00:00Eu lhe pergunto, o ex-ministro Mandetta veio ao programa aqui na segunda-feira e fez uma análise bastante interessante em relação a essa falta de coordenação entre os entes federativos, entre o governo federal, os governos estaduais e as prefeituras, e parte disso, uma questão, obviamente, é a troca de turno nas prefeituras, novos prefeitos, novas equipes, novos secretários de saúde, enfim.
00:30E no caso de governadores também, a rixa política entre o governo federal e governadores. O fato é que nós tínhamos que estar todos unidos dentro de uma mesma lógica de atuação, e o que a gente vê, percebe como cidadão, é a absoluta dissociação entre esses entes federativos.
00:54E, além disso, há também muita divergência, obviamente, entre os próprios prefeitos. Tem prefeito que acha que precisa ter medida restritiva, outro acha que não precisa.
01:07Com a evolução desse quadro, até o final do ano passado, tinha gente que dizia que a pandemia está passando, acabou. Mas agora está bem óbvio, está bem claro, que a pandemia saiu do controle.
01:21Ela entrou numa dinâmica absolutamente assombrosa, e saiu totalmente do controle. Houve uma mudança, há uma mudança de postura dos prefeitos em relação a isso?
01:37O senhor percebe um entendimento maior em se estabelecer essa coordenação, ainda que a gente não tenha o novo ministro da Saúde empossado?
01:48Claudio, Claudio, eu vou ser bem sincero contigo. Eu fui prefeito oito anos e mantive o mesmo secretário de saúde por oito anos.
01:58Passei por crises, mas era um homem de caráter, um homem competente, eu dei o suporte político. Por que eu estou falando isso?
02:08Se esse novo ministro for muito, muito, muito inteligente, ele vai demorar seis meses para conhecer o ministério.
02:17Vai demorar seis meses para entender onde ele está, como é que funciona.
02:21Então, você veja que situação que a gente está. Vamos começar por aí. E esse já é o quarto que passa por lá.
02:30Então, a verdade é, teve aquela doutora Ludmilla, que eu fiquei empolgado com a mulher.
02:36Eu vi que o ministro tem que ter duas coisas. Parte técnica, isso aí é preponderante.
02:45E tem que ter um carisma. E eu senti isso nessa mulher. Pouca coisa que eu vi dela.
02:51Só que, o que acontece? O presidente chamou para conversar, ela falou, ele falou, não, se eu fizer isso eu vou perder a eleição no Nordeste.
03:00Então, a verdade é que nós temos um presidente preocupado com a eleição de 2022.
03:04Olha, eu sou político, eu fui vereador, deputado estadual, deputado federal, prefeito.
03:11Eu sei que o político tem isso na cabeça. Mas tem hora que ele tem que dar uma, falar, não, vou, vou cuidar disso daqui.
03:19O resultado eu vou ver lá na frente.
03:22Então, o que eu vejo? O presidente Bolsonaro, ele falou, eu vou cuidar desses meus 30%.
03:27E não importa os outros 70%. Eu sinto muito isso.
03:33Ele falou contra a vacina, agora mudou o discurso a favor da vacina, né?
03:38Está falando que realmente, que vai comprar, que isso e que aquilo, né?
03:42Chamou os governadores para uma reunião, parece, semana que vem.
03:46Mas, ao mesmo tempo, ele entrou na justiça contra três governadores.
03:50Eu acredito, ele joga muito para a torcida, para um público dele, né?
03:55Que ele tem muita dificuldade de desagradar.
03:59E se tem uma coisa que faz a pessoa cometer erro no governo, é ela ter coragem de desagradar.
04:05Porque a tua atitude, por mais correta que seja, você vai desagradar alguém.
04:10Essa é a realidade de você governar, principalmente, um país de 220 milhões de habitantes.
04:17Agora, eu não posso também desconsiderar, Cláudio, que vai tendo um cansaço.
04:22As pessoas vão tendo uma dificuldade.
04:25Os donos de restaurantes sofreram muito no ano passado.
04:29Aí, na hora que começa a ter um vislumbre, vem essa situação de novo, né?
04:34Então, a pessoa fica mesmo esgotada.
04:38E cada categoria, ela tem as suas peculiaridades, né?
04:42Aí, nós temos aquelas pessoas que têm aluguel e o que o dono lá do imóvel não quer é inflexível,
04:51quer aplicar 20% do IGP-M num momento que nem esse que nós estamos vivendo, né?
04:56Então, são esses conflitos da sociedade.
05:00E aí, eu tenho uma análise um pouco filosófica e psicológica, Cláudio, que é o seguinte.
05:05Que a nossa geração pós-guerra, ela teve sempre uma vida muito confortável.
05:11Nem todos.
05:12Nós temos gente, principalmente nazil, que é uma população muito pobre.
05:17Mas nós não vivemos dilemas que nossos antepassados viveram, né?
05:22Guerra, fome, né?
05:25E aí, diante de uma situação como essa, a gente não tem, usando uma linguagem bem de pandemia,
05:31a gente não tem anticorpos, a gente está sofrendo, a situação é grave, mas a gente não...
05:39Primeiro, o Brasil, nós não temos uma liderança que una o Brasil, né?
05:44Temos uma liderança influente, porque o que ele fala tem muita gente que segue, né?
05:50E estamos batendo cabeça.
05:53Governador, presidente, né?
05:55Os prefeitos entre eles, você tem razão,
05:58Nós temos aí prefeitos que são totalmente contra, né?
06:03Qualquer tipo de restrição de mobilidade.
06:06E outros que estão lutando aí para poder fazer algo que proteja a população.
06:11A verdade é, hoje, as grandes cidades, a maioria, eu diria que 90%, não tem leito para UTI.
06:19Não tem leito.
06:20E eu estou falando assim, não é só público, não.
06:22Tem um grande plano de saúde aqui da minha cidade, Campinas, onde eu estou falando,
06:27que já não tem mais aonde internar.
06:30Então, vai pegar toda a classe social, né?
06:33Porque vai ter gente aí com plano de Einstein, de sírio libanês,