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A primeira expedição científica ao interior da África Austral, em 1877, pelo oficial do exército Alexandre Serpa Pinto.
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ConhecimentosTranscrição
00:00:00A CIDADE NO BRASIL
00:00:30Os apontamentos diários eram feitos a lápis em pequenos cadernos
00:00:41que eu ia lacrando e selando à medida que os preenchia.
00:00:44Neles, além dos factos, estavam registradas todas as observações iniciais,
00:00:49já astronómicas, já meteorológicas.
00:00:52Estes cadernos, que ao deixar Durban em Vê a Portugal por via de Inglaterra,
00:00:56chegaram a salvo Lisboa, onde ainda estão por abrir.
00:01:00Ao passo que a cópia, desenvolvida do que eles contêm,
00:01:03sempre me acompanhou e está servindo de norma ao que estou escrevendo agora.
00:01:07O Cérpio Pinto tem empatia, tem empatia pelas populações que atravessa.
00:01:18O livro dele é um romance, quase.
00:01:22Lê-se como um romance.
00:01:27Acontecem coisas incríveis.
00:01:29Que acontecem exatamente aos outros, da mesma maneira, mas que ele sente.
00:01:38E sente e transmite.
00:01:40Sente e transmite.
00:01:44Nós acompanhamos a viagem como se estivéssemos lá.
00:01:49É um romântico, é um romântico, é um romântico e muito emocional.
00:02:00O resultado final destas expedições era afirmar que se conhecia o território
00:02:08e, portanto, a potência europeia estava apta a colonizar a região porque a conhecia.
00:02:16Eu fui criado no meio dos alcantins das Montanhas do Douro
00:02:27e nas minhas correrias atrás das lebras e das perdizes
00:02:30tenho percorrido as mais difíceis passagens das Serras da Beira e trás dos Mondos.
00:02:34Mas digo-lhe com franqueza, meu Luciano, que nunca vi nada igual à Cunhemba.
00:02:41Caminho não há.
00:02:43Por sobre os penhascos de um estreito val, formado por corrente caudalosa,
00:02:47o caminheiro ajudando o corpo com as mãos
00:02:50precisa fazer verdadeiros prodígios acrobáticos
00:02:52para elevar a 700 metros acima do nível do mar
00:02:55e atingir o alto do cabindondo.
00:02:58Primeira passagem das caravanas.
00:03:01É isto em África das 11h a 1h,
00:03:03com o sol tropical a dardejar raios de fogo sobre as nossas cabeças.
00:03:08Digo-lhe que é um pouco mais incómodo do que subir o chiado
00:03:10e parar na Havanesa a ler os telegramas da Guerra do Oriente.
00:03:15Alexandre de Serpa Pinto fez uma longa e afamada travessia de África.
00:03:20É militar da infantaria quando parte aos 31 anos,
00:03:24deixando a mulher e a pequena filha no Douro, em Porto Antigo.
00:03:28Serpa Pinto, natural de Sinfãs, tem na região algumas propriedades.
00:03:33Filho de um médico, passar a infância no Brasil,
00:03:36estudou depois no Porto e em Lisboa, no Colégio Militar.
00:03:40O seu entusiasmo pela questão colonial despertou cedo e nunca mainou,
00:03:47apesar da distância entre o Douro e a capital do reino.
00:03:50Jovem e militar, move influência junto do ministro Andrade Corvo
00:03:55e assim consegue fazer parte da primeira expedição científica
00:03:59ao interior da África Austral.
00:04:02Corria o ano de 1877.
00:04:08Serpa Pinto prefere o hotel central no cais do Sudré
00:04:11quando permanece em Lisboa.
00:04:13Na baixa da cidade encontra-se pela primeira vez com Brito Capelo,
00:04:17um dos três oficiais da missão africana que o governo prepara à pressa.
00:04:22No reino há natural curiosidade sobre as colónias,
00:04:26mas será por razões diplomáticas e políticas que o projeto avança.
00:04:30Portugal continuava a defender a sua antiguidade no espaço africano,
00:04:39os descobrimentos, tudo aquilo desde o século XVI,
00:04:42mas tudo isso era, de certa maneira, contestado.
00:04:46E, aliás, uma das questões fundamentais destas expedições
00:04:50era, precisamente, desenvolver o conhecimento,
00:04:54o conhecimento dos homens, das naturezas, dos territórios,
00:04:58mas, para além disso, levar às populações africanas
00:05:03ditas de uma selvajaria inata, levar a civilização.
00:05:28O liberalismo vai, digamos, fomentar a ideia do conhecimento
00:05:34no espaço africano, sim, mas a verdade é que só em 1875
00:05:38é que se funda a Sociedade de Geografia de Lisboa.
00:05:41O facto de ter a cabeça erguida, o facto de ter a boca entreaberta,
00:06:01os dentes scarificados, os olhos em porcelain, tudo isto tem um código.
00:06:05Ou seja, a leitura da peça é feita com todas estas componentes.
00:06:13Quando eu digo que acho que é uma figura muito bonita,
00:06:17as pessoas, às vezes, não entendem,
00:06:19mas é que é o bonito na construção da totalidade da peça.
00:06:24É uma figura que protege, ajuda a comunidade.
00:06:28Às vezes, tem uma postura diferente.
00:06:31Uma das mãos no ventre e a outra erguida com uma espécie de um pequeno punhal.
00:06:38O que é que ele está a querer dizer?
00:06:41Se o meu grupo for agredido, eu vou reagir violentamente.
00:06:52Existe, de facto, uma imagem negativa, relativamente, sobretudo à África.
00:06:57É uma terra de degredo, que foi durante imenso tempo, portanto, aí nós não podemos negar,
00:07:03e de morte, porque as doenças eram, dizimavam muitas vezes, não é?
00:07:09E, portanto, a tentativa de projetar uma imagem mais otimista, no fundo,
00:07:20foi um dos papéis da Sociedade de Geografia.
00:07:23Uma elite de intelectuais positivistas dirige a instituição que é privada.
00:07:30Entre os sócios fundadores, Luciano Cordeiro, que se torna amigo e mentor de Serpa Pinto.
00:07:36A sociedade dá parceza ao governo.
00:07:38Participa no debate público sobre o futuro das colónias.
00:07:42Os alertas soaram em Lisboa, quando Portugal não foi convidado
00:07:45para a Conferência Geográfica em Bruxelas, em 76.
00:07:48As potências rivais passam a reclamar a ocupação efetiva dos territórios africanos.
00:07:54Critério que fragiliza os direitos históricos de Portugal
00:07:57sobre a bacia do Zaire e o sertão de África Austral.
00:08:01Vazio na carta de Anvil, impreciso no mapa de Sada Bandeira.
00:08:07Era, pois, urgente uma expedição científica portuguesa.
00:08:10Escolhidos os três militares, o ponto de partida será Luanda, em Angola.
00:08:15A ocupação efetiva estava confinada ao litoral.
00:08:20Em Angola havia os corredores do Coanza e partia de Luanda.
00:08:24Um ou outro partia de Benguela e atravessava o planalto de Benguela e até Caconda.
00:08:30Mas havia todo, depois, um comércio com o interior,
00:08:35que era o tráfico de escravos, evidentemente.
00:08:37Em Moçambique também, o ouro também era importante.
00:08:40Mas, principalmente, o tráfico de escravos é que levava ao conhecimento do interior
00:08:46e às informações que vinham sobre os acidentes geográficos que se encontravam no interior.
00:08:54Moreno, de olhar plácido, o cabelo raro e grisalho,
00:08:59o pequeno bigode, já esbranquiçado,
00:09:01dava-lhe um ar de velhice,
00:09:03que era desmentido pela sua tez desenrugada
00:09:06e apresentando o lustro da juventude.
00:09:11O Ivens, que está sempre a dizer
00:09:12que a sua natureza não foi feita por estas peripécias,
00:09:15que não está calado o momento
00:09:16e que tem engordado com a nova vida que leva,
00:09:19gozando ótima saúde,
00:09:20tem, às vezes, imensa graça.
00:09:22Um aspecto interessante
00:09:29porque há uma cisão
00:09:31entre o Serpe Pinto e o Capel e Águenes.
00:09:35O Capel e Águenes concentram-se numa zona
00:09:38para fazer a expedição e os estudos a fundo
00:09:41naquela zona relativamente restrita,
00:09:45enquanto o Serpe Pinto tem a ideia
00:09:47e vai realizá-la,
00:09:50que é uma expedição
00:09:52em extensão, em termos geográficos.
00:09:56Portanto, vai, de uma forma, como ele diz,
00:09:59correr, quase,
00:10:01para justificar uma expedição geográfica.
00:10:05Ele vai mantendo com a Sociedade de Geografia,
00:10:07sobretudo com o Luciano Cordeiro,
00:10:09uma troca de correspondência
00:10:11em que nos dá todo o conceito de expedição.
00:10:17O meu Luciano
00:10:21é uma forma sempre afetiva
00:10:24de se dirigir ao Luciano Cordeiro.
00:10:27Depois faz a sua,
00:10:29rediz a sua missiva
00:10:31e aqui, no fim,
00:10:33lembre-se sempre
00:10:34do seu amigo
00:10:36Serpe Pinto.
00:10:38Portanto, esta forma
00:10:39bastante próxima dos dois,
00:10:42que revela muito
00:10:43no fundo a confiança
00:10:46que tinham um no outro.
00:10:51Decorria o mês de agosto
00:10:52quando a missão geográfica
00:10:54desembarca em Luanda
00:10:55com 400 cargas de bagagem.
00:10:59Serpe Pinto e Brito Capelo
00:11:00são bem acolhidos pelo governador Albuquerque,
00:11:03que informa não haver na cidade
00:11:05carregadores para a expedição.
00:11:06Uma classe branca e mestiça
00:11:10de negociantes,
00:11:12militares,
00:11:13funcionários,
00:11:14caixeiros,
00:11:15ex-degradados,
00:11:16habitam as casas térreas
00:11:18ou os sobrados da cidade,
00:11:20onde no piso de baixo
00:11:21se acomodavam os escravos.
00:11:25Desde que é proibido
00:11:26o tráfico de seres humanos
00:11:27para as Américas,
00:11:28Luanda exporta
00:11:29produtos agrícolas.
00:11:30Em busca de carregadores,
00:11:35Serpe Pinto
00:11:35precipita-se
00:11:36para o norte da colónia,
00:11:38mas logo depois
00:11:38regressa de cabinda
00:11:40na companhia
00:11:40do jornalista americano
00:11:42Henry Stanley.
00:11:47Stanley acabava
00:11:48de atravessar África
00:11:50e de procorrer
00:11:51todo o rio Uzair
00:11:51desde as suas origens.
00:11:53A primeira fotografia
00:11:57da expedição portuguesa
00:11:58é tirada em Luanda.
00:11:59E você tem a signatura
00:12:03aqui também.
00:12:05Você tem a outra coisa,
00:12:06você sabe,
00:12:08Serpe Pinto
00:12:09se apontando
00:12:09algo aqui.
00:12:11Você tem Stanley
00:12:11com os espécies também.
00:12:15Eu acho que isso é
00:12:16meio interessante
00:12:16a forma que ele foi
00:12:18estagiado.
00:12:19Quando Stanley
00:12:19estava em Luanda
00:12:21naquela época,
00:12:22especialmente
00:12:22Congo Basin
00:12:24e um set
00:12:25de outros
00:12:25River Basin
00:12:26na Central África
00:12:28e na Equatorial África
00:12:30haviam sido
00:12:32aclamado
00:12:32por poderes
00:12:32externos
00:12:33europeus
00:12:34mas não
00:12:36necessariamente
00:12:37ocupados
00:12:38fisicamente
00:12:39ainda.
00:12:40Roberto Ivins
00:12:42junta-se em Luanda
00:12:43a Brito Capelo
00:12:44e a Serpe Pinto.
00:12:45O encontro
00:12:46é fotografado
00:12:47para promover
00:12:48a missão
00:12:48científica portuguesa.
00:12:51Serpe Pinto,
00:12:51à direita,
00:12:52vive com entusiasmo
00:12:53esses dias.
00:12:55Stanley
00:12:55é uma celebridade
00:12:56pública.
00:12:57Em 71,
00:12:58encontraram
00:12:59o missionário
00:12:59David Livingstone,
00:13:01desaparecido
00:13:02junto ao lago
00:13:02Tanganyika.
00:13:05Correspondente
00:13:05de guerra,
00:13:06Stanley tem vivido
00:13:07dos textos
00:13:08que publica
00:13:09no New York Herald.
00:13:11Conta ter
00:13:12travado
00:13:1232 batalhas
00:13:13ao descer
00:13:14o então
00:13:15intransponível
00:13:16Riozair,
00:13:17ou Congo.
00:13:18Aceita o apoio
00:13:19de Serpe Pinto
00:13:20em Cabinda,
00:13:21ciente que o militar
00:13:22português
00:13:22quer contratar
00:13:23a sua comitiva.
00:13:25Rumo a Luanda
00:13:26embarcaram todos
00:13:27na canhoneira
00:13:28Tâmega,
00:13:29mas os 114
00:13:30árabes
00:13:31quiseram no final
00:13:32voltar a casa,
00:13:33à ilha de Zanzibar.
00:13:34A proeza
00:13:38de Stanley
00:13:39tem impacto
00:13:40imediato.
00:13:41Força
00:13:42a expedição
00:13:42científica
00:13:43portuguesa
00:13:44recém-chegada
00:13:44à África,
00:13:45a abandonar
00:13:46o estudo
00:13:46do norte
00:13:47da colónia
00:13:47angolana.
00:13:49No plano
00:13:49internacional,
00:13:50acelera a disputa
00:13:51pelo domínio
00:13:52da Foz
00:13:52e dos territórios
00:13:53do Alto Congo.
00:13:55Quando,
00:13:56em agosto
00:13:56de 77,
00:13:57Stanley
00:13:58e a caravana
00:13:59alcançam
00:13:59a costa
00:14:00atlântica,
00:14:01estão exaustos.
00:14:02Tinham
00:14:02contornados
00:14:03os rápidos
00:14:04e as cataratas
00:14:05do Congo,
00:14:06vencido
00:14:06à adversidade
00:14:07da floresta
00:14:07e dos potentados
00:14:09africanos.
00:14:12A nossa entrevista
00:14:13tinha lugar
00:14:14no areal de Cabinda,
00:14:15por baixo
00:14:16da feitoria inglesa.
00:14:18O Stanley
00:14:18estava vestido
00:14:19com um casaco
00:14:19de cachemira
00:14:20parda
00:14:20justo ao corpo,
00:14:22calção de
00:14:23anta amarela
00:14:23já gasto
00:14:24pelo uso,
00:14:25planas de couro
00:14:26e uns riquíssimos
00:14:27chinelos orientais,
00:14:28todos bordados
00:14:29de ouro
00:14:29sem gravata
00:14:30nem colarinho
00:14:31e um chapéu
00:14:31de palha
00:14:32da madeira
00:14:32na cabeça.
00:14:34Na mão,
00:14:35o bordão
00:14:35de peregrino,
00:14:37mas de peregrino
00:14:37da ciência
00:14:38e da civilização.
00:14:40Um bordão
00:14:40cortado
00:14:41nos matagais
00:14:41das fontes
00:14:42do Zaire,
00:14:43bordão que eu
00:14:43hoje possuo
00:14:44porque foi o primeiro
00:14:45presente que me deu
00:14:46o grande viajante
00:14:47e que irá suster
00:14:48os meus passos
00:14:49nesses sertões
00:14:50desconhecidos
00:14:51como sustei-vos dele.
00:14:53O Stanley
00:14:54é da minha estatura,
00:14:55um pouco mais baixo
00:14:56do que eu
00:14:57e não mais grosso.
00:14:59Tem umas mãos
00:14:59finas e aristocráticas
00:15:00e um gesto
00:15:01elegante
00:15:02e enérgico.
00:15:03Os seus olhos
00:15:04azuis,
00:15:04muito claros,
00:15:05passam simultaneamente
00:15:06da atonia extrema
00:15:08a uma vivacidade
00:15:09dominadora.
00:15:10A viagem
00:15:18da África
00:15:19foi uma longa
00:15:20longa,
00:15:21basicamente,
00:15:22eu acho,
00:15:22999 dias.
00:15:26O fim da viagem
00:15:28foi bastante
00:15:28agressivo,
00:15:29no sentido
00:15:30que, quando ele
00:15:31chegou,
00:15:31todos estavam
00:15:32extremamente
00:15:33cansados
00:15:33e mortos,
00:15:34depois de ter
00:15:35passado
00:15:36todas as
00:15:37miles
00:15:37e viajando
00:15:38todo o continente,
00:15:42nós não
00:15:43estamos enfrentando
00:15:43uma multidão,
00:15:45uma multidão,
00:15:46uma multidão
00:15:46aqui.
00:15:47Stanley
00:15:48sabia muito
00:15:48quem ele
00:15:49estava contratando,
00:15:50onde eles
00:15:51estavam
00:15:52antes,
00:15:53sejam
00:15:54trabalhando
00:15:55com outros
00:15:56europeus
00:15:58no primeiro lugar,
00:15:59o que era
00:16:00eles estavam
00:16:01conhecendo.
00:16:02E o que
00:16:02foi importante
00:16:03para
00:16:04underline
00:16:05é que
00:16:06Stanley
00:16:07hired
00:16:08pessoas
00:16:09que
00:16:09provavelmente
00:16:10consideram
00:16:11daquela época
00:16:11as
00:16:12a
00:16:13aristocracia
00:16:14de
00:16:15commerce
00:16:15e a
00:16:16aristocracia
00:16:17de
00:16:17scouting.
00:16:18Você pode
00:16:19ver que
00:16:19você tem
00:16:20na primeira
00:16:22row,
00:16:24a
00:16:24mulheres
00:16:25da
00:16:25expediência
00:16:26foram
00:16:26ali,
00:16:27realmente
00:16:28puxed
00:16:28na
00:16:28front
00:16:29row.
00:16:29Ele
00:16:30está
00:16:30no
00:16:30middle
00:16:30lá.
00:16:35O
00:16:35successo
00:16:35do
00:16:36caravans
00:16:37não foi
00:16:38por um
00:16:39único
00:16:39líder.
00:16:40Nós
00:16:40lembramos
00:16:40Stanley,
00:16:41mas
00:16:41ele não
00:16:43conseguir
00:16:44isso
00:16:44sem
00:16:45todos
00:16:46esses
00:16:47caravans.
00:16:47Isso
00:16:48também
00:16:48era
00:16:49muito
00:16:50forte
00:16:50um tipo de pessoa, e não havia problema para ele punir as pessoas, ou até pôr-las,
00:16:59ou pôr-las em arroz, se ele pensava que era o caminho.
00:17:11Em minha opinião, que nos países ocupados pelas confederações africanas, regidos por
00:17:15pequenas reglas de índole menos guerreira, por se reconhecerem mais fracos, é que deve
00:17:20entrar a civilização com a mão forte, debaixo da forma do comércio, do missionário e do
00:17:25explorador. Divir-se, portanto, da opinião do mais ousado dos exploradores, do mais enérgico
00:17:31trabalhador africano, do mais dedicado apóstolo da civilização do continente negro, do meu
00:17:36amigo Henry Morton Stanley.
00:17:43Quando os portugueses chegam à África, os caminhos estão abertos.
00:17:47As caravanas não abrem caminhos, nem teriam qualquer capacidade de abrir caminhos. As caravanas
00:17:56seguem os caminhos africanos. Simplesmente, os caminhos africanos têm os seus possuidores. Os
00:18:08sobas, os reis, os tentados da zona são os possuidores dos caminhos. Portanto, eles abrem ou fecham os
00:18:18caminhos, consoante entendem.
00:18:21Roberto Ivans, Brito Capelo e Serpa Pinto são militares cultos com experiência prévia em África.
00:18:30Uma barraca de campanha, camas de ferro, mesas de tesoura, roupa, calçado, instrumentos científicos
00:18:37como seis tantos, bússolas, hipsómetros, pedómetros, um tio do Lito, medicamentos e não só.
00:18:44Tinham sido comprados em Londres e em Paris, expostos no Arsenal da Marinha em Lisboa antes da partida.
00:18:50O governo garantira 30 contos para as despesas da expedição. Na bagagem, ainda dois barcos de
00:19:00borracha para sulcar os rios africanos. Sendo o curso do Zaire agora conhecido, os exploradores partem
00:19:07para estudar o Cunen, o Cubango, o Zambeze, Rumão Ossu até Benguela, ainda sem carregadores.
00:19:14Benguela é uma bonita cidade que se estende desde a praia do Atlântico até ao supé das montanhas
00:19:23que forma o primeiro degrau do planalto da África tropical. As habitações dos europeus ocupam uma grande
00:19:29área porque todas as casas têm grandes quintais e dependências. Os quintais são cuidados,
00:19:35produzem todas as hortaliças da Europa e muitos frutos tropicais. Vastos pátios cercados de alpendras
00:19:42servem para dar guarida às grandes caravanas que do sertão descem à costa em viagem de tráfico
00:19:48e que reposam três dias na casa onde efetuam as permutações.
00:19:52O Comércio de Estanajo precisa de carregadores para os dentes de marfim e para as manufaturas
00:20:08que são trocadas pelo marfim. Precisa de caravanas poderosas, centenas de carregadores muito bem organizadas,
00:20:20bem armadas e muito disciplinadas. O sertanejo tinha crédito junto da casa comercial, levava as mercadorias e
00:20:36abria-se uma conta corrente e o sertanejo ia ao comércio, chegava ao BR e organizava toda a mercadoria e a caravana do interior com os pombeiros
00:20:53e ia ao mercado de compra. O mercado de compra que era no Barotz, na Lunda, no Catanga, no lago Megami, toda a África Central,
00:21:05porque o comércio do marfim obrigou a aumentar muito as distâncias percorridas pelas caravanas, visto que os elefantes afastavam-se,
00:21:20os elefantes iam fugindo para as florestas do interior por causa da caça.
00:21:30As caravanas luso-africanas cruzam-se no sertão com as caravanas árabo-swahili da costa oriental.
00:21:37As viagens de compra demoram meses ou anos até a exportação do marfim nos portos do litoral,
00:21:44destinado ao fabrico de teclas de piano ou de bolas de bilhar, na Europa e nos Estados Unidos.
00:21:51O comércio do marfim é legal e disso se ocupam também as casas comerciais de Banguela ou de Catumbela, na década de 70.
00:22:00Outro produto com valor é o látex, recolhido por famílias do Bié e do Planalto de Banguela, entregue diretamente à casa exportadora da costa.
00:22:12Agrava-se assim a dificuldade em arranjar africanos disponíveis para acompanhar a expedição,
00:22:19ainda sem condições logísticas para deixar a costa de Banguela.
00:22:22A dificuldade em obter pessoal é enorme. Os contactados são exigentes e impossível é aturá-los.
00:22:33Cada pessoa que finja obsequiar-nos tem por mira tirar proveito da nossa vinda.
00:22:39O único homem verdadeiramente cavalheiro que tenho encontrado aqui é António Francisco Ferreira da Silva Porto
00:22:45e preterindo os seus interesses por causa dos nossos.
00:22:48Silva Porto pôs tudo à disposição da expedição.
00:22:57Portanto, ele selecionou as mercadorias que era necessário levar para a troca,
00:23:05porque a expedição também precisava de comprar alimentos, por exemplo, e de oferecer presentes.
00:23:13Contratou os carregadores, selecionou os pombeiros.
00:23:23Ofereceu a sua libata para a noite, não foi?
00:23:26Ah, sim, ofereceu a sua libata, que continuava a funcionar. Nessa altura o Silva Porto estava em Banguela.
00:23:35E ninguém faz referência a isto, nem o próprio Silva Porto.
00:23:39Mas a verdade é que o Silva Porto ansiava acompanhar uma expedição. Não acompanhou nunca.
00:23:49Serpa Pinto e a expedição partem rumo ao Bié, a 12 de novembro de 77.
00:23:57Para trás deixam os presídios da costa.
00:24:00Nós temos, digamos, uma coleção, digamos assim, de presídios muito antigos.
00:24:08Em Angola, por exemplo, que tem um chefe branco, que tem um chefe branco mestiço,
00:24:13às vezes sem mestiço, mas que é português e que está ali, que domina o presídio.
00:24:18Já tiveram um papel muito importante no tráfico de escravos,
00:24:20as caravanas que circulavam no interior da África com os escravos,
00:24:23e mantêm agora um papel importante também no fornecimento de carregadores
00:24:28às caravanas europeias portuguesas.
00:24:33Carta à Pareira de Melo.
00:24:35Vou-lhe falar de coisas sérias, prevenindo-o para que obre a tempo.
00:24:39Nós não podemos ocultar ao governo que aqui se faz gravatura em larga escala,
00:24:44mandando os moradores daqui comprar escravos aos benguelas
00:24:46para depois os irem vender por bois e cera no Cuanhama.
00:24:50Será bom que saiba isso para o participar também
00:24:53e que não digam que o amigo, sendo o governador do distrito, ignora.
00:24:58As autoridades portuguesas não controlavam o interior,
00:25:02fechando os olhos ao tráfico amuflado de escravos que perduravam em África
00:25:06com a conivência de comerciantes e dos potentados africanos.
00:25:11Para denunciar o vil negócio, correntes e grelhetas de ferro
00:25:14recolhidas na bacia do Zambés foram expostas por David Livingstone
00:25:20na Real Sociedade Geográfica de Londres.
00:25:23O missionário britânico viajava muito por África.
00:25:26Vindo do Barotz, na atual Zâmbia, alcançou Luanda por terra em 1854.
00:25:31Livingstone formou a visão, quando ele estava em Angola,
00:25:35que, porque a colônia era inprogressiva, em seus palavras,
00:25:39as ruas eram ruins, não havia uma lei imporável,
00:25:42os militares que ele tinha não foram pagados por anos,
00:25:46a colônia era incrível.
00:25:48Ele sentiu que, realmente, apenas os esláveis e os esláveis
00:25:50e os esláveis e os esláveis eram os dois que eram custos de qualquer coisa.
00:25:54Quer dizer, era impossível, por causa da Real Nave,
00:25:57que os esláveis fossem expostos,
00:25:59mas eles poderiam ser usados ao longo da costa,
00:26:01e isso é o que ele disse que estava acontecendo em Angola.
00:26:03Antes de chegar a Luanda, David Livingstone cruzou-se em África com o português Silva Porto.
00:26:12O britânico estudara teologia, línguas clássicas e medicina,
00:26:16era membro da Sociedade Missionária de Londres.
00:26:19Em África viajou de sul para norte, atravessou o deserto do Kalahari
00:26:24e alcançou o lago Negami e o Zambez em 1851.
00:26:28No Barotz, é acolhido pelos macorrolos, ao lado de quem viajou até Luanda.
00:26:35Consolidou o seu papel de explorador,
00:26:38fascinado pelo sistema de rios da África Central.
00:26:43Junto da opinião pública inglesa, era o advogado contra a escravatura,
00:26:48que alegou ser praticado por bowers, por portugueses e por comerciantes árabes.
00:26:52Quando exploradores científicos europeus, como Livingstone, bem equipados e ambiciosos,
00:26:59se internam em África, as regras do jogo vão mudar.
00:27:03O conhecimento prático do sertão, tão valioso até meados do século,
00:27:08foi ultrapassado pela exploração científica.
00:27:11Exemplo disso é um encontro nas margens do Zambez entre Livingstone e Silva Porto.
00:27:16e Silva Porto.
00:27:19Voltemos então ao Barotz em 1853.
00:27:23Silva Porto despediu a caravana e deslocou-se ao sul do Zambez,
00:27:33até Liniante, que era a capital dos macorrolos,
00:27:36onde encontrou, imagina-se, outro branco.
00:27:46Porque na realidade era algo de surpreendente naquele fim do mundo.
00:27:55tão surpreendente para o Silva Porto, mais surpreendente para Livingstone,
00:28:03que no dia seguinte, imediatamente a seguir, visita Silva Porto.
00:28:10Bom, a reunião com o Silvio Porto foi de grande decepção para Livingstone.
00:28:15Quer dizer, ele não gostou do homem,
00:28:18mas, obviamente, o fato de que o português tinha chegado
00:28:20o Zambésia, antes dele, foi de grande decepção.
00:28:26Ele queria representar-se como a primeira pessoa genuínea branca
00:28:30que nunca foi lá.
00:28:32Ao jantar, Livingstone desdobra um mapa,
00:28:37um mapa, mapa esse que o Silva Porto diz que tinha um espaço em branco,
00:28:45claro, tinha um espaço em branco da África Central,
00:28:49que continuava tão desconhecida como no século XVIII,
00:28:58com uma imensa zona em branco.
00:29:00e pede-lhe para ele desenhar o itinerário que tinha seguido,
00:29:07desde Benguela até o Barote, se não é coisa pouca.
00:29:11Simplesmente, coloca-lhe a bússola em cima do mapa,
00:29:19tudo isso eram instrumentos que não manejava,
00:29:24e ele tem de dizer que não, não é capaz.
00:29:29E ele foi generoso em Porto,
00:29:34ele lhe dava as coisas que não podemos estar muito felizes com,
00:29:38mas ele lhe dava uma caba, que eu tenho certeza que seria um bom presente.
00:29:41Ele lhe dava duas cheias do dutch,
00:29:43ele lhe dava algumas paredes preservadas,
00:29:45e todas essas coisas,
00:29:47os itinerários de comida, são muito, muito bem-vindos,
00:29:49se você está onde estão.
00:29:50O que feriu profundamente o Silva Porto foi o facto de ele
00:30:00insinuar que ele não era branco.
00:30:03Na altura isso era muito importante,
00:30:06a raça nessa altura era um dado fundamental para se dizer
00:30:18que a pessoa tinha ou não tinha direito
00:30:23a ser o descobridor de determinada zona.
00:30:27De ser um europeu, não é?
00:30:29Um europeu, teria de ser um europeu a descobrir.
00:30:32se fosse um mestiço, já não tinha descoberto.
00:30:36So, he doesn't really do him justice,
00:30:39let's put it like that.
00:30:41In other correspondence,
00:30:42he sometimes suggested that he was a half-caste.
00:30:45He was mixed race, rather, we should say.
00:30:48And that, of course, was because,
00:30:53not because he was in any way racially superior
00:30:58in his attitude towards people of that kind,
00:31:00he was incredibly unracist.
00:31:04It was because he wanted to be the only white man,
00:31:08and therefore it would be very helpful
00:31:10if Porto was mixed race.
00:31:12Efectivamente, o Silva Porto, quando ia ao Barótes,
00:31:19ele ia ao Barótes para comprar o Marfim,
00:31:25porque não se ia tão longe para comprar escravos.
00:31:30Ele comprava escravos para ele, evidentemente,
00:31:32como todos os sartaneiros compravam escravos.
00:31:36Mas não era preciso ir tão longe, não era preciso
00:31:39fazer uma viagem dessas para comprar escravos.
00:31:43Agora, que havia comércio de escravos
00:31:46em todas as direções em África?
00:31:48Absolutamente!
00:31:49Livingston didn't on the whole lie about facts.
00:31:54He lied about people and about their characters.
00:31:57And he blamed people for what was not their fault.
00:32:00But he didn't on the whole lie about facts.
00:32:03So I think that probably is the thing.
00:32:05And one needs to remember that although Porto
00:32:08is said to have been only an ivory trader,
00:32:11ivory traders had to have large numbers of people
00:32:14to carry tasks.
00:32:15Após o encontro com Silva Porto,
00:32:19Livingston reclamou para si a prioridade
00:32:22da primeira travessia de África,
00:32:24de Luanda, à costa do Índico,
00:32:26num relato de 57.
00:32:28Silva Porto contestou mais tarde.
00:32:30Uma travessia, por si organizada,
00:32:32com resultados publicados
00:32:34nos anais do Conselho Ultramarino,
00:32:36fora concluída antes, em 54.
00:32:39No entanto, o diário de Silva Porto
00:32:41sobre a viagem até a costa de Moçambique
00:32:42não foi considerado um avanço da ciência e da civilização,
00:32:46como eram os mapas de Livingston.
00:32:49O Império Português tinha o seu calcanhar de Aquiles,
00:32:52a escravatura.
00:32:54A partir da década de 60,
00:32:57nós vamos então assistir a uma diminuição,
00:32:59a um fim, digamos, do tráfico legal,
00:33:02mas a uma implementação cada vez maior do tráfico clandestino.
00:33:06Este tráfico clandestino vai continuar, e vai continuar até 1888.
00:33:12É a data do decreto áureo, do decreto brasileiro,
00:33:18que vai abolir a escravatura no Brasil.
00:33:22Só a partir do momento em que a escravatura é abolida no Brasil
00:33:25é que acaba, progressivamente, a procura de escravos.
00:33:28E, portanto, acaba a procura de escravos,
00:33:31acaba também o tráfico clandestino,
00:33:33porque não há, efetivamente,
00:33:35comprador para os escravos do outro lado do Oceano Atlântico.
00:33:37A nossa vida no mato até tem sido regulada sem a menor combinação.
00:33:45Chegamos ao acampamento e, depois de estabelecer o campo, comemos.
00:33:49Em seguida, o Ivan se pega no álbum
00:33:51e ali vai desenhar um ponto pitoresco da floresta,
00:33:54uma vista do acampamento
00:33:56ou um tipo de selvagem da nossa comitiva, curioso ou ridículo.
00:34:00O capelo toma o bordão ferrado
00:34:03e ali se vai, pelos matos, nos arredores do campo,
00:34:04metendo nos bolsos tudo quanto encontra para o doutor Bocas.
00:34:08Eu, logo que como, vou procurar abastecer a mesa caçando-o.
00:34:25O algodão branco de inferior qualidade e o zoarte
00:34:28são o melhor dinheiro que pode levar o viajante naquelas paragens.
00:34:31Nas miçangas já se não dá o mesmo caso.
00:34:38E a que a moda aqui não é recebida além.
00:34:41Às vezes em pontos poucos distantes.
00:34:43Há, contudo, uma miçanga que é quase geralmente bem recebida em toda a África Austral.
00:34:48É ela uma miçanga miúda encarnada, de olho branco, a que no comércio em Benguela dão o nome de Maria II.
00:34:56Os barretos vermelhos, sapatos de liga, fardas de soldados, etc.,
00:35:01são frandulagens que, sendo muito estimados presentes para sovas e séculos, são péssima moeda.
00:35:06Os homens avançam com 30 quilos de carga.
00:35:13Querelas, desertões, embaraços de toda a ordem testam a liderança de Serpa Pinto,
00:35:19responsável pela caravana, pelos apontamentos sobre os factos e sobre os itinerários.
00:35:23A expedição está no início, mas um certo desalento invade os exploradores que sofrem com as primeiras febres.
00:35:31Entre Quilengues e Caconda caem chuvas torrenciais.
00:35:35Em janeiro alcançam o forte, onde encontram o solitário naturalista José Anchieta.
00:35:42Anchieta estava estabelecido nas ruínas de uma igreja, a 200 metros da fortaleza.
00:35:47A casa no interior era em forma de T e toda cercada, distantes, onde haviam, de mistura, livros, instrumentos matemáticos,
00:35:57máquinas fotográficas, telescópios, microscópios, retortas, pássaros de mil cores.
00:36:03A um canto, um feixe de espingardas e carabinas de diferentes sistemas.
00:36:08E dentro, uma grande mesa, Anchieta, sentado em velha poltrona, que atesta longos serviços.
00:36:17Anchieta reside há 11 anos em Angola.
00:36:22Trabalha para o Museu de Lisboa, sendo muito estimado por Brito Capelo, cada vez menos comunicativo.
00:36:29Em Caconda, as divergências em relação ao itinerário provocam uma cisão entre os exploradores.
00:36:35Serpa Pinto está sozinho, face a Brito Capelo e a Roberto Ivans.
00:36:40Meu caro Luciano, consumatum est. Isto é latim.
00:36:47E quero dizer, pouco mais ou menos, que já não faço parte da Expedição Portuguesa de Exploração ao Interior da África Central em 1877.
00:36:54Eles disseram que se queriam separar de mim por não combinarem os nossos génios.
00:36:59E eu concordo.
00:37:00E eu concordo.
00:37:01E eu concordo.
00:37:03Eu concordo.
00:37:04Eu concordo.
00:37:05A CIDADE NO BRASIL
00:37:35A CIDADE NO BRASIL
00:38:05A CIDADE NO BRASIL
00:38:07A CIDADE NO BRASIL
00:38:09A CIDADE NO BRASIL
00:38:11A CIDADE NO BRASIL
00:38:13A CIDADE NO BRASIL
00:38:15A CIDADE NO BRASIL
00:38:17A CIDADE NO BRASIL
00:38:19A CIDADE NO BRASIL
00:38:21A CIDADE NO BRASIL
00:38:23A CIDADE NO BRASIL
00:38:25A CIDADE NO BRASIL
00:38:27A CIDADE NO BRASIL
00:38:29A CIDADE NO BRASIL
00:38:31A CIDADE NO BRASIL
00:38:33A CIDADE NO BRASIL
00:38:35A CIDADE NO BRASIL
00:38:37A CIDADE NO BRASIL
00:38:39E AS PROVISÕES
00:38:41TEMPESTADES FORTES
00:38:43ACOMPANHADAS PELOS GRITOS
00:38:45DAS FERAS
00:38:47E POR RAIOS DOMINOSOS
00:38:49FAZEM TRANSBORDAR OS RIOS
00:38:51UM SÓ BRAÇO
00:38:52PARA SALVAR UM DOS CRONÓMETROS
00:38:54OS DIAS DE AGONIA
00:38:55TERMINAM
00:38:56QUANDO É AVISTADA
00:38:57A LIBATA DE SILVA PORTO
00:38:58EM MEADOS DE MARÇO DE 1878
00:39:02A LIBATA DE SILVA PORTO
00:39:04A POVOÇÃO DE BELMONTE
00:39:06ESTÁ SITUADA
00:39:07SOBRE A PARTE MAIS ELEVADA
00:39:08DE UM OTEIRO
00:39:09CUJA VERTENTE NORTE
00:39:10DESCE SUAVEMENTE
00:39:11ATÉ AO LEITO DO RIO CUITO
00:39:12QUE CORRE A LESTE
00:39:13PARA O CUQUEIMA
00:39:15A POSICÃO DA LIBATA
00:39:16É MUITO E FORTE
00:39:17COMO PONTO ESTRATÉGICO
00:39:19TEM DENTRO UM LARANJAL
00:39:21ONDE AS LARANJEIRAS
00:39:22ESTÃO SEMPRE EM FRUTO E FLOR
00:39:24O QUE NÃO ACONTECE A OUTRAS
00:39:26ALGUMAS NO BIÉ
00:39:27O LARANJAL É CERCADO
00:39:29DE UMA SEBE DE ROSEIRAS
00:39:30QUE ENTIGEM UMA ALTURA DE 3 METROS
00:39:32E ESTÃO SEMPRE FLORIDAS
00:39:34FOI ALI
00:39:36QUE ARRASTANDO AINDA OS MEMBROS
00:39:37TOLHIDOS DE DORES
00:39:38QUE, QUEIMADO DA FEBRE
00:39:40CONCEBI E ORGANIZEI NA MINHA MENTE
00:39:42O PLANO QUE HAVIA DE REALIZAR DEPOIS
00:39:45OS MAIS PRÁTICOS SERTANEJOS
00:39:48SABEDORES DO MEU PROJETO
00:39:50DIZIAM-ME QUE EU NÃO CHEGAVA A MEIO CAMINHO
00:39:52DO ZAMBESA E CREI QUE ME TINHAM POR TOLO
00:39:56CARTAS DA REGIÃO
00:39:58IUM SENDO DESENHADAS CONFORME SE AVANÇAVA
00:40:00DO BIÉ PARA SUDESTE
00:40:02POR TERRAS ONDE LEVAS DE ESCRAVOS
00:40:04CRUZAM O COANZA
00:40:06ONDE SOBAS AMISTOSES FAZEM PROMESSAS
00:40:08DE OBTER CARREGADORES
00:40:10SERPA PINTO CONTRATAR
00:40:12A VERÍSIMO GONÇALVES COMO GUIA
00:40:14A COMITIVA É DE MEIA CENTENA DE HOMENS
00:40:18O SEU OBJETIVO É ATRAVESSAR ÁFRICA
00:40:20DO ATLÁNTICO AO ÍNDICO
00:40:22ESTUDAR O ZAMBESA
00:40:24DESCER AO ZUMBO
00:40:25PASSAR POR TETE
00:40:26E TERMINAR A VIAGEM EM QUELIMANA
00:40:28MAS PRIMEIRO ERA PRECISA
00:40:30ATRAVESSAR O ZAMBESA E O REINO DO BAROTZ
00:40:33A 25 DE AGOSTO DE 78
00:40:36SERPA PINTO ESTÁ NA CAPITAL LIALUI
00:40:38ONDE É RECEBIDO POR UMA COMITIVA
00:40:40DE 1.200 QUERREIROS
00:40:42DO RECEM-ELEITO REI LOBOSSI
00:40:44LOGO DE MANHÃ
00:40:46FUI AVISADO DE QUE O REI LOBOSSI
00:40:48ME ESPERAVA
00:40:49LARGUEI OS MEUS ANDRAJOS
00:40:50E VESTI O ÚNICO VESTUÁRIO
00:40:52QUE JÁ PESSUÍA
00:40:53DIRIGINDO-ME EM SEGUIDA
00:40:54A GRANDE PRAÇA
00:40:55ONDE DEVIA TER LUGAR A AUDIÊNCIA
00:40:57ELE STAVA SENTADO
00:40:58EM UMA CADEIRA DE ESPALDAR
00:40:59NO MEIO DA GRANDE PRAÇA
00:41:01E POR DETRÁS DELE
00:41:02O NEGRO FAZIA-LE SOMBRA
00:41:03COM UM GUARDA SOLO
00:41:04ERA UM RAPAZ DE 20 ANOS
00:41:06DE ESTATURA ELEVADA
00:41:07E PROPORCIONALMENTE GROSSO
00:41:09VESTIA UM CASACO DE CASIMIRA PRETA
00:41:12SOBRE UMA CAMISA DE COR
00:41:13E EM LUGAR DE GRAVATA
00:41:15TRAZIA AO PESCOÇO
00:41:16UM SEM NÚMERO DE AMULETOS
00:41:19QUEM DOMINAVA AGORA A PLANÍCIE DO ZAMBEZ
00:41:22ERA UM GLOZI
00:41:23COM UMA ORGANIZAÇÃO POLÍTICA COMPLEXA
00:41:26O REI LOBOSSI GOVERNA
00:41:28ACIMA DE VÁRIAS TRIBOS
00:41:30ENTRE DISPUTAS FREQUENTES NA CORTE
00:41:32UMA FARDA A GALOADA
00:41:34E UM CHAPÉL SÃO OFERTADOS POR SERPA PINTO
00:41:37BEM COMO ABERTURA DE CAMINHOS DE COMÉRCIO
00:41:40PARA LESTE E OESTE
00:41:41COM O APOIO DE PORTUGAL
00:41:43MAS LOBOSSI QUER PÓLVORA E ARMAS
00:41:45MUDA DE OPINHÃO COM FREQUÊNCIA
00:41:47DOENTE SEM RECURSOS
00:41:49SERPA PINTO ESTÁ AO FIM DE SEMANAS
00:41:51SEM UM PLANO PARA PORSEGUIR VIÁGEM
00:41:54CERTA NOITE LANÇAS EM CHAMAS TOMBAM SOBRE O ACAMPAMENTO
00:41:59AS AGAIAS RASGAM A BANDEIRA
00:42:02O PÁNICO ALASTRA
00:42:04SÓ A VIOLÊNCIA DAS BALAS CARREGADAS COM NITROGLICERINA
00:42:07AFASTA POR FIM OS ATACANTES
00:42:10SERPA PINTO CULPA LOBOSSI PELA TENTATIVA DE ASSASSÍNIO
00:42:13AFASTA-SE DE LIALUI NO DIA SEGUINTE
00:42:16O DESÁNIMO LEVA A DEBANDADA GERAL
00:42:20POUCOS SÃO OS COMPANHEIROS QUE LHE RESTAM
00:42:24CATRAIO
00:42:26QUE NÃO SABIA LER O ESCREVER
00:42:28CONHECÃO EM POUCOS TEMPOS TODOS OS MEUS INSTRUMENTOS
00:42:30E TODOS OS MEUS LIVROS
00:42:32ESTE RAPAZ MULATO E DE MESQUINHA EDUCAÇÃO
00:42:35COMO ERA DE CORPO ACANHADO
00:42:37CHEI DE VÍCIOS
00:42:38TINHA ALGUMA COISA DE BOM E ERA INTELIGENTE
00:42:41COMO PELA SUA FORÇA HERCÚLEA E PELA SUA CORAGEM
00:42:45ELE TINHA TOMADO UM GRANDO ASCENDENTE SOBRE OS OUTROS PRETOS
00:42:48CHAMEI-O A MÍ
00:42:52A DESPEDIÇÃO DELE NO FIM DE CONTAS
00:42:55VAI DE BENGELA AO BIÉ, DO BIÉ AO BAROTE
00:42:59E QUANDO CHEGO AO BAROTE
00:43:01ELE CAI NOS BRAÇOS DOS MISSIONÁRIOS
00:43:04E VIAJA EM CARRO BOER
00:43:08PORTA, PORTA, PORTA, PORTA, PORTA, PORTA...
00:43:12MAS ELE NÃO ESCONDE NADA, NADA DISSO
00:43:16E NÃO ESCONDE A IMPORTÂNCIA
00:43:18QUE TIVERAM OS GUIAS, OS POMBEIROS
00:43:21OS PRÁTICOS DO SERTÃO, OS INTÉPRETES
00:43:24LUTÁMOS COM A FOME
00:43:28PORQUE NINGUÉM NOS QUIAS VENDER DE COMER
00:43:30E O REI DIZIA QUE NADA TINHA PARA ME DAR
00:43:32O NOVO SISTEMA ADOTADO DE NOS MATAREM PELA FOME
00:43:36PREOCUPOU-ME E DAVA-ME SÉRIOS CUIDADOS NU PAÍS SEM CAÇA
00:43:40SERPA PINTO CONSEGUE DO REI LOBOSSE TRÊS CANOAS E ALGUNS REMADORES
00:43:46SULCA OS RÁPIDOS DO ZAMBEZE
00:43:49OS TRABALHOS E O DIÁRIO AMARRADOS AO CORPO
00:43:52AO LADO A CARABINA E AS PELOS DO LEITO
00:43:55É DEPOIS AUXILIADO POR DOIS ZOOLOGOS
00:44:00COM QUEM SE DEPARA NAS MARGENS DO RIO CUANDO
00:44:03MAS HÁ OUTROS EUROPEUS NA ZONA
00:44:06QUANDO FINALMENTE CHEGA A LEXUMA
00:44:11AO ACAMPAMENTO DO MISSIONÁRIO COIAR
00:44:14DE QUEM OUVIR A FALAR DELIRA COM A FEBRE
00:44:17SENTE A VIDA POR UM FIO
00:44:19A FAMÍLIA COIAR ACOLHEU SERPA PINTO EM FINAIS DE OUTUBRO DE 78
00:44:25ACABAM DE CHEGAR AO BAROTES
00:44:28TENDO VIAJADO SUL PARA NORTE COM OS SEUS CATEQUISTAS
00:44:31PROTESTANTES TRABALHAM HÁ 20 ANOS EM ÁFRICA
00:44:35O MISSIONÁRIO NUTRE UMA GRANDE PAIXÃO PELOS INDIGENAS
00:44:39À CIVILIZAÇÃO DOS QUAIS VOTOU A SUA VIDA
00:44:42SEMPRE TRANQUIL EM GESTO E PALAVRA
00:44:45NÃO SE ALTERA NUNCA E SÓ TEM NA BOCO O PERDÃO
00:44:48PARA TODAS AS FALTAS QUE VÊ COMETER
00:44:50FRANÇOIS COIAR NÃO DESISTIU DE FUNDAR UMA MISSÃO NO ZAMBÉZE
00:44:54O QUE APENAS CONSEGUIU EM 85
00:44:57QUANDO LOBOSI AGORA SOB O NOME DE LEVANICA VOLTOU AO PODER
00:45:01O REI AFRICANO GOVERNOU POR MAIS DE 30 ANOS
00:45:04MAS ACABOU POR ACEITAR A CRIAÇÃO DA BAROTZELÂNDIA
00:45:07E A PROTECÇÃO INGLESA
00:45:09A INFLUÊNCIA DOS INGLESES JUNTO DE LEVANICA
00:45:12É EM PARTE ATRIBUÍDA À DIPLOMACIA DE FRANÇOIS COIAR
00:45:15FRANÇOIS COIAR
00:45:17SERPA PINTO, SEM CONDIÇÕES PARA MAIS
00:45:20DESISTE DA TRAVESSIA ATÉ MOÇAMBIC
00:45:23SEGUE COM OS COIAR PARA SUL
00:45:25PELO CAMINHO VISITA E ESTUDA AS CATARATAS DE VITÓRIA
00:45:32MOZIOTONIA NÃO É MAIS DO QUE UMA LONGA COVA
00:45:36UM SULCO GIGANTESCO
00:45:38AQUILO PARA QUE SE INVENTOU A PALAVRA ABISMO
00:45:41MAS ABISMO PROFUNDO E IMENSO
00:45:44ONDE ZAMBESE SE PERCEPITA NUMA EXTENÇÃO DE 1.800 METROS
00:45:48PARA AUMENTAR O SENTIMENTO DE HORROR
00:45:51QUE SE EXPERIMENTA DIANTE DAQUEL PRODÍGIO
00:45:53ATÉ PRECISA RISCAR A VIDA PARA PODER VER
00:45:56VÊ-LA IMPOSSÍVEL
00:45:59MOZIOTONIA NEM SE DEIXA VER
00:46:02ÀS VEZES LÁ NO FUNDO
00:46:04POR ENTRE A BRUMA ETERNA
00:46:06PERCEBEM-SE FORMAS CONFUSAS
00:46:09SEMELHANDO RUINAS MEDONHAS
00:46:12TIREI OS PANOS AO MEU AUGUSTO E AO MEU MOLEQUE
00:46:16E AMARREI-OS
00:46:18ESTES PANOS DE ZUART PINTADO
00:46:20E JÁ MUITO USADOS
00:46:22NÃO ME OFERCIAM UMA GRANDE SEGURANÇA
00:46:24MAS NÃO TINHAM OUTRO MEIO DE ME SUSPENDER NO ABISMO
00:46:26PASSEI O FRÁGILE AMPARO EM VOLTA DO PEITO
00:46:28PARA ME FICAREM AS MÃOS LIVRES
00:46:30E TOMANDO-SE A ESTANTE DEBORCEI-ME NA VORAGEM
00:46:34SEGURAVAM AS EXTREMIDADES O MEU AUGUSTO
00:46:36E UMA CALACA DA POVAÇÃO DAS QUEDAS
00:46:38ELES TREMIAM COM MEDO E FAZIAM-ME TREMER
00:46:40LEVANDO EU POR ISTO MUITO TEMPO A MEDIR O ÂNGULO
00:46:44QUANDO LHES DISSE QUE ME PUXASSEM
00:46:46E ME PUDE EQUILIBIRAR SOBRE AS ROCHAS
00:46:48FÁ COMO SE TEVESSE ACORDADO DE UM PESADELO HORRIVEL
00:46:58A VIAGEM PROGRIDA EM CARROS BOER
00:47:00POR ZONAS ALAGADAS PRÓXIMAS DE PLANÍCIES ÁRIDAS
00:47:03Onde A FALTA DE ÁGUA COLOCA EM RISCO A SOBREVIVÊNCIA DOS ANIMAIS
00:47:08SERPA PINTO ACARDITA QUE O RIO CUBANGO
00:47:11SE EXTINGUE NO GRANDE MACARI CARI, UMA BACIA COBERTA DE SAIS
00:47:15EM DEZEMBRO DE 78 É ALCANÇADO O REINO DO BAMANGUATO
00:47:21SITUADO NA ATTUAL BOTSUANA
00:47:24CHEFIADO PELO REI AFRICANO CRISTÃO CAMA III
00:47:32Xochong, A CAPITAL, CRESCEU NUMA ENCRUSILHADA DE CAMINHOS
00:47:36Onde A PRESENÇA DE NEGOCIANTES INGLESES É CADA VEZ MAIS DOMINANTE
00:47:42O INGLÊS DECIDIR NEGOCIAR PARA O SERTÃO
00:47:44METE EM UM VAGÓN TODA A FAMÍLIA E TODOS OS AVERES E PARTE
00:47:48CHEGA, EDIFICA LOGO UMA CASA
00:47:50RODEIA-SE DE TODAS AS COMODIDADES QUE PODE TER E DIZ CONSIGO
00:47:54EU VIM AQUI PARA FAZER FORTUNA
00:47:56E SE NÃO FIZEREM TODA A MINHA VIDA
00:47:58TENHO DE PASSAR AQUI ESSA VIDA
00:48:00PROCUREMOS POIS PASSALA BEM
00:48:03NÃO PENSA MAIS NA INGLATERRA
00:48:05ESQUECE O PASSADO E OLHA SÓ PARA O PRESENTE E PARA O FUTURO
00:48:09NOSTALGIA NENHUM TEM
00:48:11NISTO CONSISTA SUA FORÇA COLONIZADORA
00:48:15SERPA PINTO SEPARA-SE DA FAMÍLIA COIAR
00:48:18CRUZA-SE COM FAZENDEIROS BOERS NA VIAGEM ATÉ PERTÓRIA
00:48:22PARA LÁ DO ZAMBÉS
00:48:24OS CONFLITOS ENVOLVEM AS REPÚBLICAS BOERS
00:48:27OS REINOS AFRICANOS E O CRECENTE DOMÍNIO INGLÊS
00:48:30A MÃO DE OBRA AFRICANA TORNA-SE CRUCIAL
00:48:33PARA A RECENTE ATVIDADE MINEIRA EM TORNO DOS DIAMANTES
00:48:36NOVOS NEGÓCIOS DE TODA A ORDEM
00:48:39ATRAEM GENTE NOVA EM BUSCA DE FORTUNA
00:48:41SUSTENTAM CIDADES QUE SÃO IMAGEM DO PROGRESSO EM ÁFRICA
00:48:45O EXPLORADOR ENTRE SOZINHO E SEM DINHEIRO
00:48:49NA CAPITAL DO TRANSVAL
00:48:51QUE OS INGLESES TINHAM ACABADO DE ANEXAR AOS BOAS
00:48:54PERTÓRIA ERA UMA CIDADE NASCENTE
00:48:58A CIDADE NASCENTE A QUAL A DOMINAÇÃO INGLESA
00:49:01NÃO TENHA IMPRIMIDO AINDA O SEU CUNHO NACIONAL
00:49:07A CIDADE ASSENTA SOBRE UM PLANE INCLINADO
00:49:09QUE NA SUA PARTE MAIS ELEVADA
00:49:11TEM ABUNDANTES NASCENTES DE ÁGUA QUE A BANHA
00:49:14ESTA ÁGUA, AO TEMPO QUE ALI VIVI,
00:49:16CORRIA NAS RUAS EM VALETAS LITERAIS
00:49:18PROFUNDAS E DESCOBERTAS
00:49:20QUE A ESCURIDÃO DA NOITE CONVERTIA EM VERDADEIROS PERCEPICIOS
00:49:24RECORDO-ME DE MAIS DE UMA VEZ TER CAÍDO NELAS
00:49:28CHEGANDO A CASA COMPLETAMENTE MOLHADO
00:49:35MEU CARO LUCIANO
00:49:36HÁ QUINZE DIAS QUE SOU O HOMEM DA MODA EM PERTÓRIA
00:49:39E NÃO PERDI O TEMPO
00:49:41APROVEITEI O QUE PUDE
00:49:42SE EU FOR FELIZ COM OS PAQUETES
00:49:44POSSO ESTAR NA EUROPA DENTRO DE DOIS MESESES
00:49:47EU TENHO UMA GRANDE APREENÇÃO
00:49:49DE QUE VOZ SER MAL RECEBIDO EM PORTUGAL
00:49:51E CONFESSO-LH QUE ISSO ME IMPORTA MUITO POUCO
00:49:53PEÇO-LH QUE LOGO QUE EU STEJA EM LUGAR
00:49:55ONDA HAJA TELEGRAFO
00:49:57ME DIGA COMO É RECEBIDA PELO PÚBLICO A MINHA VIAGEM
00:50:00PELO PÚBLICO E PELO GOVERNO
00:50:02PRECISO DE SABER ISSO
00:50:04ATÉ BREVE
00:50:05SERPA PINTO
00:50:08O REGRESSO GERA UMA ONDA DE ENTUSIASMO
00:50:11EM TELEGRAMA ENVIADO DE PRETÓRIA
00:50:14SERPA PINTO TINHA ANUNCIADO A TRAVESSIA DE ÁFRICA
00:50:1720 CARTAS GEGRÁFICAS
00:50:193 VOLUMES DE CÁLCULOS
00:50:21O ESTUDO DO ALTO ZAMBESE
00:50:23UM DIÁRIO
00:50:24OUTROS TRABALHOS CIENTÍFICOS
00:50:26CHEGADO A 9 DE JUNHO
00:50:28DÁ A SEGUIR UMA CONFERÊNCIA
00:50:29NO TEATRO DA TRINDADE
00:50:31NA PRESENÇA DO REI DOM LUIS I E DO GOVERNO
00:50:34NO PALO CUSTÃO TAMBÉM
00:50:36OS SETE COMPANHEIROS AFRICANOS DE SERPA PINTO
00:50:39Algumas vozes criticam o valor científico
00:50:42da heroica viagem de Benguela a Durban.
00:50:45No entanto, as sociedades de geografia na Europa
00:50:49acolhem com entusiasmo o explorador africano-português.
00:50:54Dentro da categoria dos viajantes, dos exploradores científicos,
00:50:57nós não podemos com rigor afirmar
00:51:00que as expectativas do SERPA PINTO
00:51:02eram iguais às expectativas do Stanley ou do Brasa.
00:51:05Foram envolvidos, mas também aproveitaram
00:51:08de forma muito inteligente o contexto.
00:51:10É uma década que, claramente, tem momentos muito relevantes.
00:51:13Um dos mais importantes é o da afirmação plena
00:51:16da exposição pública até
00:51:18daquilo que eram os propósitos fundamentais
00:51:20do Rei Leopoldo II,
00:51:22através da sua Associação Internacional Africana,
00:51:25que vai gerar um determinado conjunto de reações
00:51:28pelos principais poderes, em Paris, em Lisboa e até em Londres,
00:51:33e até nos Estados Unidos da América,
00:51:36que, no fundo, procuram perceber qual é a melhor maneira
00:51:40de responder a esta forma declaradamente interessada
00:51:44no continente africano.
00:51:59SERPA PINTO
00:52:00SERPA PINTO
00:52:01É a parte dos desafios políticos da época
00:52:03e tudo faz para divulgar a travessia portuguesa.
00:52:07Na Sociedade de Geografia de Paris,
00:52:09é confrontado sobre a prática da escravatura nas colónias,
00:52:13alega que o comércio é obra de degredados fugidos da costa.
00:52:18SERPA PINTO
00:52:19Em 85, Brito Capello e Roberto Ivans terminam a travessia de Angola a Moçambique,
00:52:26de que falava SERPA PINTO, em 77.
00:52:30As missões geográficas são parte do jogo político na Corrida África
00:52:34que culmina na época com a Conferência de Berlim.
00:52:38Na delegação, entre outros,
00:52:40Luciano Cordeiro da Sociedade de Geografia de Lisboa.
00:52:48Com base no direito histórico,
00:52:50as pretensões portuguesas para a África Austral são ambiciosas,
00:52:53mas em vão.
00:52:56Aquilo que vem sucedendo com toda a trajetória abolicionista
00:52:59é que se coloca aqui um problema,
00:53:01que é quem é que vai então desenvolver as novas colónias africanas,
00:53:06quem é que vai desenvolver o continente africano,
00:53:09quem é que vai literalmente trabalhar,
00:53:11suportar os projetos de exploração económica
00:53:15que vão sendo desenhados pelas várias potências europeias,
00:53:17e pelo próprio Leopoldo II no seu estado independente do Congo.
00:53:22E aquilo que nós verificamos de forma relativamente clara
00:53:26é que à escravatura sucede o trabalho forçado.
00:53:31O novo expansionismo europeu avança sob o pretexto de acabar com a prática da escravatura.
00:53:36Figura crucial da época é Leopoldo II, rei da Bélgica,
00:53:41fundador da Associação Internacional Africana, particular e multinacional,
00:53:46criada com justificações filantrópicas.
00:53:49Leopoldo II alimentou uma rede diplomática e uma propaganda tão eficaz
00:53:55que após a Conferência de Berlim é proprietário de vastos territórios na região do Congo.
00:54:00O Museu de África na Bélgica guarda a memória do olhar colonial desse fim de século,
00:54:09que tão pesadas marcas deixou no continente africano.
00:54:12O explorador Henry Stanley, que Serpa Pinto encontrara na praia de Cabinda em 77,
00:54:31vai colaborar com Leopoldo II na criação de entrepostos e no fecho de contratos
00:54:37com os chefes africanos das margens do Congo,
00:54:40tal como fará o explorador Brasa a favor da França.
00:54:45Mais tarde, no Estado Independente do Congo, são estabelecidos domínios
00:54:49geridos pela coroa e por empresas privadas.
00:54:52A exploração da mão de obra na recolha da borracha atinge níveis de grande crueldade.
00:54:59Ora, o que eu acho é que a investigação tem mostrado que há muitos mais casos
00:55:04e, nesse sentido, o Estado Independente do Congo, o Rei Leopoldo II, mais uma vez,
00:55:09não foi propriamente excepcional, foi talvez o caso sobre o qual mais facilmente
00:55:18se reuniram provas da indignidade da exploração colonial.
00:55:24e, no finalemente, mas escrocamos – estamos em 41 anos e type de pedidos de
00:55:36criação entrepenas criat
00:55:48A CIDADE NO BRASIL
00:56:18A CIDADE NO BRASIL
00:56:48A CIDADE NO BRASIL
00:56:50A CIDADE NO BRASIL
00:56:52A CIDADE NO BRASIL
00:56:54A CIDADE NO BRASIL
00:56:56A CIDADE NO BRASIL
00:56:58A CIDADE NO BRASIL
00:57:00A CIDADE NO BRASIL
00:57:02A CIDADE NO BRASIL
00:57:04A CIDADE NO BRASIL
00:57:06A CIDADE NO BRASIL
00:57:08Olhar para o passado torna-se difícil
00:57:10nas antigas capitais dos impérios
00:57:12A prosperidade britânica
00:57:14está no século XIX
00:57:16associada ao negócio da escravatura
00:57:18e à economia de plantação
00:57:20nos territórios das Índias Ocidentais
00:57:22apesar do movimento abolicionista
00:57:25ter obtido resultados políticos
00:57:26mais cedo no tempo
00:57:27A CIDADE NO BRASIL
00:57:29A CIDADE NO BRASIL
00:57:31A CIDADE NO BRASIL
00:57:33Slave owners
00:57:34HAD NOTHING TO DO
00:57:35WITH EACH OTHER
00:57:36BUT OF COURSE THEY DID
00:57:37AND THEY WERE OFTEN
00:57:38INTERMARRIED
00:57:39AND LIVING NEXT DOOR
00:57:40TO EACH OTHER
00:57:41AND SO THERE WASN'T
00:57:44THERE WASN'T
00:57:47HEAVY OPPROBRIUM
00:57:49ATTACHED TO
00:57:51PEOPLE WHO WERE LIVING OFF
00:57:53THEIR INVESTMENTS
00:57:54IT WAS IN BRITAIN
00:57:55THAT THE VERY WEALTHY
00:57:57SLAVE OWNERS WERE
00:57:59AND THEY WERE BOTH
00:58:01CAPITALISTS
00:58:03AND
00:58:04PLANTATION OWNERS
00:58:05AND
00:58:06PEOPLE WITH INVESTMENTS
00:58:08Até há pouco tempo
00:58:09era comum pensar-se
00:58:11em Inglaterra
00:58:12que os britânicos
00:58:13não estiveram envolvidos
00:58:14num negócio da escravatura
00:58:15e no entanto
00:58:16às docas de Londres
00:58:17chegavam bens exóticos
00:58:19produzidos em larga escala
00:58:20nas plantações
00:58:21nas Caraíbas
00:58:22como o açúcar
00:58:23ou o rum
00:58:24Por ocasião do ato
00:58:26da abolição da escravatura
00:58:27nas colónias
00:58:28em 1833
00:58:29surgiram questões jurídicas
00:58:30em torno do direito
00:58:32à propriedade
00:58:33do dono
00:58:34do escravo
00:58:35AISL
00:58:37ALTHOUGH
00:58:38OTHER
00:58:39BASIS
00:58:40OF
00:58:41THE MOVEMENT
00:58:42FOR ABOLITION
00:58:43WAS
00:58:44THAT
00:58:45THE BUSINESS
00:58:46WAS IMMORAL
00:58:47AND THAT PEOPLE
00:58:48COULD NOT BE OWNED
00:58:49THAT YOU COULD NOT HAVE
00:58:50PROPERTY IN PEOPLE
00:58:52NEVERTHELESS
00:58:53Nevertheless, the British government agreed eventually to pay £20 million in compensation
00:59:02to the slave owners for the loss of their human property.
00:59:09What we investigated for the nearly 4,000 people in Britain who got compensation was
00:59:17we tried to find out, insofar as we could, what they did with the money.
00:59:24Did they invest it, for example, in railways, which many of them did, so that was contributing
00:59:30to the next phase of economic development in Britain?
00:59:35Or did they invest in grand houses, or in paintings, or in books?
00:59:44Some of them gave some money to philanthropic causes, but a pretty minor part of all the
00:59:52money that was divested.
00:59:55And of the £20 million, which was at least £16 billion in today's money, about half of
01:00:05that came into Britain.
01:00:08So it was a huge influx of capital into Britain at that point, on the basis of people,
01:00:15of Africans, who had been enslaved, and who, of course, got no compensation at all.
01:00:24Estudar o legado colonial é crucial para entender o presente.
01:00:28Era nas casas da especialidade em Londres que se apetrechavam as expedições intertropicais
01:00:33na segunda metade do século XIX.
01:00:36Nenhuma viagem a África teria grande mérito se não fosse reconhecida pela Real Sociedade
01:00:42Geográfica de Londres, que em 81 atribui a Alexandre de Serpa Pinto a medalha de fundador.
01:00:49No mesmo ano foi editada em Londres a versão portuguesa e inglesa de Como Eu Atravessei África,
01:00:55e em Paris a versão francesa, com gravuras de Emile Bayard.
01:00:59Serpa Pinto pagou do seu bolso as deslocações à Europa para a promoção da sua viagem científica.
01:01:09Conseguiu posicionar-se ao lado dos exploradores David Cameron ou Brasa.
01:01:14Pagou ainda os salários devidos aos companheiros africanos da sua comitiva.
01:01:21Numa travessia irrepetível, descreveu a África Austral do seu tempo com o entusiasmo de um viajante.
01:01:29Sobreviveu no sertão com o apego de um militar.
01:01:33Regressou contra todas as expectativas, pois, como dizia, era um homem com sorte.
01:01:39Vesti a minha gente, que chegou coberta de andragos.
01:01:45Paguei o que devia, em serviço da expedição.
01:01:48Mas os meus andragos guardo-os até que encontro um amigo que empresta ao Serpa Pinto o dinheiro para se vestir.
01:01:56Gastei a atravessar a África do Atlântico ao Índico.
01:01:59A centésima parte do que têm gasto para isso Stanley Cameron.
01:02:03É verdade que eu tive a carabina de Al-Rei e que o meu marfim e as peles de caça valiam alguns centros de mil reis.
01:02:14Acredito, Luciano, que levo importantes trabalhos, apesar de todas as contrariedades com que tive a lutar e a falta de meios.
01:02:23Verá o que eu fiz.
01:02:24Verá o que eu fiz.
01:02:54Verá o que eu fiz.
01:03:24Verá o que eu fiz.
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