As tarifas de Trump e a pressão das montadoras chinesas afetam o setor automotivo. O consultor Milad Kalume Neto analisou no Real Time os impactos no mercado global, a queda da Porsche na China e os rumos da eletrificação.
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NotíciasTranscrição
00:00As tarifas de Trump sobre os carros europeus e a crescente concorrência das montadoras chinesas
00:05estão impactando o setor automotivo.
00:07A Porsche, por exemplo, viu suas vendas despencarem na China e agora está revendo a estratégia de eletrificação.
00:14Para entender esse cenário, a gente conversa agora com o Milad Calumi Neto,
00:17que é consultor independente do mercado automobilístico e de mobilidade.
00:21Bom dia para você, Milad. Seja bem-vindo ao Real Time.
00:24Marcelo, bom dia. Tudo bem? Bom dia para você e para todos que nos ouvem agora.
00:31Milad, explica para a gente um pouco melhor essa situação da Porsche.
00:36Olha, não só a Porsche, mas várias outras empresas, elas estão revendo um pouco o conceito puro de eletrificação.
00:45O crescimento dos veículos elétricos em nível global, existia uma expectativa.
00:51Muitos países, muitas regiões, algumas cidades, elas provocaram aí para 2030, até entre 2030 e 2035,
01:00a eletrificação plena. 100% dos emplacamentos dos veículos novos deveriam ocorrer com carros 100% elétricos.
01:08Está todo mundo revisando essas projeções porque as vendas realmente não estão sendo tão...
01:16Claro, está tendo um crescimento, está tendo uma ampliação, mas o fato é que está sendo aquém das expectativas.
01:23Esse é o grande ponto.
01:25Os investimentos estão acontecendo.
01:27Existe uma dominância de um país, que é a China.
01:30Ela está vendendo muito mais do que qualquer outro mercado, com tecnologias realmente disruptivas.
01:35Não que os países europeus ou os Estados Unidos não tenham esse tipo de tecnologia, mas de fato é que a China está dominante.
01:44Então, existe um movimento no mundo onde a tendência é de fato o investimento para os veículos híbridos.
01:52Então, não só Porsche, mas como várias outras empresas, elas tiraram o pé, vamos usar esse termo,
01:57na questão dos veículos elétricos puros e estão investindo nessa tecnologia, digamos, intermediária, que seria um dos veículos híbridos.
02:08O que está atrapalhando o avanço dos elétricos? A falta de infraestrutura para carregamento, por exemplo?
02:14Marcelo, não só a questão da infraestrutura.
02:17Aqui no Brasil, sem sombra de dúvida, é a questão da infraestrutura.
02:20A gente tem uma questão, eu faço um comparativo sempre, falando rapidamente de Brasil somente.
02:27A gente pega a área do Brasil, divide pela quantidade, a quantidade de carregadores dividido pela área do Brasil
02:33e faz o mesmo comparativo com a Europa, o Brasil ainda está nove vezes, desculpa,
02:40pior do que o pior referência com relação aos países europeus.
02:44Se a gente tira a Amazônia e o Pantanal, que basicamente a densidade demográfica é muito baixa,
02:50o Brasil fica quatro, quatro e meio vezes abaixo do que a Letônia, que é o pior país europeu.
02:55Então, assim, aqui no Brasil sem sombra de dúvida.
02:57Mas no mundo também é a questão não só da infraestrutura.
03:02Países como Noruega, como Dinamarca, Holanda, são vários países ali que realmente
03:09são indiscutíveis a questão da eletrificação.
03:12Mas são países que são menores ou têm um custo, um PIB muito elevado.
03:19A gente não pode querer comparar o mundo com determinados países.
03:24A gente não pode falar também que uma Noruega vai voltar atrás na questão da eletrificação.
03:29Não, não vai.
03:30O que vai acontecer é que vai ter uma adequação dos outros países.
03:33Esse é o grande ponto.
03:34Então, o que vai ocorrer, esses países vão continuar tendo processo de eletrificação,
03:40como estão, com altos índices.
03:43A Noruega, há três anos atrás, 80% das vendas eram de veículos eletrificados,
03:49ou seja, elétricos e híbridos.
03:52E desses, 80% eram elétricos puros.
03:55Então, assim, hoje os números estão até melhores.
03:58Então, assim, a gente não pode imaginar de fato que uma Noruega vai voltar atrás.
04:01Mas, fundamentalmente, hoje é a questão de infraestrutura e autonomia de bateria.
04:08Aí, é claro, tem uma série de discussões com respeito à depreciação do veículo,
04:13a custos de manutenção desse veículo, no médio ou no curto prazo.
04:19Não a questão de bateria.
04:20A bateria, você consegue dividir em módulos, mas a questão de reparabilidade.
04:25Então, assim, tem uma série de discussões que, ao tempo, ao longo do tempo,
04:29quando esse carro for para a segunda mão, for se tornar usado,
04:33o veículo, esse proprietário vai entender que os custos desse carro
04:37já não são tão elevados, realmente.
04:39A bateria não tem esse desgaste tão prematuro.
04:43Estudos já indicam que a bateria está durando mais do que o próprio ciclo de vida do próprio veículo.
04:49Então, assim, é uma série de aspectos que vão cair naquele mito popular, vamos falar assim.
04:56Agora, mesmo com as tarifas altas, a Porsche não quer levar a produção para os Estados Unidos.
05:01Por que isso acontece?
05:03A produção, você não consegue simplesmente estalar o dedo e criar uma fábrica em um determinado país.
05:09Você tem que ter volume, você tem que ter ali uma série de aspectos.
05:13Você concentrar a produção como os Estados Unidos estão fazendo,
05:18é alguma coisa que vai ser muito interessante para o mercado norte-americano
05:22ao longo dos anos e para determinadas empresas.
05:26A gente tem que verificar o que existia no mercado norte-americano
05:30até a década de 80.
05:32Você tinha lá 70% da indústria feita dentro do mercado dos Estados Unidos.
05:39Hoje está básica, não o inverso, mas você tem ali, por questões de custos,
05:42mão de obra mais barata, enfim, um aspecto de globalização.
05:48Você teve um deslocamento da produção para México, para Canadá.
05:52Hoje o veículo, você não consegue produzir tudo.
05:55São raras as empresas, e não nem países,
05:58são raras as empresas que conseguem um aspecto de verticalização muito mais amplo.
06:03A BYD, que está mostrando na tela agora, é uma delas, mas são muito poucas.
06:07O que o Trump está tentando fazer é levar essa concentração da indústria
06:11novamente para o mercado dos Estados Unidos.
06:14É difícil.
06:15Eu, particularmente, não vi ninguém, nenhum analista da indústria
06:19observando pontos e aspectos positivos.
06:22Muito pelo contrário.
06:23Você vê o FMI diminuindo taxas de crescimento da indústria global,
06:28do PIB de países e de regiões, em todo lugar.
06:33Você vê ali um J.P. Morgan falando 60% de chance de recessão.
06:36Então, assim, eu não vejo, não vi nenhum aspecto, não vi nenhum local
06:42comentários positivos sobre isso no curto e médios prazos.
06:47Mas, enfim, alguém deve ter visto do governo do Trump
06:51aspectos positivos nesse sentido, em nível global,
06:54e especificamente para a indústria local deles.
06:56Mas isso, de fato, está acontecendo.
06:59É uma tendência que eles estão praticando dentro do mercado americano.
07:04e a tendência é você ter essa concentração.
07:06E aí, isso, quem sabe, vai estar repercutindo de alguma forma
07:09no médio e longo prazo.
07:11Mas o fato é que hoje a oferta e a demanda não vão ter a mesma sinergia.
07:18E só respondendo mais objetivamente,
07:20você não consegue montar uma fábrica de uma semana para outra,
07:23de um mês para o outro.
07:24Demanda tempo e demanda muito investimento.
07:26E aí você precisa ter um mercado que receba.
07:29Você não consegue montar uma fábrica para produzir poucos veículos.
07:33Você tem que ter um mercado para ter essa recepção dessa fábrica.
07:38Não adianta você produzir para atender somente um mercado
07:40e um mercado pequeno.
07:41Não que o mercado norte-americano seja pequeno.
07:43Mas uma Porsche é uma fábrica que produz,
07:46é segmentado, é um veículo produzido para nicho de mercado.
07:52Então, você tem que ter todo esse balanceamento
07:54que provavelmente a Porsche está fazendo.
07:57Ela não vai investir só para conseguir produzir,
07:59para poder atender o mercado norte-americano e perder dinheiro.
08:03Ela vai fazer estudos que, se for rentável,
08:07ela vai levar a empresa para lá.
08:08Se não for rentável, ela não vai levar.
08:11Ela vai competir dentro do mercado americano
08:15com a taxa e com a alíquota de 25% que o governo impôs
08:21para qualquer veículo vindo de fora.
08:23Voltando a falar dos elétricos,
08:26como é que você está vendo a briga da Tesla
08:27com a BYD pelo mercado europeu?
08:31Olha, é o mercado europeu,
08:33são os dois grandes mercados depois do mercado chinês
08:36que brigam ali pelo mercado, digamos, secundário.
08:41Não em qualidade, mas mercado secundário
08:43com relação ao que resta.
08:45A China está em grande expansão.
08:47O mercado europeu se consolidou.
08:50Teve muito investimento nesse sentido.
08:52E aí a gente tem a Tesla.
08:53Tem uma briga ferrenha.
08:56O Elon Musk recentemente anunciou a saída do governo Trump.
09:01Não sei até quando.
09:02Não vi essa informação.
09:04Não sei até quando ele permanece.
09:06Sai hoje.
09:06Mas ele vai dar atenção às empresas dele.
09:08Oi, Marcelo.
09:09Sai hoje.
09:09Sai hoje.
09:11Obrigado pela informação.
09:13Então, ele vai dar atenção a todas as empresas dele.
09:16Ele vai estar desvinculando um pouco mais a imagem dele
09:18dentro do governo, que causou realmente rusgas em todos os aspectos.
09:22E aí vai dar atenção.
09:24Realmente, dentro do mercado europeu, é a grande área de batalha.
09:30Você tem um mercado gigante para ser explorado, onde você tem um PIB muito relevante.
09:37Você tem um PIB per capita muito interessante.
09:39E ali é onde vai ter a grande briga.
09:42Lembrando, questão de autonomia também.
09:44É onde essas baterias, hoje em dia, as baterias de hoje, que tem uma autonomia de 500, 600 km no máximo,
09:50elas cabem perfeito para dentro desses países, que são países com uma geografia menor, países menores.
09:57Então, a gente vai ver uma guerra bem interessante.
10:00Uma guerra no bom sentido, bem interessante.
10:03Está certo.
10:03Milad Calume Neto, consultor independente do mercado automobilístico e de mobilidade.
10:08Obrigado pela sua participação hoje aqui no Real Time.
10:10Bom dia.
10:11Marcelo, eu que agradeço.
10:12Um abraço.
10:13Um abraço a todos.
10:13Um abraço.