00:00Então, primeiramente, eu queria te dar um bom dia e te parabenizar pela sua participação no Mundial de Atletismo agora em Tóquio.
00:08Fiquei sabendo que você conseguiu sua melhor marca pessoal em 2025 na Marcha Atlética, eu queria que você falasse um pouquinho sobre isso pra gente.
00:15Então, na realidade, eu fiz a minha melhor marca de rua, né, nos 35 quilômetros.
00:21Então, na Marcha Atlética tem essa diferença de prova de pista e de rua.
00:25Na corrida tem isso, né, prova de 10 mil, por exemplo, é diferente de prova de 10 quilômetros, que é na rua.
00:31Então, pra saber se é uma prova de rua ou de pista, é só ver o que tá escrito logo depois do número.
00:36Se for quilômetros, é porque é rua. Se for 10 mil metros, daí é na pista, né.
00:41Então, a melhor marca de rua, a marca de rua, acabei melhorando lá, né, foi uma competição de rua.
00:48Mas de pista eu tenho dois minutos melhor, que foi no Brasil, que eu fiz aqui no mesmo dia.
00:55E nos 20 quilômetros, cheguei perto da minha melhor marca de rua e perto da minha melhor marca de pista também.
01:01Então, foi muito bom, que tava muito quente lá, né.
01:05Então, eu consegui chegar perto das minhas melhores marcas, marcas no frio, mas fazendo lá no calor, né.
01:11Então, foi uma competição bem boa. Enfim, é isso aí.
01:14Olha, a parte mental, assim, eu não fiz nenhuma preparação específica, né.
01:21Muitos atletas têm acompanhamento de psicólogo, até mesmo psicólogo esportivo, né.
01:28E não cheguei a fazer uma preparação mental específica pra isso, só que, acho que, às vezes, a preparação mental, a gente acaba, de forma intensa, se preparando mesmo, sem a ajuda de um terceiro, né.
01:40Então, eu sabia que ia estar muito quente, já tava acompanhando lá e competindo os Jogos Olímpicos 21, foi em agosto, tava um calor curdo, né.
01:50Agora foi em setembro mundial.
01:52Eu sei que eles colocaram em setembro justamente pela questão da temperatura.
01:55Então, eu sabia que não ia estar tão quente quanto no Jogos, mas ia estar bem difícil.
02:03E aqui em Blumenau, eu tava treinando só... Blumenau, Santa Catarina, é onde eu vivo, né, e treino.
02:08Então, aqui tava bem frio, né.
02:10Foram três meses aí de inverno que não peguei um dia de calor aqui.
02:16Então, eu acabei perdendo um pouco a noção do que é competir e treinar no calor.
02:21Eu cheguei lá e foi bem difícil da adaptação, mas eu já tava preparado pra isso.
02:26Diferente de Tóquio, eu fui pra lá, eu tava muito frio aqui em Blumenau, eu lembro que tava, tipo assim, 10, 8 graus.
02:33E eu cheguei lá, tava quase 40.
02:36Então, realmente foi um choque de temperatura, literalmente, mas um choque também pra parte psicológica, pro mental, né.
02:43De chegar lá e, caramba, se assustar com aquilo, né.
02:46Agora, em Tóquio, eu já sabia que ia estar, pro Mundial, eu já sabia que ia estar quente, já fui preparado pra isso.
02:52Conversei com o meu treinador sobre isso, né, a questão da temperatura.
02:57E a gente começou a trabalhar os treinos que eu iria fazer em Tóquio e o ritmo da competição em cima do clima que ia estar lá no momento, né.
03:07Então, eu não saí daqui de Blumenau pensando, cara, o mesmo tempo que eu ando hoje aqui, no frio, é o que eu quero fazer lá no cão.
03:15Consciente que poderia haver uma piora ali de tempo, né, uma dificuldade de se adaptar, tá.
03:22Então, aconteceu, nos primeiros dias de treinamento aconteceu algo bem curioso.
03:26E, tá, veio e o Max treinando, ele é lá de Brasília, né, competiu junto comigo, treina junto com o Caio Bonfim, inclusive.
03:35E a gente tá lá treinando no mesmo ritmo, cara, a gente tem um momento físico muito similar, as nossas são muito próximas, as nossas melhores marcas, né, são descidas.
03:46E a gente tem uma diferença pequena de idade.
03:48Mas ele vive lá em Brasília, tava quente, tava pegando dias quentes lá, antes de vir pro Mundial, e eu treinando só no frio, aqui em Blumenau.
03:58A gente, o mesmo ritmo, comendo as mesmas coisas, hidratando no mesmo momento.
04:03A minha frequência cardíaca tava em 175, quase 180, e a dele em 140.
04:09Aí foi uma coisa que a gente tava lá treinando.
04:11Então, Max, como que tá a frequência? Como tá a tua frequência aí?
04:14Ele olhava 140, a minha 170, quase 180.
04:18Então, foi essa questão da adaptação aí que eu senti bastante lá, né.
04:22Eu tava bem preparado, tava me preparando bem aqui, então foi bom.
04:27Eu cheguei lá bem preparado, tava com sobra aqui, tava treinando muito bem.
04:31Então, me permitiu ter um pouco essa quebra, né, essa queda no calor.
04:35E você teve um desempenho ótimo no Mundial.
04:37E eu gostaria de saber como que iniciou a sua trajetória na marcha atlética.
04:42E, assim, o que que você... Por que você escolheu essa modalidade?
04:45O que te encantou nela? O que fez você decidir, não, eu vou competir isso, e é isso que eu quero pra minha vida.
04:50É, então, uma coisa muito curiosa, né, que a galera pergunta, cara, mas por que tu começou?
04:55Por que tu escolheu isso, né?
04:57E o esporte, a gente fala muito que não é a gente que escolhe o esporte, né?
05:01Pode até acontecer do cara escolher o esporte, cara, ele se dá bem nisso, continuar e virar um atleta de alto rendimento nessa modalidade.
05:09Mas, principalmente no atletismo, é muito comum a prova, né, do atletismo acabar te escolhendo.
05:15Se o atleta chega pra fazer uma prova, né, de 100 metros, de 400 metros, a maioria chega querendo ser velocista, né?
05:21E comigo não foi diferente, eu cheguei querendo fazer provas mais curtas, né, provas de 800 metros.
05:27E comecei a treinar, fiquei um ano correndo, mais ou menos, e o meu treinador, ele treina o pessoal da marcha atlética, né?
05:34Então ele viu ali que, pô, talvez ele não seja tão bom ali pra essas provas mais curtas, né, vou tentar puxar ele pra marcha.
05:40Ele ficava convidando, né, ó, por que não experimenta marchar e tal?
05:44E eu treinava num grupo que, treino até hoje, na verdade, num grupo que a maioria dos atletas fazia marcha atlética,
05:52e, sei lá, uns dois ou três faziam corrida, né, e eu era um deles.
05:56Aí eu acabava de vez em quando fazendo um treininho ou outro de marcha ali,
06:00o treinador viu, pô, é nunca fácil e tal, e ele ficava me convidando, insistindo,
06:05mas geralmente eu não ia só correr, né, eu queria estar só na corrida.
06:10Aí que um dia eu falei, tá, vou experimentar começar a treinar e ir à marcha,
06:13e depois que eu comecei eu não parei mais.
06:15Eu comecei a treinar, fiz leiro, ganhei medalha, né, de certa forma isso acaba motivando.
06:20E acabei me apaixonando aí pela prova, né, porque é diferente da corrida,
06:27claro, corrida é trabalhar muita técnica, mas na marcha tudo depende da técnica, né,
06:32se não estiver com ela em um dia, se não estiver fazendo certo o método, pode ser desclassificado, né.
06:37Então tem essa coisa aí, que é diferente da corrida, na corrida o cara pode chegar rastejando, né,
06:46agora na marcha não, tem que manter a postura ali do início ao fim.
06:48Qual foi o seu maior desafio na sua carreira até agora?
06:51Olha, eu acho que o maior desafio até agora, e um desafio constante, assim,
06:57é de a questão de apoio, né, de conseguir patrocinadores, de...
07:03Hoje, graças a Deus, me encontro numa situação muito boa, assim,
07:08dá pra dizer que, pô, vivo do esporte, não tô sobrevivendo do esporte, tô vivo do esporte,
07:14então me encontro numa situação boa hoje, mas não foi assim a vida inteira, né,
07:20principalmente ali quando tu sai das categorias de base, entra no adulto,
07:25é um momento muito difícil, que você tá competindo com o pessoal ali da sua idade,
07:2918, 19 anos de idade, e de repente tu entra numa categoria que tem um pessoal que já tá ali
07:3428, 26 anos de idade, né, o pessoal ali é um pouco mais velho, né, com mais experiência,
07:40então tu acaba entrando ali no trem em movimento, né, e não tá devagar esse trem.
07:47Aí é difícil esses primeiros anos ali de adulto, né, no meu caso foi ali por 2019, 2020,
07:54e teve a pandemia que, apesar de ter sido algo, pô, extremamente negativo, né,
07:59acabou me beneficiando ali no momento na questão esportiva, né,
08:03que daí eu tive ali um ano pra, tipo, de pausa, entre aspas, né, pra poder treinar,
08:09poder evoluir um pouco mais, era um ano que eu tava com uma lesão no início do ano,
08:13então consegui tratar aquela lesão, consegui voltar a treinar com calma,
08:17a minha prova não exige, não preciso de uma pista de atletismo,
08:22ou uma estrutura muito pra conseguir treinar, basta ter uma escovia aí de 2, 3 quilômetros
08:27que dá pra fazer vários treinos, então foi isso que eu fiz em 2020 na pandemia,
08:32e consegui me preparar melhor pra chegar bem no adulto, né,
08:36então 2019 foi um ano que eu sobrevivi, 2020 foi um ano que eu consegui manter e melhorar,
08:44e chegar pra chegar, foi conseguir pra Olimpíada, né,
08:46acho que essa transição aí é um dos momentos mais difíceis,
08:49e às vezes quando, acho que também é difícil quando tu chega num nível que
08:55você bate ali, num nível alto, mas volta, não consegue ir mantendo aquele alto nível, né,
09:012021 consegui chegar num nível legal, mas eu não consegui sustentar aquilo pra 2022,
09:06então 2022 pra 2023 foi um período bem difícil de resultados pra mim,
09:11que eu consegui me recuperar no final de 2023,
09:13e tô até agora aí, graças a Deus, numa crescente bem boa, né,
09:17consegui ir pra Paris, ter esse Mundial numa colocação legal,
09:21e tô nesse caminho aí, né, buscando uma medalha pro Brasil aí,
09:27no Mundial, nos Jogos Olímpicos, né, que é o sonho de todo atleta.
09:31E a tendência é conseguir em breve.
09:33Gostaria de perguntar o que que te motiva, qual é a sua inspiração pra permanecer todo dia,
09:37e batalhar e crescer no esporte, mais e mais, em busca da medalha, né.
09:42Além da medalha, é claro, né, a medalha na verdade é só a, é o, a representatividade ali, né,
09:51o que representa, né, fisicamente tudo aquilo, né,
09:55então, mas o que me motiva hoje é a minha família, sem sombra de dúvidas,
10:00minha filha tem, tá completando três meses hoje,
10:03então, ela é uma motivação muito grande pra mim,
10:06lá no Mundial, no 35 quilômetros, são duas horas e meia de prova,
10:10então, em alguns momentos ela passou pela minha cabeça, na prova dos 20 quilômetros também,
10:15lembrar dela e da minha esposa aqui no Brasil,
10:19pensar que tô lutando por elas,
10:22e além desse propósito, né,
10:25esse propósito, dito que Deus tem ida,
10:27que é permanecer no esporte pra conquistar algo grande pro Brasil,
10:33e também conseguir ajudar outros, outros jovens, né,
10:37tem um sonho aí de ter um projeto esportivo futuramente,
10:40e acredito que isso vai, vai acontecer independente de eu conquistar uma medalha ou não,
10:45eu acho que isso é uma coisa que eu vou,
10:48eu vou conseguir conquistar independente dos resultados que minha carreira proporcionar, né.
10:52E quais são os seus próximos passos agora, pós-Mundial?
10:55Ah, então, ano que vem tem Mundial em Brasília, né,
10:58então, é um Mundial de Marcha Atlética, né, só pra ver aí,
11:01a Marcha Atlética tem um Mundial só dela,
11:04então, isso que é o Mundial da minha, o Mundial de Atletismo no ano,
11:07e no seguinte a gente vai ter sempre um Mundial de Marcha Atlética, né,
11:12então não fica essa coisa,
11:13então, pra gente, todo ano sim, todo tem Mundial,
11:16e ano que vem o Mundial vai ser em Brasília,
11:18o time vai estar completo aí,
11:20eu, Caio, Max, Lucas, Maza,
11:23a gente já tá aí planejando competir em equipes, né,
11:27na prova de 20,
11:30na realidade vai ser a prova de 21,
11:32que vai virar meia maratona, né,
11:33vai ser a prova de 21 de 42,
11:36e essa é uma motivação pra gente,
11:39tem jogos sul-americanos,
11:41tem sul-americanos,
11:43mais o ponto alto da temporada do ano que vem,
11:45é o Mundial de Marcha Atlética,
11:46e as outras provas aí do Circuito Mundial na Europa, né,
11:50mas é em abril, 12 de abril,
11:51Mundial de Marcha em Brasília,
11:53a família vai estar lá também pra assistir,
11:55esse aí é o próximo passo, né,
11:58se preparar muito bem pra essa competição.
12:02Perfeito, estaremos na torcida por aqui.
12:04Pra finalizar, eu gostaria de perguntar
12:06qual o recado você diria pro Matheus Correia do passado,
12:09quando iniciou no esporte?
12:11Recado que eu daria pro Matheus?
12:12Mas, ah, eu diria pra ele que
12:17continua, pra continuar lutando,
12:21continuando, é...
12:24o trabalho sempre, sempre vale a pena.
12:27Cedo ou tarde, acaba valendo a pena
12:30pra qualquer outra faculdade, né,
12:32qualquer outra faculdade da vida,
12:35é, esse momento acaba colhendo
12:39tudo aquilo que trabalhou tanto, né.
12:41Muito obrigada, Matheus, por reservar o seu tempo
12:44e ceder essa entrevista conosco.
12:46Estaremos na torcida por você.
12:48Muito obrigado.
12:49Eu agradeço a oportunidade de falar um pouquinho
12:51aí da minha prova e da minha carreira, tá bom?
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