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  • 19/06/2025
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Transcrição
00:00Bom dia a todos, estamos aqui recebendo o procurador Júlio Marcelo de Oliveira,
00:06presidente da Associação Nacional dos Procuradores de Contas
00:09e representa o Ministério de Contas junto ao TCU, Tribunal de Contas da União.
00:17Bom dia, Júlio Marcelo.
00:19Bom dia, Mário, obrigado pelo convite.
00:22Então, Júlio Marcelo está fazendo a testa, ele e outros procuradores,
00:26até em algumas outras associações também que visam limpar o Brasil,
00:31a testa de um movimento que quer mudar a estrutura dos tribunais de contas do Brasil.
00:41E conta aqui, Júlio, o que vocês propõem?
00:45Olha, esse movimento, o Movimento Muda TC, que foi lançado ontem na Câmara de Vereadores de São Paulo,
00:52ele tem como pauta reformar os tribunais de contas.
00:56São quatro pontos básicos, né?
00:59O primeiro, acabar com as indicações políticas.
01:03Não funciona entregar ao governador ou à sua base majoritária na Assembleia Legislativa
01:10ou no Congresso Nacional a escolha de quem vai fiscalizar as suas contas.
01:15A experiência histórica do Brasil dos últimos 25 anos mostram que esse modelo constitucional é fracassado, é um horror.
01:26Isso que aconteceu no Rio de Janeiro, os cinco conselheiros de origem política recebendo propina do governador
01:33para provar suas contas, para não fiscalizar suas obras, mostram o grau de contaminação desse sistema.
01:40E o que aconteceu no Rio de Janeiro não é um caso isolado.
01:44Não, na verdade, o Rio de Janeiro foi o ápice de um modelo que é replicado por todos os estados e por todos os municípios e há muito tempo, né?
01:54Sim, e nós temos casos assim de situações de conselheiros sem curso superior sendo indicados apenas porque são parlamentares.
02:02Outros sem formação técnica compatível com a função, dentistas, médicos, veterinários ocupando o cargo de magistrados de contas.
02:16Isso é, portanto, capacidade de exercer a função com o requisito que ela requer.
02:23Esse é o primeiro ponto, acabar com as indicações políticas. Isso não funciona.
02:27Certo.
02:27Segundo ponto, submeter os tribunais de contas, a fiscalização. Ninguém hoje fiscaliza no Brasil o que os tribunais de contas gastam e como eles gastam.
02:38E eles juntos gastam 10 bilhões de reais por ano.
02:4110 bilhões?
02:4210 bilhões.
02:43Então é muito dinheiro, não falta dinheiro para os tribunais de contas.
02:48E se não falta dinheiro, não falta estrutura, por que não funciona?
02:52Só um ponto assim, só para a gente tirar aqui já uma dúvida.
02:57O tribunal de contas da União está na esfera do legislativo, não é?
03:02Não é isso?
03:03Nos casos dos estados e municípios, como é que isso funciona? Também estão na esfera do legislativo?
03:09É, se considera que ele integra o poder legislativo, porque o poder legislativo tem essa função clássica de fiscalizar o executivo.
03:16Mas isso é uma escolha que a Constituição pode fazer livremente.
03:22Em Portugal, o tribunal de contas é um órgão do poder judiciário.
03:26Então estar no legislativo, estar no judiciário, não estar dentro de poder nenhum como Ministério Público, é irrelevante para o exercício da função.
03:35Ok. Mas vamos adiante. Aí no segundo ponto...
03:38Então o segundo ponto é submetê-los a uma fiscalização.
03:40No Brasil, os tribunais de contas são em tudo assemelhados aos tribunais do poder judiciário.
03:49E os seus membros são regidos pela lei orgânica da magistratura.
03:53O regime jurídico é o mesmo dos magistrados.
03:56Então nós defendemos que os tribunais de contas sejam fiscalizados pelo CNJ.
04:01Certo.
04:01Em vez de se criar um conselho novo só para tribunais de contas, que é um conselho que tenderia a ser um ambiente controlado pelos conselheiros.
04:14Uma fiscalização efetiva é aquela que você não controla quem fiscaliza.
04:19Então uma fiscalização pelo CNJ, sobre os tribunais de contas e sobre os conselheiros, a meu ver, teria muito mais chance de funcionar, de promover um saneamento desse sistema.
04:30Quarto ponto, a profissionalização absoluta da atividade de auditoria.
04:37Os auditores não são profissionais todos?
04:40Em muitos tribunais de contas você tem um índice absurdo de servidores comissionados, indicados...
04:48Cabide de emprego.
04:48Cabide de emprego ou indicados discricionariamente por conselheiros ou por deputados ou por pessoas do poder executivo,
04:56com a atribuição de fazer auditoria em contas públicas.
04:59Auditoria é uma coisa séria, pode resultar em aplicação de sanções, ineligibilidade.
05:05Então isso só pode ser feito por um agente do Estado que tenha atribuição legal para fazer isso.
05:10Aliás, não vamos esquecer que o Júlio Marcelo e os auditores do TCU estiveram na base do pedido de impeachment da Dilma Rousseff,
05:21o Cef, pelas pedaladas, por causa das pedaladas.
05:24Então este papel, de fato, de fiscalizar, de levantar minuciosamente as contas de um governo é essencial.
05:31No caso extremo, levou o impeachment de uma presidente.
05:36Exatamente.
05:36Então veja as consequências que uma auditoria pode ter.
05:39Isso não pode ser feito por um agente de Estado sem competência legal que fez concurso para isso.
05:45É como uma empresa sofrer uma devassa fiscal por pessoas que não são auditores fiscais.
05:50Ele é um comissionado indicado por não sei quem vai entrar numa empresa e vai ter acesso ao seu sigilo fiscal, vai fazer uma auditoria.
05:56Isso não se aceita.
05:56Não pode se aceitar no Tribunal de Contas também.
06:00Tribunais de Contas que não fazem concurso há décadas.
06:04E o quarto ponto é a autonomia do Ministério Público de Contas.
06:07Nós somos o único ramo do Ministério Público brasileiro que não tem autonomia.
06:12Nós trabalhamos hoje dentro do Tribunal de Contas, no espaço físico que ele considera razoável nos conceder,
06:20com os funcionários, as mesas, as cadeiras, os computadores, que o Tribunal entender razoável que nós tenhamos.
06:28Então nós somos o Ministério Público à mercê dos humores dos Tribunais de Contas.
06:35Evidentemente isso não pode funcionar bem.
06:37Enquanto o outro Ministério Público tem autonomia, consegue desenvolver as suas atividades com desenvoltura, com desembaraço, com profissionalização.
06:48Olha aí a Operação Lava Jato mostrando isso.
06:51Nós passamos os últimos 25 anos lutando para existir e para ter o mínimo de prerrogativas respeitadas pelos tribunais.
07:00Eu tenho duas questões. Primeiro, o CNJ, como órgão fiscalizador do Ministério Público de Contas, da atuação dos TCUs.
07:11É, dos tribunais e conselheiros.
07:16Apesar de você dizer que não tem muita importância a esfera,
07:21Agora, o Tribunal de Contas, que está ligado ao Legislativo, ter a sua atuação fiscalizada pelo CNJ, que está na esfera do Judiciário,
07:36isso não implicaria um pouco uma intromissão de um poder no outro?
07:40Eu acho que não. A Constituição está cheia de cheques and balances,
07:44em que um ato de um poder tem repercussão no outro.
07:49Sem dúvida. Mas aí seria institucionalizar um...
07:54Seria. Como você tem o governador no nomeia, o desembargador, isso é um...
07:58É, está certo. É verdade.
08:00É um cheque and balance. Não teria problema nenhum, até pela similitude das funções.
08:06A forma de atuação é uma forma judicialiforme, é um processo com garantias, conduzido por juízes.
08:14Então, eu não vejo dificuldade.
08:16Ô, Júlio, me conta uma coisa. E como seria feita a escolha?
08:20As indicações políticas, nós também concordamos que se trata de um absurdo.
08:26Até, você veja, no caso, enfim, eu sei que fica um pouco constrangedor para você falar disso,
08:31mas eu posso falar.
08:32Os conselheiros dos Tribunais de Contas da União, indicações políticas, PMDB, outros partidos,
08:39e muita gente enrolada, a gente vê agora nas denúncias da Lava Jato e tudo mais.
08:43Então, eu acho essencial, de fato, que não seja por indicação política.
08:48Agora, como é que seriam escolhidos os conselheiros, nós estamos falando aqui dos auditores,
08:53os conselheiros dos Tribunais de Contas?
08:55Sairiam dos próprios tribunais, de uma lista sugerida pelos integrantes de um determinado tribunal?
09:02Como é que isso funcionaria?
09:04Bom, a nossa associação, a Ampicon, ela ajudou a desenhar uma PEC, a PEC 329 de 2013,
09:11que está tramitando na Câmara dos Deputados, e o relator deputado Alessandro Molon.
09:15Certo.
09:16Nós desenhamos essa PEC junto com a Frente Parlamentar de Combate à Corrupção.
09:20Foi a frente que apresentou a PEC.
09:23Nessa proposta nossa, os conselheiros serão todos oriundos de carreiras técnicas.
09:28Então, tem um que já é assim hoje, oriundo do Ministério Público de Contas, continuaria.
09:34Criaria-se uma vaga, então, para os auditores de controle externo.
09:38Então, dos auditores com mais de 10 anos de experiência, um seria escolhido entre os auditores.
09:45E os demais seriam escolhidos da carreira de conselheiro substituto,
09:49que é uma carreira que já existe hoje, que são juízes de contas substitutos,
09:53que auxiliam os titulares, e é uma carreira a qual se ingressa por concurso público.
10:00Certo, não por indicação política.
10:02Não por indicação.
10:03Os substitutos entram por concurso, os titulares por indicação política.
10:07Exatamente.
10:08É sensacional.
10:09O Brasil é, de fato, um país peculiar.
10:12Então, esses substitutos, após 10 anos de exercício da função,
10:17seriam, à medida que as vagas surgissem, promovidos a conselheiros titulares.
10:22Então, seriam pessoas com experiência, e esses 10 anos de experiência servem para filtrar
10:28aquele que não tem compromisso, aquele que fez o concurso, mas não quer trabalhar.
10:33Enfim, esses a gente conseguiria eliminar desse processo.
10:38E nessa PEC tem uma proposta de ter um conselheiro oriundo dos conselhos de fiscalização profissional
10:44em regime de rodízio.
10:47Conselho de administração, de contabilidade, OAB, economia.
10:52Então, esse é o desenho da PEC.
10:54O importante é que a PEC ande agora, passe do estágio inicial de admissibilidade,
10:59para que se forme uma comissão especial na Câmara dos Deputados.
11:02E essa comissão, sim, ela vai fazer uma ampla discussão no modelo.
11:06O relator vai ter liberdade de modificar algum critério, conforme o desejo da sociedade.
11:12Essa PEC não pode ser vista como a PEC de uma associação,
11:15assim como o Muda-TC não pode ser o movimento de 3, 4 ou 5 associações.
11:20Tem tanta gente querendo manter os tribunais de contas exatamente como estão.
11:24Claro, claro.
11:25É o melhor dos mundos, né?
11:28Você tem ali um cabide de empregos, você tem ali, você põe a raposa para fiscalizar o galinheiro,
11:35muitas vezes, não é raro.
11:38Então, de fato, eu ia esperar que os deputados abram mão disso,
11:41imagino que só com muita pressão.
11:43Exato.
11:44Se não houver muita energia, muita mobilização da sociedade, a reforma não vai acontecer.
11:49Para os grupos políticos dominantes e para quem está lá hoje,
11:53interessa manter como está, sem controle, sem fiscalização,
11:56um cargo vitalício, com muito poder, muito prestígio, sem fiscalização nenhuma.
12:01Júlio, me conta uma coisa.
12:04O papel que o TCU, em que você, principalmente você teve,
12:10você e toda a equipe de auditores que fiscalizaram as contas da Dilma Rousseff
12:14e viram ali os grandes problemas que havia,
12:19você acha que o papel que o TCU teve no impeachment,
12:22isso foi positivo, teve um efeito, de fato, positivo sobre os outros tribunais de contas,
12:29em nível estadual, em nível municipal, assim,
12:32as pessoas se sentiram estimuladas,
12:34falaram, não, a gente precisa fazer alguma coisa,
12:36eu digo, os caras de bem, né, os caras dispostos a mudar,
12:39de fato, a fazer com que os tribunais funcionem.
12:41Qual foi o impacto do papel do TCU no impeachment
12:46nesse movimento que você agora está liderando?
12:50Essa pergunta é excelente, e ela pode ser vista por mais de uma vertente.
12:56Primeiro, mostra o que acontece quando uma instituição como essa funciona bem.
13:03Uma auditoria conduzida, feita por mais de 40 auditores,
13:07participaram disso.
13:08O trabalho do Ministério Público de Contas,
13:10evidenciando as irregularidades e a gravidade das irregularidades,
13:15os ministros perceberam aquilo,
13:18se sensibilizaram e, felizmente,
13:20tomaram a decisão certa por unanimidade,
13:22emitiram o parecer pela rejeição das contas.
13:24É isso que se espera de um órgão de controle.
13:27Então, funcionou bem.
13:29E, pela Constituição, o Tribunal de Contas tem um poder imenso,
13:33ele tem poder de mandar corrigir algo,
13:36não é sugerir, não é recomendar, não é apenas dar notícia.
13:40Ele fixa prazo para o exato cumprimento da lei,
13:43está lá na Constituição.
13:45Então, se o gestor não quiser cumprir,
13:47ele tem que ir ao judiciário.
13:49O gestor que quiser impedir uma auditoria do tribunal
13:51pode ser afastado pelo tribunal.
13:53Então, veja que eles têm poderes de tribunais mesmo,
13:56de magistratura.
13:58Então, esse é um aspecto.
14:00Outro aspecto que você falou,
14:02do efeito demonstração.
14:04Sim, muita gente de bem falou,
14:07poxa, olha o trabalho que está sendo feito lá no TCU,
14:10nesse caso das auditorias, das contas do governo.
14:13Podemos fazer isso nos nossos tribunais.
14:16Tem um movimento de auditores,
14:19de conselheiros,
14:20a parte boa da força, vamos dizer assim,
14:23conselheiros com,
14:25mesmo aqueles oriundos, às vezes, de indicação política,
14:28mas que têm decência,
14:29que têm vontade de contribuir,
14:30que estão dispostos a fazer uns tribunais de contas diferentes.
14:36Então, a gente conta com esse vetor também,
14:39apoiando esse movimento.
14:42E a outra vertente que a gente pode analisar isso,
14:45é que os tribunais de contas ganharam muita visibilidade
14:47com o impeachment.
14:49E, ao mesmo tempo que a sociedade,
14:53antes nem olhava para esses órgãos,
14:55agora olha e vê o que eles tiveram...
14:58A sociedade teve um pequeno aperitivo
15:00do que pode acontecer com esses órgãos funcionando bem.
15:03Isso aumenta a cobrança sobre eles.
15:06Eles estão na Berlinda.
15:07Eles estão com os holofotes virados para eles.
15:10E essas operações, agora no Rio de Janeiro,
15:14enfim, todos esses elefantes brancos
15:16que foram construídos na Copa do Mundo,
15:18nas Olimpíadas,
15:20e que tiveram a omissão dos respectivos tribunais de contas,
15:25tudo isso gera uma cobrança muito grande.
15:28Claro.
15:28Não é mais possível ficar naquela zona de conforto
15:31em que eles estavam.
15:32Então, ou eles se reinventam,
15:34ou a sociedade pode cometer o erro de querer extingui-los.
15:38Claro, claro.
15:38E, assim, são órgãos muito importantes.
15:41Não é bom.
15:42O impeachment demonstrou isso.
15:44Pois é.
15:45O Júlio, é uma ideia que eu, como leigo, tenho,
15:51sempre me ocorreu,
15:54desde que nós passamos a examinar mais de perto
15:58as contas de campanha,
16:01porque quando você chega nas contas ali que estão no TSE,
16:05está disponível ali no site e tudo mais,
16:08os diversos candidatos,
16:10você percebe que aquilo ali é uma confusão
16:13pelas prestações de contas.
16:14Porque os caras põem ali,
16:16escaneiam lá umas notas fiscais,
16:19jogam aquilo ali como se aquilo fosse uma prestação,
16:22de qualquer jeito,
16:23e você veja que o TSE, na verdade,
16:26não tinha nenhum controle,
16:28a verdade é essa,
16:29sobre as contas de campanha,
16:30tanto que foram levantando gráficas fantasmas,
16:33empresas, outros tipos de empresas também,
16:35que só serviam para passar nota fria,
16:38gastos completamente inexplicáveis,
16:42lavagem de dinheiro no caixa 1,
16:44todas essas coisas que surgiram nesse processo aí
16:47com a Lava Jato e outras operações,
16:50demonstram que, na verdade,
16:52não há controle nenhum sobre as contas de campanha.
16:56Como você veria a ideia,
16:59e eu não sei se isso tem algum impedimento constitucional,
17:03mas eu acho que requer, de fato,
17:06talvez uma PEC,
17:08do Ministério Público de Contas
17:11passar também a atuar
17:14nas prestações de contas de campanha,
17:17ou seja, os auditores
17:18se debruçarem sobre as contas de campanha,
17:21não a posteriori,
17:23mas acompanharem isso,
17:25digamos, ao vivo, online,
17:27durante as campanhas, inclusive,
17:29para evitar esses tipos de,
17:32esses inúmeros absurdos
17:33que aconteceram e ainda acontecem
17:35nas campanhas eleitorais do Brasil.
17:37Você, já te ocorreu essa ideia,
17:39os procuradores já pensaram em algum momento
17:42de chamar para si essa responsabilidade,
17:45tentar fazer com que a legislação
17:47seja encaminhada nesse sentido ou não?
17:50Não, eu nunca tinha pensado sobre isso.
17:53Na verdade, o importante não é
17:54se é o Ministério Público de Contas
17:56ou se é outro ramo.
17:56É uma especialidade, né?
17:57Sim, mas o Ministério Público...
17:59Pela tecnologia,
18:00pelo conhecimento,
18:01o know-how que vocês têm.
18:02O TCU tem um convênio com o TSE
18:05para fornecer auditores,
18:09uma quantidade limitada, evidentemente,
18:11que o TCU também não tem auditores,
18:13para ceder para todos os órgãos,
18:14mas tem um convênio
18:16para apoiar o TSE nessa missão.
18:18O importante, primeiro,
18:20é que os órgãos estejam estruturados.
18:22O Ministério Público Eleitoral
18:23deve se estruturar para isso.
18:26A gente tem um ramo do Ministério Público
18:28dedicado a essa função,
18:29que é o Ministério Público Eleitoral.
18:30Mas não funciona,
18:31e aí não vai nenhuma crítica individual.
18:33Não, mas...
18:33Não funcionou.
18:35Eu acho que não é a questão só do MPL,
18:37tem a questão da legislação
18:39que está mal desenhada.
18:40Hoje, a legislação eleitoral
18:42está desenhada para os gastos de campanha
18:45serem ocultos durante a campanha
18:47e só se revelarem a posteriori.
18:49Sim.
18:50Eu, eleitor, não sei hoje,
18:52vou votar no Presidente da República amanhã
18:54ou no Governador amanhã,
18:55me é negado o direito de saber
18:57quem está doando para a campanha dele.
18:59Esses dados só são abertos para a sociedade
19:02depois da eleição.
19:03E de uma maneira atabalhoada, confusa, enfim.
19:05E depois, quando a sociedade está,
19:08quando os jornais já estão preocupados
19:09em dizer quem vai ser o ministro,
19:11quem vai ser o secretário,
19:12porque ele ganhou, porque ele perdeu.
19:13Ninguém quer saber se foi a empresa A
19:15ou a empresa B que tem contrato com o governo
19:17que doou.
19:18Então, eu acho que essa abertura
19:21das contas de campanha durante a campanha
19:24daria muito mais legitimidade ao pleito,
19:27diminuiria, porque onde tem transparência,
19:30diminui muito o espaço para fraude.
19:33Não elimina totalmente.
19:34Alguém sempre vai tentar fazer alguma coisa.
19:37Mas diminui o espaço para fraude,
19:38facilita o controle,
19:40gera expectativa de controle.
19:42Agora, esse convênio que você me diz,
19:45que há entre o TCU e o TSE,
19:49isso acontece apenas em nível federal
19:53ou nas diversas campanhas?
19:56Eu só conheço em nível federal.
19:57Não sei te dizer se nos estados tem um bom apoio,
20:02uma boa relação.
20:03Não sei.
20:03Então, o caminho seria, de fato,
20:06onde não há convênio,
20:08que haja convênios,
20:09e que durante as campanhas
20:12haja um maior número de auditores
20:16e o controle seja feito quase diariamente?
20:19Sim, exatamente.
20:21Durante a campanha, no custo da campanha e não depois.
20:24Depois, o custo para a democracia de caçar uma chapa eleita é muito alto.
20:31Claro, claro.
20:31Os ilícitos de financiamento de campanha têm que ser descobertos e combatidos antes do pleito.
20:39Claro.
20:40Porque se houver essa expectativa,
20:42a incidência desses ilícitos vai diminuir muito.
20:45Inclusive, as pedaladas que vocês identificaram,
20:49você esteve à testa disso,
20:52na verdade,
20:53aquela maquiagem toda teve um intuito eleitoral,
20:57não escapou também do aspecto eleitoral da campanha de 2014.
21:02de esconder o buraco
21:04para que a candidata tivesse chance de vencer a eleição.
21:09Exato.
21:10Ali foi um estelionato eleitoral qualificado.
21:17E eu digo isso porque
21:18se esconderam do país números oficiais.
21:24Não é como a gente se diz popularmente,
21:27é um estelionato eleitoral porque prometeu o céu e não entregou.
21:30Não.
21:30Ali números oficiais, dados, estatísticas oficiais sobre a dívida pública,
21:35sobre o andamento dos programas públicos,
21:38foram omitidos da sociedade.
21:41Vendeu-se para a sociedade um estado fiscal de nação que não existia.
21:44Não existia e ficou muito claro isso.
21:46E todo aquele incremento do gasto público,
21:50feito em 2013,
21:52sobretudo em 2014,
21:53foi para criar essa sensação de governo provedor,
21:56governo de alta performance,
21:58que consegue executar tudo o tempo todo em alto nível.
22:03E a verdade é que isso era custa de um endividamento,
22:06estava se gastando o que não se tinha,
22:08estava se gastando o futuro do país.
22:10Qual que é o próximo passo agora
22:12nessa sua campanha de despolitização dos tribunais de contas?
22:16Olha, é disseminar,
22:18conversar com todos os setores,
22:20mostrar que isso é uma questão suprapartidária,
22:24que isso interessa a toda a sociedade.
22:27O difícil para nós é mostrar para a sociedade
22:30o quanto melhor a gente poderia estar
22:33se esses órgãos estivessem funcionando bem.
22:37Ótimo.
22:38Então, essa auditoria do impeachment foi um pequeno aperitivo.
22:42A gente poderia estar em um país muito melhor
22:44se os tribunais de contas funcionassem bem.
22:47Por só te dar um exemplo de Santa Catarina.
22:50Santa Catarina nunca aplicou o mínimo da educação.
22:55E todos os anos as contas do governador são aprovadas.
22:59Com uma ressalva de que no próximo ano
23:01a gente se esforce para cumprir o mínimo da educação.
23:04Aliás, essas aprovações com ressalva,
23:06que a gente viu muito no caso,
23:08quando teve, durante o processo de impeachment,
23:11descobriu-se que as contas foram aprovadas,
23:14com ressalva, com ressalva.
23:15E eu não entendo isso de aprovar a conta com ressalva.
23:19Porque quando você vai,
23:21você está no seu cheque especial do banco,
23:23está com um buraco no banco,
23:25o banco não aprova com ressalvas.
23:28Você paga, você acaba,
23:30se você não pagar, você tem a sua conta fechada,
23:33você vai para as pessoas sem crédito,
23:37perde o seu crédito.
23:38Mas não está na hora de acabar com esse negócio
23:41de aprovar a conta com ressalva, Júlio?
23:43Não é preciso ter, de fato, severidade.
23:46Eu não sei como é que é a experiência em outros países,
23:48e eu confesso uma ignorância.
23:49Mas a mim, logicamente, pela lógica mais básica,
23:53me parece que se as contas não estão de acordo com o que deveriam estar,
23:58elas não poderiam ser aprovadas.
23:59Olha, é que a aprovação de contas não é uma coisa assim tão direta
24:06quanto a sua relação de dívida com o banco.
24:08Ela não deveria ser.
24:10É, porque o que é para ser uma ressalva?
24:12Foi uma imagem muito usada na época do impeachment.
24:14Veja, é porque a ressalva foi banalizada.
24:17A ressalva é para ser uma coisa muito formal.
24:20Eu tinha que publicar algo até o dia 30,
24:22publicou no dia 31.
24:23É um aspecto dos burocráticos.
24:24Isso, são coisas formais que não dizem qual a substância dos números.
24:28Mas passaram a ser.
24:29Passaram a ser, quer dizer, coisas que são graves,
24:31passaram a ser tratadas como irregularidades formais.
24:34Então você estava falando de Santa Catarina, no caso.
24:36Isso, isso não jamais poderia ser uma ressalva.
24:38Isso é um elemento essencial das contas de um governador.
24:40Se ele não cumpre um comando constitucional
24:42de aplicação de mínimo em educação,
24:46as contas têm que ser rejeitadas.
24:47E, no entanto, vêm sendo aprovadas continuamente.
24:49Vêm sendo aprovadas.
24:50É comparecer pela aprovação de contas dos tribunais de contas.
24:54Você estava falando daquele efeito de demonstração.
24:57Nesse último ano, em vários estados,
24:59o Ministério Público fez parecer pela rejeição das contas dos governadores.
25:04Inspirados pelo que aconteceu.
25:05No Rio Grande do Sul, o governador do Rio Grande do Sul
25:08utilizou o Banco Público, o Banrisul,
25:12como fonte de financiamento de despesa de custeio.
25:15O que é ilegal.
25:16O que é ilegal. Ele fez uma pedalada.
25:18Ele fez exatamente o que a presidente Dilma fez.
25:21O Ministério Público apontou.
25:23O Ministério Público de contas,
25:24mas o Tribunal de Contas aprovou as contas.
25:26Porque está politizado, muito provavelmente.
25:28Está politizado.
25:29Minas Gerais, a mesma coisa.
25:31O MP de contas emitiu um parecer pela rejeição das contas.
25:35E tem casos que as contas, os processos nem andam.
25:38Tem contas do Distrito Federal que o TCDF não julga.
25:41Desde Jarruda, desde vários governadores.
25:44É algo que é para ser julgado no ano seguinte.
25:47Nesse caso, pode dizer, o TCU sempre cumpriu o cronograma dele corretamente.
25:52Tem tribunais de contas que estão há cinco, oito anos sem emitir o parecer das contas do governador.
25:57É um absurdo.
25:58Existe algum tribunal de contas que funcionou, vem funcionando já há algum tempo,
26:04mesmo antes do impeachment, de uma maneira razoável, assim que você tem conhecimento?
26:07Nível estadual, por exemplo.
26:08O município talvez seja um pouco difícil, a quantidade de municípios do nosso tempo.
26:13Não é porque eu trabalho junto ao TCU, mas o melhor tribunal de contas, o paradigma...
26:18Continua sendo o TCU.
26:19É, porque ele tem um corpo de auditoria profissionalizado.
26:23Ele não tem servidores comissionados, o tribunal inteiro.
26:28Isso é porque tem muita visibilidade também, né?
26:30Tem muita visibilidade e tem, realmente, a auditoria do TCU é profissional.
26:34Bom, pessoal, vamos prestar atenção nessa batalha que o Júlio Marcelo e os outros procuradores de contas empreenderam.
26:44É muito importante, de fato, despolitizar esses tribunais.
26:48Eu espero que vocês repliquem essa entrevista na internet, que passe a ser um assunto.
26:55Eu, como jornalista, eu já falei várias vezes, eu me penitencia, eu tenho quase 35 anos de carreira,
27:02e eu fui prestar atenção no TCU, de fato, em 2015, nos inícios de 2015,
27:08quando começou a vir à tona a história das pedaladas e que, realmente, aquilo era um escândalo.
27:15E se não fosse pelo trabalho da imprensa também, de mostrar, de trazer à tona tudo isso que o Júlio Marcelo
27:22e a brava equipe de auditores dele, ou ligada a ele, levantaram,
27:28muito provavelmente não teria havido impeachment.
27:30Então, eu acho que, de fato, essa é uma batalha que vale a pena ser lutada e, com a nossa ajuda,
27:37com a ajuda dos cidadãos e da imprensa independente, sem dúvida, ela será vencida.
27:42Muito obrigado, Júlio.
27:43Mário, eu queria agradecer e queria só te pedir mais um minutinho.
27:47Pois não, por favor.
27:48Para falar, nós, sobre a questão da autonomia do Ministério Público de Contas,
27:52só para te dar um exemplo importante.
27:53Nós estamos pleiteando, lutando dentro do TCU para que todos os processos do tribunal
27:59sejam examinados pelo Ministério Público de Contas.
28:03Para isso que ele existe, para atuar em todos os processos.
28:06Isso deveria ser algo já rotineiro, normal, mas ainda está sendo discutido se vai ser implementado ou não.
28:12Então, veja o grau de limitação que a atuação de um órgão como o Ministério Público de Contas
28:17sofre por não ter essa autonomia plena.
28:21Então, isso é um ponto importante, a autonomia do Ministério Público de Contas.
28:25E poder atuar em todos os processos.
28:27Não pode ter caixa preta mais no Brasil, gente.
28:29Não pode.
28:31Passou do limite.
28:32Agora a gente está descobrindo que há várias caixas pretas
28:35e uma importantíssima, talvez a mais essencial justamente,
28:39são as contas dos governos, das administrações.
28:41Para além das contas de campanha também, que estão aí no meio de toda essa confusão que nós vivemos institucional.
28:49Para encerrar, eu queria dizer que esse movimento, o MudaTC,
28:52é um movimento iniciado por entidades que trabalham junto aos tribunais de contas.
28:59A Ampcom, a FenasTC, a NTC dos auditores de tribunais de contas,
29:05a Audicom dos conselheiros substitutos.
29:08Queremos que a Tricom participe também.
29:10Mas não pode ser um movimento dessas entidades.
29:15Isso só vai dar fruto se for um movimento de toda a sociedade brasileira.
29:19Então, eu peço apoio, eu peço adesão de todos os setores
29:23para que a gente possa ter tribunais de contas funcionando
29:26no nível que a sociedade brasileira merece e tem que exigir.
29:32Muito obrigado, Júlio. Muito obrigado a todos.

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