Alta burguesia é tema de novo filme de Olivier Assayas

Canal Arte1

Em “Tempo Suspenso”, o diretor francês trabalha ao mesmo tempo a sua ironia e seu fascínio pela elite europeia, que paira quase descolada da realidade e presa a muitas referências artísticas.

Transcript

00:00Transcrição e Legendas por TIAGO ANDERSON

00:30É um filme que impressiona muito por essa vida dos intelectuais da alta burguesia.

00:36Então, que estão passando a pandemia numa casa maravilhosa, lotada de livros,

00:41com um jardim fabuloso, com magnólias e lilases e quadra de tênis e ninguém por perto.

00:51O filme, ele tem esse lado, assim, quase obsceno mesmo, sabe?

00:55De uma vida sem nenhuma preocupação material e nenhuma grande crise real, assim.

01:03E, ao mesmo tempo, traz essa dor da passagem do tempo, do envelhecimento,

01:08de não ter mais os pais e qual vai ser a relação possível com o irmão

01:13e qual vai ser o destino daquela família, acho que em passas que todo mundo vive.

01:19É uma observação detida desse microcosmo superburguês

01:28e que a relação com a natureza é mediada por referências de artistas e escritores

01:37e a relação entre as pessoas é mediada por referências da música, da literatura, da pintura.

01:44Então, todas as relações são mediadas.

01:47O personagem, por causa disso, eu acho que ele é quase insuportável, assim.

01:51Se fosse alguém, acho que não dá pra ficar muito amigo dessa pessoa

01:54que parece que tá sempre dando uma aula, assim.

01:58E eu achei curioso porque eu fui ver a idade do Açaias e a idade do ator

02:03e eles têm, tipo, 20 anos de diferença.

02:05Então, ele escalou alguém pra interpretar o próprio papel 20 anos mais jovem do que ele, né?

02:11Então, assim, acho que tem um lado de vaidade do cineasta, assim,

02:14quando ele faz esse filme que foi rodado na casa da família dele.

02:18Então, tem um lado de vaidade de contar da infância dele,

02:22de contar dessa casa superlegal, dessa biblioteca incrível

02:25e de todas as referências que ele domina e tal.

02:30Mas tem um lado que tem também uma ironia com relação a isso.

02:33É quase uma antropologia de uma classe social, sabe?

02:38Eu acho que esse é um grande interesse do filme.

02:41Hier soir, Carol e eu, nós tivemos de colocar bolquias.

02:43Hier soir, o organismo foi mué.

02:45Tem um lado, assim, de uma alienação da vida real, material, assim,

02:54e tem um lado de uma grande beleza e um grande apuro.

02:57Cada plano, eu acho que tem uma referência pictórica.

03:01E no caso desse filme, eu acho que o impressionismo é uma referência, né?

03:05Tem até um momento que o Monet, uma referência ao Monet aparece,

03:11ou a Renoir aparece, mas acho que tem esse desejo de registrar

03:15a exuberância da natureza, das flores e do raio do sol incidindo sobre o gramado.

03:24Então, acho que tem esse apuro estético em cada enquadramento

03:28que está muito presente nesse filme e que acho que é algo que já está presente também

03:32na obra dele como um todo.

03:35Tem uma pressão de estar no coro do mundo

03:39que o fato de que tudo se arrate

03:41tem uma força liberatória.

03:48Uma semana próxima.

03:50Sim, mesmo ar, mesmo hora.

03:52Tchau, tchau, tchau.

03:59Tchau, tchau.

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