Em entrevista nesta terça-feira (29), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o Brasil espera uma resposta oficial dos Estados Unidos sobre o tarifaço anunciado por Donald Trump. A medida, que prevê tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros, tem gerado preocupação no governo e no setor empresarial. Alan Ghani analisou. Coletiva: Fernando Haddad Comentarista: Alan Ghani
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00:00O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está falando nesse momento. Vamos acompanhar.
00:05Mas está ficando mais claro agora, mais claro os pontos de vista do Brasil em relação a alguns temas
00:12que não eram de fácil compreensão por parte deles.
00:18Está ficando mais claro o nosso ponto de vista.
00:23A relação sempre foi amistosa entre os países, então não há razão nenhuma para que isso mude.
00:27Deixar que temas alheios ao governo brasileiro sejam motivo para o recrudescimento de tensões
00:38não faz nenhum sentido para nós.
00:40O presidente Alckmin tem feito um esforço monumental de conversar com a sua contraparte.
00:47Ontem mesmo houve uma conversa mais longa, a terceira e mais longa conversa que tiveram.
00:54Eu acredito que eu não estou muito fixado na data, porque se nós ficarmos apreensivos com ela,
01:02nós podemos inibir que a conversa transcorra com mais liberdade, com mais sinceridade entre os dois países.
01:12Então, nós vamos prosperar nas negociações e vamos confiar.
01:16Eu não sei, porque isso tem sido uma decisão unilateral, não só em relação ao Brasil, em relação ao mundo inteiro.
01:26Ontem mesmo o presidente dos Estados Unidos disse que não tem tempo para negociar com todos os países
01:33e vai fixar uma alíquota para o mundo inteiro.
01:36Mas o foco é uma resposta deles, as cartas que foram enviadas?
01:39Oi?
01:39O foco é uma resposta?
01:41Sim, o foco nosso é se manifestar em relação às duas cartas que foram encaminhadas desde maio
01:49para que nós possamos mapear o que de fato está em jogo, o que de fato é importante para eles, para nós,
01:57e endereçar uma solução.
01:58O senhor entende que o presidente Lula precisa ligar para o presidente Donald Trump?
02:03Olha, os canais conosco, não existe obstrução.
02:09Eu já liguei para o Bessert, já me reuni com o Bessert na Califórnia.
02:12O Alckmin já falou três vezes com o Lutnik.
02:15O Mauro está lá, tem oito senadores lá.
02:19Quando dois chefes de Estado vão conversar, tem uma preparação antes, né?
02:24Para que não seja uma coisa que subordine um país a outro.
02:28Tem uma preparação protocolar mínima para que dois chefes possam conversar.
02:32Tem um arranjo.
02:34Não é, entendeu?
02:36É uma coisa de dois países soberanos.
02:39Não é uma coisa de sair correndo atrás.
02:41É uma coisa que tem que ter um certo protocolo.
02:44A gente tem que entender que o Brasil é grande, que o Brasil...
02:47Isso não é arrogância nenhuma.
02:49Longe de nós.
02:50A gente se dá bem com todo mundo.
02:52É uma questão protocolar para que o país se coloque dignamente à mesa, né?
02:59Dialogue com um par, com um parceiro de centenário, de 200 anos de parceria.
03:06Então, é papel nosso, dos ministros, justamente azeitar os canais para que a conversa, quando ocorrer, seja a mais dignificante e edificante possível.
03:19Não seja uma coisa como aconteceu, né?
03:21Vocês presenciaram várias conversas que não foram conversas respeitosas, né?
03:29Tem que haver uma preparação antes para que seja uma coisa respeitosa, para que os dois povos se sintam valorizados à mesa de negociação.
03:38Não haja um sentimento de viralatismo, de subordinação.
03:44Então, preparar isso é respeito ao povo brasileiro, à soberania do povo.
03:49Não é questão...
03:50O presidente Lula não representa a si mesmo.
03:53O presidente Lula representa um país, né?
03:55Que tem 200 anos de independência.
03:58Então, precisa ter uma certa liturgia para que a coisa aconteça de forma apropriada.
04:04Então, esse assodamento, às vezes eu vejo pressão da oposição.
04:09Vai lá, sai correndo atrás.
04:12O Bolsonaro, ele tinha um estilo muito subserviente.
04:16Isso não é... não está à altura do Brasil.
04:19Foi o presidente mais subserviente da história do Brasil.
04:23Nós vamos virar um pouquinho a página da subserviência e, com muita humildade, se colocar à mesa, mas respeitando os valores do nosso país.
04:31E, ministro, o plano de contingenciamento já pronto?
04:34Qual é a sua avaliação, assim, com o que foi entregue ao presidente Lula e a questão de data?
04:38Quanto que ele vai, de fato, validar?
04:39Mais uma vez...
04:42Não, o presidente se manifestou muita tranquilidade em relação ao plano de contingência.
04:52São vários cenários que foram apresentados.
04:54E ele falou, olha, eu não vou me fixar em data porque eu tenho uma relação histórica com os Estados Unidos.
05:01Eu me dei bem com todos os presidentes americanos com quem eu dialoguei.
05:05Então, não tem razão para ser diferente agora.
05:07Eu me dei bem com o Clinton, eu me dei bem com o Obama, eu me dei bem com o Bush, com o Biden.
05:12Quer dizer, qual a razão agora para esse tipo de postura de animosidade?
05:18Não faz sentido para o presidente Lula.
05:21Tem um presidente eleito lá, tem um presidente eleito cá.
05:24Vamos negociar, vamos conversar em bases respeitosas.
05:28E o plano, ministro, a sua avaliação, assim, é um plano que vai conseguir segurar as contas, mitigar os efeitos ali?
05:33Nós estamos muito confiantes de que nós preparamos um trabalho que vai permitir o Brasil superar esse momento,
05:42que não foi criado por nós, um evento externo que não foi criado por nós.
05:46Mas o Brasil vai estar preparado para cuidar das suas empresas, dos seus trabalhadores
05:52e, ao mesmo tempo, se manter permanentemente em uma mesa de negociação,
05:57buscando racionalidade, buscando respeito mútuo, estreitamento das relações.
06:05Então, dentre os vários cenários, há um que estabelece esse tipo de...
06:16Mas eu não sei qual é o cenário que o presidente vai optar.
06:20Por isso que eu não posso adiantar as medidas que vão ser anunciadas por ele.
06:23Mas como são vários cenários, todo tipo de medida cabe em algum deles, né?
06:27Mas quem vai decidir a escala, o montante, a oportunidade, a conveniência e a data é o presidente.
06:36Então, nós não estamos fixados nessa data de 1º de agosto,
06:38porque nós temos uma relação que tem que ser restabelecida e vai ser feita com a maior dignidade possível.
06:45Obrigado.
06:45Obrigada, ministro.
06:46Bom dia, bom trabalho.
06:48Ouvimos, portanto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comentando sobre as negociações do tarifácio.
06:56Diz que não está fixado na data do 1º de agosto, até para não inibir que a conversa,
07:03ou que as negociações fluam da melhor maneira.
07:07Diz que está confiante que o Brasil vai superar esse momento e que estão preparados para cuidar das empresas.
07:13Diz também que são vários cenários já estudados, que estão sendo discutidos.
07:19Vamos trazer aqui para a nossa análise o Alan Gani, para a gente discutir também o que isso pode mudar e trazer para a nossa economia, né, Gani?
07:28Bom dia para você.
07:30Bom, hoje é terça-feira, sexta-feira está logo aí.
07:32O ministro da Fazenda disse várias vezes que não estão fixados aí no 1º de agosto.
07:37Ou seja, a gente pode imaginar que esses canais de negociações podem dar resultado mais a longo prazo.
07:44E que algumas medidas paliativas, né, vão ser aí, estão na carta ali, já estão sendo estudadas para colocarem em prática.
07:55Bom dia, Soraya, bom dia, Nonato, bom dia a toda a nossa audiência.
07:58Muito embora se tente falar que é um acordo de médio e longo prazo, o ponto é que no dia 1º de agosto vai entrar a tarifa de 50%.
08:09Por enquanto, todas as sinalizações, infelizmente, são neste sentido.
08:16E aí eu acho que é fundamental o Brasil entender o que o governo norte-americano quer, o que está na mesa de negociação.
08:23Porque o Trump falou de uma série de questões, falou que o Brasil é superavitário em relação aos Estados Unidos,
08:30que evidentemente isso é mentira, o Brasil é deficitário em relação aos Estados Unidos.
08:36Ele fala também de perseguição, né, de falta de liberdade de expressão.
08:41Então isso não cabe ao governo federal, isso é da esfera do poder judiciário.
08:47Fala também de políticas anti-americanas.
08:49Aí sim isso cabe ao poder executivo colocar na mesa de negociação.
08:55Então, não é uma questão meramente econômica, mas também política e geopolítica.
09:00E o que cabe ao poder executivo é dizer ali para os Estados Unidos que o Brasil está alinhado com os valores norte-americanos,
09:10está alinhado geopoliticamente, não ter essa ideia de querer substituir o dólar.
09:17É isso que o Donald Trump quer, né, uma sinalização mais concreta do Brasil, de um alinhamento do Brasil aos Estados Unidos.
09:25Agora, o problema é que a gente corre contra o tempo e provavelmente sexta-feira será colocada a tarifa de 50%.
09:32O Gani, o Haddad falou que reuniu-se lá com o Scott Bassett, que é o secretário de Tesouro americano.
09:39O Alckmin também se reuniu com outras pessoas, outras autoridades.
09:41Ele está tudo caminhando para a gente ter uma conversa.
09:44Não há porquê ter pressa, como a Soraya destacou, porque ele disse o seguinte,
09:48a gente já teve relação com uma série de outros presidentes, citou vários deles ali,
09:51dizendo da relação do Brasil com os Estados Unidos, que sempre foi amistosa e não seria o caso de mudanças.
09:57Mas não te parece que com o Donald Trump, ou pelo menos nesse atual mandato,
10:02a gente está num novo momento, não só para o Brasil, mas para o restante do mundo?
10:06E aí, quando o Haddad diz isso, dá a impressão que ou ele não entendeu ou a autoridade brasileira não está entendendo
10:11que a gente está nesse novo momento e que precisa ir lá negociar.
10:13Perfeita a sua colocação, Nonato.
10:15Eu acredito que a gente está numa nova ordem mundial, para falar a verdade.
10:19Eu digo que em 2016 o Trump tenta inaugurar essa nova ordem mundial, pelo menos do ponto de vista econômico,
10:27mas ele não tinha força política, ele não tinha condições para isso.
10:32Mas ele começa uma guerra tarifária contra o mundo inteiro, não na escala que a gente vê hoje.
10:39Então, os Estados Unidos, eles mesmos, fomentaram uma ordem mundial, chamada de neoliberal,
10:46que foi a expansão do comércio internacional, precisamente com o Reagan, com o Thatcher, ali na Inglaterra.
10:54Então, essa expansão sem fronteiras do comércio internacional, o incentivo da utilização do dólar como a moeda global
11:01e o incentivo para que os países também, com os excedentes de dólar, financiassem a dívida dos Estados Unidos.
11:08Essa foi uma ordem criada pelos Estados Unidos e o Trump, já no seu primeiro mandato, tenta romper com essa ordem
11:15e agora, definitivamente, ele coloca uma ordem menos globalizada, menos liberal, com mais protecionismo.
11:25Quando o Haddad fala de outros tempos, os Estados Unidos eram ali praticamente uma potência hegemônica,
11:31do ponto de vista militar, do ponto de vista econômico.
11:35O ponto é que o mundo mudou, goste ou não, mas hoje a gente tem um multilateralismo, né?
11:42Ou seja, essa espécie de guerra fria do século XXI.
11:46A Rússia se recompôs militarmente, a China se tornou uma grande potência militar e economicamente
11:53e é por isso que é extremamente fundamental a gente ter uma leitura correta desse cenário.
11:59Caso contrário, vai ser impossível negociar.
12:02Numa negociação, primeiro você precisa entender o cenário para daí partir para essa negociação.