imenso.
05:06Então não dá pra ter essa vaidade.
05:11Mas tem gente que tem.
05:12Mas aí é...
05:13Então, são pessoas equivocadas, né, minha amiga?
05:16Porque pra eu passar numa catraca de um estúdio, eu preciso honrar todos os profissionais.
05:23Exatamente.
05:24Todos.
05:26Porque às vezes um câmera, ele tá ali...
05:28Eu vou fazer, digamos, hoje, cinco cenas.
05:31Tem troca de roupa.
05:33Você sabe disso, você vive isso.
05:34Troca de roupa, troca de acessório, troca de emoção, porque às vezes é uma cena mais tranquila
05:40e às vezes é uma cena de mais emoção ou de uma cena de briga, o que quer que seja.
05:46Agora, tem um profissional lá que ele fica ali 12 horas de pé captando a nossa imagem.
05:53Um outro que carrega uns cabos pesadíssimos.
05:56Uma outra que faz a manutenção e a limpeza de tudo aquilo, de todos os toaletes, de todo o estúdio.
06:04Tem um que trabalha na preparação dos alimentos que serão usados em cena.
06:09Então, Madá, eu tenho um respeito, uma consideração.
06:13Até meu marido brinca comigo.
06:14Você nunca foi elenco, Suzy.
06:16Você sempre foi técnica.
06:17Porque eu amo a técnica, amor.
06:20Acabou, nós vamos beber latão no posto.
06:23E nós vamos conversar sobre coisas iluminadas.
06:26Coisas que engrandecem.
06:27São meus mestres.
06:29Eu sempre tive mestres na área técnica da televisão.
06:34Porque eu entrei de publicidade.
06:35Eu vim de propaganda de absorvente.
06:38Incomodada, ficava sua avó.
06:39Eu acho que a Júlia conhece essa propaganda, Incomodada, ficava sua avó?
06:45Júlia não conhece.
06:47Não, porque como é que ela conheceria se isso tem o quê?
06:50Ai, vamos recuperar e localizar o Incomodada, ficava sua avó.
06:55É o seguinte, gente.
06:56Vai mandar a conta.
06:57Quando a gente ficou menstruada, mulher não ficava menstruada.
07:00Não se falava menstruada.
07:01Não se falava menstruação em público nunca.
07:04Jamais.
07:05Em nenhuma hipótese.
07:06Com um médico, a gente tinha vergonha.
07:08Então, falava que fulano estava incomodada.
07:12Pelos incômodos que o ciclo poderia causar para algumas.
07:17Cólica, mal-estar, desânimo, vergonha.
07:22Às vezes, para falar que alguém estava menstruado.
07:25Isso eu lembro.
07:26Minha avó, minha bisavó.
07:27Para falar que fulano ficou menstruado, falava.
07:29Não, fulano não vai na piscina hoje que está incomodada.
07:32Isso.
07:33E aí se usava a palavra incomodada.
07:36Era uma forma elegante de falar que nós estávamos naqueles dias.
07:41Incomodada ficava sua avó.
07:44Ah, ficava.
07:45Ficava úmida, insegura.
07:47Minestruação era um desconforto.
07:50Aí veio a nossa geração.
07:52Independente, moderna.
07:54Mas que também ficava incomodada do mesmo jeitinho.
07:57Só que para a sorte nossa, ficava.
07:59Agora a gente tem Tampaxe.
08:01Tampaxe é o único absorvente interno que vem com o aplicador.
08:05Que coloca o absorvente no lugar certinho.
08:08Um segundo e adeus, umidade.
08:10Você nem sente que está menstruado.
08:13Incomodada ficava sua avó.
08:16Minha avó.
08:17A gente nunca mais.
08:21Tampaxe.
08:22É, e depois surgiu naqueles dias.
08:24E o lançamento do absorvente interno com aplicador no Brasil,
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