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  • há 12 horas
Em Belém, para participar da COP 30, o ator e dramaturgo Adanilo falou com exclusividade ao Grupo Liberal sobre seu envolvimento com as pautas ambientais e seus novos trabalhos no campo das artes.

Imagens: Cristino Martins
Reportagem: Bruna Dias
Edição: Karla Pinheiro (Supervisão Tarso Sarraf)

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Transcrição
00:00Essa sensação se aflorou muito mais aqui, que a gente naturalmente está em várias frentes,
00:08são vários contextos de luta, várias formas de a gente se pronunciar.
00:15Eu, enquanto artista, acho que não me vejo criando obras que não falem da Amazônia,
00:23da periferia de Manaus, mais especificamente que é um lugar onde eu tenho mais conhecimento,
00:28mas do Amazonas, dos contextos indígenas que envolvem a nossa região como um todo.
00:34E aqui eu tenho encontrado personalidades indígenas de diversos contextos.
00:40Isso tem sido muito interessante para a gente perceber que a luta é muito diversa e muito múltipla.
00:47Eu, por exemplo, ontem participei de um painel sobre cinema amazônico,
00:52e na mesma mesa estavam pessoas de diferentes contextos.
00:55A gente tinha a Samara Borari, lá de Santarém, o Estevam Ciavata, que é um produtor que produz muitas coisas,
01:02com o coletivo Munduruku, lá da Beca Munduruku.
01:07Então, a gente tem muitos olhares diferentes para uma mesma luta.
01:11Eu acho que a COP é uma oportunidade disso, justamente,
01:15da gente agregar diversas frentes para lutar por um mesmo ideal,
01:19que é essa espécie de preservação e de conservação no planeta.
01:24E eu saio daqui muito reflexivo com isso tudo.
01:27Como é que a minha arte reflete para essa melhoria que a gente espera?
01:32O que eu consigo produzir para melhorar o contexto em que eu estou inserido?
01:38Que mundo é esse que eu quero para a minha filha?
01:40Eu tenho uma filha de oito anos, então, acho que a preocupação é um pouco permanente nesse sentido.
01:46Ultimamente, eu tenho me preocupado muito com duas questões específicas,
01:49que são, lá em Manaus, essa relação do artista com o público.
01:56A gente tem questionado muito como é que as pessoas podem incentivar o nosso trabalho.
02:02Obviamente, como é que o poder público pode intervir nisso e melhorar a qualidade de vida dos artistas
02:09e cada vez mais incentivar o trabalho dos artistas.
02:14Mas eu tenho me preocupado muito com como é que as pessoas passam a se interessar,
02:19mais uma vez, pelos nossos trabalhos.
02:21Isso é uma pauta que eu acho que vai estar mais presente a partir de agora,
02:26já que isso tem reverberado tanto na minha cabeça.
02:29Eu imagino que isso vai estar muito mais presente nas próximas obras que eu fizer.
02:34E outra coisa, é algo que sempre esteve na minha mente,
02:39mas, ultimamente, começou a me incomodar um pouco mais.
02:42Eu não sei por que exatamente, eu sei, sei lá.
02:45Mas é essa relação, muitas vezes confusa, que a gente,
02:51a gente, eu digo, sociedades amazônicas de maneira geral,
02:55principalmente nos grandes centros, nas capitais, principalmente,
03:00essa relação meio deturpada que a gente tem com a natureza.
03:03Por exemplo, falando de Manaus, Manaus é uma cidade muito pouco arborizada.
03:08Os igarapés que entrecortam a cidade estão, em grande parte, poluídos.
03:14A gente está completamente de costas para a natureza,
03:17de costas para o rio, para esse contato.
03:19E eu lembro dos meus pais falarem, do meu pai,
03:23foi a última geração que eu acho que tomou banho, por exemplo,
03:26nesses igarapés.
03:27Eu já não vivi isso, eu já não pude viver isso.
03:30Isso começou a virar uma preocupação muito latente na minha cabeça.
03:34E eu acho que isso é outra coisa que, com certeza,
03:38vai estar presente nas próximas obras que eu fizer.
03:40E eu acho que essa é uma maneira de se preocupar um pouco,
03:46é um jeito de ressignificar a minha existência enquanto artista,
03:52enquanto cidadão do mundo, na verdade,
03:54e principalmente da Amazônia, eu sinto.
03:56Hoje eu estava conversando com o Adriano Barroso,
03:58ator maravilhoso daqui de Belém,
04:02meu amigo,
04:02e a gente estava falando e eu estava explicando para ele
04:06algumas influências que eu vejo que Manaus tem
04:10em relação direta com o audiovisual.
04:13Por exemplo, alguns bairros de Manaus carregam o nome
04:17de lugares, de algumas novelas que passaram.
04:23Por exemplo, tem um bairro que se chama Coroado,
04:26e esse foi o nome de um lugar,
04:29em alguma novela, acho que dos anos 80, se eu não me engano,
04:31em Manaus a gente usa muito o termo galeroso,
04:36que seria o equivalente ao malaco,
04:38aqui para Belém.
04:40E o galeroso, a ideia da galera,
04:42foi muito inspirado por um filme norte-americano
04:45que se chama The Warriors.
04:48E não sei, esses são alguns exemplos,
04:51hoje conversando com o Adriano me lembrei dessas coisas,
04:54mas a gente vê a influência direta da arte
04:56no comportamento das pessoas.
04:58Eu acho a arte imprescindível
05:00para formar uma sociedade.
05:03Tola é a pessoa que acha que a arte
05:07é um instrumento vão,
05:10que não serve para nada.
05:12Eu acho muito pelo contrário,
05:13a gente tem um poder fundamental
05:15de reorganizar a sociedade.
05:17e a arte brasileira era tão potente.
05:22Você vê agora, falando do audiovisual,
05:24por exemplo, a gente vive um grande levante do audiovisual,
05:27com o recente prêmio do Ainda Estou Aqui.
05:30Esse ano, especificamente, foi um ano bem potente.
05:33O Ainda Estou Aqui ganhou o Oscar,
05:35o Último Azul, que é o filme que eu participei,
05:37ganhou o Urso de Prata em Berlim,
05:40o Agente Secreto foi para a Cannes e levou tudo.
05:43Provavelmente, o Agente Secreto vai estar na próxima competição do Oscar.
05:47Então, a gente vê a potência mesmo dessa arte que representa,
05:52que instrui, que faz ressignificar a vida das pessoas.
05:55Eu sou uma pessoa, o clássico, o clichê,
06:00eu fui salvo pela arte.
06:02Eu sou um menino nascido e criado na periferia de Manaus.
06:07Até os 20 anos de idade, eu nunca tinha visto uma peça de teatro,
06:11nunca tinha ido ao teatro.
06:13Então, quando eu conheci aquele universo, eu me maravilhei.
06:16Eu acho que tudo que aconteceu na minha vida
06:18foi por conta da arte, por conta do teatro.
06:20Então, devo muito à arte, a tudo que aconteceu na minha vida.
06:26Se hoje eu estou aqui falando com você,
06:28é por conta do que o teatro e depois o cinema me proporcionaram.
06:34E eu vejo muito o reflexo da arte na vida.
06:38Vivendo em Manaus, é a primeira vez que eu estou em Belém.
06:41E eu sempre fui muito admirador da arte belenense.
06:48Principalmente a musicalidade que chega para a gente.
06:50Eu acho tão potente, tudo tão forte.
06:55E eu vejo claramente as influências, as coisas se misturando.
07:00Como é que esse processo de formação da arte amazônica se dá
07:04e como é que isso está tão entranhado na gente.
07:07A gente é artista nato.
07:09Se a gente for pensar nos povos originários,
07:11que são esses povos que estiveram, estão e sempre estarão aqui nesse território,
07:16a arte está completamente entrelaçada.
07:21Seja no vestir, seja no se pintar, seja na confecção de seus adereços.
07:27Então, acho a arte inerente ao ser humano.
07:31E é muito importante, inclusive, que a gente possa valorizar cada vez mais
07:34os artistas de Belém, de Manaus, os artistas da Amazônia, os artistas brasileiros.
07:40E sinto muito privilegiado de poder trabalhar com o que eu amo.
07:43Acho muita sorte.
07:46Acho que tem um pouco de predestinação no meio disso tudo também.
07:49Eu fico achando que é um pouco a minha missão também, sabe?
07:52A minha função no mundo.
07:53Acho que cada pessoa tem sua função, né?
07:57Não necessariamente, infelizmente, nem todas as pessoas têm a possibilidade de descobrir, né?
08:02Ou de exercitar práticas que possam aí possibilitar que se descubra o que se quer da vida.
08:10Mas me sinto muito agraciado, assim, de fazer o que eu gosto.
08:14É com certeza o que eu amo.
08:17E acho que tem vários momentos, né, dessa carreira, assim.
08:20Tem esse início que é bastante teatral, depois eu faço três curtas metragens lá em Manaus.
08:27Que são bastante relevantes, assim, pra minha carreira.
08:30Porque depois eu vou morar no Rio de Janeiro.
08:33E com esses três filmes que eu fiz em Manaus, eu consigo criar uma espécie de portfólio
08:37e me apresentar pro mercado lá, né?
08:40E aí veio o Marighella, que foi o primeiro filme grande que eu fiz.
08:43O filme dirigido pelo Wagner Moura.
08:46E com esse filme eu consegui, assim, um pé na porta, né?
08:50Então me apresentar de vez pro mercado.
08:53E depois vieram muitas outras coisas, assim.
08:55Em 2019, por exemplo, eu fiz o Noites Alienígenas.
08:59Foi o primeiro papel em que eu faço um personagem indígena dentro de um contexto indígena.
09:04E o assunto é esse, né?
09:06E eu acho que a partir dali também o mercado começa a me olhar dessa maneira,
09:10como um homem indígena amazônico, né?
09:14E aí vem uma outra questão junto a isso, que é o estigma, né?
09:20Eu sinto que naquele momento ali, muita gente queria me convidar pra fazer papéis só relacionados a isso.
09:26E eu acho um barato.
09:27Tomara que sempre existam papéis indígenas, papéis amazônicos e principalmente fora de estereótipos, né?
09:35Mas eu sou ator, né?
09:36Me interessa criar inúmeros contextos.
09:40De fato, eu acho que eu sou ator justamente por isso, assim.
09:43Porque eu gosto muito de viver coisas que eu não viveria.
09:46Eu, a Danilo, pessoa física, me interessa muito estar metido em experiências, às vezes, muito loucas, inclusive, né?
09:54Que é um pouco do nosso ofício.
09:56E aí, mais recentemente, no ano passado eu fiz novela e aí eu acho que a lógica mudou mesmo, assim.
10:02Eu fiz Renascer, né?
10:04Que é uma novela que já era muito conhecida.
10:06A gente fez um remake que eu particularmente gosto muito, assim.
10:10Acho que ficou um trabalho muito bonito.
10:12Recentemente eu assisti, assim, tempos depois, né?
10:15Longe do calor daquela estreia, toda aquela euforia.
10:20E revendo eu fiquei bem impressionado, assim.
10:22Acho que a gente fez um trabalho muito bonito.
10:24É um remake, assim, bem atencioso.
10:27O diretor Gustavo Fernandes, junto com o Bruno Luper, o autor, foram muito precisos, assim, sabe?
10:35Nas escolhas do elenco, dos enquadramentos, da fotografia.
10:39Acho que tudo é muito bonito, assim, nessa novela.
10:41Então, me sinto muito honrado de ter feito parte desse produto especificamente, assim.
10:47Acho que é muita coisa.
10:48E também foi um marco na minha carreira, né?
10:50Acho que foi quando eu passo a ser conhecido do grande público, assim.
10:55Muita gente assiste, né?
10:57São milhões de pessoas que te assistem todos os dias numa novela das nove.
11:01É um público impressionante.
11:03Então, eu fiquei muito feliz.
11:05E aí depois veio a outra novela, que foi Volta por Cima.
11:08Que eu acho que foi uma espécie de confirmação dessa minha relação com o público, com o grande público, né?
11:15E nessa novela, acho que a gente conquistou uma coisa muito importante.
11:18Que foi ter feito com que esse personagem que vivia lá no Rio de Janeiro fosse amazonense, manauara.
11:24Assim, então a gente conseguiu incorporar vários elementos da cultura nortista, né?
11:27Desde comida, ele comia tambaqui, comia tucumã, tinha camisa de clubes do estado, muitas gírias, né?
11:36Ele soltava sempre um égua, um té léser, um té doido, um jeito de falar só nosso, assim.
11:42E eu acho que isso foi uma conquista.
11:44E o mais bonito disso tudo foi que as pessoas se identificaram de verdade.
11:48Até hoje as pessoas lembram disso especificamente, assim.
11:51Caraca, que legal aquele personagem que você fazia, que falava da gente daqui, que usava as roupas que a gente usa,
11:59que homenageava os boi-bombais de Parintins, assim.
12:03Então foi muito bonito essa relação.
12:06Mas é um trabalho constante, né?
12:07Então a gente segue aí, se reinventando dentro desse mercado louco da arte brasileira.
12:13Um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, uh, um, um, uh, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um, um.
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