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O jornalista e colunista Ismaelino Pinto entrevista o artista e responsável pela Festa da Chiquita, Eloy Iglesias

Imagens e Edição: Lucas Melo
Transcrição
00:00Olá, está no ar o Manguerosamente. A gente faz uma volta no tempo, retorna a três anos atrás,
00:13na primeira temporada deste videocast chamado Manguerosamente. Conosco estava uma pessoa muito
00:21especial. A gente volta nesse tempo e vamos ver quem teve com a gente lá nesse programa.
00:27Olá, está no ar o Manguerosamente. Hoje com o artista que é literalmente a cara de Belém.
00:34Ele já convidou você para ir no Bar do Parque, no Faroveli, em Marudá. Você já sabe quem é,
00:40né? Estou falando do nosso camaleão mais tropical e amazônico no Tucupi, Eloy Iglesias. Tudo bem,
00:46Eloy? Tudo! Diz uma coisa, em algum momento alguém achou que você era parente do Julio
00:52Iglesias com esse sobrenome? Já! Eu, na verdade, no início eu fazia um show chamado Relaxa e
01:01Aproveite e foi na época do início do HIV. Essa coisa explodiu, HIV, e o nome do nosso grupo era
01:11Grupo de Risco. As pessoas achavam muito estranho, porque como era Eloy Iglesias,
01:14todo mundo que ia ver o parente do Julio Iglesias cantando aquele tipo de baladas românticas e
01:21tivesse aquele perfil de galã. E quando chegava, às vezes, as pessoas se decepcionavam muito. Me
01:27diz uma coisa, de onde é que vem esse Iglesias? Me conta essa história aí. Olha, Iglesias é um
01:32nome que na Espanha eles dão para os novos cristãos, os judeus que fugiam da guerra.
01:39Sua família é espanhola? A minha família veio da Espanha. Pai, mãe, espanhóis? Pai, na verdade,
01:44mais da família do pai, da mãe já é o meu avô, né? Que era o Eloy Iglesias. Voltamos no tempo,
01:52rapidamente aí, não é você completamente? De volta! Eu com 17 quilos a menos. É! Não,
02:00eu sempre tô no meu peso. Lutamos contra o peso. Não, você sempre, sempre, sempre, você é o Eloy.
02:05Eu, na verdade, eu gosto de andar muito a pé. Tu andas a pé? Tu és andarilho? Sou andarilho.
02:11Mas sempre puxa, né? Porque eu lembro de você circulando pela cidade. É, eu venho dizer,
02:20fui daqui a Brasília a pé. Na década de 70, tu tomava uns cogumelos e tu saia que nem um doido.
02:28E eu cheguei em Brasília, pegando uma carona aqui, mas tu andava muito. Eu lembro que teve
02:34uma dessas viagens que eu fui... Andarilho mesmo, né? Era uma bicha peregrina e ela andava. E eu
02:45teve uma dessas viagens que eu tentei sair de São Paulo de trem e eu achava que o trem ia até
02:53Salvador. Na verdade, o trem me deixou na fronteira de Minas Gerais com a Bahia. E eu fui andando a
03:02Rio Bahia até Jiquié. Eu fiquei com o pé igual o Filaria, porque na Rio Bahia é filosofia, né? O
03:13Pepeu Gomes já tinha até uma música que ele falava, né? Filosofia tá na Rio Bahia. Realmente,
03:19porque as pessoas, para quem era mochileiro... Não era mochileiro porque tu vai jogando tudo,
03:26chega uma hora que tu fica sem nada, que tudo pesa, né? Mas as pessoas não te dão água na
03:31entrada, não te dão comida. Antigamente, era um outro tempo, né? E aí, depois dessa viagem...
03:39Hoje em dia rola um medo, né? Eu nunca, mas não que eu ia pedir água, as pessoas mandavam o tiro.
03:44Sai daqui, garoto! Eloy, voltando a esse assunto que nós falamos aqui, naquela pergunta há três
03:52anos atrás, na primeira temporada, nós gravamos o quarto programa dessa temporada. Estamos agora
03:57na quarta temporada. Quarta temporada, que bom! Temos quatro e quatro aí nesse nosso número.
04:02Ainda te confunde, ainda te pergunta se você é parente do Júlio Iglesias?
04:07Ainda hoje, as pessoas acham esse nome uma coisa Iglesias, sabe?
04:14Talvez você tivesse se apropriado.
04:16É, e assim, eu digo Iglesias na Espanha é igual Silva. São nomes que a igreja deu para novos cristãos,
04:27para judeus, para indígenas, para ciganos. Então, tem alguns nomes que a igreja deu para essas pessoas.
04:37O povo nômade, né? Nômade como você, cantora, artista.
04:41A minha família é nômade. Na verdade, eu sou bisneto de uma família de refugiados, né?
04:50Porque, na verdade, a minha família, naquela loucura franquista lá que matou...
04:57Na Guerra Civil Espanhola.
04:59É, exatamente. Então, ele colocou todos os espanhóis num navio e falou assim,
05:05olha, vou mandar vocês para uma cidade que fica do lado da Argentina.
05:10Vocês só fazem atravessar um rio e vocês estão na Argentina.
05:15Então, vocês não vão ter problema com o idioma, essas coisas.
05:18Sabe quando chegou em Belém do Pará?
05:21Às vezes, eu não tinha a menor noção geográfica, embora a gente já estava já no século XIX.
05:29E América do Sul dos extremos, né? Tem a Amazônia aqui e a Argentina lá embaixo.
05:33Então, foi uma loucura para as minhas vós.
05:35E eles ficaram aqui e ajudaram a fundar o primeiro bairro operário do Brasil,
05:42que foi o Reduto, que é a primeira fábrica de tecido.
05:48Manufaturamento também de produtos da floresta, como juta, castanha do Pará.
05:53É, tinha ali, era um bairro...
05:56Tem toda uma tradição.
05:57Aliás, é bom que a gente, eu sou morador do Reduto, a gente ainda tem vestígios dessa coisa.
06:02A gente tem muita vila no Reduto, né?
06:04São vilas que, na verdade, eram vilas operárias, né?
06:06É, porque assim, tinha...
06:10Era um bairro industrial ali, né?
06:12Porque tinha a fábrica de tecido, tinha as fábricas de castanhas,
06:16tinha as fábricas de borracha,
06:20onde tinha o Banco da Amazônia, que era o Banco da Borracha, né?
06:24Então, assim, a minha infância foi toda...
06:28No Reduto, sempre viveste do canal para cá.
06:31Do canal para cá.
06:32Agora, tu vivencias, estás nessa possibilidade de ver uma nova doca.
06:37Como é que tu vê essa coisa das obras?
06:39Olha, a doca, eu sou daquela doca...
06:41Eu, na verdade, o meu primeiro grande romance,
06:44eu fui para a doca com esse romance.
06:48Com aquele cheiro de febo que escorria na fábrica.
06:51É, porque era febo, era febo,
06:53mesmo sabendo que o Reduto foi um dos bairros que,
06:56por conta da foligem, da febo,
07:00causou câncer em muitas pessoas ali.
07:03Se a gente tiver aquelas árvores cheias de foligem,
07:05as casas cheias de foligem...
07:07Não, e outra coisa, todo o esgoto,
07:10o rejeito, na verdade, da fábrica da febro,
07:13era jogado dentro do canal.
07:15Tanto que era um perfume.
07:16A gente se aproximava da doca, sabia que...
07:19Tinha um cheiro no ar, não era?
07:21É, porque era um bairro cheiroso, né?
07:23Era fedo, né?
07:26Escolha fedo.
07:28E assim, então a doca...
07:30E esse romance foi na beira do canal.
07:32Foi, foi um romance maravilhoso,
07:34e durou por muitos anos.
07:36E a gente ia para esse canal,
07:38era ótimo, porque a gente saía e corria.
07:41E a doca explodiu,
07:44como tem que acontecer as coisas, né?
07:46As coisas, elas evoluem, né?
07:48Passam, a gente também...
07:50Filma a rua de um canal não saneado,
07:52em Garapé, na verdade, um alagado se tornou...
07:55Eu brincava muito onde é o Tino Pimenta,
07:57o Tino Pimenta era um mercado,
08:00mercado público ali,
08:02que era o mercado onde vendia
08:05todas, né?
08:08Carne, frutas...
08:10Que eram as docas, na verdade.
08:12Doca de Souza Franco, agora...
08:15Tinha a doca do Reduto, né?
08:17Um pouco mais lá na frente, ali próximo...
08:19Porque ela ia, a doca...
08:21Eu, quando eu já me entendi,
08:23a doca já não ia até Boaventura.
08:27Ela já ia até, no máximo,
08:29até a Abanel Barata,
08:32que tinha ali muita venda
08:35de peças de argila,
08:40cerâmica, né?
08:42Essas coisas...
08:43Voltando a esses teus romances,
08:44tu és um cara de romance, assim?
08:46Muitos, muitos...
08:47Até hoje tens romance?
08:48Até hoje, até hoje.
08:49E, assim...
08:50Mas amores fixos?
08:52Amores volatas?
08:54Não quero nem saber.
08:55Eu me jogo.
08:56De vez em quando tu pegas os narcisistas
08:58e é complicado tu sair dos narcisistas, né?
09:02E, como todo artista,
09:03você é muito assediado?
09:05Você tem assédio?
09:08Tenho assédio, né?
09:11Porque as pessoas acham que tu está
09:13deitado em almofadas de setim,
09:16comendo uvas, né?
09:18Mas, assim...
09:19Mas é a história do personagem, né?
09:21De levar o personagem para a cama, né?
09:23Não, porque a personagem, a Iglesias,
09:25se tornou um ícone da cultura do Estado.
09:30Você vê que as pessoas...
09:32Eu sou conhecido até em outros estados.
09:35Agora tem uma oficina,
09:37um grande fórum do Minc com o Ifan
09:41e eles estão enlouquecidos,
09:42porque eu ganhei um prêmio,
09:44só 15 pessoas,
09:46mais de 400 pessoas se inscreveram
09:49e a festa da Chiquita
09:51acabou ganhando esse prêmio,
09:53que é o prêmio Rodrigo de Melo.
09:55Você pegou a partir de que momento
09:57a festa da Chiquita?
09:58A festa da Chiquita eu pego
09:59depois que ela estava com 13, 14 anos, né?
10:03Que aí o Bandeira...
10:05Até então, a festa da Chiquita,
10:07ela acontecia de uma maneira informal.
10:09A gente sabia que acontecia no Bar do Parque,
10:11as pessoas se reuniam,
10:12tinha um grupo de carimbó,
10:14esperava a trasladação passar.
10:16Sempre foi assim, não é?
10:17A história era uma brincadeira
10:19de diretoria da festa, né?
10:23Aí vamos fazer...
10:24Porque no ano que começou a festa,
10:29porque tem um ano que começa a festa
10:31e tem um ano que começa o movimento,
10:33o movimento da Chiquita começa antes, né?
10:35Na verdade, o Luiz Antônio Bandeira,
10:37que é o grande ícone, né?
10:43E ele traz essa,
10:44porque era um LGBT preto,
10:47mas era um LGBT que estava na academia.
10:51Então, na verdade,
10:52ele já tinha quebrado todos esses...
10:54Era um intelectual,
10:55circulava no meio de intelectuais,
10:57porque ali junto dele estava a Rui Barata.
10:59Exatamente.
11:00Não, e todas as pessoas.
11:01Mas ele tinha ainda a coisa
11:04de tentar se adequar a uma sociedade.
11:07Então, ele acabou fazendo um colar, né?
11:10Chamava o tal do colar.
11:12Mas ele queria realmente...
11:14Porque as primeiras pessoas que acolheram ele
11:17foram essas pessoas,
11:19esses artistas de rua, né?
11:22Esse grupo, quando a gente faz o bloco de Carnaval...
11:25Na verdade, eram os frequentadores do Barro do Parque.
11:27Eu tive um romance com ele,
11:29um romance, assim, rápido,
11:32mas acabei ficando muito tempo com ele,
11:35de ser parceiro com ele,
11:37eu, o Uriel, outras pessoas.
11:40Agora, detalhe,
11:41essa coisa...
11:42Por isso que eu te perguntei
11:43quando foi que você assumiu a festa da Chiquita,
11:46como evento, como é hoje.
11:49Mas não tinha essa orientação de ser uma coisa LGBT,
11:53não era assim?
11:55Na verdade, era uma manifestação?
11:58Na verdade, a gente não tinha,
12:00porque não tínhamos para onde ir.
12:03Não existia uma política,
12:04mas nós já fazíamos um contraponto
12:08do que estava acontecendo em São Francisco,
12:11as paradas do orgulho internacional.
12:17E a gente já sempre estava ligado nisso.
12:21Aconteceu isso em São Francisco.
12:24Olha, as crianças já estão nas paradas.
12:26Então, quando tu vê que os pais,
12:29levando as crianças para as paradas,
12:31começou a quebrar um pouco esse estigma
12:34que até hoje a gente vive,
12:36mas a gente hoje...
12:39Eu, na verdade, sempre fui uma criança viada,
12:42sempre fui uma criança desde pequena.
12:45Nesse dia que Carmem Miranda morreu.
12:47Então, não que essa Carmem Miranda
12:50tinha alguma coisa,
12:51isso muito tempo depois desse ícone,
12:53virou um ícone.
12:54Não era o espírito que baixou em mim, não.
12:56Não, mas eu aproveitei isso, entendeu?
12:58Porque a minha mãe era ecumênica,
13:00ela tinha tudo.
13:02E, na hora que aconteceu de me bater,
13:04meu pai era um homem bruto,
13:07um espanhol bruto,
13:08mas ela falava,
13:09não, Carmem Miranda baixou em mim.
13:12E aí eu já peguei essa coisa
13:14para contar minha história
13:15de uma maneira bem-humorada.
13:18Mas voltando lá à Chiquita.
13:20Aí a Chiquita, ele pegou...
13:22Porque também não tinha toda essa denominação,
13:24não tinha esse...
13:25É, na verdade, é o processo.
13:27É um processo de crescimento.
13:30Que todo o movimento LGBT passou até aqui.
13:33Até aqui.
13:34Então, a gente foi corajoso,
13:36porque era uma festa.
13:37Lógico que tudo foi ressignificado,
13:41porque sempre as pessoas criticam,
13:45mas não era de fresco, não era LGBT,
13:50não era drag queen.
13:51Na verdade, as coisas estão evoluindo.
13:56Então, a gente mantém...
13:57A festa é viva.
13:58A gente tem o Carimbó,
14:01a gente abre com o Carimbó,
14:03cada vez mais...
14:05Com a edição lá de trás da época do Bandeira.
14:07Infelizmente, a gente não traz mais o Borboleta do Mal,
14:10porque eles não existem mais,
14:12porque morreu a pessoa que comandava.
14:15Tem outros grupos,
14:17mas agora já tem alguns grupos modernos,
14:21da juventude, que estão fazendo...
14:23Que é isso que a gente quer,
14:24que as pessoas percam essa vergonha
14:26da nossa cultura.
14:28A gente vê muito agora
14:30o Parahayá.
14:32Quer dizer, a nossa cultura está deixada para o lado.
14:35Se a gente chamar os artistas daqui,
14:40não vamos conseguir pedir nem 5%,
14:44porque as pessoas geralmente...
14:47Porque a gente acaba fazendo escada
14:50para esses pessoas que vêm,
14:53nada contra os artistas que vêm,
14:56mas são artistas que vêm sempre.
14:59É isso que a gente não entende.
15:01A gente acha que existe uma troca,
15:04troca de amores das pessoas.
15:08E os artistas paraenses
15:11ficam deixados sempre de lado.
15:15Mesmo os artistas nacionais,
15:18como Fafá, como Gabi, como Joelma,
15:23que a gente sabe que são pessoas
15:26que podem estar de frente
15:29com uma Mariah Carey.
15:32Então, as pessoas fazem essas coisas
15:36e querem dizer, vamos fortalecer.
15:38Não vão fortalecer.
15:40Você tem um retorno de mais de 400 paus
15:44e não volta 10% para a cultura paraense.
15:47Então, na verdade, infelizmente,
15:51é um evento que é legal,
15:53que tem uma visibilidade nacional,
15:55que traz o público,
15:57mas, infelizmente, a gente é apagado
16:00pela produção de um evento desse.
16:03Por isso que a gente não pode nem dizer
16:05que são shows ruins,
16:07porque são grandes artistas,
16:09são grandes profissionais
16:11que estão por trás da pessoa que está na frente.
16:14A pessoa pode ser medíocre,
16:16pode falar do sertanejo que vive na metrópole,
16:20porque, na verdade, a música de sertão,
16:23de sertanejo, você não tem nada,
16:26você tem a ostentação.
16:28Mas nessa mudança toda,
16:29a gente fala dessa coisa do sertanejo,
16:32do movimento sertanejo,
16:34que é muito grande.
16:35Ele não pode mais ser ignorado.
16:38Não, de jeito nenhum.
16:39Da questão toda.
16:40Mas você não acha que esse é o processo
16:43que a gente passa?
16:44Porque, claro, mais uma vez,
16:46música é arte e a arte sempre está viva.
16:49Assim como está viva a chiquita, não é?
16:51É verdade.
16:52A chiquita, na verdade, hoje em dia,
16:54é uma outra coisa, muito diferente.
16:56Não, ela vai, lógico.
16:58Eu só acho que a gente sempre está fazendo escadas para isso.
17:05A gente sabe que, por trás desse movimento,
17:09a gente sabe que tem o ogro-negócio por trás,
17:13que é quem banca.
17:16Então, assim, a arte mesmo, a cultura mesmo,
17:22a gente é meio deixado de lado.
17:25Acho que a chiquita, até hoje em dia,
17:27incomoda a festa de Nazaré,
17:32que a gente pode falar de uma coisa maior.
17:34Ela já está um pouco no DNA das pessoas.
17:38Mas acho que vocês ainda incomodam.
17:41Incomodam, acho.
17:43Mas, assim, isso não é um problema meu,
17:45é um problema deles.
17:46Porque, hoje, a gente tem uma carta,
17:49até falo sempre que é uma carta de euforia,
17:54que, na verdade, a chiquita sempre foi uma coisa totalmente apócrifa.
17:57Na verdade, não tinha data,
17:59a gente às vezes não sabia nem quantos anos a chiquita tinha.
18:03E, na hora em que o Ifam reconhece a chiquita
18:10dentro das festas que rodeiam essa quadra,
18:15que é uma quadra que só temos,
18:17que é a quadra nazarina,
18:19as pessoas ficam loucas.
18:21E, assim, a gente, quando chega com aquela carta,
18:24temos isso.
18:25Embora a gente saiba que o Ifam...
18:27Mas, na sua organização,
18:29que sei que você passa o ano todo para organizar
18:32aquele dia lá, no sábado,
18:35que antecede o Cílio, no dia da Trilha da Ação,
18:38você já está, você faz esse trabalho o ano todo,
18:41eu sei que conheço o seu trabalho.
18:42Você acha que ainda tem coisas que ali tem uma barração?
18:47Essa coisa poderia ser mais fácil?
18:49Não, acho que nós estamos...
18:50Mas como é a festa de chiquita?
18:52Não, acho que é mais curiosidade,
18:54porque é um grande festival.
18:55A chiquita é um grande festival da cultura,
18:58da diversidade paraense.
19:00Então, as pessoas imaginam muito mais coisas do que acontece.
19:08Acho ótimo quando escuto o que elas veem.
19:11Na verdade, teve uma exposição do Ifam,
19:14que até vai ser refeita de novo no Museu do Cílio,
19:19e é uma coisa que a chiquita acontece dentro...
19:25Acho que você chegou a ver essa exposição,
19:27que você olha por buraquinho.
19:30Então, é a história do curioso.
19:33O curioso, antes de se conhecer,
19:35ele tem um monte de coisas.
19:39Na hora em que ele te conhece,
19:40porque você é uma pessoa pública,
19:42a chiquita é uma festa que é do Estado.
19:45Uma coisa que vejo, que noto nos últimos anos,
19:48isso era uma coisa que não acontecia antes,
19:50é que a chiquita tomou conta da praça, na verdade.
19:53Toda a Praça da República é chiquita.
19:56E não é só chiquita, não é só aquele núcleo ali do palco,
19:59o Teatro da Paz, o Bar do Parque,
20:01não é aquele núcleo que a gente vê.
20:03A gente vê as pessoas espalhadas pelo chão,
20:06as pessoas que ficam lá bebendo, se divertindo,
20:10a praça inteira, literalmente...
20:12Seria o destoque LGBT.
20:15Exatamente.
20:16É de liberdade.
20:18É o destoque contra o cupi, na verdade.
20:21É uma ode à liberdade, ao amor, à humanidade.
20:28Então, é isso que a chiquita...
20:30Uma outra coisa que é importante a gente falar
20:33é que não tem registro de violência na chiquita.
20:36Na verdade, hoje o Ifan fala muito de a gente voltar
20:41para o nosso lugar de origem,
20:43que, na verdade, o lugar de origem ficava na frente
20:47daquela pedacinha ali do Bar do Parque.
20:52E, quando o Zé Naldo fez a reforma do Bar do Parque,
20:56ele chamou, me chamou, chamou o pessoal do Ifan,
21:00que, na verdade, é o Ciro, que foi a pessoa que foi lá,
21:04para ver como é que a gente fazia essa coisa de ir e voltar.
21:11Ir e voltar que você diz assim, mudou de lado, na verdade.
21:14Hoje em dia, o palco é para a subida da Governa do Zé Malché
21:19e para...
21:21A frente, a gente sempre faz isso.
21:23Passinho de Vasconcelos, é isso?
21:25A frente tem de ser sempre para a santa.
21:28Nós temos essa coisa de ficar de frente para a santa.
21:31O palco fica de frente para a santa.
21:33A santa precisa ver.
21:34Que é a presidente Vargas.
21:36É, que é a presidente Vargas.
21:37Então, a frente sempre fica para a santa.
21:40Essa coisa de você falar, nós estamos aqui.
21:45Sim.
21:46Nós somos, estamos aqui e queremos a benção,
21:51porque sabem que o bicho é devota.
21:54E, mais nesse dia, quem é ateu vira nazinha.
22:00Então, na verdade, não é nem católica, você vira Nazaré.
22:03Você é Esmalino de Nazaré nesse dia.
22:07Eu sou Elói de Nazaré.
22:08Então, é importante.
22:10Eles fizeram tudo para a gente ficar de costa para a santa.
22:13Eu digo, não, a gente quer ficar de frente para a santa.
22:16Esse é um detalhe que eu não sabia,
22:17eu não tinha prestado atenção nisso.
22:18É, então, a festa tem que ficar de frente para a santa.
22:22Uma das coisas também que eu tenho notado,
22:24claro, nesse processo de ressignificação cultural que a gente vive,
22:28onde tudo é arte, é movimento artístico, é vivo.
22:31Está vivo.
22:32Amanhã é outro jeito, amanhã é outro jeito,
22:34sem perder a sua essência.
22:36É que, hoje em dia, a Chiquita também é acolhida pela família.
22:40Tem famílias que vão participar da festa da Chiquita.
22:44Coloco isso como um calendário,
22:45como elas vão assistir o Alto do Sírio,
22:47como elas vão assistir a passagem da santa pelos estivadores.
22:51É, porque faz parte de todo um roteiro.
22:58Nós temos o ministro do turismo,
23:00infelizmente, não consegui uma pauta com ele
23:03para a gente falar sobre turismo LGBT santo.
23:09LGBT santo?
23:10É, porque a Santa Chiquita de Nazaré...
23:13Religioso, na verdade.
23:14É, na verdade, o movimento LGBT...
23:19Eu, ultimamente, sou quântica, sou ateia.
23:23Eu não acredito em Deus, não acredito em inferno,
23:26não acredito...
23:27Mas, no dia da Chiquita, sou de Nazaré, entendeu?
23:31Estou de Nazaré.
23:32A nossa ideia não é de respeitar credo de ninguém,
23:38na verdade, é agregar.
23:40Quando a gente fala que a Chiquita é quântica,
23:44hoje, é essa história de você agregar.
23:47Ninguém é contra ninguém.
23:49A gente agrega católicos,
23:53umbandistas, afros, religiosos...
23:56Porque ali não acontece nenhuma chamada depravação,
23:59porque as pessoas têm medo de acontecer.
24:01Não existe isso.
24:02Não existe.
24:03Isso é lenda, na verdade.
24:04É lenda, na verdade.
24:05As pessoas não sabem o que é depravação.
24:07As pessoas não viveram década de 60, de 50,
24:11onde nós vivíamos assim, entendeu?
24:13No auge da descoberta.
24:15Hoje, não tem nem graça, porque não dá nem pra...
24:17Tu não pode ser mais depravado que um vídeo...
24:21Que está sendo compartilhado nos grupos de WhatsApp da família, inclusive.
24:25Então, é mais fácil tu fazer a linha Nossa Senhora,
24:31do Divino Pau, entendeu?
24:33E qual é a novidade?
24:34Tem alguma coisa, por exemplo, assim,
24:36a gente está vivendo a COP.
24:37Já chegou a COP.
24:38Não, esse ano é o viado verde.
24:40Não tem estar mais esperando a COP.
24:41Estamos na COP.
24:42Esse ano é o viado verde.
24:43Então, esse ano é o viado da COP.
24:47Nós temos alguns temas,
24:49que, na verdade, lógico que vamos falar do tema da COP,
24:55a sustentabilidade, clima,
24:58mas vamos falar também de etarismo.
25:01Na verdade, essa coisa das pessoas idosas...
25:04Etarismo LGBT.
25:05É, como as pessoas...
25:08Eu sou um ancião de 70 anos,
25:11mas a minha cabeça está no momento certo,
25:15na hora certa,
25:16sou saudável e tudo,
25:18mas a gente tem que falar disso,
25:21porque quando você chega nos 60 e não consegue se adequar,
25:27você começa a querer voltar para o armário
25:30para as pessoas tentarem te aceitar.
25:33Ainda existe isso.
25:35Você acha que existe isso?
25:36Existe muito isso.
25:37É grave, não é?
25:38É grave, porque você fica com 60 anos,
25:40parece que você ser LGBT é até, no máximo, 50.
25:45Depois você vira uma cacura, uma barroca,
25:49e as pessoas...
25:51Mas isso de uma maneira geral,
25:52porque acho que também o mercado de trabalho é isso.
25:54É, e aí as pessoas não podem entrar no trabalho.
25:58Graças a Deus hoje tem cotas,
26:01mas as pessoas que são da minha geração,
26:06que são LGBTs,
26:08têm uma outra formação, uma outra informação.
26:13Não é como os LGBTs da geração Z que falam,
26:19que as pessoas estão muito cibernéticas,
26:23elas estão todas do mundo digital.
26:25Parece que o contemporâneo está nelas.
26:28Mas, quando você vai se aprofundar,
26:31lógico que é sutil
26:37a busca desse tesouro que é a personalidade,
26:41o que é o diferencial.
26:45Porque nem todas elas lêem informações.
26:51Antigamente, falávamos do intelectual de orelha, de livro.
26:56Então, você olha a coisa e não entende,
26:59não fala muito do assunto por completo,
27:04acaba olhando só uma coisa,
27:05até porque você não tem tempo.
27:07Cada vez essa coisa do celular está te deixando com pouco tempo,
27:16você já não tem tempo para nada
27:17e não tem tempo nem para ver todas as informações,
27:20porque você entra no Instagram,
27:21você entra no Twitter,
27:22você entra no Twitter, você entra no Twitter,
27:23não sei o que.
27:24Você não consegue administrar o seu mundinho virtual.
27:28Como é que vou fazer?
27:30Se você deixar o seu telefone em casa, acabou o seu dia.
27:34Eu, na verdade, sou bem liberto disso,
27:37porque sou do tempo do telefone preto.
27:39Mas, você tem uma atividade muito grande em rede social,
27:42mas como isso é necessário por conta da sua carreira como artista?
27:47Eu não faço aquela coisa de vou almoçar um ovo,
27:53vou fotografar, vou comer esperando o momô,
27:55um prato de feijão com o momô.
28:01Esperando o momô, com a melhor definição.
28:04E aí as pessoas fotografam, vão para o banheiro, fotografam.
28:07E aí elas ficam com umas poses que, se você vê pessoalmente,
28:12você acaba tendo até pena da pessoa.
28:14Outro dia vi um meme muito interessante,
28:17um encontro de duas pessoas que tinham se conhecido na internet.
28:24Aí, quando a pessoa se depara com a outra, sentada no lugar,
28:28esperando a pessoa falar assim para ela,
28:30da próxima vez você traz o filtro.
28:33Porque surgiu outra pessoa ali.
28:35Porque assim é complicado.
28:37Então, sou de uma geração que as pessoas fazem questão de dizer,
28:41olha, essa é a pessoa que você vai estar, na verdade.
28:46Porque, geralmente, as pessoas dizem que te amam, te adoram.
28:49Mas digo, olha, bicho, você tem noção, sou um homem ancião,
28:54sou um homem velho, sou um LGBT velho.
28:58Você sofre preconceito?
29:00Você sente que existe preconceito contra você?
29:03Você já deve ter passado muito por isso, não?
29:05Eu nunca tive esse problema do preconceito, tive problema de classe.
29:09Acho que o classismo, para mim,
29:12era uma coisa mais difícil, mais dolorida.
29:16Você achar que essa coisa de não ter acesso a dinheiro,
29:23a ter acesso a uma...
29:31Não viver de renda, porque as pessoas acham que o artista
29:35está sempre vivendo de renda.
29:37E, na verdade, você tem que estar correndo o tempo todo...
29:40Atrás da renda de amanhã, na verdade.
29:42Então, assim...
29:43Vida de artista.
29:44O classismo sempre foi...
29:45As pessoas me chamam de viado.
29:49É demodê até isso, bem que demodê está na moda.
29:54Porque as nomenclaturas também são tão variadas
29:57que fica difícil a classificação.
29:59O que você acha dessa coisa das nomenclaturas?
30:02Vejo que tem pessoas que, na verdade, sentem uma certa confusão
30:05por essa coisa da pauta identitária, da identificação...
30:12do seu ser.
30:13O que acho legal é que, hoje, você pode ser quem quiser.
30:20Acho que isso veio com essa coisa dessa...
30:23Como é que pode?
30:24Digo, vixi, cara, você está vendo uma pessoa
30:29que você está vendo que ela quer que você se identifique com uma mulher.
30:33Então, o que custa você colocá-la?
30:38Se achar a ser, não é?
30:39Se achar a ser, ela gosta que você a chame assim.
30:41Esse é o seu jeito de ser, não é?
30:42É, assim que ela é.
30:43Ah, o cara quer... Ele é cachorro.
30:45Ah, ótimo.
30:48Lógico que, de vez em quando, aparecem aquelas coisas.
30:53Ótimo, adorei, você vai ser um cachorrinho bonitinho,
30:55vou colocar você numa casinha lá fora,
30:58vou comprar uma raçãozinha.
31:00Então, na verdade, tem algumas coisas,
31:03mas eu acho legal isso porque parece que são 65 gêneros diferentes, não é?
31:11Então, é gênero para cacete.
31:13É muito gênero.
31:14Então, assim, eu achava que era gay,
31:17mas, ultimamente, já acho que sou não binário, entendeu?
31:22O que não binário é? Explica para a gente.
31:24O não binário é a pessoa que não se identifica nem com homem nem com mulher.
31:29Entendi, não binário.
31:31Ele é não binário.
31:32Ele se identifica com um ser que pode, também,
31:36uma hora ser homem, outra hora ser mulher.
31:38Ele é a pessoa, na verdade.
31:39Ele é a pessoa.
31:40Entendi.
31:41Então, assim, você está acima dessa coisa.
31:43Mas, assim, a gente sabe que é complicado...
31:46Você acha que isso confunde, por exemplo, a comunidade,
31:49que a gente pode chamar,
31:50ou confunde as pessoas fora da comunidade?
31:53Acho que a gente tem que confundir as pessoas.
31:56A comunidade é toda confundida,
31:58não tem problema que ela não está nem aí,
32:01mas ela acha muito importante,
32:03porque você abre uma luz para isso.
32:06Claro.
32:07Quando a pessoa começa a falar...
32:09Tem o direito de escolha, a possibilidade é essa,
32:12você pode decidir.
32:13Isso é importante.
32:14Isso que é legal.
32:15Isso chama-se liberdade.
32:16Então, é legal porque você começa a falar disso,
32:19você vê que o assunto, a Câmara dos Deputados,
32:24você vê que esse é um assunto...
32:25Nós temos um potencial,
32:30uma futura candidata à presidência que é a Erika Hilton,
32:34uma mulher que tem um discurso maravilhoso,
32:37porque ela viveu isso,
32:39que lembro muito da Luz de Barreto,
32:42porque a Luz de Barreto tinha aquele discurso muito bom,
32:45mas é porque ela sabe do que está falando.
32:48Então, a Erika sabe do que está falando,
32:50porque é uma pessoa que foi expulsa, viveu na rua,
32:53ela conseguiu se reconstruir, se levantar.
32:56Agora, tu tocaste em uma coisa que é muito interessante,
32:59que, às vezes, quando eu te perguntei por preconceito,
33:01se você já sofreu,
33:02e você disse que tem uma coisa que está muito mais forte do que isso,
33:06que é essa coisa desse preconceito social.
33:08As pessoas não tocam muito nisso,
33:10porque, às vezes, a pessoa, na verdade,
33:11é o preconceito social de uma forma geral,
33:13independente de gênero,
33:15independente de posição que a pessoa tenha, individual.
33:19Essa coisa do preconceito social é muito forte.
33:22É complicado, porque as pessoas me veem...
33:25Lógico que elas pensam um monte de coisa antes de eu chegar.
33:29Por exemplo?
33:30Não, lá vem esse viado de novo aqui.
33:34E aí tu vai chegando e tu vai falando
33:38que tem um filho de 44 anos
33:42que consegui levar meu filho numa academia até um quarto grau,
33:46meu filho já tem um neto de 9 anos que é um menino atleta
33:51e que meu filho já se libertou de mim.
33:55Então, hoje, se eu quiser sair daqui para o aeroporto
33:59e me ir embora para qualquer lugar,
34:01não tenho esse problema,
34:03não sou um avô que tem que cuidar dos netos,
34:05porque vejo muita gente da minha geração
34:08que está cuidando dos netos,
34:10embora o amor pelos netos seja muito grande,
34:12às vezes, a gente não consegue se livrar disso.
34:15Mas, assim, eu fico quando eu quero.
34:19Os filhos deixaram essa irresponsabilidade para os pais, para os avós.
34:25Então, quer dizer, isso foi a minha liberdade,
34:29saber que o meu filho tem a sua própria liberdade de viver.
34:35Quando você fala também que as pessoas já pensam, na verdade,
34:39quando as pessoas vão te conhecer, que elas te conhecem,
34:42por exemplo, o assunto droga, como é que é isso?
34:45Eu não sou hipócrita,
34:47mas, assim, eu falo muito de tudo.
34:50Eu experimentei de droga de A a Z.
34:53Lógico que, na verdade, tem alguns Y pelo meio
34:56que eu realmente não experimentei,
34:58porque eu achava que já tinha passado...
35:00Pelas experiências.
35:01Pelas todas as experiências.
35:03Eu sou da geração que foi cobaia de muita coisa,
35:06que é a década de 60.
35:08Então, na década de 60,
35:10eu achava que o mundo ia acabar,
35:13porque os Estados Unidos chegou em pleno...
35:16Eu era criança, mas estava vendo que tinha uma propaganda toda
35:20em torno de apavoramento,
35:23essa coisa de que o comunista vai comer criança,
35:26que vão tomar a sua casa.
35:28E, na minha casa, graças a Deus,
35:30o meu pai tinha essa pegada anárquica de esquerda também,
35:35porque ele era um poeta,
35:38que não conseguia, era um artista,
35:42mas, assim, era muito complicado.
35:46Você trabalha na noite.
35:48Até conversávamos ainda agora,
35:50que é uma impressão que eu tinha,
35:52que você concordou comigo,
35:54que a gente vê muito pouco artista consagrado como você,
35:57como outros que começaram em bares,
36:00saíram desse circuito de bar.
36:02Isso acontece porque os bares, na verdade, não chamam mais?
36:07Isso ficou...
36:09Não é como uma atração?
36:12Ou você acha que o próprio artista, por ser já reconhecido,
36:15não procura mais esse circuito?
36:18Ele acha que, na verdade, aquele espaço é um espaço menor.
36:23Mas, assim, lógico que o Bar do Parque...
36:27Pois é, justamente por isso, porque você volta esplendoroso,
36:31se é uma palavra certa para você,
36:33no Bar do Parque, um lugar ícone,
36:35um lugar que você frequentou,
36:37que carrega memórias e histórias como essa que a gente contou,
36:40desde Chiquita, enfim, de outras e outras histórias,
36:43que a cidade ali sempre foi um lugar pulsante da cidade.
36:47Você volta, volta, volta,
36:49começa o seu retorno ao Bar do Parque,
36:51como é que está se apresentando lá?
36:53Que público é esse, na verdade, que está indo para lá te aplaudir,
36:56lotando o lugar?
36:58Eu estou fazendo toda a primeira quinta,
37:02a ideia era fazer toda a quinta no Bar do Parque,
37:05fazer uma coisa, resgatar aquela história do Maracaibo,
37:11do Walter, que chamava os amigos, os artistas,
37:15a gente tentar recuperar um pouco esse espaço.
37:22Esse espaço ficou muito asséptico,
37:26porque o Bar do Parque tinha uma pincelada,
37:31onde tinha uma coisa...
37:33O pé sujo ali.
37:35O pé sujo era a charme.
37:37É porque o pé sujo que te dava a poesia, entendeu?
37:40A coisa da leitura, então, na verdade,
37:42e eu tento falar sempre para eles,
37:44a gente precisa colocar um pouco de leitura, entendeu?
37:48Acho tudo bem que as comidas são muito gourmetizadas,
37:58de vez em quando tem de fazer aquele caldo verde do Bar do Parque,
38:02fazer algumas coisas assim,
38:05que realmente a gente não fique muito gourmet o Bar do Parque.
38:13Mas acho que o público pede isso.
38:14Quem é que vai te assistir?
38:16São pessoas que, claro, já te conhecem,
38:18mas a gente tem uma circulação muito grande
38:20de pessoas que estão visitando a cidade.
38:22Muita gente que visita a cidade vai,
38:24por exemplo, no Carnaval, muito turista, muito turista.
38:27E as pessoas vão porque o Bar do Parque é isso,
38:30é um bar de estilo europeu,
38:34que as pessoas, em outras épocas,
38:37era um local para as pessoas escreverem o seu postal,
38:41que não tinha aquelas coisas do postal,
38:43tu comprava os postais,
38:45aí estou nesse bar.
38:47Então, assim, era isso.
38:50Hoje o Bar do Parque traz isso.
38:54A gente sabe que é legal essa sepsia,
38:58porque você tem um certo charme,
39:04você come com um bom talher,
39:06os preços não são preços fora do que é...
39:13Fora da realidade.
39:14Da realidade, entendeste?
39:16Agora, eu acho que a gente tem esse lado muito gourmet
39:20e a gente tem que, de vez em quando,
39:22uma mãozinha da Yaya, entendeste?
39:26Mas quem é que vai te ver lá?
39:28Quem é o público que comparece lá?
39:30O público que comparece é qualquer um.
39:32Lógico que o Bar do Parque tem uma rede muito grande,
39:36que, na verdade, são pessoas de classe média,
39:40porque o bar hoje é frequentado muito por esse público.
39:44Eu percebo também que, quando tem espetáculo no Teatro da Paz,
39:48o bar parece que dá uma fervida.
39:51Porque a ideia do Bar do Parque é isso.
39:55Eu lembro que a gente estreava
39:57e a gente vinha comemorar, falar do espetáculo,
40:01as pessoas com a plateia, no Bar do Parque.
40:04Então, o Bar do Parque é aquele momento
40:06que você começa a refletir sobre o que você viu,
40:10o que você estava.
40:11A Falfa tem tentado esse resgate.
40:13Sempre que se apresenta no Bar do Parque,
40:15ela vai e leva o grupo dela,
40:17ela leva os amigos dela,
40:19todo mundo reunido no Bar do Parque.
40:21A Falfa é do Bar do Parque.
40:23Eu, na verdade, conheci a Falfa no Bar do Parque.
40:26Era linda, porque era impressionante,
40:29porque eram duas mulheres muito lindas
40:31e um homem lindo que andava junto,
40:33que era ela, Paulinho Leite, que era uma trindade,
40:36e a Marluz Silva.
40:40Então, eram três coisas diferentes, bonitas e modernas para a época,
40:46porque eram pessoas modernas.
40:48Paulinho Leite era uma família tradicional,
40:50mas que questionava tudo.
40:53Então, era uma pessoa que se conhecia,
40:55era um cara que era ator,
40:57que é ator, que acho que ainda está,
40:59hoje ele tem...
41:00Paulinho Leite mora em São Paulo.
41:02Mora em São Paulo, tem um restaurante.
41:04Tem uma história na teledramaturgia, no teatro.
41:08Era um ótimo ator, trabalhou, inclusive, com grandes...
41:12Fez cinema, fez televisão.
41:15Então, era um outro momento, porque, lógico,
41:20quando você vai para o Bar do Parque,
41:22o Bar do Parque era um lugar que ninguém ia,
41:24então, era ótimo para os homens,
41:26porque eles sabiam que as mulheres jamais iam ao Bar do Parque.
41:29Então, eles eram amantes, porque aquele bairro...
41:34Hoje eu tenho, inclusive, a Casa da Chiquita,
41:37que fica na Campina,
41:39e a gente fala muito da Campina
41:41como esse instrumento de saúde mental para a cidade
41:46numa outra época,
41:48em que as pessoas precisavam aliviar as suas dores.
41:52Porque ali ficava a zona de prostituição.
41:55E era no centro da cidade.
41:56Exatamente, ficavam os bares, os cabarets.
41:59O Aldemar Henrique tocou ali,
42:01em um dos cabarets do bairro da Campina.
42:04Essa coisa da revitalização do bairro da Campina
42:09é muito importante.
42:11O palco da Escola de Samba, o Boêmio da Campina.
42:13É, o Boêmio da Campina, inclusive.
42:15Eu saía agora com o Fofó de lá.
42:18Foi um beijão, porque ia só com a xaranga e ia,
42:23porque as pessoas falavam que tinha que ir.
42:26E eu digo que gosto de construir essas coisas,
42:31como foi na Cidade Velha,
42:34em que a gente construiu aquele carnaval.
42:36De repente, vem a Liga,
42:38ela faz que vai, mas não vai, entendeu?
42:42E aí acabou, as pessoas saíram com as suas despertizes,
42:46as pessoas que não tinham despertizes foram,
42:48as pessoas que tinham por trás,
42:50alguém bancando.
42:52E acabou que o carnaval público, que eram os Fofós,
42:56que eram eu, o Dulino,
42:59que eram blocos públicos...
43:03Esse do movimento do carnaval...
43:07Primeiro, o resgate do carnaval da Cidade Velha.
43:10Segundo, a naturalidade com que aquilo surgiu.
43:13Eu falo isso porque eu morava na Cidade Velha,
43:16morava na Doutora Cisa, exatamente.
43:18Então, foi todo um movimento orgânico,
43:21um movimento real que aconteceu.
43:23E aí, de repente, a coisa parou.
43:26É, porque é a coisa dessa coisa da limpeza.
43:32Você começa a fazer,
43:34quando começa a colocar os boiolás nas pessoas,
43:37ou as abadás, que chamam, chamam de boiolá,
43:40e você começa a tirar a identidade carnavalesca da coisa.
43:45Porque temos essa coisa do carnaval,
43:48da fantasia, da liberdade.
43:51Então, o carnaval é isso.
43:53O carnaval não pode ser essa coisa fantasiosa.
43:56Você vê agora grupos de São João,
44:01as pessoas ficam tudo muito militar, sabe?
44:04Aquela coisa de tudo militar,
44:06todo mundo de roupa, todo mundo com fita.
44:08Essa coisa da quadrilha junina moderna.
44:14É, porque eu acho ótimo.
44:17Eu só acho que você não pode ficar muito militar.
44:22Você não pode ficar meio nazista,
44:24essa coisa, aquela multidão, tudo da mesma cor.
44:28Você diz disciplinado numa médica,
44:30disciplinado numa coreografia.
44:32Então, assim, é.
44:33E aí você começa a ver assim,
44:35eu acho que as pessoas têm que ir, nada contra,
44:38mas acho que, quando fica isso,
44:41você começa a perder a verdadeira e real história.
44:47Queridão, em primeiro lugar,
44:49eu adoro sempre estar aqui contigo.
44:51Nesse 500 anos, é sempre, sempre dar gargalhar.
44:54Existe coisa melhor que os amigos para gargalhar.
44:57Encontro de gargalhar, isso é muito importante.
45:00Convida a gente para ir para o Bar do Parque.
45:02Olha, gente, eu estou toda quinta-feira,
45:06toda primeira quinta-feira do mês no Bar do Parque.
45:09Então, na verdade, se você quiser já guardar a sua mesa,
45:13é só telefonar para o Bar do Parque.
45:15Precisa reservar, não?
45:16É, porque assim, na verdade, não é mesa.
45:20Então, são lugares individuais, são poucos lugares.
45:23Acho que parece que são 150 lugares.
45:27Então, às vezes, você nem imagina,
45:29é tão rápido, bem que você vê a Lady Gaga
45:35com 2 bilhões de pensão,
45:38você fala assim,
45:40vamos pegar pelo menos 0,01%, está ótimo.
45:43E assim, agradecer ao Bar do Parque,
45:46porque o Bar do Parque, o Ricardo,
45:49é a pessoa que mais eu tenho.
45:52A gente tem alguns debates ideológicos e tudo,
45:55mas é uma pessoa que é sensível, ele gosta de mim.
45:59Então, assim, isso é uma coisa muito bacana,
46:03porque a cidade tem um certo afeto.
46:06Elói, nesse movimento de Copa, eu volto a falar,
46:08nós já estamos na Copa, nós não estamos esperando a Copa,
46:10a Copa já está aí.
46:12Como é que você se posiciona?
46:14Você tem alguma coisa marcada?
46:16Não, eu vou fazer a chiquita da Copa.
46:19Então, na verdade, vamos entregar o viado verde.
46:22Que é em outubro, antes da Copa.
46:25Eu acho que a gente vai reunir o Kuklave,
46:28eu acho que em agosto o Kuklave
46:31começa a se reunir para escolher o dossiê.
46:34Ah, o Kuklave.
46:35Não, não é o Kuklave, o nosso é o Kuklave.
46:38E a gente vai reunir para a gente ver os dossiês que tem,
46:43para a gente ver os dossiês que tem
46:45para a gente eleger o viado de ouro.
46:48A gente tem algumas premiações,
46:50já temos o viado psique,
46:54um pouco ano passado nós falamos sobre saúde mental
46:57do movimento LGBT,
46:58que é uma coisa que a gente quase não fala.
47:00As pessoas sempre querem a gente de chaveiro,
47:03de acompanhante, de amiguinho e tudo,
47:07mas a gente sempre está do lado delas,
47:09mesmo sofrendo de amor,
47:12que na verdade a gente sofre muito mais por amor,
47:15porque as outras coisas a gente consegue tirar de letra,
47:19mas as pessoas não estão nem aí,
47:21elas acham que a gente dorme rindo,
47:23acorda rindo,
47:24que a gente não tem esse momento de choro,
47:26a gente está falando da maior tragédia da nossa vida
47:29e as pessoas estão rindo.
47:33E a gente acabou falando de saúde mental do movimento LGBT,
47:37que é uma coisa que a gente tem que passar a sério.
47:40Mas a gente esqueceu de falar de uma coisa,
47:42que você volta numa série com o Paulo Vieira.
47:45Você já esteve no Paulo Vieira,
47:47ou não avisa lá que eu vou, é isso?
47:49Eu viajei com o Paulo Vieira na época do 8 de janeiro,
47:54aquela história,
47:55nós estávamos dentro do Rio,
47:59viajando com o Paulo.
48:01Programa que já foi para o ar,
48:02inclusive baixar na Globoplay e tal,
48:04as plataformas.
48:05Eu fui duas vezes, até Flamengo,
48:07antes já foi bi, agora já é tri.
48:09E aí ele me chamou,
48:11ele tem um afeto muito grande,
48:14espero que esteja legal.
48:15Ele sempre dizia...
48:16E aí você volta nessa, junto com o Gira, inclusive,
48:19além de Paulo Vieira, tem Gira, não é?
48:21Tem.
48:22Tem Gira, não é?
48:23Tem a Gira Paz como a mãe do Paulo Vieira,
48:26trabalhei com duas pessoas incríveis,
48:30que é o Otávio Miller,
48:34que é assim,
48:35eu comecei um pouquinho com o cara,
48:37mas a história do cara é...
48:40Não tem previsão de estreia?
48:42Tem.
48:43E eles montaram uma cidade,
48:46a cidade de Tocantins,
48:48lá onde o Paulo morava,
48:51e eles criaram...
48:52A Globo é sensacional, não é, bicho?
48:54Ali não tem como dar errado nada.
48:57Globo 60 anos.
48:58Não tem como dar errado.
49:00Lógico que eu tenho muitas críticas,
49:02mas assim...
49:03Globo é Globo.
49:04Que Globo?
49:05É Flórida.
49:06Aliás, falando de Gira,
49:07a Gira está aqui próxima da gente,
49:09está filmando com o Marcos Palmeira.
49:11Aliás, eu acho que...
49:12Até fiz essa pergunta hoje para a assessora de imprensa,
49:15quantas vezes a Gira já foi,
49:17já fez parceria com o Marcos Palmeira?
49:20Já foram marido e mulher durante...
49:23Mas ela filma aqui com o Zelito Viana,
49:25que é pai do Marcos Palmeira,
49:26cineasta conhecido,
49:28uma história pessoal do próprio Zelito,
49:30uma história de vida dele,
49:31e que o Marcos Palmeira protagoniza junto com a Gira.
49:34Ela é...
49:36Eu gosto...
49:37Eu tenho algumas...
49:38Por exemplo, tem a Mara Rúbia,
49:41vocês já ouviram falar da Mara Rúbia.
49:43Sim, claro.
49:44A vedete do Brasil.
49:45Eu acho que a Gira deveria fazer...
49:46Do Marajó.
49:47A Gira deveria fazer a vida dessa vedete,
49:50porque era uma vedete que...
49:53Já por ser vedete já era complicado,
49:55era o amor e ódio,
49:57ao mesmo tempo que elas eram idolatradas,
50:00a sociedade...
50:01Mara Rúbia.
50:02É, Mara Rúbia.
50:03Do Marajó também, não é?
50:04Do Marajó.
50:05Ela era dona de uma boa parte do Combu.
50:09Eu conheci uma neta dela
50:11e fui para o Combu com essa neta dela,
50:14porque ela era dona ali de uma parte da ilha do Combu.
50:17Olha só.
50:18Mas é isso.
50:19A Gira já foi viado de ouro também,
50:22já ganhou viado.
50:23A Gira é sensacional.
50:24E ela me recebeu até doida.
50:26Olha, eu nunca imaginei,
50:29porque trabalhei no primeiro filme que a Gira fez,
50:33eu fiz...
50:35Floresta.
50:36Trabalhei no Props.
50:37Na verdade, inclusive,
50:38comprei minha casa do dinheiro desses ingleses,
50:41que eles me pagavam muito bem.
50:45E eu vi quando a Gira fez o primeiro teste
50:49e tinham várias outras famosas,
50:52que eu vou não falar o nome da época,
50:54e ela foi assim,
50:56mas ela falava muito bem inglês.
50:58Maravilhosa.
50:59Fala francês também.
51:00Maravilhosa.
51:01Maravilhosa.
51:02Deu baster flash na Sorbonne.
51:04Querido, prazer falar contigo mais uma vez.
51:07Só te desejo sucesso.
51:09E olha,
51:10teu docente está sendo...
51:12Aonde?
51:13Nuco?
51:14Nuco Clave.
51:15Está certo.
51:16Este é o Mangrosamente,
51:18que você assiste no LibrePlay,
51:20dentro de liberal.com.

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