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  • há 6 meses
O consultor e analista político Gustavo Córdoba, diretor do instituto de pesquisas Zuban Córdoba, na Argentina, fala das previsões para as eleições presidenciais no país em 2023. Após a desistência de Maurício Macri e Cristina Kirchner, Córdoba acredita que o eleitor moderado é que definirá o resultado. No peronismo, as duas apostas são o embaixador argentino no Brasil, Daniel Scioli, e o ministro da Fazenda, Sergio Massa. Além da inflação, Córdoba acredita que a capacidade de cada candidato em passar credibilidade será fundamental durante a campanha.

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00:00Olá, seja muito bem-vindo. Eu sou o Duda Teixeira e esse é mais um podcast Latitude.
00:16Todo sábado, às seis da noite, nós estamos aqui falando sobre os principais fatos do mundo
00:23e também sobre a diplomacia brasileira. Aqui do meu lado, Rogério Ortega.
00:28Ortega, seja bem-vindo. Obrigado, Duda. Boa noite, espectadores.
00:33Ortega, que escreve para o Antagonista e também escreve nas colunas do Rui Goiaba, na Cruzoé,
00:42e é o criador do bordão do Latitude. Então, Ortega, faça as honras da casa, por favor.
00:47Vamos lá. Latitude, um podcast para situar você no mundo.
00:51Bom, o assunto de hoje são as eleições na Argentina, que acontecem esse ano.
00:59Nós teremos já, no dia 13 de agosto, as eleições primárias, que são aquelas que acontecem dentro dos partidos
01:07para decidir quais serão os candidatos. E dia 22 de outubro acontece o primeiro turno.
01:14Se nenhum dos candidatos conseguir a maioria, teremos um segundo turno, então, em novembro.
01:21Para falar desse tema, a gente convidou o Gustavo Córdoba.
01:26Gustavo, vamos esperar ele aparecer na nossa tela.
01:30O Gustavo...
01:31Gustavo, bem-vindo, Gustavo.
01:34Um prazer para mim.
01:37Gustavo é consultor e analista político e diretor do Instituto de Pesquisas Zuban Córdoba,
01:45na cidade de Córdoba, na Argentina.
01:49O Gustavo vai falar em espanhol, vai tentar arriscar um pouquinho o português,
01:57e quando nós aqui achamos que não dá para entender muito bem,
02:01depois da resposta dele, a gente vai fazer uma tradução, não será uma tradução simultânea,
02:08será uma tradução um pouco atrasada, certo?
02:10Exato, tradução não simultânea, quase simultânea.
02:15Vamos lá, Gustavo, então...
02:18Bom, eu confesso aí para você que eu estou achando essa eleição um pouco sem graça, Córdoba.
02:25Uma porque, acho que os nomes aí mais fortes que polarizaram a política na Argentina,
02:32o Maurício Macri, que foi presidente, e a Cristina Kirchner, desistiram de concorrer esse ano.
02:40Mas, enfim, qual que é a sua previsão aí para essa eleição presidencial?
02:45Primeiro, dizer que há uma marcada incertidumbre sobre o que pode acontecer.
02:53Hoje não se verifica que há um candidato que tenha mais chances que outros para ganhar a eleição.
02:58Isto domina a escena política.
03:01Os tercios, o de Milay, não tem techo por o momento.
03:06O de Juntos por o Cambio afronta uma divisão interna que pode impossibilitar de acceder ao balotage.
03:11E o oficialismo, o peronismo, está na disyuntiva de celebrar as primárias abertas, obrigatórias e simultâneas,
03:22que podem permitir aumentar o caudal electoral, mas também dão uma tensão interna muito importante.
03:29Então, todas as forças estão dominadas por uma grande incertidumbre ou falta de certeza,
03:35porque, digamos, ninguém tem hoje a eleição previsível.
03:39Ninguém tem a eleição que gostaria de ter, não?
03:43Há uma competência muito marcada e as primárias têm essa característica, não?
03:48Ordenam a oferta electoral dos espacios políticos e, por outro lado, permitem agregar.
03:53Hoje poderia ser o turno do peronismo, que, apesar do contexto inflacionário,
03:59com uma inflação de quase 8 pontos neste último mês e 140 pontos de inflação no acumulado anual,
04:05seria praticamente impossível pensar que o oficialismo possa continuar no poder.
04:11Não obstante isso, eu acho que pode produzir-se uma espécie de milagro electoral
04:15toda vez que o peronismo se vai às urnas e decide, em uma passo, seu candidato a presidente,
04:21pode multiplicar e aumentar sua caudal.
04:23Era exatamente nisso que eu gostaria de entrar, Gustavo.
04:29Você acabou de dizer para a gente que o eleitorado argentino, para as eleições agora,
04:35se divide em três terços, basicamente.
04:37Um terço é o oficialismo peronista, um terço é a oposição principal, o Juntos por el Cambio,
04:44que é o partido do ex-presidente Mauricio Macri, que não deve concorrer,
04:47e um terço é o do Javier Milley, que é o outsider dessas eleições.
04:53O que a gente gostaria de entender, considerando que a inflação argentina é de mais de 100% ao ano,
05:00que é enorme, e que o Alberto Fernandes é rejeitado por cerca de 74%, 75% da população argentina,
05:10segundo a enquesta, segundo a pesquisa de vocês em junho,
05:13O que explica essa resistência eleitoral do peronismo?
05:18Por que é que tem tanta gente ainda na Argentina querendo votar nos peronistas,
05:23mesmo contudo aparentemente contra, especialmente a situação econômica?
05:29Uma das claves é que as forças opositoras estão em uma tensão e não podem se juntar entre si.
05:38Se a oposição fosse unida, Milley, mas Juntos por el Cambio,
05:41não tenho dúvidas que ganhariam em primeira volta.
05:44Mas têm programas incompatíveis, têm lideranços incompatíveis
05:49e têm processos políticos muito diferentes.
05:52Além disso, acho que o peronismo tem uma cultura e tem uma presença de voto popular
05:59muito importante, que você não pode desolajar.
06:02E a inflação, deixem-me dizer, queridos amigos,
06:05é parte do paisagem, estamos muito acostumados aos níveis inflacionários.
06:11Ou seja, eventualmente deveria ser a inflação e algo mais o que saque do peronismo do poder.
06:18Se é somente a inflação e o peronismo inicia um processo virtuoso no momento eleitoral,
06:25tem muitas chances de gerar esse milagro eleitoral de permanecer no poder.
06:30Ou seja, a oposição ao peronismo, o peronismo que está hoje no poder,
06:38está dividido porque a gente tem o Javier Milley, que é um libertário,
06:43e a turma, então, do Juntos pela Mudança, Juntos por el Cambio,
06:49que é a turma do Mauricio Macri,
06:52que já governou a Argentina em 2015 a 2019, se não me engano, não é isso?
07:00Agora, a Cristina Kirchner,
07:04eu tomei uma surpresa quando ela anunciou que não ia se candidatar,
07:10mas ela vai ter algum papel nessa eleição?
07:13Sim, claro.
07:16Primeiro, aclarar o ponto de que tanto Mauricio Macri como Cristina Kirchner
07:21são os líderes ou os referentes dos núcleos duros mais importantes
07:26a ambos lados da grieta.
07:28O problema que têm eles é que o sistema eleitoral argentino está feito
07:33a duas voltas, é a dizer, com balotagem.
07:36E o nível de rechazo que eles têm hoje
07:39os impossibilita de que vayan com chances de chegar a segunda volta
07:44com possibilidades reales de ganhar a presidência.
07:47Por tanto, se tiveram que baixar tempranamente da carreira presidencial
07:51porque definitivamente não tinham chances.
07:54Agora, o rol, me parece, o mais importante é o de Cristina Kirchner,
07:58toda vez que, ao baixar a candidatura presidencial,
08:02precipitou a pelea da oposição.
08:05O anti-Kirchnerismo é um dos anclajes ideológicos mais importantes
08:11que define a política argentina.
08:13E Cristina corporiza claramente um eje.
08:17O anti-Kirchnerismo não tem a virtude de entender o contexto
08:23e aí está peleando, vendo como as chances de acceder ao poder
08:28passam por frente e não o podem aprovechar.
08:32Javier Milei seria, hoje, uma figura que está sustentada a sua posição
08:38em um votante, em um 50% antidemocrático, fascista.
08:44De liberal, Milei, deixem-me dizer, tem pouco e nada.
08:48E a outra mitad do votante de Milei tem um componente de enojo
08:52muito forte com a classe política, com toda a classe política,
08:57tanto com o peronismo como com Juntos por o Cambio.
08:59Assim que, assim estão os pontos de partida, os roles das figuras centrales.
09:07O de Macri está um pouco mais diluído ou um pouco mais tranquilo
09:11que o de Cristina,
09:12mas ainda tem muita capacidade de dano ao ex-presidente Macri.
09:15Uma coisa curiosa que você disse para a gente, Gustavo,
09:20é que a desistência da Cristina Kirchner de concorrer
09:23enfraqueceu também o anti-kirchnerismo, não é isso?
09:27Quer dizer, sem a Cristina no páreo,
09:30a posição anti-kirchnerista da oposição ficou enfraquecida também.
09:35Uma coisa que nós notamos na última pesquisa de vocês,
09:40na última enquesta, em junho,
09:43é que todos os políticos argentinos mais conhecidos que vocês pesquisaram,
09:49nenhum chega perto dos 50% de aprovação, nenhum.
09:54Os que parecem que são mais bem avaliados,
09:58você me corrija se eu estiver errado, por favor,
10:01no peronismo, são o Sérgio Massa,
10:04que é o atual ministro da Economia,
10:05talvez o Daniel Scioli,
10:07que hoje é o embaixador da Argentina no Brasil,
10:13no caso do Juntos pela Mudança,
10:17Juntos por El Câmbio, é o Horácio Rodrigues Larreta,
10:22e o Javier Milei, que é basicamente a coalizão dele, é ele.
10:27Mas mesmo esse, estão em torno dos 35%, 34% de aprovação.
10:34Em tese, essa rejeição do eleitorado,
10:40os políticos tradicionais,
10:42tenderia a favorecer um outsider como o Milei.
10:45O que você acha,
10:46você já está dizendo que metade do voto dele
10:49é gente basicamente fascista na Argentina,
10:53e metade é uma espécie de voto antissistema
10:56de gente contra tudo o que está aí,
10:58de gente contra o establishment,
11:00digamos, da política argentina.
11:03O que é que os argentinos rejeitam no Milei,
11:08que, em tese, sendo outsider,
11:10estaria mais bem posicionado
11:12para ser eleito presidente desta vez?
11:15Bom, primeiro dizer-vos que
11:17a composição das imagens dos principais dirigentes
11:21tem, a nosso criterio,
11:23uma negatividade agravada.
11:25Isto é, duas partes de imagens negativas
11:27contra uma parte de imagens positivas.
11:30Em alguns casos podemos ver claramente,
11:32por exemplo, no caso de Maurício Macri,
11:34três partes de imagens negativas
11:36e uma só de positiva,
11:37o qual é uma imagem negativa agravada extrema.
11:42Isto define o momento político da Argentina,
11:44a maior parte, por não dizer a totalidade,
11:47da dirigencia política
11:48tem imagens negativas agravadas
11:51ou agravada extrema.
11:52Este é o clima de época que estamos vivendo.
11:55E, respecto a o que me consultas
11:57sobre Javier Milei,
11:59eu acho que o dilema central que tem Milei
12:01é como pode manter os votos que tem
12:05e como pode acrescentá-los.
12:08Eu tenho uma dúvida muito grande
12:09sobre o grado de maniobra
12:15que pode lograr Javier Milei
12:17frente ao momento definitivo do voto.
12:21Aí tenho minhas dúvidas.
12:22Até aqui, a Argentina
12:23teve eleições provinciales
12:26feitas em, por menos,
12:28oito distritos.
12:29Em toda a totalidade dos distritos,
12:31os candidatos de Javier Milei
12:33teve atuações ou malas
12:35ou muito discretas.
12:37Não teve nenhuma relevância
12:39e se han sido fracasos electorales.
12:43Então, a pergunta do Millón para Milei
12:45é como lograr levar
12:48este clima de opinião prevê
12:49nas eleições
12:50a consolidarse
12:51en unha intenção de voto
12:53que lhe permita sacar,
12:54ao menos,
12:55na primária,
12:56uns 25 a 30 pontos.
12:59É o dilema,
12:59é a pergunta que todos nos facemos.
13:01De qualquer maneira,
13:03a campaña electoral de Milei
13:04a estão fazendo os partidos tradicionales,
13:06as equivocaciones,
13:07os erros da política tradicional,
13:09não faz sino
13:11incrementar o perfil deste outsider
13:14que, a meu critério,
13:15vai ficar à mitad de caminho,
13:16não vai chegar à presidência,
13:18mas, sem dúvida,
13:19vai ter um papel
13:20muito forte
13:21e influyente
13:22no Congresso Nacional
13:23posterior a esta eleição.
13:25Certo.
13:26Bom, então,
13:27acho que,
13:28pelo que você fala aí,
13:30o desafio do Milei
13:31é conseguir manter
13:32esse bom momento
13:34que ele tem agora,
13:35até para
13:36para ter a eleição
13:38que acontece,
13:39enfim,
13:40primárias em agosto
13:40e depois as eleições gerais
13:42em outubro.
13:44Uma coisa que chamou a atenção,
13:46Córdoba,
13:46na pesquisa de vocês
13:48é que é o Milei
13:49que está pautando
13:50a agenda,
13:52né,
13:53das discussões atualmente.
13:56E eu vi ali
13:57as propostas dele.
13:59Eu lembro
14:01de acabar
14:02com o Ministério da Mulher,
14:04de acabar
14:06com a educação
14:07sexual na escola.
14:09É por aí?
14:10Essas são as propostas dele
14:11que são mais conhecidas?
14:13Sim,
14:14privatizar
14:14aerolíneas argentinas.
14:16Isso é um amor.
14:18Privatizar
14:19a saúde pública.
14:21De qualquer maneira,
14:22eu acho que,
14:23no fundo,
14:24Milei,
14:25com as propostas
14:26que ele fez,
14:26a maioria
14:27da gente
14:28não está
14:29de acordo.
14:30Diria,
14:31em um porcentagem
14:32que vai do 60%
14:33ao 80%,
14:34rechazam
14:34as políticas
14:36que propõe Milei.
14:37Inclusive,
14:38seus próprios votantes,
14:39em termos maioritários,
14:41estariam em desacordo
14:41com o próprio Milei.
14:43A pergunta,
14:43então,
14:44é,
14:45por que Milei
14:45logra
14:46a segunda adhesão
14:48se a gente
14:49não compartilha
14:50suas políticas?
14:51Eu acho que Milei
14:52tem um rol
14:53de identificar
14:56o tono do enojo
14:57e reproducí-lo.
14:59É muito mais importante
15:00a narrativa
15:02e o tono de Milei
15:03que a proposta em si.
15:05A proposta é como
15:06que passa a um segundo plano.
15:08E a maioria da gente
15:09que sente enojo
15:10ou com a política
15:11ou com a democracia
15:12encontra em Milei
15:13um candidato
15:14ou uma representatória
15:15de sua aspiração
15:17ou de sua ideia política.
15:20Então,
15:20é muito relevante
15:21que a gente
15:22se sinta identificada
15:23com Milei
15:24independente
15:25das coisas que diz Milei.
15:28Interessante.
15:29Ou, enfim,
15:30o estilo,
15:31a forma como
15:32Milei apresenta as coisas
15:33é mais importante
15:34do que realmente
15:35o conteúdo
15:36das propostas dele.
15:38Mas eu achei interessante
15:39que você falou
15:39a proposta dele
15:40de privatizar
15:41as aerolinas argentinas.
15:44Então,
15:44Córdoba,
15:45o que eu estou imaginando
15:46é assim,
15:46a cada 10 anos
15:47a Argentina
15:48privatiza
15:49aerolíneas,
15:50aí vem um governo
15:51peronista
15:52que diz
15:53estatiza,
15:54aí depois vem outro
15:55e privatiza,
15:56é isso?
15:57É tipo um acordeon,
15:58é isso?
15:59Privatiza?
16:00Estatiza?
16:01Privatiza e estatiza?
16:01Um bando neão.
16:02Um bando neão.
16:04Ojalá,
16:04ojalá
16:05logramos,
16:07logremos estabilizar
16:08e não ser
16:09tão cambiantes,
16:10temos que ganar
16:11previsibilidade
16:12e ter um liderazgo que nos possa projetar em paz o crescimento econômico.
16:18As reglas de jogo do mundo não as fixa a Argentina,
16:21assim que temos que adaptar-nos às reglas de jogo mundial com muito critério,
16:27mas incluindo, tratando de entender o país tão grande que temos.
16:31Bom, Brasil é um país mais grande que o nosso, é uma lógica parecida, né?
16:36Digo, não se pode plantear um panorama em uma campanha eleitoral presidencial
16:43tratando de destruir direitos adquiridos.
16:48Eu diria, em todo caso, que tem que construir sobre o construído
16:51e tratar de melhorar o que funciona mais.
16:55Você acha, Gustavo, eu meio que já intuo a resposta,
17:00mas eu queria ouvir isso de você que está com a mão no pulso
17:05das pesquisas.
17:07Esta eleição presidencial argentina vai ser decidida
17:11no centro ou nos extremos do espectro político?
17:16O que vai ser mais determinante na hora de o argentino chegar e votar?
17:24Basicamente, o votante moderado é o que tem o protagonismo principal.
17:29Os núcleos duros são muito relevantes, são muito importantes,
17:32ao início, para marcar o tono da discussão.
17:36Eventualmente, podem ser importantes em um balotão.
17:38Agora, a eleição, no ano 2015, a Maurício Macri,
17:43a fizeram presidente os votantes moderados.
17:47Em 2019, Alberto Fernández foi eleito também por o voto moderado.
17:51Eu acho que, em 2023, ele ou a dirigente vai ser eleito presidente,
17:57vai ser eleito com o voto dos moderados.
18:01Eu não tenho dúvidas ao respeito,
18:04que esse voto moderado é o que vai definir.
18:07E quem puder interpretar e dialogar com o votante moderado
18:11vai poder sacar essa vantagem que precisa para ganhar as eleições.
18:15Certo.
18:17Então, são os eleitores moderados que vão definir a eleição argentina.
18:21Cheito da balança.
18:23Aí, queria te perguntar, Córdoba, sobre o Daniel Scioli,
18:27que é esse pré-candidato a ser o candidato no peronismo.
18:33Ele, que lembro, era um competidor de lancha,
18:36de alta velocidade, chegou, acho que, a perder um braço,
18:40e é o embaixador da Argentina em Brasília.
18:45Córdoba, qual é o apelo do Daniel Scioli entre os argentinos?
18:52Resiliente. Daniel Scioli é um resiliente.
18:55É um sobrevivente de um monte de questões.
18:58Ele foi muito resistido por o kirchnerismo
19:01em seus inícios, em sua carreira política.
19:04E hoje, acho que no peronismo,
19:06ninguém pode dizer nada malo de Daniel Scioli.
19:09Todo o contrário.
19:10É um candidato muito potente,
19:13um candidato formidável,
19:14e diria que, no atual contexto,
19:17tem mais chances que no 2015.
19:19E no 2015 perdiu por apenas 3 pontos.
19:22Há que ver como resolve na primária com Sergio Massa,
19:25e o peronismo pode ter aí uma chance,
19:28como disse há um rato,
19:29de lograr esse milagro electoral.
19:31Daniel Scioli é uma figura
19:32que pode ser, ou nuclear,
19:36expectativas e esperança ao mesmo tempo
19:38para o peronismo.
19:41Por que você acha, Gustavo,
19:43que hoje,
19:44comparando os dois ex-presidentes
19:47que você mesmo chamou de núcleo duro
19:50de seus respectivos grupos,
19:52por que a imagem da Cristina Kirchner
19:56hoje é tão melhor que a do Maurício Macri?
19:58O que exatamente explica,
20:01de acordo com a pesquisa de vocês,
20:03o que exatamente explica isso?
20:05Eu acho que Cristina é muito mais influente
20:10na escena política que Maurício Macri.
20:13Maurício Macri é uma figura
20:16que, se bem está em política,
20:19seu origem está no mundo empresarial,
20:21não no mundo da política.
20:23Mientras que Cristina Kirchner
20:24pertenece ao partido mayoritario
20:26e fez política toda a sua vida.
20:28Ha sido dois vezes presidenta,
20:31uma vez vice, senadora nacional,
20:33diputada nacional.
20:34O rodagem ou o recorrido
20:36que tem Cristina Fernandes de Kirchner
20:38comparado com o de Maurício Macri
20:40é muito mais extenso
20:41e muito mais importante.
20:43Agora, Maurício Macri,
20:45ademais,
20:46pertenece a uma força
20:47que se maneja como uma empresa
20:50e não como um partido político.
20:52Então, também,
20:52esse impacto ou essa influência
20:54tende a ser um pouco menor
20:56que o de Cristina Kirchner.
20:59Ou seja,
21:00a rejeição ao Macri é maior
21:02do que a rejeição à Cristina
21:04porque ela é muito mais atuante
21:06hoje na política argentina.
21:08mais política, inclusive.
21:11É a vice-presidente atualmente.
21:15Córdoba,
21:15havia uma boa tradição
21:19da diplomacia
21:20que presidentes nunca se metiam
21:23nas eleições em outros países.
21:26mas isso, enfim,
21:28já tem uns 10 anos aí
21:30que os presidentes
21:31não respeitam isso
21:33e anunciam claramente
21:35qual é o candidato deles
21:36em outros países.
21:40Se o Lula...
21:42Eu suspeito que ele vai fazer isso,
21:44mas se o Lula vier a apoiar
21:47algum candidato peronista
21:50na Argentina,
21:51isso pode ter algum peso?
21:53Relativo.
21:57Pode ter peso,
21:58mas é um peso relativo.
22:01O tempo que falta
22:02para as eleições
22:03não depende do apoio
22:06do Lula.
22:08O tempo que falta
22:09é realmente escaso.
22:11Se pode ser parte
22:13de um conceito
22:14que o candidato
22:16presidente do peronismo,
22:18que seja,
22:19seja Scioli, seja Massa,
22:20possa mostrar
22:23uma alianza regional
22:25com o Brasil.
22:25Acho que aí
22:26pode haver algo interessante,
22:28algo importante,
22:29toda vez que
22:30para nós,
22:32para a Argentina,
22:33Brasil
22:34é o mercado
22:35mais cercano
22:37e mais importante
22:37que temos.
22:38assim que mostrar
22:40uma relação
22:41cercana
22:42com o presidente,
22:43nosso principal
22:44socio comercial
22:44na região,
22:45é realmente importante.
22:47Agora,
22:47não sei quantos votos
22:49vão apoiar essa ideia,
22:51mas sim que é importante,
22:52claro.
22:52Eu lembro de uma pesquisa,
22:56de um outro instituto
22:57de pesquisa
22:58que perguntavam
22:59em quem que os argentinos
23:00votariam
23:01nas eleições brasileiras
23:04e eu lembro
23:05que o Bolsonaro ganhava.
23:09Será que ainda está assim,
23:10não?
23:11Não, não.
23:12Nós medimos
23:13a imagem de Bolsonaro
23:14na Argentina
23:15em um determinado momento
23:16e também a de Lula
23:17e Lula
23:19tinha muito melhor imagem
23:20que Bolsonaro.
23:21provavelmente
23:23encuestas
23:25que têm
23:26metodologia digital
23:27ou metodologia telefônica
23:29têm um sesgo
23:31em quem responde
23:33muito mais à direita.
23:34Então,
23:34possivelmente,
23:35isso foi uma encuesta
23:35desse tipo.
23:37Uma coisa interessante
23:39que nós vimos
23:39na última pesquisa
23:41de vocês,
23:42Gustavo,
23:42aquela parte
23:43em que vocês perguntam
23:44como o próximo presidente
23:47da Argentina
23:47deveria ser
23:49e qual caminho
23:51ele deveria tomar
23:52em relação
23:52à situação econômica
23:53do país.
23:55As respostas foram
23:56que,
23:56para a maioria absoluta
23:58dos eleitores argentinos,
24:00mais de 54%,
24:01o próximo presidente
24:03deveria ser alguém
24:04com capacidade
24:05de conciliar
24:06os diferentes interesses
24:07políticos e econômicos
24:08e, na economia,
24:12o próximo governo
24:13deveria aplicar
24:14medidas gradualistas
24:16com o consenso
24:17de toda a sociedade.
24:19Mas,
24:20considerando
24:21a inflação
24:22argentina
24:22como está,
24:23parece muito difícil
24:24que não haja
24:25em algum momento
24:26um choque
24:27para tentar
24:28contê-la.
24:31Isso vai ficar
24:32para o próximo presidente?
24:33Uma pergunta
24:34é se isso vai ficar
24:35para o próximo presidente.
24:37A segunda
24:37é se o próximo presidente,
24:39mesmo que se eleja
24:40com um discurso
24:41de consenso
24:42e medidas graduais,
24:45tem, em certa medida,
24:46que trair esse discurso
24:47e aplicar um choque
24:48para conseguir
24:49conter a inflação
24:51ou melhorar
24:52a situação econômica.
24:53na memória
24:55do povo argentino
24:57há vários
24:59processos políticos
25:00que têm
25:00tentado
25:01políticas de choque.
25:02É absolutamente
25:03coherente
25:04que a gente
25:04rechace
25:05o choque
25:06toda vez que
25:07isso significa
25:08uma diminuição
25:10dos salários,
25:11um aumento
25:12dos impostos,
25:14um aumento
25:14na electricidade,
25:15um aumento
25:15no gas,
25:16uma baixa
25:17nas prestações
25:18sociais,
25:19etc.
25:19etc.
25:20Agora,
25:21o próximo governo,
25:22indudablemente
25:23vai ter que ter
25:24um esquema
25:26que vai depender
25:28muito mais
25:29da fortaleza
25:30política inicial
25:31para tomar medidas
25:34que podem chegar
25:34a ser
25:35duras
25:36ou extremas,
25:37mas tem que ter
25:38muita legitimidade
25:39política.
25:40Um governo
25:41que não tem
25:42a mirada
25:43de construir
25:44consensos,
25:45eu acho que não vai
25:46estar habilitado
25:47para
25:47trabalhar
25:50com dureza
25:51o factor
25:52da inflação.
25:53Volvo a insistir,
25:55a ideia
25:55do diálogo
25:56institucional
25:57para acordar
25:59e baixar
25:59a inflação
26:00é o único
26:01caminho possível.
26:02Não pode existir
26:04um governo
26:04que unilateralmente
26:06trate
26:06de tomar medidas
26:08sem o concurso
26:09da outra parte
26:10que participam
26:11nas eleições
26:12na Argentina.
26:13Acho que aí está
26:13marcado
26:14o panorama,
26:15o diálogo
26:16institucional
26:17é o único
26:18caminho
26:19possível
26:19neste momento.
26:21Ou seja,
26:22o próximo presidente
26:22terá de ser
26:23um conciliador
26:24com a parte
26:26derrotada
26:27da eleição
26:27justamente
26:28para poder
26:29adotar
26:29medidas duras
26:30que são necessárias
26:31para a economia
26:32argentina.
26:34E, ademais,
26:36explicar de maneira
26:37muito pedagógica
26:38o plano econômico
26:40à sociedade.
26:41Se não há
26:42uma comunicação
26:42governamental
26:43profissional
26:44que esteja
26:44à altura
26:45desse desafio,
26:47vamos passar
26:48de novo,
26:49deixar passar
26:50uma nova oportunidade
26:51de melhorar
26:52e estabilizar
26:53a economia
26:53da Argentina.
26:55Córdoba,
26:56existe alguma
26:57possibilidade
26:58da população
26:59apoiar
27:00um novo acordo
27:01com o FMI?
27:02Porque o FMI
27:03foi muito demonizado
27:04na época
27:05da Cristina
27:06e pelos peronistas.
27:08Será que
27:09um movimento
27:11dessa parte
27:11do próximo governo
27:13seria aceito
27:14pela população?
27:16Em outras pesquisas
27:18anteriores,
27:20o FMI
27:21medimos
27:22e tem uma imagem
27:23negativa
27:23cercana
27:25a que tem Macri.
27:26Casi um 80%
27:27de imagem negativa.
27:28É a dizer,
27:28o FMI
27:29não são
27:31pessoas
27:31gratas
27:33na Argentina
27:33toda vez
27:35que impõem
27:36medidas
27:37impopulares
27:38ou que não
27:39têm
27:39uma grande
27:40aceitação.
27:41Mas,
27:41claramente,
27:42hoje eu não vejo
27:42que a Argentina
27:44possa desprender-se
27:45do FMI
27:46de maneira
27:47tão simples,
27:48tem que gerar
27:49condições de crescimento
27:50e cumprir
27:51as obrigações
27:52internacionais.
27:53Não há outro caminho.
27:54Por isso,
27:55acho que o consenso,
27:57ainda com o FMI
27:59intervindo
27:59nas contas
28:00econômicas
28:01da Argentina,
28:02o consenso
28:03é o único caminho
28:03possível.
28:04além da inflação,
28:09que parece um tema
28:10evidente,
28:12não vai haver
28:13como escapar
28:13dele
28:14na campanha
28:15eleitoral
28:16argentina,
28:17quais você acha
28:20que podem ser
28:21os outros temas
28:22definidores
28:23dessa eleição?
28:25Além da inflação,
28:26quer dizer,
28:26quais são os principais
28:28assuntos
28:28que podem fazer
28:30o eleitor argentino
28:31votar deste
28:32ou daquele jeito
28:34na hora de decidir
28:35qual vai ser
28:36o próximo presidente?
28:38A credibilidade
28:40dos candidatos
28:41na primeira volta.
28:43É absolutamente
28:44importantíssimo
28:47em uma eleição
28:48das características
28:49das quais vamos ter,
28:50que um dirigente
28:51que seja candidato
28:52a presidente
28:53seja creíble.
28:54Hoje a credibilidade
28:55é tudo.
28:57Você pode ir
28:58com um programa
28:58muito importante,
29:00mas sem credibilidade
29:01e não vai lograr
29:02um só voto.
29:03Então,
29:04eu diria,
29:05construir credibilidade
29:06é tão importante
29:08como apresentar
29:09um plano
29:10inflacionário.
29:11O problema
29:12que temos
29:13de falta de credibilidade
29:14tras dois governos
29:17sucessivos
29:17que não estão
29:18à altura
29:19das expectativas
29:19econômicas
29:20da sociedade
29:20é realmente grave.
29:22Por isso,
29:22eu falo
29:23de que
29:23a construção
29:24de credibilidade
29:25é tão importante
29:27como ter um plano
29:28anti-inflacionário.
29:28ótimo.
29:30Então,
29:31além da inflação,
29:33vai pesar muito
29:33nessas eleições
29:35a capacidade
29:36dos candidatos
29:37de se mostrarem
29:39pessoas
29:40de credibilidade.
29:42Está ótimo.
29:44Gustavo,
29:44mais alguma coisa
29:45que você gostaria
29:46de acrescentar?
29:47Sim,
29:48que as relações
29:50de Argentina
29:51e Brasil,
29:51de Brasil e Argentina,
29:53são realmente
29:53importantíssimas
29:54para nós.
29:55Em algumas
29:56províncias
29:56da Argentina
29:57diríamos
29:59que somos
29:59Brasil-dependentes,
30:00por exemplo,
30:00em minha província
30:01de Córdoba,
30:02por a vinculação
30:04da economia
30:05provincial
30:06com Brasil.
30:08É muito relevante,
30:10independentemente
30:11dos líderes
30:13que nos toquem,
30:14que as relações
30:15entre países
30:16sean sempre
30:17óptimas.
30:19Independientemente
30:20de quem
30:20toque gobernar,
30:21seria muito relevante
30:22que seja
30:22uma política
30:23de Estado,
30:24ao menos para
30:24a Argentina,
30:25sei que para
30:26Brasil sim
30:26o é também,
30:28que tenhamos
30:29uma relação
30:29fluida
30:30em o econômico,
30:31uma relação
30:31fluida
30:32em o político,
30:33uma relação
30:33fluida
30:34em o comercial,
30:35porque os destinos
30:37de a integração
30:38são os únicos
30:39que nos vão
30:39permitir crescer.
30:41Assim,
30:41que deixarles
30:42essa ideia
30:42e ojalá
30:43que na campanha
30:44eleitoral
30:45que temos
30:45em breve,
30:47este seja
30:48também
30:48um dos temas
30:49de campanha.
30:51Córdoba,
30:52uma última pergunta,
30:53por que a província
30:54de Córdoba
30:55tem essa relação
30:57com o Brasil?
30:58Por que o Brasil
30:59é importante para vocês?
31:00Isso que você chamou
31:00de Brasil dependência.
31:03Claro,
31:04temos
31:04uma indústria
31:06automotriz
31:07que tem
31:08uma vinculação
31:09direta
31:09com a brasileira
31:10e temos
31:11a indústria
31:13agroindustria
31:14que também
31:15tem uma
31:16directa relação
31:17com a agroindustria
31:18brasileira.
31:19Nós somos
31:20proveedores
31:21de materia prima
31:22e também
31:23de insumos
31:23industriais
31:24para Brasil.
31:26Brasil
31:27é um mercado
31:28em si mesmo,
31:29com a escala
31:30de população
31:31que tem,
31:32enquanto a Argentina
31:32é um mercado
31:33muito mais chico.
31:34então,
31:35vender a Brasil
31:36para Córdoba
31:37é praticamente
31:38entre um 30
31:40e um 40%
31:41do seu produto
31:41interno.
31:43E temos aí
31:44um turismo
31:46de brasileiros
31:47começando a ir
31:47para Córdoba,
31:48não tem?
31:50Sim, claro,
31:50Córdoba,
31:51praticamente
31:52em toda a Argentina.
31:53Eu viajava muito
31:54neste último tempo
31:55por trabalho
31:56com nossas encuestas,
31:57nossas pesquisas
31:58e temos cruzado
31:59brasileiros
32:00em praticamente
32:01toda a geografia nacional.
32:03Sim.
32:03Está ótimo.
32:05Bom,
32:06nós conversamos
32:07com o Gustavo Córdoba,
32:09ele que é consultor
32:10e analista político,
32:12também diretor
32:12do Instituto de Pesquisas
32:14Zuban Córdoba.
32:16Gustavo,
32:16muito obrigado
32:17pela atenção.
32:18Muitíssimas graças,
32:19Gustavo.
32:21Igual, igual.
32:22Na verdade,
32:23é um prazer para mim.
32:24O prazer foi nosso.
32:25Ótimo.
32:26Esse foi mais um podcast
32:27Latitude,
32:29todo sábado
32:29às seis da noite.
32:31Nós estamos aqui
32:31falando sobre os principais
32:33fatos do mundo
32:34e também sobre
32:35a diplomacia brasileira.
32:37Comigo aqui,
32:38Rogério Ortega.
32:40Ortega,
32:41foi um bom programa.
32:42Obrigado,
32:43Duda.
32:43Vamos encerrar.
32:45Peço,
32:46como sempre,
32:46a vocês que compartilhem
32:47a Latitude,
32:48cliquem no sininho
32:49para receber as atualizações.
32:51Como sempre digo,
32:52espalhem a palavra
32:53do programa
32:54para que a internet
32:55se ligue,
32:56saiba que aqui
32:56se discutem temas
32:58relevantes da política
32:59internacional
32:59e da diplomacia brasileira.
33:01Boa noite,
33:02até a semana que vem.
33:03Tchau,
33:04até a próxima.
33:04Tchau,
33:04até a próxima.
33:31Tchau,
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