Acompanhe em entrevista com Marcelo Morandi, Chefe Geral Embrapa Meio Ambiente Embrapa, qual foi a atuação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária durante a COP30. O pesquisador apresenta como a agrizone, área criada pela primeira vez este ano, foi importante para a percepção mundial da agropecuária brasileira e como isso deve ser um legado para as próximas Conferências do Clima da ONU.
00:00Continuando aqui nas discussões sobre essa relação entre agronegócio, segurança alimentar, transição energética nesse ambiente de COP30,
00:09agora a gente vai falar sobre biocombustíveis e o horizonte promissor que se abre para o Brasil na geração,
00:17inclusive não só na produção, mas na geração de demanda pelos biocombustíveis brasileiros,
00:22para a gente conversar sobre isso, entender o que foi discutido aqui nessa COP30 e também, claro, olhar para o futuro e o que a gente pode fazer com essas oportunidades,
00:33eu converso agora com o Júlio Minelli, ele é diretor-superintendente da APROBIO, que é a Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil.
00:40Júlio, muito obrigada pela sua disponibilidade.
00:44É um prazer a gente poder estar dividindo um pouco dessa experiência do Brasil com biocombustíveis, participando mais uma vez de uma COP.
00:54Aqui no Brasil, o que é importante, falando dos biocombustíveis no Brasil, ou seja, o Brasil tem um exemplo para dar para o mundo,
01:02porque inclusive com essa proposta nossa, Belém 4X, que a gente indica para o mundo a possibilidade de a gente aumentar em quatro vezes,
01:13posso dizer que se a gente aumentar em quatro vezes no Brasil, a gente já resolve o problema dos fósseis,
01:19porque nós já utilizamos 27,3% de sustentáveis, de renováveis no Brasil, mas o mundo é 3,9% ainda, então tem muito para crescer.
01:31O que diz que a gente, se o mundo crescer quatro vezes, ainda não vai alcançar os 27% do Brasil.
01:38E com a lei combustível do futuro, que não é o combustível do futuro, não é uma lei só do futuro, é uma lei para o Brasil, uma lei do presente,
01:48mas que traz uma previsibilidade, onde nós abrimos possibilidades de novos biocombustíveis.
01:56O Brasil já tem um exemplo há 50 anos com o Proálcool, que acabou de fazer 50 anos agora no dia 14 de novembro, agora na semana passada,
02:07comemorou inclusive aqui na COP esses 50 anos, mas tem o biodiesel, que já tem 20 anos, nós temos o biometano, temos o hidrogênio,
02:18tem o SAF, que é o combustível sustentável de aviação, tudo isso está na lei combustível do futuro.
02:28Uma lei que o nosso presidente da frente parlamentar diz que é uma lei que daqui a 50 anos ela ainda será uma lei moderna.
02:36Uma lei que traz previsibilidade, conforme você colocou, abre, demanda, porque ela fala dos mandatos.
02:45Nós temos no caso do etanol um aumento para 30 e 35, já alcançamos os 30, era 27, já alcançamos 30%.
02:55Temos a possibilidade ainda de subir para 35%.
02:59No caso do biodiesel, a gente fala, nós temos hoje uma mistura de 15% de biodiesel no diesel fóssil,
03:07mas ela já coloca metas de crescimento de um ponto percentual ao ano, pelo menos até o B20,
03:15mas abre também possibilidade de chegar até 25% de mistura.
03:21Fora tudo isso, o Brasil está dando exemplo também como casos especiais onde já são utilizados 100%, por exemplo, de biodiesel.
03:31Nós temos frotas de produtores, inclusive produtores de agrícolas, que estão com a sua frota já utilizando 100% de biodiesel,
03:42seja nos caminhões, no transporte do seu grão, o que faz com que seu grão tenha menor pegada de carbono,
03:51seja mais sustentável, isso é um selo importante para o mundo, mas também na sua produção.
03:57Existe essa possibilidade da produção quadruplicar, e o próprio presidente da COP30, André Correia do Lago,
04:03fala disso também, muito nas coletivas de imprensa, nas suas falas oficiais,
04:09mas ele mesmo coloca que precisamos também gerar a demanda para isso,
04:14não adianta só poder produzir quatro vezes mais.
04:17Precisa ter uma demanda, então precisa ter uma indústria demandante,
04:20não é uma demanda que vai partir do indivíduo, mas das indústrias, das grandes corporações,
04:27como que a ProBio enxerga essa relação, então, entre o Brasil fomentar esse aumento de demanda,
04:35a partir de uma COP30 que ficou evidente que, é isso, temos várias soluções,
04:41o planeta Terra já produz outras soluções, já não precisamos mais ficar somente no petróleo,
04:46no gás mais poluidor, enfim, como que também existe esse diálogo para que essa demanda destrave?
04:54Essa demanda só vai destravar se a gente conseguir colocar para o mundo,
04:59e como exemplo, e como forma de desenvolvimento, principalmente o sul,
05:06onde nós temos as áreas tropicais, a África pode se tornar uma grande produtora de alimentos,
05:14mais com biocombustíveis, ou seja, nós precisamos de escala,
05:18a gente tanto precisa de escala na demanda, mas também precisa de escala na demanda de alimentos,
05:26o mundo continua dependendo de alimentos, e nós estamos passando nessa COP que o Brasil consegue fazer biocombustíveis
05:35incentivando os alimentos, é aquela, ou seja, nós não temos nenhuma relação de aumento da produção de biocombustíveis
05:45e diminui a de alimentos. Não, no Brasil, nós aumentamos a produção de biocombustíveis
05:51e incentivamos o desenvolvimento dos alimentos.
05:55Estamos aqui na COP falando muito também dessa questão do mapa do caminho
05:59e de como que os países estão ou não estão desenhando, de fato, os próximos passos
06:05para deixar de usar combustível fóssil.
06:09É uma negociação complicada, a gente sabe que os países, por exemplo, do Oriente Médio
06:14não querem dialogar sobre isso, mas, então, em paralelo à dificuldade de, de fato,
06:20tirar do papel um mapa do caminho para combustíveis fósseis,
06:23eu entendo que existe uma possibilidade da gente fazer um mapa do caminho,
06:27então, de progressão dos biocombustíveis.
06:31Então, assim, é aproveitar a oportunidade onde existe ali uma falha.
06:36Então, o Brasil provocar essa demanda internacional.
06:40Então, eu queria entender um pouco disso, até a diplomacia,
06:43tanto da ProBio, mas de outras instituições do setor,
06:47que eu sei que o senhor está sempre circulando,
06:49existe esse diálogo, por exemplo, com uma indústria automotiva
06:52para demandar mais do biodiesel, por exemplo,
06:56ou das próprias montadoras de tratores sobre isso.
06:58Como que está essa demanda da indústria alimentícia,
07:02que precisa de combustível e, logo, pode transformar também
07:06o seu uso para um biocombustível brasileiro, combustível sustentável brasileiro?
07:10Como que está essa demanda global de fora para o Brasil
07:14e dessas indústrias de larga escala?
07:17Porque a gente consegue produzir, a gente consegue,
07:19mas está havendo essa demanda crescente e na velocidade
07:23que, inclusive, o planeta Terra precisaria,
07:25dado a discussão aqui da COP?
07:27Sim, você falou na questão das produtoras de veículos.
07:34É um exemplo muito, muito característico aqui,
07:36é que nós estávamos, infelizmente estávamos,
07:39porque hoje está fechada a Blue Zone,
07:41onde estava o nosso stand,
07:43nós tínhamos um stand conjunto com 11 entidades,
07:47reunindo todas as associações produtoras de biocombustíveis,
07:52seja de biodiesel, seja de etanol, seja de biogás,
07:57com a indústria automobilística.
07:59A indústria automobilística, ela vê como grande possibilidade
08:04a utilização desses biocombustíveis e está com a gente,
08:07fez as contas aqui no Brasil, acabaram de divulgar um estudo,
08:12onde para atingir as metas de descarbonização,
08:15não adianta ir para o elétrico.
08:16Eles vão precisar dos biocombustíveis para isso.
08:22E isso sim, aí você precisa de ter escala,
08:25não adianta você produzir veículos só para o Brasil,
08:29precisa produzir para outros países.
08:31Então, a ideia, inclusive, desse stand,
08:34é demonstrar para os outros países
08:36que no Brasil nós temos capacidade disso,
08:40e lá fora também pode ter.
08:42E aí, quando você fala com relação a abrir mercado
08:46e exportação de biocombustíveis brasileiros,
08:49essa é outra discursão ou posicionamento
08:55que o Brasil vem tendo de certificação de suas matérias-primas.
09:00Porque nós temos condições de fazer,
09:02o Brasil pode, por exemplo,
09:04ser o exportador de SAF para o mundo,
09:06produtor e exportador do combustível de aviação sustentável
09:11para o mundo.
09:12Mas o mundo precisa entender
09:15que as nossas matérias-primas são sustentáveis.
09:19Nós não precisamos desmatar,
09:22jogar nenhuma árvore mais no chão
09:24para aumentar a nossa capacidade de produção.
09:28Infelizmente, nós temos áreas já degradadas,
09:31mas que podem ser recuperadas
09:33com plantação dessas matérias-primas
09:36que vão gerar alimento e biocombustíveis.
09:39Júlio, muito obrigada.
09:41Te agradeço muito por esse panorama
09:42e espero que a gente tenha boas notícias da Copa em diante,
09:47justamente para esse fomento, para essa produção.
09:49Ficou um convite, inclusive, para você voltar,
09:51para a gente atualizar essa conversa.
09:52Ok, obrigado.
09:53Foi um prazer estarmos à disposição
09:56e que o mundo entenda que o Brasil é um exemplo
09:59e pode a ser seguido e que devem seguir.
10:02É isso, a gente continua aqui na Grisone
10:05conversando novamente com a Embrapa
10:07para entender a importância desse espaço aqui
Seja a primeira pessoa a comentar