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Transcrição
00:00E um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul,
00:06estudará galáxias e buracos negros distantes no Telescópio ALMA,
00:12um dos maiores do mundo localizado no deserto do Atacama, no Chile.
00:17O grupo conta ainda com outras instituições do Brasil e do exterior.
00:22Um dos principais objetivos é investigar com detalhes
00:26as regiões onde estrelas estão se formando.
00:31E nós vamos falar agora com quem está nessa iniciativa.
00:35O Olhar Digital News tem a graça e a honra de receber Lucas Ramos Vieira,
00:41que é professor do Instituto Federal Catarinense e doutorando da UFSM
00:46no programa de pós-graduação em Física.
00:49Vamos lá receber o Lucas nos nossos estúdios para falar um pouquinho sobre esse projeto.
00:56deixa eu localizar aqui.
00:59Olá, Lucas. Seja muito bem-vindo ao Olhar Digital News.
01:03Boa noite para você.
01:05Boa noite, Marisa. Me ouve bem?
01:08Sim, ouço bastante bem. E você? Tenho meu retorno bem, claro?
01:12Sim, bem claro.
01:16Perfeito. Lucas, vamos falar um pouquinho sobre esse projeto
01:19que foi aprovado no ALMA e que dará continuidade a uma outra pesquisa realizada
01:25por meio do Telescópio Espacial James Webb.
01:28Eu queria que você contasse para a gente quais foram os resultados obtidos até aqui
01:33e o que vocês esperam, não é, com essa nova etapa nos trabalhos.
01:37Certo. Boa noite a você e a todos que nos assistem.
01:43Primeiramente, em nome do Grupo de Astrofísica aqui da Universidade Federal de Santa Maria,
01:47gostaria de agradecer pelo convite e divulgação do nosso trabalho.
01:52Bom, inicialmente é importante explicar a quem nos acompanha,
01:55que às vezes não está muito enterrado no assunto,
01:57a área em que realizamos nossa pesquisa, que é a astrofísica extragaláctica.
02:01Então, para facilitar esse entendimento, vamos pensar o nosso endereço cósmico.
02:06Estamos aqui sobre a superfície do nosso planeta Terra,
02:09que faz parte do sistema planetário, iluminado por uma estrela, o Sol.
02:14E o Sol é apenas uma entre outras centenas de bilhões de estrelas
02:18que formam a nossa galáxia, a Via Láctea.
02:21A Via Láctea, por sua vez, é uma dentre trilhões de galáxias no Universo.
02:27O objetivo da astronomia extragaláctica é justamente estudar essas outras galáxias
02:33e outros objetos fora da Via Láctea.
02:36E uma das tarefas do nosso Grupo de Astrofísica aqui
02:39é entender como ocorre a evolução das galáxias que possuem um núcleo ativo,
02:44ou seja, que possuem um objeto muito interessante e exótico
02:47chamado buraco negro supremacivo no seu centro
02:51e que está em um certo estágio que captura muita matéria ao seu redor,
02:57de modo a possuir uma luminosidade equivalente a de toda a galáxia que hospeda ele.
03:02Bom, em relação à proposta que tivemos o grato,
03:06a grata informação que foi aprovada no radiotelescópio ALMA,
03:11essa proposta está inserida no âmbito do projeto que tem a sigla BAR,
03:16igual a expressão gaúcha, né?
03:18E a ideia do BAR iniciou lá em 2019,
03:21quando o líder da pesquisa, o professor aqui do FSM,
03:24Rogémar Riffel, estava no seu estágio de pós-doutorado
03:27na Universidade de Johns Hopkins, lá nos Estados Unidos.
03:31Então, a partir do trabalho publicado em 2020,
03:33obtivemos uma amostra de oito galáxias
03:36que contém algumas características interessantes.
03:38São galáxias relativamente próximas e que possuem esse núcleo ativo,
03:42esse buraco negro supremacivo ativo no centro.
03:45Bem, essas oito galáxias possuem uma elevada quantidade de hidrogênio molecular
03:49em relação a outras que foram comparadas.
03:52Esse hidrogênio molecular, ele é muito importante,
03:56porque ele é o combustível responsável tanto pela formação de novas estrelas
04:01nas galáxias, quanto pela alimentação, pela captura do gás do núcleo ativo.
04:08Bem, nesse contexto existem fenômenos que podem ter profundos impactos
04:12na galáxia como um todo.
04:13E, para melhorar esse entendimento, é necessário olhar a luz dessas galáxias
04:17com diferentes óculos, com diferentes regiões do espectro.
04:22Nós já tínhamos obtido os dados via projeto UBA
04:28do telescópio Gemini, dois telescópios, um no Chile e outro no Avaí,
04:34com o telescópio espacial James Webb, como você comentou.
04:37E agora temos aprovado, então, essa proposta
04:40que vai nos fornecer dados do radiotelescópio ALMA,
04:44que está localizado no deserto do Atacama, no Chile,
04:47possui 66 antenas, é um consórcio, possui bastante, várias antenas
04:53que atuam em conjunto, e ela é interferometria,
04:56e nos permitirão analisar novas informações sobre essas galáxias,
05:00que é basicamente o gás frio, que alimenta tanto o buraco negro supremacivo,
05:05quanto a formação de novas estrelas, a peça para fechar o quebra-cabeça
05:12desses outros dados que nós já obtivemos.
05:15Agora, Lucas, até para a gente entender um pouquinho melhor,
05:18porque os buracos negros, eles são grandes mistérios mesmo do universo.
05:22Agora, você mencionando essas, digamos, esses óculos diferentes,
05:26para examinar essas outras galáxias, que tipo de dúvida especificamente
05:31vocês esperam responder com esse último óculos que vocês vão realizar agora
05:38no deserto do Atacama?
05:42Eu vou compartilhar a minha tela, não sei se você está aqui, beleza, ótimo.
05:48Você está chegando na minha tela, certo?
05:52Marisa?
05:53E sim, estou, estamos acompanhando, estamos com a sua tela.
05:57Perfeito. Então, para facilitar o entendimento de quem nos acompanha,
06:00aqui tem uma simulação que mostra lá no centro da galáxia,
06:05que é uma região muito difícil de conseguir visualizar,
06:09apenas dois objetos foram até agora visualizados através de um outro consórcio
06:13chamado Telescópio Horizonte de Eventos,
06:16mas a figura geral, o panorama que nós temos desse núcleo ativo,
06:20essa região que possui o buraco negro supremacivo, é o seguinte,
06:22aqui no centro, tamanho do meu mouse, tem um círculo que indica essa região do buraco negro
06:28onde nem a luz consegue escapar devido à intensa atração gravitacional.
06:34Esse objeto foi teoricamente já previsto pelo Einstein na teoria da relatividade geral
06:38há 100 anos atrás e depois a gente conseguiu observacionalmente comprovar
06:43a existência desses objetos exóticos e interessantes.
06:49eventualmente tem gás que chega nessa região e que fica, digamos,
06:55vulnerável a essa atração gravitacional do buraco negro e começa a escoar aqui nessa região
07:00e formar um disco, uma região de formato plano, assim, de disco, chamado disco de acreção.
07:06Eu vou passar aqui o vídeo, você vai ver que vai sair uma estrutura aqui do centro desse disco,
07:12que é chamado dos outflows, que é a luz, esse disco, ele emite muita luz.
07:20O buraco negro não emite nada, ele é negro, mas esse gás ao redor dele,
07:23espiralando ao redor dele, esquenta muito e emite uma luminosidade enorme,
07:28compatível com a luminosidade de toda a galáxia,
07:31apesar de ser um objeto com tamanho pequeno em relação à galáxia.
07:36E aí essa radiação vai escapar e vai empurrar algumas partículas para fora
07:42e vai formar o que nós chamamos de ventos, de partículas ou outflows.
07:46Então aqui vai sair o outflow e ao redor vai ter uma onda de choque
07:50da interação desse outflow com o disco da galáxia.
07:53Agora a imagem vai ampliar.
07:56Aqui no centro, então, está esse núcleo ativo,
07:59que a gente não consegue observar diretamente,
08:02bem pequeno em relação ao tamanho da toda a galáxia.
08:04E aqui tem os pontos vermelhos, que indicam regiões que têm formação estelar,
08:11que estão atualmente formando estrelas e podem formar mais estrelas futuramente.
08:15São regiões de gás frio, que é uma nuvem de moleculares de gás frio
08:18que vão formar novas estrelas.
08:20Quando passa a radiação emitida pelo buraco negro, o choque, o outflow,
08:25pode apagar, pode remover esse gás que daria origem a novas estrelas.
08:32Isso tem um impacto na evolução das galáxias como um todo.
08:37Entender a física, os mecanismos, como acontecem esses impactos,
08:41é um dos objetivos que a gente pretende responder com os dados do ALMA
08:46e, a partir do momento, complementando o que nós já obtivemos.
08:49E isso faz parte, claro, que são várias pesquisas,
08:52e a gente vai contribuir nessa análise e fornecer mais parâmetros para modelos cosmológicos
09:01entenderem esses processos de formação de galáxias e evolução das galáxias no universo como um todo.
09:08Interessantíssimo e realmente impressionante a gente conseguir visualizar.
09:13Agora, Lucas, a gente fala muito sobre o telescópio ALMA, sobre o James Webb também,
09:18a gente fala bastante dele por aqui e outros tantos que estão mudando a ciência.
09:22para quem trabalha diretamente na área.
09:26Eu queria que você comentasse como que o avanço da tecnologia tem permitido
09:30trabalhos melhores e mais profundos na área de astronomia.
09:36Certo.
09:37Essas missões cada vez estão conseguindo atingir, obter imagens e informações
09:54devido à tecnologia avançada, estão conseguindo chegar a épocas cada vez mais primitivas do universo,
10:02ou seja, estamos conseguindo chegar cada vez mais próximo da origem de visualizar objetos,
10:08que devido à sua distância estarem tão longe de nós, a luz dele demora proporcionalmente mais tempo
10:14para chegar até nós.
10:16Então, nós inclusive usamos medidas que envolvem anos.
10:19Então, falamos em anos-luz.
10:23Então, nós conseguimos observar objetos que estão tão longe que à medida que a luz que eles emitiram para nós
10:29foi emitida, saiu lá daquele objeto, aquela galáxia, no início do universo.
10:35Então, essas novas tecnologias, os 4G web, o ALMA, têm conseguido essa capacidade tecnológica
10:42de enxergar cada vez mais longe no universo e mais no início da formação das galáxias,
10:49que é cerca de 13 bilhões de anos no passado.
10:53E, concomitantemente, também permitem nós observar com mais detalhes galáxias e regiões de planetas,
11:01mais planetas foras do sistema solar, mais próximas de nós.
11:05Então, a gente consegue acessar nas galáxias próximas, regiões mais internas
11:09e, no caso, as mais distantes, cada vez mais longe.
11:14E são informações que desafiam o conhecimento humano.
11:18E tudo isso conta com engenhosos aparatos instrumentais,
11:23que são verdadeiras obras da engenharia para poder proporcionar essa ciência de ponta,
11:28que servem não apenas para desvendar os mistérios do universo,
11:31mas também produzem soluções tecnológicas com aplicação em diversos setores da sociedade,
11:36seja a computação pela enorme quantidade de dados, engenharia, ciências dos materiais
11:41para produzir esses telescópios, inclusive na medicina tem aplicação desses estudos.
11:48Muito interessante.
11:49Agora, para a gente encerrar, Lucas, eu queria que você falasse um pouquinho
11:53sobre a presença do Brasil, a importância da presença do Brasil nesses trabalhos
11:59como uma forma até de consolidar a ciência brasileira internacionalmente.
12:04Certo.
12:07Nós temos muito orgulho, né, de, nesse projeto específico do ALMA, representar o Brasil
12:12e termos conseguido outras aprovações.
12:14Só para ter uma noção, a taxa de concorrência para o ALMA foi de cerca de 1 para 7.
12:21Foram enviadas propostas uma quantidade sete vezes maior do que havia a disponibilidade.
12:28Então, a equipe, liderada pelo professor Rogemar, contando com pesquisadores da UFSM,
12:35da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e demais instituições do exterior,
12:40que são parceiros na nossa equipe, de instituições da Espanha e nos Estados Unidos.
12:46E, como eu disse, eu tenho muito orgulho, essas conquistas ocorrem com outros grupos
12:50de pesquisas brasileiros que são pertencentes, em sua grande maioria, em universidades públicas.
12:55Isso mostra a qualidade e excelência da educação de nossas instituições de ensino superior.
13:01E eu digo isso sem falsa modéstia, para eventualmente estimular as pessoas que nos assistem,
13:07que talvez cogitem estudar áreas de ciência básica, para buscar curso superior nessas áreas
13:14física, química, matemática, biologia, que infelizmente ainda possuem uma baixa procura pelos jovens.
13:20E, falando mais especificamente do nosso programa de pós-graduação em Física, aqui da UFSM,
13:27o nosso programa tem proporcionado aos professores, pesquisadores, aos estudantes,
13:32desenvolverem ciência de ponta, muitas vezes em tópicos como esses do Buraco Negro,
13:38que estão na fronteira do conhecimento humano.
13:40E, no caso do nosso grupo de astrofísica, além de participarmos de projetos e obter dados do ALMA,
13:47a GEME, GamesWeb, as agências de fomento, como a CAPES, NPK e FAPERGS,
13:53têm financiado a possibilidade de desenvolvermos nossas pesquisas no exterior.
13:57Então, só aqui no nosso grupo, atualmente, dois estudantes de doutorado acabaram de chegar na Espanha,
14:04e após dez meses de doutorado de sanduíche.
14:07Eu e mais outro colega estamos indo logo para a Alemanha também desenvolver nossos doutorados
14:13em instituições alemã, porque conseguimos parcerias e aprovações de projetos.
14:18E o professor Roger Mar, que é o líder da pesquisa, está agora fazendo pós-doutorado
14:23no Centro de Astrobiologia, na Espanha.
14:25Então, tudo isso vem a nos dar uma grata satisfação de estar desenvolvendo e participando desses projetos
14:34e tendo uma inserção, levando o Brasil a se inserir nesse contexto internacional de pesquisas.
14:40Sensacional!
14:42Olha, Lucas, parabéns para você e para toda a equipe.
14:44Nós estamos conversando aqui com o Lucas Ramos Vieira,
14:48que é professor do Instituto Federal Catarinense e doutorando da UFSM
14:52no programa de pós-graduação em Física.
14:55Lucas, muitíssimo obrigada pela sua participação,
14:58desejo todo sucesso para você e sua equipe nessa próxima etapa do trabalho.
15:03E traga novidades para a gente quando tiver.
15:06Certo, muito obrigado, mais uma vez agradecemos pelo convite e por essa oportunidade.
15:12Abraço a você e a quem nos assiste.
15:14Muito obrigada, boa noite.
15:16Boa noite.
15:17Tá aí, pessoal, espero que vocês tenham gostado.
15:19Muito bacana, que interessante, não, pessoal?
15:22Bem bacana, conversamos aí com o Lucas Vieira, bem legal.
15:25Espero que vocês tenham gostado.
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