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  • há 5 meses
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Nesta segunda-feira, 12, a Bolsa de Valores da Argentina caiu mais de 30%, o peso desvalorizou mais de 30% e o juro subiu para 74%. Tudo porque a chapa Alberto Fernández e Cristina Kirchner ficou em primeiro lugar nas eleições primárias, que aconteceram domingo, 11.

Para a economista Patricia Krause, da seguradora de crédito Coface, o risco de a situação afetar o Brasil é baixo. Em primeiro lugar, a Argentina não investe muito no Brasil. Além disso, apesar de o país vizinho ser um mercado importante para bens e serviços brasileiros, sua representatividade é relativa.

"A Argentina é um mercado importante, mas temos que lembrar que o Brasil exporta apenas 13% do PIB. Somos ainda um país muito fechado para o comércio internacional e a Argentina é apenas o nosso terceiro maior parceiro", disse Patricia em entrevista para o jornalista Duda Teixeira.

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Transcrição
00:00Olá, boa tarde, eu sou o Duda Teixeira da revista Cruzoé, hoje vamos falar sobre a situação na Argentina
00:06e para isso a gente convidou aqui a Patrícia Krause. Patrícia, obrigado por ter vindo.
00:11Obrigada.
00:11A Patrícia é economista para a América Latina da seguradora de crédito Coface.
00:17Patrícia, bom, a gente viu aí os resultados das eleições primárias, né?
00:22Que chance você acha que tem do presidente Maurício Macri se reeleger?
00:26Bom, eu acho que agora ficou bem difícil para ele, né?
00:30O resultado das primárias mostrou uma diferença muito maior do que o mercado esperava.
00:36Na verdade, nós estávamos prevendo, até que estavam mostrando que essa diferença estava diminuindo
00:41nas últimas pesquisas, por conta da inflação que estava caindo nos últimos meses,
00:46um câmbio mais, estava mais controlado, mas de fato, o que me pareceu é que as pesquisas
00:54realmente erraram feio. Dado isso, dada que a diferença de 15 pontos percentuais,
01:00isso seria, se fosse agora, se fosse em outubro, se fosse realmente a eleição,
01:04significaria uma vitória já em primeiro turno.
01:06Então é um quadro bem difícil de ser revertido.
01:10E fora que, tendo essa resposta aqui, fica ainda mais difícil a situação,
01:15porque a gente vê hoje o mercado reagindo extremamente, de uma forma extremamente negativa,
01:20o mercado argentino, com o peso depreciando forte, isso tem um repasse sobre a inflação,
01:27que já está em 55%, gerando uma pressão maior sobre a inflação, reduzindo a renda real das famílias
01:34e diminuindo a chance do Macri de reeleição.
01:38Sim, porque tinha essa esperança de que se a economia melhorasse, o Mac teria uma chance ali.
01:45Na verdade, isso não tem mais, até porque eu acho que o dólar tem um significado muito grande
01:48ali para o valor do dólar, para o argentino, né?
01:50Sim, nos últimos três meses a inflação estava caindo, a gente tinha também um câmbio que estava mais estável
01:56até a semana passada. Então as pesquisas que a gente tinha mostrava que essa diferença
02:02estava até ficando mais estreita, que o Macri estava conseguindo ganhar alguma vantagem
02:08por conta dessa melhora da economia, e até quando ele também colocou como seu vice
02:13também um peronista moderado, né? Então, parecia que estava melhor, mas de fato não se concretizou.
02:20Tá. Patrícia, agora me ajuda a entender como é que seria um governo de Alberto Fernandes e Cristina Kirchner?
02:27Dá para ter uma ideia do que eles falam?
02:29Acho que essa é, é por isso que o câmbio está depreciando tanto hoje, né?
02:34Que acho que tem essa grande incerteza. Primeiro porque a gente tem uma situação muito curiosa,
02:38que é difícil a gente ver no mundo um vice-presidente, no caso a Cristina Kirchner,
02:44escolhendo seu candidato para presidente, é algo bem comum.
02:48Então a primeira pergunta é quem que vai governar? Qual é o poder que a Cristina Kirchner teria nesse mandato?
02:55Os argentinos não têm muita dúvida de que vai ser ela, né?
02:58Que ela vai ter influência.
03:00Fora isso, no ano passado, com toda a confusão, toda a crise que teve na moeda,
03:06eles pegaram uma ajuda com o FMI de 57 bilhões de doses, né?
03:10Então, a segunda pergunta é como é que fica o acordo com o FMI?
03:14Ele já disse que eles não seriam loucos, que claramente iriam, mas que gostariam de renegociar.
03:20E falam que é preciso crescer para poder pagar essa dívida, que gera uma dúvida, porque...
03:25Não dá para saber o que é isso, né?
03:27É, de como é que abre espaço para interpretações.
03:30Tá.
03:30Tem mais algumas outras medidas que falaram sobre redução, na verdade, eles tirariam o IVA, né?
03:37O Imposto sobre o Valor Abregado da Cesta Básica, algo que poderia dar um conforto para realmente a população,
03:44sempre de baixa renda, que está mais influenciada, mas que é algo extremamente, a medida, um tanto, popular, né?
03:50Populista, assim, né?
03:52Fala em um aumento das pensões, que claramente foram afetadas pela inflação muito alta.
03:58Das aposentadorias, né?
03:59Isso.
03:59Quer dizer, é um pouco mais populista, né?
04:01Sim, medidas que, obviamente, ganham popularidade, ganham votos, e que acaba gerando um aumento de gastos, né?
04:09Que não é exatamente o momento para isso.
04:11Então, eu acho que, nesse momento, o cenário parece um pouco difícil de ser de uma reversão,
04:19e acredito que o mercado vai ficar mais concentrado agora em saber o que seria o Alberto Fernandes, né?
04:25Como presidente.
04:26Conhecer mais o perfil dele e mais as propostas dele, né?
04:30É, e acho que, provavelmente, por uma questão eleitoral, ele vai se mostrar mais moderado, né?
04:35Sim, sim.
04:35Para não dar...
04:36Tentar acalmar um pouco a situação.
04:38Eu acho que, no primeiro momento, também era mais aquela questão de um atacando o outro,
04:43algo que a gente já viu em outras situações, em outros lugares.
04:47E aí, até agora, devo, de fato, ir mais para ideias, né?
04:50Agora, tem uma promessa em relação ao câmbio, do que fazer com dólar, alguma coisa?
04:55É, isso agora é a grande chave, né?
04:57Como conseguir controlar essa depreciação cambial.
05:00Primeiro, tem um fator também que a gente tem que levar em conta, que é externo.
05:04Antes mesmo da eleição, a gente estava vindo de um câmbio mais controlado,
05:10mas na última semana ele estava depreciando, por conta do aumento da tensão externa,
05:15com a questão dos Estados Unidos e China, que também impactou o real aqui.
05:18Então, são fatores ali que você não tem como...
05:21Quer dizer, os investidores estão saindo dos mercados emergentes.
05:24E emergentes, estão mais receosos com relação aos mercados emergentes.
05:28Então, agora, ele viu a situação da Argentina mais vulnerável,
05:31porque não é o candidato do mercado, né?
05:33Tá.
05:34Então, como controlar isso?
05:36Bom, o Banco Central hoje estava intervindo no mercado um pouco.
05:41Acaba ajudando um pouquinho, mas a pressão é forte e não vai ser suficiente para reverter essa situação.
05:48Não vai ser isso que vai resolver.
05:50Eles também anunciaram um aumento da taxa LELIC, que é a taxa referencial deles da economia,
05:55que estava em torno de 63, foi para 74%.
05:58É algo que você também questionava se vai ter efeito ou não,
06:02porque naquela situação você não sabe o que fazer com o paciente,
06:08porque essa economia é extremamente dolarizada.
06:10Então, o efeito de um aumento de uma política de juros contra acionista é limitado,
06:15porque parte das reservas, das economias, estão em dólar e economia de modo geral.
06:22Tá bom.
06:24Agora, e contágio para o Brasil?
06:26Você acha que o dólar hoje já subiu mais de 4 reais aqui, né?
06:32Isso, é.
06:32Essa falta de 1% é.
06:34Tá.
06:35Você acha que o Brasil pode ser afetado?
06:38Eu acho que, claro que, hoje o dólar estava apreciando, na verdade, em relação às moedas emergentes,
06:45mas as moedas da América Latina estavam tendo uma depreciação superior, de modo geral,
06:51do mercado emergente.
06:52Isso eu acho que, de certa forma, é um reflexo da Argentina.
06:55Mas não acho que seja um grande problema, não vai ter um efeito tão grande pelo câmbio,
06:59porque possíveis contágio, possíveis contágio em relação ao Brasil.
07:04Um deles seria o investimento estrangeiro, se a Argentina investisse bastante no Brasil.
07:10Não é o caso.
07:11O que a gente recebe de investimentos estrangeiros normalmente não é de empresas argentinas.
07:15E o outro é o canal de comércio.
07:16De fato, a Argentina é um mercado importante para o Brasil.
07:20Só que a gente tem que lembrar que, primeiro, o Brasil exporta apenas 13% do PIB dele.
07:25Então, é um país ainda muito fechado ao comércio internacional.
07:29Fora que é o terceiro parceiro.
07:31E fora que as exportações já estavam caindo muito.
07:34Se a gente pega os dados de janeiro até julho, a queda está em torno de 40%.
07:40Então, já é uma base muito enfraquecida.
07:42Então, não acho que vai ter um efeito tão grande assim sobre a economia brasileira.
07:48Eu acho que, de modo geral, o que prevalece para a gente é realmente o cenário doméstico,
07:53mais do que o da Argentina.
07:54Importante.
07:55Ah, tem um efeito...
07:55Claro que a gente gostaria que eles estivessem bem, seria um...
07:57Mas são efeitos mais marginais, não é o principal ponto.
08:02Tá, agora que a Argentina também tem sofrido com o Brasil, né?
08:04Quer dizer, quando o Brasil espirra, a Argentina pega a gripe, né?
08:08Quer dizer, são dois países também que dependem muito um do outro, né?
08:12Sim, sim.
08:12Mas, para a gente, não é tão relevante assim, né?
08:15A Argentina depende mais do Brasil do que o Brasil da Argentina.
08:17É, acho que também, para eles, no caso, a gente é o principal parceiro, né?
08:21O nosso é o terceiro.
08:22Eles também são uma economia fechada, né?
08:24Então, tem esse ponto das exportações, mas eles dependem mais do Brasil como principal destino, né?
08:30Um ponto que é importante, que poderia ser o efeito do Brasil, é a questão do Mercosul com a União Europeia.
08:37A gente, há pouco tempo, tivemos um anúncio, né?
08:40Que a gente até achava que já não ia sair, porque tanto tempo de negociação, duas décadas aí de negociação,
08:45eles anunciaram que tinham chegado a um acordo.
08:48Com a troca de governo na Argentina, a gente não sabe como isso fica, porque não é falta ser ratificado nos seus respectivos congressos.
08:57Então, com a oposição entrando no governo, isso pode complicar.
09:03E, pela questão do Mercosul, você não pode negociar acordos sozinho, isso poderia impactar o Brasil.
09:10Não impactar no que está acontecendo, mas, assim, de chances, oportunidades de negócios para o Brasil em relação à União Europeia.
09:16Poderia, por exemplo, ter que repensar suas estratégias em relação à política externa.
09:23Entendi.
09:24Mas já esperou 20 anos, né, para fazer o acordo com a União Europeia.
09:26Quando finalmente sai essa troca de governo, né?
09:30Tá bom.
09:31Patrícia, muito obrigado.
09:32Essa foi a Patrícia Krause, da Seguradora de Crédito Coface.
09:36Eu sou o Duda Teixeira e até a próxima.
09:38Obrigada.
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