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  • há 3 dias
Dionísia exige que Virgínia fique longe de Joaquina. Branca sugere a Luzia que elas façam uma visita a Joaquina. Virgínia descobre que Mão de Luva está com o livro de Tiradentes. Ascensão diz a Raposo que Taveira foi envenenado. Raposo pergunta a Dionísia se foi ela quem tirou a vida de Taveira. Rubião se declara a Joaquina e a beija

Categoria

😹
Diversão
Transcrição
00:00O homem que entregou a cabeça do seu pai numa bandeja
00:03foi alguém muito próximo a ele.
00:04E até hoje nós não sabemos quem é.
00:06Cortesia do Sr. Intendente.
00:21Existe um movimento.
00:22Pessoas se organizando na luta pela independência.
00:25Você quer que eu faça parte dessa luta também?
00:28O que eu quero?
00:30É que você jamais se esqueça de quem é filha.
00:33O resto é você quem sabe.
00:35Por que estão todos olhando pra gente?
00:42Nossa, que horror.
00:52Faça mais papelicos de maldizer,
00:55depois espalhão de poder.
00:58Sim, senhora.
00:59Depois de cima de Vila Rica.
01:01Anda, anda. Vai.
01:15Maldi... Mas que escândalo.
01:18O que você vai fazer, Rosa?
01:19Sarraposa no Cio.
01:21Meretriz de nobre família,
01:23sujeita recém-chegada da Lei Mar.
01:26A Libertina atende pela graciosa alcunha de Sarraposa.
01:29Para, para de ler isso, Rosa.
01:31O André tem razão. Isso é uma indignidade.
01:33Quem teria interesse em me difamar?
01:35Que coisa mais vil, mais covarde.
01:38Melhor a fazer é ignorar, Rosa.
01:39Fazer-se de moca, como se não fosse com você.
01:41De jeito nenhum.
01:43Isso é um afronto. Eu preciso responder.
01:45Sim, Rosa. Responder a quem?
01:46São papelitos apócrifos. Ninguém sabe quem fez.
01:49E depois, nessa altura, isso não tem a menor importância, minha irmã.
01:51O boato já se espalhou.
01:53Eu não me importo de ter sido vista com a Virginia.
01:55Rosa, a mulher é a dona da casa de tolerância da cidade.
01:59É uma mulher como qualquer outra, Bertolese.
02:01A maledicência do povo é muito maior do que o fato em si.
02:06Meu Deus, quem pode ter feito essa indignidade?
02:13Que susto, minha mãe.
02:15Ouvir voz de homem era um pedinte.
02:18Nem uma moeda.
02:19Sabe como eu sou?
02:21Morro de pena.
02:25Só isso?
02:26Foi tudo que eu consegui pegar, padrão.
02:28Queimar tudo.
02:29Sim, senhor.
02:31O senhor já viu os panfletos?
02:33Já.
02:34É claro que é tudo mentira, mas boato se espalha como vento.
02:37Aposto que ainda vão aparecer muitos e muitos panfletos como esse.
02:40Eu não me importo.
02:41Pois devia.
02:42É a sua reputação que vai ser arruinada.
02:44E eu tenho culpa disso?
02:45Claro que tem culpa disso!
02:47Pois se você fica em plena luz do dia com uma alcoviteira,
02:49fazendo converscote com uma prostituta,
02:51o que você esperava?
02:53Que as pessoas não comentassem?
02:54Ah, que falem o que quiserem.
02:56O fato de eu conversar com ela não me faz igual.
02:58Minha filha,
03:01a maledicência tem muitas caras.
03:04A verdade, uma só.
03:06As pessoas vão falar,
03:07e vão falar, e vão falar,
03:09e vão passar a acreditar naquilo que estão falando.
03:12São como um urubu em cima de carniça.
03:15Eu te avisei!
03:16Não fale com Virginia!
03:17Não fale com Virginia!
03:19Você é uma moça de família,
03:20ela é uma alcoviteira,
03:21as pessoas atravessam a rua ao vê-la!
03:23Eu vou exigir uma retratação.
03:25De quem? Do Papa?
03:27Filha, um boato como esse
03:29é como uma cusparada.
03:31Ninguém segura.
03:34Sarraposa
03:37nocio
03:39meretriz
03:41de nobre
03:44família
03:46sujeita
03:48recém chegada
03:52D'Alemar
03:54vadia nova
03:56na praça.
03:58Coitada da princesa,
04:00como é que alguém tem coragem de falar isso dela?
04:02Princesa? O que é?
04:03Ela não é princesa não, sua amiga.
04:04Claro que é!
04:06É uma sidalga.
04:07É uma borra-bota, feito você e sua bunda suja.
04:09Bunda suja é você.
04:18Não é a hora de brigar não, seus macabras.
04:20Não estão vendo que a gente corre perigo?
04:22A vila nos aceita,
04:23desde que a gente fique quieta aqui no nosso canto.
04:25Não se meta com as pessoas de bem.
04:27Você acha que a polícia do intendente
04:28pode bater aqui por causa do escândalo?
04:30Eu nunca fui presa, não é agora que eu vou ser.
04:33Eles podem até fechar nossa casa.
04:35Eu não quero morar na rua.
04:44Eu quero falar com a dona desse antro.
04:47Senhora, você não pode ficar aí.
04:49Senhora!
04:50Pode ir, senhora.
04:54Não se faz mais anunciar, Dionísio.
04:56Dona Dionísio é pra você, ô rameira.
04:58Fale logo o que você quer
05:00e tenha respeito que você está na minha casa.
05:01Casa? Isso é um bordel.
05:04Eu vim aqui por causa da minha sobrinha
05:06e nem adianta se fazer de Souza.
05:08Você sabe do que eu estou falando.
05:09De que ela é filha do Tiradentes?
05:11Fala baixo, desgraçada.
05:13Sua família sabe disso.
05:14E você, que é uma infeliz,
05:16que se mete em tudo.
05:18Todo inteiro.
05:22O que é isso?
05:23Isso é o fruto da sua venalidade.
05:25Do seu veneno.
05:27Mas era isso que você queria, não era?
05:29Você já sabia que isso ia acontecer.
05:31Eu até...
05:32Até as suas meninas já sabem disso.
05:34A peliga de maldizer
05:36atacando a reputação de Joaquina.
05:38Não fale esse nome.
05:40O nome da minha sobrinha é Rosa.
05:43Isso é imoral.
05:44Ah, mas quem é você agora
05:46pra vir me falar imoral?
05:49Eu vim aqui
05:51só por um único motivo.
05:53Não ia até esse alto pra te dizer
05:55pra ficar longe da minha sobrinha.
05:57Ela não é sua sobrinha.
05:58Ah, mas ela é filha do meu irmão.
06:01Não.
06:02Ela é filha do Tiradentes.
06:04Joaquina.
06:06Rosa.
06:07Tanto faz.
06:08Ela merece conhecer a memória do pai.
06:10Conhecer a luta dele.
06:12Luta perdida.
06:14Que acabou na forca.
06:15Mas a morte dele foi só o começo.
06:17Mas do que você tá falando?
06:18Eu sou maluca?
06:19Insana?
06:21O que é isso?
06:22Você vai ficar longe da minha sobrinha,
06:23sua perdida.
06:24Você entendeu bem?
06:26Você vai continuar aqui.
06:28Nessa blama que você vive.
06:30E Rosa vai seguir a vida dela.
06:32Sozinha.
06:33Não tinha ideia que alguém
06:34cometeria essa infâmia.
06:36A sua vida é uma infâmia.
06:37Nada de bom pode sair daqui.
06:39Eu sou perdida.
06:40Mulher sem honra.
06:41Sem lei.
06:43Sem moral.
06:44Quem é você pra falar de moral?
06:45Hein?
06:47Eu conheço você, Dionísio.
06:49Eu conheço a sua história.
06:50Conheço a história do seu marido.
06:52Cheio da sua libidinagem com os escravos.
06:54Cala a boca.
06:55Uma mulher que se deita com escravos.
06:57Ixtares de Fidalga.
06:59Mas age como uma rameira.
07:00Como você diz.
07:02Você é muito pior do que eu, Dionísio.
07:04Muito pior do que as minhas meninas.
07:06Nós somos o que somos.
07:07Mas nós temos coragem de assumir.
07:09E você?
07:10Você é uma dissimulada.
07:12Uma Carola falsa.
07:13É pervertida.
07:15Que vive apregoando uma virtude
07:16que nunca teve e nem vai ter.
07:19Porque tem alma podre.
07:21Tão podre.
07:23Que eu posso até sentir o cheiro
07:25que ela exala em Peixão, no meu quarto.
07:37Mande enterrar o corpo.
07:39Sem missa e sem demora.
07:41E a família do finado, senhor?
07:42Ele não tinha família.
07:43Faça o que eu mandei.
07:47Não ouve o intendente.
07:50Obedeça.
07:51Sim, senhor.
07:55Senhora Britz.
07:57Sabes da novidade?
07:59Não sou novidadeira.
08:01Mas toda vila só fala nisso.
08:03Os tais panfletos contra a gaja.
08:05A moça Raposo.
08:07Ele frequenta a minha casa.
08:09É uma boa pessoa.
08:10Mas sabes que um dia a fumaça...
08:12Desde quando o Rosa Raposo
08:14frequenta a taverna?
08:16Pois.
08:17Muita gente boa vai lá.
08:19Tanto que estou derriada
08:21de tanto trabalhar.
08:23Estou até a pensar em comprar uma escrava
08:25ou duas.
08:26E me ajudar na lida.
08:28Escrava?
08:30Mulheres da sociedade como nós
08:32precisam de alguém para lavar,
08:34pisar.
08:36E eu que não estrago minhas mãos
08:38com uma vissoura.
08:39Prefiro fazer outras coisas,
08:41como ler um livro,
08:43brodar.
08:44Eu conheço uma preta que daria
08:46um excelente mucama para a sua pessoa.
08:48Mas infelizmente
08:50ela não está vendo.
08:52É boa demais.
08:54De forno, fogão.
08:56Preta doméstica.
08:58Limpinha.
09:00Como eu falei.
09:02Infelizmente
09:04ela não se encontra vendo.
09:06Uns não, não, não, não mesmo.
09:10Só isso?
09:12Gulosa. Só pensa em comer e dormir.
09:14A Dona Brita nunca me dá comida.
09:16Quase me mata de fome.
09:18Olha o meu susto dela.
09:20Dá até para contar.
09:22Saraposa.
09:24Meretriz Nova
09:26na praça.
09:28Santo Deus, que escândalo.
09:30Estão informando a moça que me ajudou?
09:32Ah, isso é maldade.
09:34Cala a boca.
09:36Isso é pecado. Colocaram a moça do lado demo.
09:38Matias.
09:40Matias. Traz a preta.
09:46Vem, vem.
09:48Arranjei uma trouxa para comprar
09:50essa escrava inútil. Anda, estrupício.
09:52Quem é que vai ficar com a mucama?
09:54Depois eu te falo. Anda, vamos sair daqui.
09:56Minha mãe, está pensando?
09:58Acho que devíamos fazer uma
10:00visita aos ratos.
10:02Em solidariedade, porque
10:04ser um calune ou não,
10:06isso é o tipo de coisa que pode acabar com uma pessoa.
10:10Essa moça é... Qual o nome?
10:12Rosa.
10:14Ela deve ter muitos inimigos.
10:16Coitada.
10:18Morro de pena.
10:24Eu vou descobrir
10:26quem fez isso aqui.
10:28Quem foi o desgraçado que fez isso aqui.
10:30Eu vou fazer ele engolir cada um desses panfletos.
10:32Deixe isso para as autoridades competentes,
10:34D. Raposo. Já conversamos sobre esse assunto.
10:36De vez for lá, vive quem cometeu essa atrocidade.
10:38Minha filha não merece isso.
10:40Sem dúvida.
10:42O senhor sabe que eu tenho a senhorita Rosa
10:44na mais alta estima.
10:46Eu já mandei recolher essa porcaria,
10:48mas volta a aparecer em tudo quanto é lugar.
10:50D. Raposo, tem outra coisa que eu preciso lhe falar.
10:52O seu guarda-livros, o senhor Taveira,
10:54infelizmente, veio a falecer.
10:56Morreu?
11:24É
11:26é
11:28é
11:30é
11:32é
11:34é
11:36é
11:38é
11:40é
11:42é
11:44é
11:46é
11:48é
11:50é
11:52é
11:54é
11:56é
11:58é
12:00é
12:08Morreu?
12:10De morte matada?
12:12Na cadeia, impossível.
12:14Não, não, estava sob vigilância severa
12:16dos guardas sozinho na cela.
12:18Uma apoplexia.
12:20Uma congestão. O senhor sabe, né?
12:22Ele vivia como um nababa.
12:24Fazia quatro refeições por dia com o seu dinheiro.
12:28Esse filho de uma meretriz morreu antes de me devolver o que roubou.
12:33Pois.
12:34Uma fatalidade.
12:36O fato é que o senhor precisa ficar em dia com os seus impostos.
12:40Ainda mais nessa hora.
12:43Os tempos são duros, meu amigo.
12:45Coroa tem sede de impostos.
12:47O senhor sabe quantas pessoas vieram na comitiva real.
12:50Doze mil chupins.
12:52Doze mil.
12:54Mais milhares de bocas para alimentar.
12:56Novos fiscais vão aparecer, Tom Raposo.
13:00Cada vez mais famélicos.
13:04O senhor viveu morto?
13:05Vivo ou morto, é o homem que me roubou.
13:08Onde é que está o corpo?
13:10No cemitério.
13:12Como assim? Enterrado?
13:13Sem missa? Sem velório?
13:15O homem não tinha família para reclamar o cadáver.
13:17A essa hora já está debaixo dos sete palmos de terra.
13:23Ufa.
13:25Agora estou mais calma.
13:28Uma mulher não é obrigada a fazer para proteger a família.
13:31Sim, senhora.
13:35Faz alguma coisa?
13:36Mandaram a carta da parte dos Diogo.
13:48A missiva de Luzia Farto, mas era só o que me faltava.
13:53Está querendo vir aqui para fazer uma visita.
13:57Um plano de fofoqueiro, umas aves de rapidez que elas são.
14:00Só querem saber de maledicência.
14:03Eu aposto que elas querem vir aqui para tripudiar de rosa.
14:08Você comprou uma escrava.
14:09Sem me consultar.
14:10Foi uma piscincha.
14:11Trezentos mil reais.
14:13Trezentos mil reais?
14:15E como é que eu vou pagar essa matia?
14:17Tens dinheiro costurado no colchão.
14:20Mas cala essa boca.
14:23Vem cá.
14:25É-me o cama de quarto, de forno e de fogão.
14:28Sabe fazer de um todo na minha casa.
14:30Trezentos mil reais? Por isso?
14:33O senhor começou a pedir um duzentos.
14:35Depois ele baixou para cem, cento e cinquenta.
14:37E assim a amarela e pavora.
14:39Vai trabalhar.
14:40Vai começar a fazer a boia do dia.
14:42Janta.
14:44Hoje gostava de comer rabada.
14:54Conseguiram vender a coitada da Celeste, não é?
14:57Tomara que ela seja mais bem tratada lá do que aqui.
15:00Essa negra tinha de um tudo nessa casa.
15:02E eu sei que ela não.
15:04E eu também.
15:06Essa negra tinha de um tudo nessa casa.
15:08E você devia se envergonhar de erguer a mão contra a sua mãe
15:11por causa dela.
15:12É pecado, viu?
15:13Eu não ergui a mão contra a senhora.
15:15Apenas impedi que a senhora batesse mais na coitada.
15:19Eu não queria que minha mãe machucasse a mãozinha.
15:26O que é isso?
15:28Conflito contra a Rosa Raposo?
15:29Credo. Tio da minha frente.
15:31É que desenhista é criativo.
15:35Nossa.
15:37Isso é uma grosseria.
15:40Queria ver a cara daquela dondoca quando vir isso.
15:44Ela tem um rei na barriga.
15:45Já agora vai ter que passar muito tempo dentro de casa
15:48até a poeira abaixar.
15:51Nunca imaginei que eu fosse ser vítima de tanta crueldade.
15:56Ai, muito forte.
15:57Foi você que pediu.
15:59Depois nós vamos sair.
16:00Nem pensar, Rosa.
16:02Você vai servir de bucha de canhão para as fofoqueiras da cidade.
16:05Tudo o que elas precisam agora é ver você desfilando
16:07da sua toalete europeia por aí.
16:09Não, Rosa, nós vamos ficar em casa.
16:11Não vai mais dar pano para a mãe.
16:12Não me incomodo.
16:13Pois devia.
16:15A coisa mais insidiosa é a voz do popular.
16:18Tudo o que essa gente quer é o Judas, que hoje é você.
16:21Eles vão desmaiar sem dó de você.
16:24Mas seja lá o que for.
16:25Tem o efeito de uma bomba.
16:26Todo mundo sai machucado.
16:29Mas eu já estou cuidando disso.
16:30Hoje mesmo nós vamos receber aqui em casa
16:32a menina farto e a mãe.
16:34O quê?
16:35Aquela sonsa da Branca Farto?
16:36É.
16:37São pessoas influentes na sociedade de Vila Rica.
16:39Podem ajudar a apagar a fogueira.
16:41Rosa, é uma boa ideia?
16:43Todas as minhas ideias são boas.
16:45Aqueles panfletos só podem ter sido coisa de alguém que me odeia.
16:49Eu não sei.
16:50Aqueles panfletos só podem ter sido coisa de alguém que me odeia.
16:53Mas quem?
16:55Você destratou o Xavier em público.
16:57Não.
16:58O quê?
16:59Isso não é verdade.
17:00Rosa...
17:01Ele estava judiando de uma escrava e nós tivemos uma pequena altercação.
17:05Mas você é rápida para fazer inimizades, hein?
17:08Parece seu pai.
17:10O rapaz Almeida é noivo da Branca Farto.
17:13Será que eles têm alguma coisa a ver com esses panfletos asquerosos?
17:16Não, eu duvido muito.
17:18Uma mulher não desceria tão baixo.
17:20Ainda mais uma Farto. Ela tem nome.
17:22Sei bem que elas devem estar aguando para saber o que aconteceu de fato.
17:26É um bando de aves de rapina.
17:28Mas para o bem das aparências, nós temos que dançar a música delas.
17:35Rosa, você está descomposta.
17:38Farto está cansado de viver nua, tia.
17:40Mas você não tem mais oito anos.
17:42Tenha modo.
17:44Pronto, agora estou comportadinha.
17:49Boa tarde, Virgínia.
17:51Minha flor.
17:54Tire essas botas imundas da minha cama, mão de luva.
17:57Mas isso aí é jeito de saudar um amigo.
18:04O que é isso?
18:06É o livro do Tiradentes.
18:18O livro do Tiradentes?
18:20Não conhece?
18:22Até que me engano.
18:24O livro que você roubou do Oférez?
18:26Opa!
18:28Esse livro é muito precioso.
18:30Cuidado, pode amarfanhar as páginas.
18:32E o que é que você vai fazer com ele?
18:34Vender.
18:36Mas isso não é coisa que se venda assim, é um livro proibido.
18:38Eu sei que você sabe que ele vale demais.
18:40Para uma certa gente que anda por aí,
18:44tramando coisa.
18:46Não sei do que você está falando.
18:48Não tem o que me gambelar, não, Virgínia.
18:50Sei muito bem quem você é, não é de hoje.
18:52Você é a mais afamada do povo inteiro, da Gerais.
18:54Mais bonita, mais cheirosa.
18:58Mas também mais perigosa.
19:00Quantas vezes você já não escapuliu
19:02de ficar de pendurada na ponta de uma corda, né?
19:04Você quer vender o livro?
19:08Eu sabia que você ficava interessada.
19:10É que esse livro é o livro do Tiradentes.
19:14Está assinado por ele.
19:16Está todo rabiscado e aqui,
19:18tem o nome de uma mulher.
19:22Joaquina.
19:24É a filha dele.
19:26Você conhece, porque você conhece
19:28todos os segredos de todo mundo aqui que eu sei.
19:30Você é a rebelde.
19:32Agora, eu não posso procurar o Tom Raposo
19:34ou o Patrocínio.
19:36Mas você pode.
19:38Você pode dizer para ele que eu quero vender.
19:40E que o nome da filha dele está aqui
19:42e que pode ficar em maus lençóis.
19:44Assim, do tipo...
19:46Hortário, sabe?
19:48Quanto?
19:50Cento e quatro reais.
20:02Ninguém tem certeza.
20:04Ninguém tem esse dinheiro, homem.
20:06É, D. Raposo tem.
20:08D. Raposo é pôr de rico.
20:10Ele tem ouro de sobra
20:12caindo pelas gametas da casa dele.
20:16Eladina como você é,
20:18você vai conseguir o ouro.
20:22E eu vou me aposentar.
20:24Aqui, olha.
20:26Estou ficando com os cabelos brancos.
20:28Está vendo?
20:30Estou encanecendo.
20:32Ficando velha.
20:34Enquanto isso, você deixa o livro comigo
20:36que eu vou ver o que eu posso fazer.
20:38Não está pensando que eu sou besta?
20:40Eu estou velha, mas estou tonto.
20:44Traz dinheiro que eu te dou o livro.
20:46Menina, posso chamar a sua senhora?
20:52Eu não sou escrava.
20:54E nem trabalho aqui.
20:56A senhorita é uma amiga da casa, minha mãe.
20:58Meu nome é Bertoleza.
21:00Eu sou...
21:02dama de companhia da Rosa.
21:04Dama?
21:06Dama.
21:08Vivia na corte com a família.
21:20Eladina,
21:22você não vai acreditar,
21:24a dona Luzia confundiu aquela negrinha enxerida
21:26com o escravo.
21:28Desde quando você é da sua conta, louca?
21:30Não vai acabar amor
21:32dentro da sua língua grande.
21:34Nós fizemos questão
21:36de prestar a nossa solidariedade
21:38contra essa calúnia
21:40de senhorita Rosa.
21:42Nós estamos chocadas.
21:44Com o quê? Com a calúnia?
21:46Ou por eu ter conversado em público
21:48com uma mulher de vida airada.
21:50Então é verdade?
21:52Ela é uma mulher como nós.
21:54Rosa é nova na cidade,
21:56minha mãe. De certo não sabe
21:58a verdadeira ocupação
22:00daquela mulher.
22:02Virgínia? Virgínia Loredano.
22:04Não se fala esse nome em público.
22:06Por que não? É uma mulher que pecou.
22:08Merece a nossa tolerância.
22:10Se Jesus perdoou prostitutas e ladrões,
22:12quem somos nós pra julgar?
22:14Somos pessoas decentes.
22:16Mas Jesus perdoou?
22:18Quem se arrependeu?
22:20Aquela mulher, ela peca todo dia.
22:22Sem dúvida.
22:24Mas o Cristo também demonstrou apreço pelos pecadores.
22:26Deus odeia o pecado,
22:28mas ama o pecador.
22:30Chega dessa conversa de pecado e pecadores.
22:32O chá está a seu gosto, Branca?
22:34Maravilhoso.
22:36Eu soube que você está
22:38de casamento, Marta.
22:40Ah, sim, Xavier.
22:42Xavier Almeida, da família Almeida de Novo Horizonte.
22:44A família que veio
22:46com os colonizadores.
22:48E o rapaz, raposo, André,
22:50é o nome dele, não é?
22:52André está em seus aposentos.
22:54Ah,
22:56a senhorita Bertolesa
22:58é a sua dama de companhia.
23:00Ah, muito mais do que isso.
23:02Eu a considero minha irmã.
23:04Nós crescemos juntas.
23:06Irmã?
23:08Você está trouxendo a gente.
23:10Não estou, não.
23:12Estou falando sério.
23:14Os ingleses
23:16têm um ditado que aprenderam
23:18que nós da Índia
23:20somos do mesmo sangue, tu e eu.
23:22Isso se aplica à minha Bertolesa.
23:24Mas a senhorita tem sangue azul?
23:26Vosso pai é um par do reino?
23:28O sangue de todo mundo é vermelho.
23:30Essa conversa
23:32está tomando rumos inesperados.
23:34A senhorita gosta
23:36de bordar.
23:38Ah, minha Branca borda, costura,
23:40sabe o tedeum e dedilha um piano também.
23:42A minha Rosa
23:44sabe montar e lutar com espadas.
23:46Espadas?
23:48Acho que não adianta uma mulher
23:50saber manejar uma espada.
23:52Uma espada pode ser mais afiada que uma língua,
23:54senhorita Branca.
23:56Bom, as senhoritas me deem licença.
23:58Eu vou preparar uma chá.
24:06A senhorazinha precisa de mais alguma coisa?
24:08De uma tempestade.
24:10De um raio que parta a cabeça nesse mulherio.
24:16A senhorazinha é engraçada.
24:18Nossa, eu tive que sair de lá.
24:20Que veneno
24:22que tem a língua dessa gente.
24:24Eu já estava ficando complicada.
24:28A moça está tão calada.
24:32Gosta do reggae bofe?
24:34Sou cara demais pra isso.
24:36Simão,
24:38a moça quer ir de porcelana.
24:40Com a sua graça.
24:42Gironda de Alcazar
24:44saavebra
24:46cervantes de gôngora.
24:48Muito gosto.
24:50Gironda.
24:52Engraçado.
24:54Na minha terra, Gironda é a firma do porco.
25:00Respeito, Simão.
25:02A porca é minha.
25:04A casa abre daqui uma hora,
25:06Vão de Luva. Acho melhor você ir embora.
25:08Sim, senhora.
25:12Mas eu vou levar duas quino comigo.
25:16É as quino
25:18e é quino.
25:20É pra levar? É mais caro.
25:26É que paga.
25:30Quero as minhas meninas inteiras de volta aqui.
25:32Claro, minha sócia.
25:36Eu não vou arrenegar
25:38uma ordem de uma parceira, não é?
25:42Não.
25:52Sócia?
25:54Parceira?
25:56O que esse bandido estava falando, Madrinha?
25:58Eu sei lá.
26:00Pois a dor da cabeça dele.
26:04O senhor ouviu
26:06o falatório de hoje na vila?
26:08Sobre os tais panfletos, é claro.
26:10Vila Rica não fala de outra coisa.
26:12A senhorita Rosa Raposo
26:14foi ridicularizada.
26:16Calunhas. Como é que o senhor sabe?
26:18Rosa é uma dama
26:20que jamais se meteria com uma alcoviteira.
26:22É uma pessoa singular.
26:24O que você chama de singular,
26:26Anitta,
26:28quer dizer que era uma moça à frente
26:30do seu tempo.
26:32Original, de fato.
26:34Porém,
26:36leal,
26:38justa,
26:40nobre,
26:42sem falar que é
26:44belíssima.
27:00Você acha que a gente vai tirar
27:02nossa roupa de graça?
27:04Eu quero muita
27:06moeda.
27:08Essa aqui é a moeda?
27:10Essa aqui é a moeda?
27:12Deixa eu ver.
27:14Olha.
27:36É.
27:38É.
27:44E você?
27:46Está com vergonha
27:48de colocar a vergonha de fora?
27:50Estou virgem.
27:52É?
27:54Quanto custa
27:56sua virgindade?
27:58Mais que você pode pagar.
28:02Quanto?
28:04Uma barra
28:06de ouro.
28:08É.
28:14Tá.
28:18Agora quer as duas pelar?
28:22Muito bem.
28:38Vai,
28:40irmão.
28:44Vai.
28:54Deixa eu tirar a roupa.
29:14É.
29:32É assim que você recebe visita?
29:34Você não foi o convidado.
29:36Vim em paz.
29:40Estou precisando do seu serviço.
29:42Eu não presto serviço ao homem.
29:44Eu pago bem.
30:12Dedos crispados,
30:14pele seca,
30:16olho amarelo,
30:18cabelo seco.
30:22Esse infeliz foi envenenado.
30:26Tenho certeza.
30:42A tropa beladona.
30:44Não tinha escape.
30:48Quem fez, sabia o que estava fazendo.
31:12ANITA
31:14ANITA
31:40Anita.
31:44Prepare minha roupa e mande selar o meu cavalo.
31:54Anitia.
31:56Anitia.
32:00Raposo.
32:02Estou descomposta.
32:04Você matou o guarda-livros.
32:06Do que você está falando?
32:08O tal Taveira morreu envenenado por Beladona.
32:10O mesmo envenenado que você usou com seu marido.
32:14Não diga isso.
32:16Raposo, eu só fiz o que fiz com meu marido,
32:18porque ele era um monstro.
32:20Ele me espregava todas as noites como um rebeque,
32:22como se eu fosse escrava dele.
32:24Além do mais, ele não morreu.
32:26Infelizmente.
32:28Mas você me protegeu.
32:30Mandou aquele animal pra bem longe.
32:32Raposo,
32:34eu só fiz o que fiz pra me defender.
32:36Eu não sou uma assassina.
32:38Eu não vou fazer isso.
32:40Jamais mataria um homem.
32:42Eu tenho religião.
32:44O mão-de-luva?
32:46Aquele salteador de estrada
32:48com o livro do Tiradentes?
32:50O famoso Roquelle.
32:52O livro que teria sido a base da nossa revolução.
32:56O mão-de-luva roubou o livro antes da morte do Tiradentes.
32:58E agora quer vender?
33:00Por uma fortuna.
33:02Virgínia, nós precisamos recuperar esse livro.
33:04Peço desculpas
33:06pelo adiantar da hora.
33:08Entre, por favor.
33:10Vim porque
33:12não podia esperar mais.
33:14Eu fiquei consternado
33:18com as calúnias que lançaram sobre a senhorita.
33:20Os panfletos de mal dizer.
33:22Uma indignidade.
33:26Uma covardia.
33:28Sim.
33:30E o senhor não se envergonha de ser visto comigo?
33:32A mulher de quem toda a Vila Rica está falando.
33:34A indigna
33:36que anda na companhia de meretrizes.
33:38A mulher mais fascinante.
33:42Que já abordou por essas manas.
33:46A mais linda.
33:50Você é uma dama, Rosa.
33:52Linda.
33:56Por dentro e por fora.
33:58É bem você.
34:00Por dentro e por fora.
34:02É bela como uma pintura.
34:04E tem um coração
34:08de leão.
34:10A força de um tigre.
34:20Desde que a conheci
34:24você não sai mais da minha cabeça.
34:30Sonho.
34:34Vejo a senhorita
34:36em todo lugar.
34:46E quando acordo pela manhã
34:52é com esperança de revela.
35:00E quando acordo pela manhã
35:06é com esperança de revela.
35:12E quando acordo pela manhã
35:16é com esperança de revela.
35:22E quando acordo pela manhã
35:26é com esperança de revela.
35:30E quando acordo pela manhã
35:32é com esperança de revela.