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  • 22/06/2025
A PEC da vingança, ou a PEC do Gilmar, em tramitação na Câmara, que pretende não apenas tolher a ação do Ministério Público, como até mesmo enterrar investigações promovidas por procuradores, por meio da alteração da composição do Conselho Nacional do Ministério Público, pode ir a votação nesta semana, para aproveitar a letargia causada pelo feriado. O método da caluda inaugurado por Rodrigo Maia, aquele paladino da Justiça que agora serve ao governo de João Doria, é seguido de maneira ainda mais desavergonhada por Arthur Lira (foto no destaque), o bolsonarista de ocasião que hoje preside a casa legislativa e praticamente fez terra arrasada do regimento que prevê a discussão de projetos importantes em comissões especiais.

A enormidade traz as patas do PT, mas foi piorada por um relator do PSD que também presta fidelidades a outras organizações e endossado por 185 parlamentares de 13 partidos, o que só mostra mais uma vez que, na Câmara, não imperam a ideologia e os princípios quando o assunto é impunidade. Impera apenas a falta de pudor dos interessados em promover lambanças institucionais, a fim de assegurar que crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, principalmente, não sejam castigados — e garantir que os que ousam inquirir e denunciar poderosos sejam apedrejados, inclusive como vingança de quem era alvo das investigações. Coisa de gente inocente.

As patas iniciais do projeto de emenda constitucional são do PT, mas o cérebro é de Gilmar Mendes, daí o apelido de PEC do Gilmar, o demolidor da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal. Ele nega que seja o autor da ideia, mas até a mesa histórica colocada no hall de entrada do STF, sem qualquer plaquinha de identificação precisa, coitada, sabe que o ministro é o grande inquisidor dos procuradores, em declarações públicas, decisões — e articulações. Habilmente, ele amplificou os problemas reais do Ministério Público, cujo poder conferido pela Constituição de 1988 vinha servindo a que alguns dos seus integrantes promovessem perseguições individuais, para generalizar e vilipendiar o MP que faz uso das suas atribuições legais para cumprir exemplarmente a sua missão — caso dos procuradores da Lava Jato. Coisa de gente interessada apenas no futuro do Brasil.

Não importa se aprovado com ou sem o bode na sala colocado pelo relator (foi ele a embarrigar o cabrão que permitiria ao Conselho Nacional do Ministério Público, uma vez controlado por agentes externos, exterminar investigações), a PEC é um escândalo que coloca os procuradores de joelhos diante de criminosos do colarinho encardido pela sujeira de crimes contra o estado e o Tesouro Nacional. Não bastou roubar, publicar e usar mensagens de integrantes do Ministério Público, fazendo-as objeto de livre e conveniente interpretação de texto, para transformar criminosos em injustiçados. Não bastou eliminar a prisão de condenados em segunda instância. Não bastou anular sentenças contra safados graúdos. Era preciso ir além no descaramento. Pior, é possível ir além.

Só que o além é o abismo de uma república que será o império dos salteadores.
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Transcrição
00:00A PEC da Vingança, ou a PEC do Gilmar, em tramitação na Câmara,
00:04que pretende não apenas tolerar a ação do Ministério Público,
00:07como até mesmo enterrar investigações promovidas por procuradores
00:11por meio da alteração da composição do Conselho Nacional do Ministério Público,
00:16pode ir à votação nesta semana para aproveitar a letargia causada pelo feriado.
00:21O método da caluda, inaugurado por Rodrigo Maia,
00:25aquele paladino da justiça que agora serve ao governo de João Doria,
00:28é seguido de maneira ainda mais desavergonhada por Arthur Lira,
00:33o bolsonarista de ocasião que hoje preside a Casa Legislativa
00:37e praticamente fez terra arrasada do regimento que prevê a discussão
00:41de projetos importantes em comissões especiais.
00:43A enormidade traz as patas do PT, mas foi piorada por um relator do PSD
00:49que também presta fidelidades a outras organizações
00:53e endossado por 185 parlamentares de 13 partidos,
00:58o que só mostra, mais uma vez, que na Câmara não imperam a ideologia
01:04ou os princípios quando o assunto é impunidade.
01:07Impera apenas a falta de pudor dos interessados em promover lambanças institucionais
01:12a fim de assegurar que crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, principalmente,
01:18não sejam castigados e garantir que os que ousam inquirir e denunciar poderosos
01:22sejam apedrejados, inclusive como vingança de quem era alvo das investigações.
01:28Coisa de gente inocente.
01:29As patas iniciais do projeto de emenda constitucional são do PT,
01:34mas o cérebro é de Gilmar Mendes,
01:36daí o apelido de PEC do Gilmar,
01:38o demolidor da Lava Jato, no Supremo Tribunal Federal.
01:42Ele nega que seja o autor da ideia,
01:44mas até a mesa histórica colocada no hall de entrada do STF,
01:48sem qualquer plaquinha de identificação, precisa, coitada,
01:52sabe que o ministro é o grande inquisidor dos procuradores,
01:55em declarações públicas, decisões e articulações.
01:59Habilmente, ele amplificou os problemas reais do Ministério Público,
02:03cujo poder conferido pela Constituição de 1988
02:06vinha servindo a que alguns dos seus integrantes
02:09promovessem perseguições individuais
02:11para generalizar e vilipendiar o MP
02:14que faz uso das suas atribuições legais
02:16para cumprir exemplarmente a sua missão,
02:19caso dos procuradores do Lava Jato.
02:21Coisa de gente interessada apenas no futuro do Brasil.
02:24Não importa se aprovado com ou sem bode na sala,
02:27colocado pelo relator,
02:29foi ele a embarrigar o cabrão
02:31que permitiria ao Conselho Nacional do Ministério Público,
02:34uma vez controlado por agentes externos,
02:36exterminar investigações,
02:38a PEC é um escândalo
02:40que coloca os procuradores de joelhos
02:42diante de criminosos do colarinho encardido
02:44pela sujeira de crimes contra o Estado e o Tesouro Nacional.
02:48Não bastou roubar, publicar
02:51e usar mensagens roubadas de integrantes do Ministério Público,
02:54fazendo-as objeto de livre e inconveniente
02:57interpretação de texto
02:59para transformar criminosos em injustiçados.
03:02Não bastou eliminar a prisão de condenados em segunda instância.
03:07Não bastou anular sentenças contra safados graúdos.
03:11Era preciso ir além no descaramento.
03:13Pior, é possível ir além.
03:16Só que o além é o abismo de uma república
03:19que será o império dos salteadores.

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