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  • há 8 horas
Netflix’s latest Brazilian production, Pssica, premiered on the platform in August to resounding global success. Set in Pará and tackling themes such as human trafficking, sexual exploitation, and urban violence, the series entered the top 10 in 68 countries where the streaming giant operates. In Brazil, it claimed the number one spot, surpassing the platform’s flagship series at the time, Wednesday. Authors and academics from the region call for increased public investment and the creation of collectives as a means to strengthen visibility and projection.


LIBERAL AMAZON

Literatura da Amazônia busca superar estereótipos
A mais recente produção brasileira da Netflix, Pssica, chegou na plataforma com um estrondoso sucesso mundial, em agosto. Ambientada no Pará e trazendo temas como tráfico humano, exploração sexual e violência urbana, a série entrou no top 10 de 68 países onde a gigante do streaming opera. No Brasil, chegou ao primeiro lugar, superando o carro-chefe da plataforma àquela altura, Wandinha. Autores e acadêmicos da região defendem mais investimento público e formação de coletivos para alcançar maior projeção.

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Transcrição
00:00Bom, o Nente Ponto, ele é principalmente...
00:03Eu sempre fui relacionada com o realismo mágico,
00:06com o realismo fantástico.
00:08Então, nada mais natural para mim do que escrever sobre isso.
00:12Então, a minha obra é disso, é o realismo mágico.
00:16E, principalmente, na Amazônia,
00:18então, eu trago muitos elementos locais,
00:20são histórias que se passam aqui no Pará,
00:24não só em Belém, mas também em outros lugares,
00:26no Mosqueiro, no Rio Tapajós,
00:28que são lugares que eu já frequentei,
00:30eu acredito muito no escrever sobre o que a gente conhece.
00:33Então, eu uso muito isso na minha obra.
00:35E o Visagentas, ele já é uma proposta diferente,
00:39que veio da Renata,
00:41que foi uma sugestão da gente pegar
00:43algumas histórias clássicas de visagens do Pará
00:46e colocar do ponto de vista feminino.
00:49Então, a gente pegou alguns clássicos como
00:52A Moça do Táxi, a Cauã,
00:54e colocamos esse viés feminino nos dez pontos que tem lá.
00:58A gente não...
01:01Vou tentar me explicar, né?
01:04Porque é complexo mesmo, né?
01:05Essa questão da literatura Amazônia e da Amazônica.
01:08A gente não vê, por exemplo, uma literatura paulista,
01:12uma literatura carioca, né?
01:13Mas aí, quando é daqui, é Amazônica, né?
01:16E, para mim, isso não faz muito sentido.
01:18O que eu escrevo, embora seja sobre a Amazônia,
01:21usando elementos daqui,
01:22eu considero literatura nacional.
01:24Eu sou uma escritora brasileira, né?
01:27Estou escrevendo para o público brasileiro.
01:29Qualquer pessoa pode pegar um lente-ponto e ler.
01:31Qualquer pessoa pode pegar o Visagentas e ler.
01:33O Visagentas tem aquele contexto das lendas locais
01:38que são mais clássicas,
01:39mas são histórias que qualquer pessoa pode entender.
01:41Então, o que eu considero é que eu sou uma escritora nacional,
01:45vivendo da Amazônia e escrevendo da Amazônia
01:48e também sobre a Amazônia.
01:50Mas nós temos também vários escritores que estão aqui
01:53e não estão escrevendo especificamente sobre a Amazônia.
01:56Escrevem fantasia, escrevem drama, escrevem terror também.
02:00E não é especificamente sobre a Amazônia.
02:02Então, uma literatura amazônica seria o que fala daqui.
02:06Beleza, eu me enquadro.
02:08Mas eu sou uma autora nacional, entendeu?
02:10Eu não me considero uma autora só amazônica.
02:12Eu acho que esse conceito fecha a gente, sabe?
02:14E colocam a gente muito nessa...
02:17Ah, do exótico, do típico, do local, do regional,
02:23literatura regional.
02:25Não concordo.
02:25Eu acho que é internacional.
02:27Está aí Monique Malcheck, está rompendo as barreiras,
02:29está rompendo a bolha com a obra dela.
02:32O próprio Edir Augusto também, com a série da Netflix.
02:35Então, eu acho que a gente está chegando
02:37num patamar melhor para os escritores daqui.
02:39Não, eu continuo considerando como literatura nacional, né?
02:45Eles estão falando sobre...
02:47Estão fazendo romance, fantasia,
02:49estão fazendo gêneros que são globais, né?
02:52Então, sei lá, se a gente lê um clássico,
02:57um Don Quixote,
02:59a gente não fala que é literatura...
03:01Eu nem sei de onde o Don Quixote é, tá?
03:03Perdão aí a ignorância literária.
03:05Mas eu não falo que é uma literatura de tal lugar, entendeu?
03:08Embora exista, claro,
03:10vamos estudar os clássicos ingleses,
03:11os clássicos americanos, claro.
03:13Mas aí, no caso, é de uma região grande, né?
03:16Os clássicos brasileiros, né?
03:18Então, se um autor escreve sobre outros...
03:24Continua escrevendo seus gêneros,
03:26mas ele é um autor daqui,
03:27beleza, é um autor daqui ótimo.
03:29Ele vai escrever sobre o que ele quer.
03:31Mas não é necessariamente uma caixa
03:34chamada literatura amazônica.
03:35A gente sempre vê muito isso.
03:36Quando a gente lança um livro,
03:38ah, e apoia literatura regional,
03:40apoia literatura paraíse.
03:43E, assim, por quê?
03:45Por quê que só aqui,
03:47ou então a literatura do Nordeste,
03:49a literatura nordestina,
03:51a literatura regional...
03:52Eu não gosto.
03:54Eu nunca gostei desse tipo de conceito.
03:57E eu acho que cria umas barreiras,
03:59inclusive, para a gente tentar outras oportunidades.
04:01A gente mandar um livro nosso para uma editora de fora.
04:07Eles já não...
04:08Assim, parece que eles leem já, assim, com aquele olhar.
04:11Não, isso é muito regional.
04:13Isso aí só funciona no Pará.
04:15E não é verdade, entendeu?
04:16Se tu lê o próprio livro da Monique,
04:18o Flor de Gume,
04:19ele não funciona só para cá,
04:21embora ela cite a nossa região.
04:23Mas ele funciona para qualquer pessoa.
04:25E também como a gente vai conhecer
04:27outros lugares,
04:29outras culturas,
04:30outras formas de pensar,
04:33se a gente não ler
04:34outros autores,
04:36pessoas de outros lugares.
04:37Mesmo uma pessoa que não está escrevendo
04:40sobre a Amazônia,
04:41mas ele é daqui,
04:42ele vai ter um jeito diferente de escrever.
04:44Ele vai ter o nosso jeito.
04:45Ele vai ter uma gíria que é daqui.
04:48Ele vai ter um costume que ele vai dizer
04:50ah, lá na casa do meu avô no livro, né?
04:52Na casa do meu avô,
04:53a gente fazia tal coisa.
04:54E aí, uma pessoa que está lendo lá no sul
04:56vai ver, olha lá,
04:57lá é assim.
04:58Então, é assim que a gente vai conhecendo
05:00e a gente vai fazendo intercâmbio cultural
05:01entre regiões, entendeu?
05:02Eu acho que é necessário
05:05a gente se ler.
05:06e se ler todo mundo.
05:08Não ler só o cara do sul,
05:11ler só do sul.
05:12O cara do norte,
05:13só ler do norte.
05:14Não, tem que ter essa troca,
05:15tem que ter esse aprendizado mútuo.
05:17Eu tenho uma única obra lançada
05:19até o momento.
05:19Eu lancei no ano passado,
05:21em 2024,
05:22graças ao edital de publicação
05:25da Fundação Cultural do Pará,
05:26de 2023,
05:27que é um livro de contos
05:28que se chama
05:29Onde se Chora Três Vezes, né?
05:30São dez contos que se passam em breve,
05:32conto histórias de pessoas
05:34que vivem lá, moram lá,
05:36e tentam, de certo modo,
05:38se reconciliar com a cidade.
05:40Seja tentando entender o seu local ali,
05:43tentando ficar no local
05:44ou tentando fugir de lá.
05:46Só que aí eu coloco
05:47sempre um elemento fantástico ali
05:49para mostrar
05:50como a situação
05:51entre as histórias
05:54que acontecem ali,
05:55elas são um questionamento
05:56sobre a própria noção de realidade.
05:58Então, sempre vai acompanhar
05:59um estranhamento
06:00que o leitor vai olhar e fala
06:01será que isso aconteceu
06:02de verdade ou não?
06:03Então, é basicamente nesse sentido.
06:05E elas são muito relacionadas
06:07a um teor mais dramático.
06:10Elas versam por alguns temas
06:12como um pouquinho de terror,
06:15um pouquinho sobre a questão
06:16de arrependimento,
06:17mas elas sempre focam
06:19em relações pessoais
06:20e os dramas que essas pessoas têm
06:22no cotidiano.
06:23Breves, na ilha do Marajó,
06:25é uma cidade onde eu morei
06:27por 18 anos,
06:28eu comecei a morar em Belém em 2009,
06:30então ela é uma cidade
06:31que ela é impregnada
06:33na minha mente
06:33e na minha vivência.
06:34Então, ela tinha que ser esse cenário.
06:36Sim, sim.
06:37Essa é muito uma rotulação de mercado,
06:38principalmente para se vender livros.
06:41Colocar aqui um autor
06:42de uma autor amazônica
06:44que traz todo aquele traço
06:45de regionalismo,
06:46coisas do tipo,
06:47isso parece que mostra
06:49para as pessoas que,
06:51especificamente naquela região,
06:52estão se fazendo
06:53esse tipo de literatura.
06:54Particularmente,
06:55eu prefiro pensar
06:57na literatura
06:58mais como deslocada
07:00do espaço.
07:01Apesar de que, enfim,
07:03a gente escreve
07:03sobre o espaço
07:04que a gente está,
07:05mas a gente não é preso
07:06às temáticas do espaço
07:07que a gente está.
07:08Então, nesse sentido,
07:10eu acredito que
07:11todo autor que está
07:12na Amazônia
07:13e escreve,
07:14ele escreve
07:15uma literatura na Amazônia,
07:16feita na Amazônia,
07:17principalmente.
07:18A literatura brasileira
07:20contemporânea
07:20é vinculada
07:21nas mídias,
07:22nos jornais,
07:23nas premiações.
07:24Ela é a literatura
07:25engarrafada, né?
07:27A literatura que tem
07:28um estilo,
07:29que tem uma capa,
07:31que tem um vestido
07:32pronto para a festa,
07:33a gente diz assim.
07:34Então,
07:35é a literatura
07:35feita no Sul,
07:36Sudeste,
07:37são feitos
07:38por grandes editoras, né?
07:40Elas publicam
07:41essas obras
07:41e elas são colocadas...
07:43Então, se você olhar
07:43na ficha catalográfica
07:44da literatura brasileira,
07:46agora,
07:47se você pegar
07:47uma obra
07:48de um autor paraíse,
07:49um autor do Amapá,
07:50do Amazonas,
07:51vai estar lá.
07:52Literatura
07:52amazônica,
07:54literatura regional,
07:55literatura paraense,
07:57literatura amazônica.
07:59Tipo,
07:59obviamente,
08:00elas são literatura
08:00desses espaços,
08:02mas parece que
08:03sempre se está
08:03vinculado a um lixo,
08:05como se tivesse
08:06uma exotização
08:07sobre se fazer
08:09literatura
08:09nessas regiões, né?
08:10Até para ser vendido
08:11para fora também,
08:12para fazer sucesso
08:13fora,
08:13a questão sobre
08:14a selvageria,
08:16dos centros urbanos,
08:17na floresta
08:18amazônica,
08:19toda a violência
08:21parece que ela
08:21vende para fora
08:23e principalmente
08:24nas situações
08:25sociais e econômicas
08:27que existem
08:28nessas regiões
08:28e os problemas
08:29que existem nela.
08:30É o que parece que vende.
08:31Então,
08:31a literatura regional
08:32parece que está
08:33fechada nesse tipo
08:34de entendimento,
08:35como se a gente
08:36não pudesse fazer
08:36outras histórias, né?
08:38Sempre vinculados
08:39a obras que
08:39sejam tratando
08:41sobre questões
08:41muito específicas,
08:43às vezes histórias,
08:44histórias que falam
08:45sobre folclore,
08:47sobre mitos
08:48e coisas do tipo
08:49e fazem um teor
08:52de certa fantasia
08:54sobre essas questões,
08:55mas, por exemplo,
08:56para os povos nativos,
08:57os povos indígenas,
08:59essas questões
09:00das crendices
09:01elas não são fantasia,
09:02elas são realismo
09:03para eles.
09:04Então,
09:04é uma questão
09:05muito complexa
09:07de se lidar
09:07com esses tipos
09:08de retomação.
09:09A Livreira de Drabaiuna
09:10foi um projeto
09:11que a gente
09:12acabou pensando
09:13já há bastante tempo,
09:16uma forma
09:17que a gente queria
09:17trabalhar diferente
09:19da literatura,
09:20fazer uma...
09:21com a editora
09:22ter o trabalho
09:23de publicação
09:24tradicional,
09:26cooptar os autores,
09:27cooptar os originais
09:28e fazer o trabalho
09:29de ponta a ponta
09:30da publicação
09:30e com a livraria
09:33a gente também
09:33queria ter uma proposta
09:34diferente
09:35com os próprios
09:36autores daqui,
09:37os paraínses,
09:38de ter um maior destaque,
09:39ter um espaço
09:40para a literatura paraense,
09:42ter um espaço
09:43para a literatura paraense
09:45para a exibição
09:47dos livros
09:47e também um espaço
09:48para os autores
09:49estarem aqui sempre,
09:50se sentirem confortáveis
09:51a visitar,
09:53a fazer uma sessão
09:54de autógrafos
09:54se eles quiserem,
09:55a conversar
09:56com os fãs,
09:58com os leitores
09:59e a gente também
10:01queria ter um espaço
10:02para ter essa comunidade
10:04literária,
10:05eventos,
10:07ter exibição
10:08dos livros,
10:09fazer todo tipo
10:11de comunidade literária
10:12mesmo que a gente
10:13sentia falta
10:14aqui em Belém.
10:14Isso,
10:15a gente quer fazer
10:16a publicação tradicional
10:17e cooptar principalmente
10:19os autores daqui,
10:20a gente tem
10:21a nossa primeira publicação
10:22que é
10:22Os Benefícios da Amizade
10:23que é da Bruna Guerreiro
10:24que é uma autora
10:25de romance
10:26que já tem várias
10:27publicações,
10:29a gente está
10:30na pré-venda
10:31do segundo livro,
10:31do nosso segundo livro
10:32da editora
10:33que é o da IAC,
10:33que é da Esconto,
10:34que já é de terror,
10:35então a ideia
10:36é cooptar esses autores
10:38para eles trabalharem
10:39com a gente
10:40e a gente conseguir
10:41dar esse espaço
10:42para eles ao mesmo tempo
10:43ser uma relação
10:44de ganha-ganha.
10:45A gente conseguir trabalhar
10:46com a obra original deles
10:47e eles ganharem
10:48esse espaço
10:49que a gente está
10:50tentando desbravar.
10:52É um pouco aquilo
10:53que a gente estava
10:54conversando com o Tiago
10:55sobre as oportunidades
10:58que os autores daqui
10:59têm, né?
10:59A gente vê um momento
11:01meio retraído
11:02do mercado editorial,
11:03principalmente pós-pandemia,
11:04que as grandes editoras
11:06não estão querendo
11:06correr muito risco,
11:08está tendo pouca oportunidade
11:10para autores novos,
11:11o nacional está um pouco
11:12escondido,
11:13então a gente enxergou
11:15uma oportunidade nisso
11:17no sentido de que
11:18a gente sabe que tem
11:18muita gente boa
11:19aqui no Pará,
11:20aqui no Norte,
11:21na Amazônia,
11:22de uma forma geral.
11:23Está faltando espaço
11:24para essas pessoas
11:25e a gente queria,
11:27na medida do possível,
11:29ver o que a gente consegue
11:30desbravar de espaço
11:31para a gente mesmo,
11:32como editor,
11:33como editora independente,
11:34como livraria,
11:36o que a gente consegue
11:36fazer de venda
11:37e desbravar espaço
11:39para esses autores,
11:40para a gente tentar
11:41projetar eles
11:42e para a obra deles
11:43chegar em cada vez
11:44mais gente.
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