O programa Morning Show desta quinta (13) conversou com o psiquiatra Wimer Bottura Júnior para debater a declaração da D. Ruth, mãe de Marília Mendonça, revelando o sentimento de culpa após a tragédia e o drama dos julgamentos públicos. A bancada debate o peso desse sofrimento e a cultura do "mal visto" que penaliza mães e vítimas. O tema resgata o icônico caso Ângela Diniz, o feminicídio que chocou o país nos anos 70, onde a vítima foi acusada de "chamar a morte". O que mudou e o que permanece na sociedade em relação ao julgamento da mulher? Confira a análise completa sobre o luto, a culpa e a constante pressão social.
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00:00Domingos, agora eu tô aqui com um titã já do Morning Show,
00:04o nosso queridíssimo doutor Wimmer Boturra, psiquiatra dos bons.
00:09Já vou te assorando aqui porque eu não vou resistir de ouvir a tua opinião nesse sentido, né?
00:13Porque a própria, enfim, dado o contexto, o recorte histórico da época,
00:18enfim, o Doca Street que acabou desferindo lá os quatro tiros e tal,
00:22muita gente acusou que era o comportamento libertino, né?
00:25Livre e leve e louca da própria Ângela Diniz, que acabou de alguma forma justificando,
00:30teve muita pressão da midiática nesse sentido de tentar colocar como se ela tivesse cavado a própria cova, entendeu?
00:36Como se ela tivesse chamado o contato.
00:38Qual é a sua visão sobre essa tese, ainda mais com a visão dos anos 70 e a visão agora dos anos 20 do século XXI?
00:47Pode falar, por favor, doutor Wimmer, você acompanhou o caso.
00:50Acompanhei o caso, claro.
00:51Olha, eu escrevi um livro chamado Ciúme entre o Amor e a Loucura.
00:57Exatamente falando quanto o ciúme é capaz de levar as pessoas a matarem a quem dizem amar.
01:04Então, esse crime tem tudo a ver com isso, né?
01:08E o que é que é importante entender é que a pessoa convive com quem sabe que é capaz de matá-la,
01:20que é capaz de fazer algo e manter o comportamento que o provoca.
01:25Não estou tirando aqui qualquer isentando de responsabilidade o assassino, absolutamente não.
01:31Mas é importante entender que é uma coisa chamada Folia D, Loucura 2.
01:35As pessoas se envolvem de tal forma, entram num enredo, num filme, numa novela, que o fim é previsto e, infelizmente, as pessoas não ouvem quem possa ajudá-los para sair disso.
01:50Infelizmente, o que aconteceu com Angela Diniz e Doc Street se repete hoje com grande frequência ainda na sociedade.
01:57É, até porque a Angela já tinha sido casada e esse foi um novo namorado, né?
02:02Ela se divorciou numa época onde as pessoas não se divorciavam, as mulheres não se divorciavam.
02:08Isso.
02:08Eram mal vistas também na época.
02:11E hoje em dia a gente ainda vê essa cultura, né?
02:13De que a pessoa realmente, ela quer se libertar daquilo e ela, na época, teve essa, realmente, essa, vamos dizer, essa coragem, né?
02:22Não sei se é a palavra correta, mas a coragem de não quero mais essa relação, não serve pra mim, vou entrar num novo relacionamento.
02:30E mesmo assim, ela ter sido vítima e ainda depois ela ter sido condenada pela ação de vida dela, né?
02:37Isso é um absurdo.
02:38Vamos ver que eu só estou recepturando todo mundo que está nos ouvindo pela rádio.
02:41Me perdoe a interrupção aqui.
02:42Doutor, vi-me a botura com a palavra.
02:44Tem uma vez Angela Diniz, caso que chocou o Brasil desde os anos 70.
02:47Vai ter uma nova série agora.
02:49E acendendo um baita debate, violência de gênero, né?
02:52Como você, a gente está tentando analisar com, enfim, as normas e o clima cultural do presente.
02:58Uma situação que, enfim, foi um caso e tanto lá no passado.
03:02Doutor, vi-me a botura com a palavra.
03:03Então, ela foi uma pessoa muito ousada pra época.
03:11E a sociedade não tolera a ousadia fora do tempo.
03:15Naquele tempo as pessoas pagam caro pela ousadia.
03:19Então, ela pagou caro por isso, mas de qualquer forma tem um contexto de ambos aí nessa questão.
03:25É um enredo que é previsível e pode ser mudado.
03:28Eu queria muito acrescentar uma história aqui que também está dando o que falar,
03:30dando sequência aqui no Morning Show, 11 horas e 43 minutos.
03:34Eu quero falar agora da mãe da cantora Marília Mendonça, a Dona Ruth.
03:39Ela que revelou em uma entrevista que carrega um grande sentimento de culpa,
03:44de culpa pela morte da própria filha.
03:47Ela disse que sempre apoiou a carreira da artista e chegou até a pensar,
03:51e aqui eu abro aspas, tá, pessoal?
03:52Talvez, se eu não tivesse apoiado, ela estaria viva.
03:56Fecha aspas.
03:57Agora, vale lembrar, né, doutor Wimmer, que a Dona Ruth se envolveu em outras polêmicas
04:01relacionadas ao seguro do acidente, né?
04:04A pensão do neto e também ao uso da herança deixada pela filha.
04:08Temas esses que deram muito pano pra manga aqui.
04:11A gente falou aqui no Morning Show.
04:13Mas se colocar nesse lugar de culpa, ainda mais uma mãe, né?
04:16É um caminho perigoso, né?
04:18A gente entende essa fala como uma possível crise de consciência.
04:22Qual é a tua opinião?
04:23Olha, primeiro ela estava manifestando uma culpa em relação à perda da filha.
04:28A gente tem que compreender que uma mãe que perde uma filha
04:31tem um sofrimento muito grande.
04:34E o primeiro sentimento que vem pra qualquer mãe,
04:37quando um filho tem qualquer problema do mais leve ou mais grave,
04:41ela se sente culpada.
04:42E ao longo do tempo a sociedade sempre jogou culpa pra mãe.
04:46Então isso é um fato.
04:48Alguma culpa que ela não tem.
04:50Porque, e outra coisa importante,
04:53por mais que ela tivesse feito pra filha,
04:56por essa condotação da mãe ter sempre culpa,
04:58sempre existirá uma coisa que ela devia ter feito e não fez.
05:03Sempre existirá isso.
05:05E ela sempre tenderá a sentir-se culpada por algo.
05:09Ela fez o que podia pela filha, era o melhor.
05:13Não se pode culpar por isso.
05:15E também, que pai ou que mãe que não vai querer incentivar
05:19e ver o filho brilhando, tendo uma carreira de sucesso.
05:22Acho que ela deve se colocar nessa posição.
05:25Como você refletir sobre isso também, né?
05:27Ajudar a pessoa a refletir sobre isso.
05:28Sim, é claro.
05:29Ela, é o que eu digo.
05:31O sentimento de culpa nesse caso é uma coisa assim.
05:34Ele virá fatalmente.
05:35porque é atribuído à mãe culpas que não são dela.
05:40E por mais que ela faça,
05:42alguma coisa sempre faltou.
05:44E sempre vai faltar alguma coisa.
05:46Aí eu podia ter falado pra ela não viajar nesse voo,
05:49podia ter feito alguma coisa.
05:51Sempre teria alguma coisa que a mãe devia ter feito e não fez.
05:54O que é errado.
05:55A mãe fez o que pôde pela filha.
05:57Tem que chorar essa tristeza, chorar essa perda
06:01e ser compreendida por isso.
06:03É isso aí, a gente vê isso que o senhor falou
06:06na série sobre Daniela Pérez,
06:10que a mãe fala muito de vários arrependimentos,
06:14que ela tem coisas banais.
06:15Eu queria ter ficado mais com a minha filha,
06:16eu queria ter ficado no dia anterior,
06:17eu queria ter almoçado com ela.
06:19Detalhes assim que você vê que tem a ver com o luto
06:21e não com a culpa racional
06:23relacionada ao que ela tenha feito mesmo.
06:25Até porque se você racionaliza essa situação,
06:29ela também não teria vivido com a filha
06:31uma série de momentos extremamente especiais
06:34se o curso da vida dela tivesse sido outro.
06:36Não teria o neto, provavelmente,
06:39porque aí a Marília não teria conhecido o pai da criança.
06:41Eu acho que o Josias, ele tocou aqui no ponto principal,
06:46que é isso de sobre a forma como ela lida com a perda
06:50e não com a racionalidade que envolve de fato uma culpa.
06:54Porque uma coisa seria se ela tivesse passado o carro
06:56em cima da filha, né?
06:57É algo um pouco mais direto.
06:58Mas não é, é assim, a gente se solidariza com a dor
07:02e com o sofrimento.
07:03Eu, como mãe, me solidarizo 100% com essa dor.
07:06Mas racionalmente falando, não é justificável.
07:09Ela sentiria a culpa, ela sentiria a culpa
07:12de não ter apoiado a carreira da filha.
07:14A culpa faz parte, é uma constante K.
07:18Em fórmula matemática tem a K, uma constante.
07:21A culpa é um K, é um constante na matemática.
07:24E a lei natural da vida é um filho enterrar um pai,
07:27jamais o contrário e talvez seja a pior coisa
07:30que qualquer um pode ter que lhe dar.
07:32Então, só por isso, a gente tem que dar algum benefício
07:35da dúvida e, enfim, um espaço pra tentar entender
07:38o drama humano que tá sendo pesadíssimo, né?
07:40Aninha?
07:41Acho que tem uma questão nesse caso específico,
07:44que além das circunstâncias do falecimento,
07:46que foram muito trágicas, não era algo esperado,
07:50não é que ela ficou doente, nada assim,
07:51existe também a questão pós-morte,
07:55que envolveu a mãe da Marília Mendonça como um todo.
07:58Ela foi colocada no centro de uma série de polêmicas
08:01que envolvem o dinheiro da filha, que envolvem o neto.
08:05Então, eu acho que um pouco desse desabafo
08:08também diz respeito a tudo que aconteceu na vida dessa mãe
08:12depois que a filha faleceu.
08:14Porque ela foi colocada no centro de uma série de discussões.
08:18Ela foi objeto de inúmeros julgamentos
08:21pelo seu posicionamento, pelo seu comportamento.
08:24Então, eu acho que...
08:25Mas qual foi a tua opinião, o teu balanço
08:27sobre todas as acusações e polêmicas que ela se envolveu?
08:30André, é muito difícil você falar
08:32de uma situação tão delicada
08:34sem, por exemplo, ter acesso ao processo.
08:37Na minha opinião, de fora,
08:39eu já acho muito estranho
08:40que um filho fique com a avó
08:42ao invés de ficar com o pai.
08:43Sim.
08:43E isso aconteceu por muitos anos.
08:46Então, ele...
08:46Assumiu totalmente a criação do neto Léo.
08:48Exato.
08:49Existe uma série de coisas ali
08:51que fogem do ordinário, né?
08:54Que fogem do senso comum.
08:55Então, isso deve ser analisado
08:57pelos profissionais que cuidam do caso.
08:59O meu ponto aqui é
09:00ela foi colocada no centro de uma série de julgamentos.
09:03E a gente estava aqui comentando sobre Tremembé.
09:05A gente estava comentando sobre como
09:07esses julgamentos públicos afetam o cotidiano de uma pessoa.
09:10Então, eu acho que muito dessa culpa que ela sente
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