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Bh 128 anos - Um navio Art Decó no coração da Inconfidência Mineira. Por que a primeira casa Art Decó de Belo Horizonte tem o formato do convés de um navio? Será que estamos falando de navegações numa cidade em que nossos horizontes de mares são montanhas? Em celebração ao aniversário de 128 anos de Belo Horizonte, nós vamos te explicar porque a história desta casa batizada de Palacete Jeha está intimamente relacionada às grandes navegações e à migração libanesa.

Reportagem: Bertha Maakaroun
Foto: Gladyston Rodrigues

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Transcrição
00:00Por que a primeira Casa Ardeco de Belo Horizonte tem o formato do convés de um navio?
00:05Será que estamos falando de navegações numa cidade em que nossos horizontes de mares são montanhas?
00:13Neste 12 de dezembro, aniversário de Belo Horizonte, nós vamos te explicar
00:16por que a história desta casa, batizada de Palacete Geia,
00:20está intimamente relacionada às grandes navegações e à migração libanesa.
00:25Não só o Brasil é revelado à Europa a partir de uma extraordinária aventura marítima.
00:30A capital mineira se funda também porque a família real fez o caminho reverso.
00:36A proclamação da república abriu um novo ciclo político.
00:39Cumpriu-se o mar e o império se desfez, diria Fernando Pessoa.
00:44E Belo Horizonte se fez.
00:45Muitos dizem que, inspirados pela visita de Dom Pedro II ao Oriente Médio, em 1871,
00:50ibaneses e sírios, que eram parte do Império Turco Otomano,
00:53foram incentivados na migração para o Brasil.
00:56Mas, bem antes, toda a região do Líbano e Síria vivia grande instabilidade.
01:01Eu vou falar do Monte Líbano, de onde partiu a minha família.
01:05Marcada pela produção agrícola, particularmente seda, tabaco e vinho,
01:09para exportação, na região do Monte Líbano e do Vale do Becá,
01:13viviam cristãos maronitas, judeus, separditas e drusos.
01:17Ali se refugiaram para escapar da ortodoxia católica e islâmica do Império Otomano.
01:21Viviam em harmonia, mas, a partir de 1840,
01:26começaram a surgir conflitos entre drusos e maronitas que evoluíram para uma guerra civil.
01:31Em decorrência dessa guerra civil, iniciou-se ali o processo de emigração mais intenso,
01:36principalmente para as Américas.
01:38As grandes potências europeias formaram alianças com grupos religiosos
01:42dessas províncias árabes do Império Otomano.
01:45Ingleses apoiaram drusos.
01:47Franceses ficaram com os maronitas, que integram uma igreja católica oriental autônoma
01:52e reconhece a autoridade do Papa.
01:54Para encerrar o conflito, em 1861, representantes do Império Otomano,
01:58Inglaterra, França, Áustria, Prússia e Rússia,
02:01assinaram em Istambul o regulamento para a administração do Monte Líbano.
02:05Esse regulamento lançou as bases do sistema,
02:08que veio a ser conhecido como confissional e que persiste até hoje.
02:12Sob o Império Otomano e a ambição russa por novos territórios,
02:15a Península Balcânica se torna o barril de pólvora da Europa.
02:20Temendo o alistamento militar obrigatório ao exército otomano de cristãos do Líbano,
02:25muitos jovens cristãos libaneses emigraram.
02:27Meu bisavô, Kadi Ugeia, vivia em Zárnia.
02:30Tinha quatro filhos e três filhas.
02:32Quis proteger os filhos e olhou para o Brasil.
02:35Em 1900, aos 17 anos, meu avô, Najib Ugeia,
02:38desembarcou no Rio de Janeiro acompanhado do pai dele, meu bisavô.
02:42Tinha em mente uma nova cidade, que nascia ao pé da Serra do Curral.
02:47Essa era uma serra que os remetia à memória do Vale do Becá,
02:51onde, até hoje, vive uma das maiores comunidades cristãs no Oriente.
02:56Belo Horizonte, engatinhado em seus três anos de fundação.
03:00Na Jib Ugeia, se instalou e começou a prospectar um empreendimento.
03:03O pai dele retornou ao Líbano.
03:06Lá, providenciou a vinda dos outros três filhos,
03:09Jean, Achid e Nicolau, e das filhas Vitória e Adma.
03:12Em 1903, na rua Rio de Janeiro, centro de Belo Horizonte,
03:16nascia Ugeia Irmãos.
03:18Ali vendia-se tecidos finos.
03:20A segunda loja, que em princípio se chamava Armarinho São João,
03:23foi rebatizada com a chegada dos irmãos.
03:26Chamou-se Três Irmãos.
03:28Ali, o cliente encontrava um pouco de tudo.
03:30Outros libaneses foram chegando a Belo Horizonte
03:33e se integrando ao negócio em uma rede de mascates
03:37que levavam produtos para todo o Estado.
03:40Na segunda e muito conturbada década do século XIX,
03:43no contexto da Primeira Guerra Mundial,
03:45o Líbano vive o drama da grande fome.
03:48É também chamada Fome do Monte Líbano.
03:50A tragédia nem sempre é mencionada
03:52e desenhou entre um terço e metade da população,
03:55principalmente de cristãos.
03:56Meu avô vivia em relativa prosperidade em Belo Horizonte,
04:00enviando recursos para a família que permaneceram em Zargue.
04:03Àquela altura, ele tinha cerca de 30 anos.
04:06Queria se casar.
04:08A futura esposa havia sido identificada,
04:10Vitória Miller.
04:11A família era de Baalbek.
04:13A irmã mais velha dela, Fádua,
04:15casada e já com filhos,
04:16estava vivendo em Zargue,
04:18naquele momento em que o Vale do Becá
04:20era assolado pela escassez.
04:22O casamento foi tricotado entre Fádua
04:24e Yamina, mãe de Najib.
04:26Em 1919, Najib buscou a noiva.
04:29Uma vez no Brasil, tiveram seis filhos.
04:31Nasceu Berta, a primogênita.
04:33Depois vieram Yamina, Rosita, Nelly, Sônia e Caril.
04:37A família prosperou.
04:39Belo Horizonte vivia nos anos 30
04:41uma ebulição arquitetônica,
04:43abrigando simultaneamente os ecletismos,
04:46o modernismo e o ar-de-co.
04:48Foi o tempo em que Vitória disse ao marido
04:50vamos construir.
04:51Compraram o meio quarteirão
04:52no encontro da Rua Paraíba
04:54com as avenidas Brasil e Afonso Pena.
04:56Contrataram o arquiteto Zimmer Westphal,
04:59que se notabilizou na cidade
05:00por seus projetos ar-de-co.
05:02Para expressar a grande jornada marítima
05:04da costa mediterrânea
05:06ao litoral do Atlântico Sul,
05:08Zimmer imaginou com vez um navio.
05:10Um navio que cortou mares e montanhas
05:13antes de ancorar no coração
05:15e confidente de Belo Horizonte.
05:17Logo, o casarão se tornou ponto
05:19de convergência para cafés, almoços,
05:21jantares, entre amigos de uma família grande.
05:23E depois, quando a mais velha Berta
05:25e o médico Joaquim Mendes de Souza
05:27se casaram, em 1938,
05:30a política se infiltrou na família.
05:32Mendes e Juscelino Kubitschek
05:34eram colegas de medicina
05:35e parceiros de vida.
05:36Logo, todos se tornaram juscelinistas
05:38antes mesmo de imaginar
05:40o que esse adjetivo significaria
05:42nas próximas décadas.
05:43Certo dia, em 1940,
05:45o mensageiro bateu palma à porta.
05:47Apontou para a Avenida Afonso Pena
05:49e informou Vitória.
05:50O prefeito mandou dizer
05:52que vai asfaltar toda essa avenida.
05:55Espantada, Vitória, minha avó embagou.
05:58E quem é o prefeito?
05:59Existindo a aceitar o convite
06:00de Benedito Baladares,
06:02um então interventor de Minas,
06:03mandara publicar no Minas Gerais
06:05o decreto de nomeação de JK
06:07para a Prefeitura da capital mineira.
06:09Quer saber mais?
06:10Eu conto tudo.
06:11Mas aí já é um outro capítulo.
06:13Obrigado.
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