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  • 10/05/2025
O projeto dos anos 40 reflete a forma visionária como o arquiteto pensou a ocupação do espaço e ligou sua atividade à possibilidade de transformação social.
Transcrição
00:00A minha mãe conta que eles estavam aqui brincando, daí entrava um cavalo no quintal, uma vaca,
00:28então tinha todas essas coisas meio de uma área rural, mas com uma arquitetura completamente transgressora para a época.
00:37Eu acho que aqui tem uma relação que é muito boa de enxergar, que a gente vê o volume do escritório daqui de fora,
00:47a pessoa circulando por dentro da casa, mas parece que ela está circulando meio por fora também,
00:53porque lá já não é fechado com janelas e portas do outro lado, então essa coisa é meio curiosa,
01:01quase que um túnel dentro da casa, um túnel de vidro, onde ele sobe e vai enxergar a casa e a rua de um outro ponto de vista.
01:12Vila Nova Artigas foi, além do arquiteto, um importante professor da Universidade de São Paulo,
01:28um dos fundadores da semana FAUUSP, e hoje ele é reconhecido como um dos arquitetos mais importantes
01:36da história da arquitetura brasileira e da arquitetura mundial.
01:40Ele foi, de fato, um visionário na maneira como ele pensou o espaço da cidade,
01:46o espaço da residência, as técnicas construtivas, a maneira de se ensinar a arquitetura,
01:51a maneira de se entender a arquitetura como um fato social,
01:56e gerou duas, três, quatro gerações de arquitetos, de uma certa maneira,
02:02que são devedores das suas ideias, dos seus conceitos.
02:06Essa é a casinha, que foi a primeira casa que ele construiu nesse terreno.
02:18O terreno é um só, né? Então as casas compartilham o mesmo terreno.
02:23Mas essa é a casinha de 1942, telha francesa, os tijolinhos aparentes.
02:29Ele concentra tudo o que é o núcleo hidráulico da casa,
02:33então os banheiros e cozinha ficam concentrados,
02:36que é uma forma de fazer uma construção racional, mais barata.
02:39Tem a questão dos meios-níveis, então você desce meio nível para ir para o ateliê,
02:44sobe meio nível para ir para o quarto.
02:46Ela é uma pesquisa, um começo de pesquisa dele do que seria a arquitetura no futuro, né?
02:53Dos trabalhos dele, né?
02:54Era um pouco um descanso, né?
02:57Imagina que em 1942 a pessoa saía do centro da cidade para vir para o Campo Belo,
03:04era muito distante, né?
03:06Então o transporte era por meio de bondes, etc.
03:09Então, de fato, era um lugar para viagem, para vir para cá, né?
03:14Então era um descanso, um lugar onde saía um pouco do agito do centro, né?
03:18A segunda casa, que é essa aqui, que está ao fundo,
03:27o Artigas já projetou ela num momento onde já existia o Júlio,
03:36que era o filho deles, né?
03:37Então o Júlio já nasce na casinha,
03:40mas essa casa já foi pensada para uma família maior, né?
03:45Então com essas demandas mais pessoais, vamos dizer assim.
03:50Em termos de arquitetura, aí tem que a gente faz essa analogia
03:57que a casinha de 1942 já era um pensamento mais voltado para a arquitetura do Frank Lloyd Wright,
04:04um arquiteto norte-americano que foi uma influência muito forte na vida do Artigas,
04:09no começo da carreira, né?
04:11E até o final, depois também.
04:13E essa casa aqui já é uma transição um pouco maior da linguagem do Le Corbusier, né?
04:20Que é um arquiteto franco-suíço, que inspirou gerações e gerações de arquiteto
04:26e meio que estabeleceu uma cultura da arquitetura moderna aqui no Brasil.
04:29Esse aqui é um espaço muito representativo da arquitetura do Artigas,
04:42principalmente na arquitetura doméstica, né?
04:44A arquitetura residencial que ele fazia,
04:47que já traz vários elementos do que seria a arquitetura pública dele no futuro, né?
04:51Então essa questão da integração dos espaços, né?
04:54Do que é interior com exterior, a questão da transparência,
04:58a gente tem uma relação com a cidade, que era uma pauta que ele batalhava sempre.
05:04A arquitetura não vive sem a cidade, a cidade não vive sem a arquitetura,
05:08é uma coisa intrínseca.
05:09E aqui tem um, que é um espaço legal,
05:13porque o Artigas, ele estudava muito, lia muito,
05:17então ele tinha momentos grandes de introspecção, né?
05:21De leitura e ficar concentrado e tal.
05:23Mas ao mesmo tempo ele não queria perder o contato com a família,
05:26com a convivência da casa.
05:27Então ele desenha o escritório,
05:30que era a biblioteca dele no andar,
05:33nesse andar de cima, né?
05:34Que é, tem sobre pilotis aqui, né?
05:38Que é um térreo mais livre,
05:40mas que ele consegue ficar lendo e participando,
05:43de certa forma, dessa vida cotidiana, né?
05:46Das refeições, das brincadeiras das crianças,
05:49ele via as crianças brincando no jardim,
05:52aqui no pátio coberto.
05:54É um desenho que mostra muitas intenções, né?
05:58Onde, no fundo, a convivência era o ponto principal
06:02do desenho da arquitetura dele, né?
06:04A casa, ela busca uma introspecção, né?
06:20Ou seja, por mais que ela esteja num terreno amplo,
06:23com vegetação e com uma área verde extensa
06:27e muito agradável na área externa,
06:30de uma certa maneira, a sala,
06:31o ambiente doméstico se isola com essas paredes mais altas,
06:35colocando a iluminação de uma forma também mais
06:38na parte superior da sala
06:41e busca uma relação volumétrica, espacial,
06:44da casa com ela mesma, né?
06:46Você tem um diálogo dessa sala com a varanda
06:48e uma segunda parte da sala ali,
06:51que é o escritório na parte superior, né?
06:53Isso não é trivial e não é casual.
06:56Foi uma busca do arquiteto em procurar uma reflexão
07:02do que seria um espaço doméstico
07:04nesse momento de desenvolvimento da cidade de São Paulo.
07:08Então, essa forma, essa experiência,
07:10essas paredes, as cores, os vidros,
07:13eles estão pensados, eles estão tentando refletir
07:17o que seria essa transformação social
07:20por meio também de uma transformação espacial.
07:23Essa geração estava muito engajada nesse diálogo
07:26entre uma transformação espacial
07:28e uma transformação social,
07:32lembrando também que nós estamos aí
07:33no final dos anos 40 e início dos anos 50.
07:53Legenda Adriana Zanotto

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